sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O ouro como valor refúgio

A crise financeira tem levado os investidores a procurarem bens de refúgio como por exemplo o crude, metais preciosos, matérias-primas, etc.
Na semana passada o ouro seguia para a sua maior queda semanal dos últimos 25 anos, em Londres. Esta queda deu-se em parte pela forte desvalorização do euro face ao dólar, o que desincentivou a procura dos investidores por este bem.
Dos bens de refúgio existentes, um dos mais seguros é o ouro, dado ser um bem de aceitação generalizada, com importância no mercado desde á séculos (chegou a ser moeda em circulação) e ao contrário do crude, a quantidade existente é mais estável.
A descida verificada na semana passada pode ser explicada por diversos factores, sendo três relativamente importantes: a crise financeira mundial, a valorização do dólar face ao euro e a variação do preço das outras matérias-primas.
Verificou-se a 17 de Setembro deste ano, quando os mercados financeiros estavam em plena turbulência, que eram poucos os activos em que os investidores estavam a aplicar o dinheiro. Neste dia o preço do ouro registou a sua maior subida dos últimos oito anos. Esta subida mostra que os investidores estavam avessos ao risco refugiando-se nos metais preciosos, mais precisamente no ouro, para fazer frente á crise do mercado de crédito, que nesta altura se intensificou apesar das várias tentativas para a combater. Assim, em épocas de crise este metal beneficia de um “movimento global” na procura de investimentos seguros.
Assim, o valor refúgio mais seguro, do meu ponto de vista é o ouro, pois a quantidade existente é estável, o que faz com que não sofra (pelo menos directamente) choques de decisões políticas (por exemplo, este tipo de choques é que torna instável o preço do crude). Além disso, é dos produtos com maior facilidade aceitação do mercado. Quando uma matéria-prima desce o seu preço, desincentiva a procura por este bem e atrai a procura de outros, o mesmo acontece com o ouro mas estas variações, do meu ponto de vista, são menos acentuada o que torna este metal mais seguro e consequentemente mais atractivo.

Liliana Soraia Ferreira Vieira
liliana_sfv@hotmail.com
(artigo de opinião)

Eurostat regional yearbook

Eurostat regional yearbook

(título de mensagem de Quinta-feira, 30 de Outubro de 2008, disponível em Economia Portuguesa)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Como a crise económica em Espanha pode afectar Portugal?

Espanha é um dos países mais afectados pela crise do imobiliário, a par com o Reino Unido, muito por causa da forte subida dos juros e das crescentes restrições na concessão de crédito, e com o encerramento de milhares de mediadoras imobiliárias e com muitas empresas do ramo do imobiliário e da construção a reduzir pessoal, o desemprego no sector está a disparar, e os portugueses que trabalhavam nesse sector apanham por tabela.
Está previsto que a Espanha entre em recessão em 2009, apresentando uma variação negativa de -0,2% no PIB e uma elevada taxa de desemprego, como referi anteriormente. Já Portugal, com as mais recentes previsões de crescimento económico, aponta para uma estagnação da economia.
Portugal pode ver abruptamente diminuídas as suas exportações, o que levará, inevitavelmente, o país para o crescimento negativo. Nos últimos anos o crescimento de Portugal tem apontado, principalmente, na dinâmica das vendas no exterior, de acordo com os dados do INE, em Junho deste ano as exportações portuguesas foram de 3,75 mil milhões de euros, em que Espanha foi responsável por 951 milhões de euros, ou seja, 25% das exportações portuguesas têm como destino Espanha.
Enrique Santos, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola afirma “Desde o início do ano, as exportações para Espanha têm crescido a um ritmo de 7 por cento. Este é um fenómeno que não se consegue, para já, explicar”. A grande crise financeira em Espanha até agora não tem afectado as transacções comerciais entre Portugal e Espanha, contudo existem outros sinais preocupantes para a nossa economia, tais como o turismo, uma vez que no ano passado em Portugal entraram quase 2,6 milhões de espanhóis; outro sector afectado é a indústria automóvel, tal como explica Enrique Santos “As vendas de automóveis do outro lado da fronteira caíram cerca de 30% e este é um dos sectores portugueses que mais exportam para Espanha, com a Autoeuropa e as empresas de componentes à frente”; e ainda o facto de em Portugal 1200 empresas terem capital maioritariamente espanhol, em que mais de 80 mil pessoas estão empregadas nessas empresas.
Outros países que estão entre os 10 primeiros mercados de exportações de Portugal são o Reino Unido e os EUA, que estão também à beira da recessão. Uma solução será Portugal apostar nos mercados emergentes que têm apresentado boas taxas de crescimento, como por exemplo a Angola, que se encontra em 4º nos países que mais exportamos.

Isa Martins
(artigo de opinião)

sábado, 25 de outubro de 2008

As “aparentes” e mais actuais “soluções” europeias para a crise!

Actualmente, como todos nós sabemos e presenciámos, estamos perante uma crise a nível global, crise esta que afecta em primeira instância o mercado financeiro, que por sua vez repercute os seus efeitos (nefastos) a todos os níveis.
Em virtude desta eventual crise temos vindo a verificar um esforço, por parte dos governos dos vários países, em encontrar soluções para amenizar os efeitos da recessão que provavelmente se poderá vir a manifestar num muito curto prazo.
Debruçando-nos um pouco sobre a problemática na Europa, temos que os governos europeus declararam estratégias que vão levar a Europa a mobilizar uma verba de quase 15% do PIB europeu.
Quais e como os países contribuem para esta mobilização colossal?
O governo alemão ajuda com um montante de 500 mil milhões de euros.
O Bundesbank (Banco Central alemão) dá garantias para empréstimos interbancários de curto prazo. O valor total previsto é de 400 mil milhões de euros, podendo chegar a, no máximo, 420 mil milhões. Outros 70 mil milhões de euros serão destinados à compra de papéis podres de instituições bancárias. O valor pode ser ampliado em mais 10 mil milhões.
A Espanha anunciou a criação de uma linha de garantia às operações de financiamento entre os bancos no montante de 100 mil milhões de euros. Tendo também um fundo de Tesouro que disporá 50 mil milhões de euros para comprar activos espanhóis aos bancos sedeados no país, facilitando-lhes o acesso a liquidez.
O governo francês prometeu colocar de lado 360 mil milhões de euros. O plano inclui um valor máximo de 320 mil milhões de euros para garantias destinadas a restabelecer a confiança no mercado de crédito interbancário e estimular os empréstimos entre instituições financeiras e de bancos a empresas e pessoas. Estando 40 mil milhões reservados a eventuais entradas no capital das instituições mais fragilizadas.
O governo português para já apenas está a disponibilizar garantias estatais para facilitar a obtenção de empréstimos por parte da banca, no valor de 20 mil milhões de euros.
Em relação ao Reino Unido temos que o valor total do pacote britânico soma 500 mil milhões de libras esterlinas. O Estado destinará 50 mil milhões de libras para comprar acções preferenciais sem direito a voto em oito grandes bancos britânicos. Outros 250 mil milhões de libras esterlinas garantirão novos créditos aos bancos. E ao menos 200 mil milhões de libras serão reservados para dar liquidez ao mercado. A garantia para os depósitos bancários passou de 35 mil para 50 mil libras.
Outros países como Áustria, Bélgica, Eslovénia, Grécia, Holanda, Irlanda, Islândia, Itália e a Rússia contribuem para os 15% do PIB que serão mobilizados.
E para quê mobilizar estes 15% do PIB?
Esta mobilização surgida numa minicúpula em Paris, na qual os países europeus tentaram encontrar possíveis soluções para amenizar a crise, tendo como base/objectivos essenciais, a protecção dos seus bancos, salvando os bancos através da injecção de dinheiro, e as garantias para empréstimos interbancários cuja estagnação é uma das principais causas da crise.
Quem irá suportar a mobilização desta verba colossal?
Em virtude de “curar” (leia-se solucionar) as feridas do sector financeiro, esta mobilização será suportada pelas gerações futuras.
Desta forma a crise perpetuar-se-á para um futuro longínquo, mesmo que os países estabeleçam acordos e arranjem soluções aparentemente consistentes e viáveis.

Andreia Patrícia Costa Dias
andreiapcd@portugalmail.pt
(artigo de opinião)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mecanismo de transmissão danificado

Como era previsível, a descida das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE), não se reflectiu numa redução das taxas de mercado, antes pelo contrário as taxas – Euribor e Libor- subiram aumentando a sua distância das taxas de referência.
O mecanismo de transmissão das taxas dos bancos centrais às taxas de mercado está seriamente danificado, e a prova disso, foi a confirmação que os juros não baixam, apesar das medidas dos bancos centrais. A política monetária não está a funcionar e a política orçamental está limitada pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento, pelo que se torna difícil combater esta crise.
As taxas Euribor nunca estiveram tão altas. O perigo não reside neste facto, mas sim, na distância que separa a taxa do BCE da taxa do mercado, isto é, a distância entre a taxa que o BCE empresta dinheiro aos bancos e os juros que os bancos cobram quando emprestam dinheiro entre si, às famílias e empresas. Em Janeiro, a taxa do BCE estava nos 4%,enquanto que a taxa Euribor estava nos 4,6%. Agora a taxa do BCE está nos 3.75% e a taxa Euribor está nos 5,4%, ou seja, a diferença quase que triplicou. Nos Estados Unidos, a situação ainda é mais grave, uma vez que o FED cobra a 1,5% e as taxas de mercado estão nos 4,75%.
O facto pelo qual uma taxa deixou de acompanhar a outra já foi amplamente divulgado: o crédito está congelado, os bancos não emprestam entre si, e os que emprestam cobram prémios de risco muito elevados, tal a desconfiança que está instalada no mercado.
Os bancos centrais estão manietados, os instrumentos que dispõem não põem os mercados a funcionar. Daí o recurso a medidas excepcionais: o FED começou a emprestar directamente às empresas com a decisão de criar um fundo através do qual desconta papel comercial das empresas - está a emprestar directamente às empresas como se fosse um banco comercial. O membro da Comissão Executiva do BCE Lorenzo Bini Smaghi defendeu em entrevista ao Il Sole 24 Ore a fixação administrativa de uma taxa de juro para o crédito às famílias, uma vez que a Euribor deixou de acompanhar a taxa do BCE.
A situação actual é insustentável, e é necessária uma intervenção eficaz de modo a acabar com a injustiça das famílias não estarem a pagar menos pelos seus empréstimos, pois os bancos hoje estão a financiar-se essencialmente no BCE mas continuam a cobrar prestações mensais a taxas de mercado.
Os bancos parecem não ligar às medidas do BCE. A desconfiança é mais forte. Se esta tendência se confirmar e a diferença entre a Euribor e a taxa de juro de referência se mantiver, o papel dos bancos centrais está em xeque. A sua capacidade de influenciar o mercado interbancário e os juros que passam para a economia real pode estar em causa. Jean-Claude Trichet pode ficar na história como o presidente do BCE que marcou o início do fim do sistema financeiro europeu tal como o conhecemos.

Ricardo Jorge Mendes Moreira
(artigo de opinião)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Que futuro para as PME?

Sabemos que com a crise financeira o investimento privado em Portugal tornou-se mais difícil. Por um lado, temos os investidores privados que, devido ao facto de ser mais difícil obter um financiamento bancário não conseguem obter o capital que necessitam, no outro temos os bancos a tentarem minimizar as suas perdas, acautelando a atribuição de créditos, subindo os juros e aumentando exponencialmente os custos de comissões dificultando desta forma o recurso ao mesmo. Esta situação não se deve ao facto de Portugal ter bancos a falir, mas sim devido a um problema de crédito escasso e caro.
Os efeitos da crise manifestam-se já, e de uma forma preocupante, ao nível das PME, sendo que existe mesmo o risco de várias empresas fecharem, num curto espaço de tempo caso não obtenham apoios. Na verdade, são estas que constituem grande parte da indústria portuguesa (cerca de 98%) e, segundo dados do INE, de 2004, existem em Portugal cerca de 292.865 PME, responsáveis por gerarem mais de 75% do emprego e 55% do volume de negócios.
Face a estas perspectivas e com a actual situação financeira, o não auxílio a estas entidades pode levar a menores níveis de emprego e salários, dificultando o crescimento económico não só em Portugal mas também em toda a UE.
Na verdade, as PME têm verificado sérias dificuldades de acesso ao crédito e, mesmo aquelas que já tinham recorrido ao crédito têm visto, devido ao aumento das taxas de juro, e comissões, o encargo com os créditos aumentarem, a sua situação financeira ainda mais difícil.
Uma forma de investimento nestas empresas, para além do financiamento bancário seria, por exemplo a redução da carga fiscal. No entanto, esta medida já foi tomada para alguns casos com a descida do IRC em cinco pontos percentuais, passando de 25% para 12,5% nos primeiros 12.500 € de matéria colectável. Para além do mais, procedeu-se a uma alteração da forma de cálculo do IRC que passará agora a ser dividido em duas partes. De acordo com o Primeiro-ministro, esta medida irá beneficiar cerca de 80% das empresas, uma vez que verão reduzida para metade o esforço para o pagamento desse imposto. Podemos considerar também o anúncio da antecipação do IRC por forma de pagamentos por conta e o apoio ao financiamento de projectos de forma a tornar estas empresas mais competitivas, situação esta que pode levar ao aumento das exportações. Uma outra medida também anunciada pelo Governo foi o alargamento da linha de crédito para as PME, aumentada para 1.000 milhões € a uma taxa abaixo da Euribor (co-financiada pelos fundos comunitários do QREN).
Actualmente, Portugal tem vindo a perder terreno no ranking da competitividade, surgindo no 43º lugar (em 134, recuando 3 lugares) a um nível mundial e no 17º lugar entre os 27 estados membros da UE.
O aumento de algumas matérias-primas essenciais para as linhas de produção é um factor que também pode ser considerado em parte responsável por esta situação. Podemos tomar como exemplo o novo aumento de 8,7% do gás natural que poderá originar situações em que as empresas poderão ficar sem outra alternativa se não reduzir o consumo do mesmo, através de alterações tecnológicas ou alterarem os seus produtos de forma a reduzirem os níveis de consumo. Caso não consigam aplicar alguma destas soluções, uma vez que nem todas as empresas têm capacidade para procederem às mesmas, ficam com duas alternativas: fecharem ou pararem algumas das linhas de produção mais dependentes do gás natural, que poderá ser a solução que se poderá verificar mais vezes.
António Alfaiate, membro da AIP defende que “numa altura em que as dificuldades de acesso ao crédito se têm agravado, como consequência da crise do subprime, em que as empresas se debatem com o agravamento dos custos das matérias-primas e perdem competitividade lá fora, bem como oportunidades de entrada em novos mercados, os apoios ao financiamento são essenciais".

Bruna Isabel Dias da Silva
brunisah@hotmail.com
(artigo de opinião)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

“Endividamento das famílias portuguesas aumenta para 129% do rendimento disponível”

“O endividamento das famílias portuguesas voltou a aumentar em 2007 para 129% do rendimento disponível. Ou seja, as dívidas das famílias superam em 29% os rendimentos auferidos.”
Os dados foram revelados pelo Banco de Portugal no relatório de estabilidade financeira de 2007, sendo considerado o valor mais elevado de sempre.
O Relatório de Estabilidade Financeira 2007, revela-nos ainda que "quando avaliada a materialização do risco de crédito em termos do fluxo de créditos que entraram em incumprimento em 2007, observa-se um aumento significativo no caso dos empréstimos a empresas e, no caso dos particulares, uma estabilização num nível semelhante ao do ano anterior e próximo do observado em 2003".
O Banco de Portugal considera que “aumentos adicionais do endividamento tornarão os agentes privados, em particular as famílias, mais vulneráveis a subidas de taxas de juro que acompanharão, em maior ou menor grau, uma recuperação da economia europeia”.
Para evitar situações de incumprimento, foi necessário e essencial uma melhoramento da avaliação do risco de crédito por parte das instituições bancárias. Tendo, neste sentido, o Banco de Portugal aumentado o requisito mínimo de provisões para crédito ao consumo. Como consequência desta medida, o consumo privado tornou-se o motor principal de crescimento da economia portuguesa.
Em Dezembro de 2005, pela primeira vez em 5 anos, o BCE aumentou a taxa de juro de referência na zona euro de 2 para 2,5%, abrindo caminho a um ciclo de possíveis novas subidas no futuro. Uma subida das taxas de juro irá arrefecer o consumo privado. Com uma maior fatia do rendimento das famílias a ser afecta ao serviço da dívida, tanto o consumo como a poupança sairão penalizados. Por outro lado, prevê-se que a ameaça real do desemprego e o indispensável reequilíbrio financeiro das famílias face ao excessivo endividamento irão acentuar a tendência de abrandamento do consumo privado. Desta forma, não se afigura que seja possível que o consumo privado continue a ser o dinamizador principal da economia nacional.
O elevado endividamento das famílias e a reduzida confiança fazem rever em baixa as expectativas das empresas quanto à evolução futura da procura, constituindo um desincentivo ao investimento.
Se por outro lado considerarmos os gastos públicos, sendo que estes estão limitados pelos compromissos do Pacto de Estabilidade e Crescimento, conclui-se que será necessária uma viragem no modelo de crescimento português no sentido de aumentar as exportações.
Será que Portugal consegue promover essa viragem na situação económica que se encontra?
Para promover uma viragem no modelo de crescimento português no sentido de aumentar as exportações, não depende apenas da fomentação de um conjunto de politicas e da promoção de medidas conjunturais. Temos de ter consciência de que vivemos numa “Aldeia Global”, e que a concorrência vinda de Oriente é forte e, como tal, precisamos de repensar nos próximos passos a dar. Para combatermos a forte concorrência, temos de facto que alterar o nosso modelo de crescimento. Por isso torna-se essencial um aumento da produtividade.
Tendo em conta o agravamento do desequilíbrio externo, para esta situação difícil de Portugal, é necessário frisar que, se o país não aumentar a produção de bens e serviços transaccionáveis, o endividamento para com o exterior, pode tornar-se insuportável. Se baixarmos os braços, não só não temos crescimento económico, como o nosso endividamento para com o exterior pode atingir situações insustentáveis.
Perante estes dados poderá Portugal escapar á conjuntura internacional global?
A situação económica actual está-se a degradar por diversas razões, sendo algumas delas de origem exógena, nomeadamente o caso do aumento do preço dos combustíveis, das taxas de juro, além das limitações ao crédito, que está cada vez mais insustentável com a crise financeira internacional. Tudo isso são factores que estão a afectar a conjuntura portuguesa, designadamente a produção e o emprego.
Perante este nível de endividamento, esta subida, aliada à sobrevalorização do euro, agrava o défice da balança comercial e a dependência do País. Será mais difícil fazer face ao desemprego, à precariedade, aos baixos salários e à subida generalizada dos preços, tendo em conta que o nível de endividamento atinge, 129% do rendimento disponível das famílias portuguesas.

Sílvia Tatiana de Sousa Pais
tatianapais88@hotmail.com
(artigo de opinião)

Qual será o limite desta crise financeira?

O processo de contágio da crise financeira global continua a alastrar. Desde as dificuldades financeiras dos países, à falência de bancos nos EUA e Europa, existem poucos agentes a resistir ao colapso financeiro.
As economias que apresentam maiores défices da balança corrente e de capital, forçadas a recorrer a financiamento estrangeiro para suportar sua actividade económica doméstica, são aquelas que estão sob uma ameaça eminente de recessão. Nesta situação, o maior problema da economia do país, não se lida com a maior dificuldade de acesso ao crédito por parte das famílias e empresas, mas sim na retirada dos investidores de activos e destinos mais arriscados, o que faz estagnar o investimento, um dos indicadores mais importantes do crescimento económico. O aviso surgiu de onde menos se esperava (o que o tornou ainda mais preocupante). A Islândia (outros tempos conotada como uma economia segura e sofisticada) viu o seu sistema financeiro sofrer um retrocesso bastante acentuado, pondo em alerta todas as outras economias. Para além do país nórdico, outros países como a Ucrânia e a Hungria seguem o mesmo caminho, com o primeiro a elevar o seu défice da balança corrente para os 15 mil milhões de dólares, depois do empréstimo de 14 mil milhões por parte do FMI. No mesmo sentido, o país de Leste já recebeu 5 mil milhões de euros do BCE para ajudar a descongelar o mercado obrigacionista local.
A um nível microeconómico, os agentes começam a ficar sem ar para respirar. Quer os cidadãos sem dinheiro para pagar o crédito da casa, quer as pequenas e médias empresas que vêm o seu fundo de investimento ausentar-se, e a possibilidade de negócio desaparecer.
Segundo resultados divulgados por parte da “Organização Internacional do Trabalho”, o abrandamento do crescimento económico, e consequente evolução da crise económica vai atirar mais 20 milhões de cidadãos para o desemprego, perfazendo um total de 210 milhões de desempregados em todo o mundo. A mesma organização aponta ainda, que o actual colapso económico movesse no sentido de acentuar a diferença entre ricos e pobres.
O petróleo e as taxas de juro ajudam neste momento a aliviar pressão, com a desvalorização para mais de 50% do petróleo desde o máximo histórico em Julho. Esta descida aparece como um alívio nas pressões inflacionistas sentidas nos últimos meses, dando maior espaço de manobra aos bancos centrais para baixar as taxas de juro.
Deste modo, a questão que fica é de como será o futuro, “Qual será o limite desta crise financeira?”

Bruno Sousa
bsousa11@gmail.com

(artigo de opinião)

Um objectivo: Dois caminhos

Nos tempos que correm, tem-se questionado bastante se o mercado imobiliário se encontra em crise ou não.
Sendo este considerado como que um “impulsionador” da economia, pode reflectir o estado da mesma em determinado país, ou seja, se este se encontra em crescimento ou se está prestes a entrar em recessão económica.
No momento, segundo alguns analistas, o mercado imobiliário encontra-se estável. Isto deve-se, em grande parte, aos descontos que as empresas vão podendo apresentar, pois produzem em grandes quantidades; e ainda devido à sua estratégia económica de centralizar a sua produção para habitações de qualidade média alta, tendo já em vista as classes sociais mais elevadas cuja situação financeira é boa e, por esse motivo, continuam a procurar a sua própria habitação.
No entanto, há também quem afirme que "já assistimos a um abrandamento do número de contratos habitação" (como refere Cristina Casalinho, chefe da equipa de estudos económicos e financeiros do banco BPI).
As famílias já não recorrerem tanto a créditos habitação devido à perda do seu poder de compra, pois grande parte dos seus rendimentos são direccionados para o consumo de bens essenciais, não conseguindo poupar o suficiente para pagar as prestações mensais a que o crédito obriga.
Outro ponto que “impede” muitas famílias de recorrerem ao crédito habitação neste momento é a falta de confiança associada ao facto de as taxas de juro serem variáveis e estarem com tendência a subir. A taxa EURIBOR a seis meses, que está associada à grande parte dos créditos habitação em Portugal, já variou de 2.3% (média em Outubro de 2005) até 5,063 do passado dia 20 de Outubro.
Assim as famílias vêem as suas prestações mensais aumentarem para valores cada vez mais difíceis de suportar e algumas destas estão mesmo em risco de perder os seus imóveis.
Importante ainda referir que a obtenção de créditos tem-se tornado cada vez mais difícil, os bancos “jogam cada vez mais pelo seguro”, procuram cada vez mais garantias de que as famílias consigam cumprir os contratos até ao fim.
Com isto, as famílias deparam-se cada vez mais com uma grande questão: recorrer ao crédito habitação ou ao mercado de arrendamento?
Assim, as grandes diferenças entre ambos são a divergência das prestações mensais pagas e o facto de no final ter-se ou não uma habitação própria.
Ao arrendar um imóvel as famílias pagam uma prestação mensal menor, no entanto, estão a pagar algo que nunca vai ser delas, e neste sentido correm ainda o risco de os senhorios aumentarem as prestações ou chegarem mesmo ao extremo de pedir que as famílias abandonem o imóvel. Contudo apresenta uma grande vantagem em relação ao crédito habitação, isto é, como as prestações mensais são menores as famílias têm a possibilidade de direccionarem algumas das suas poupanças para o investimento.
Com tudo isto, o que é preferível? Depende das preferências e opções de vida das famílias.
Porém, há algo que pode fazer tender esta questão para um dos lados. Refiro-me à mais recente medida implementada pelo Estado, direccionada especialmente para o crédito habitação visa minimizar os problemas das famílias ajudando-as a “combater” a subida das taxas de juro, através, por exemplo, do alargamento do prazo do contrato, recurso à taxa fixa, amortizações, entre outras. Com esta medida torna-se mais fácil para as famílias que já têm crédito, negociar os termos dos seus contratos sem terem custos extras ou outro tipo de obrigações para com a entidade credora.
Conclui-se então que é uma medida especialmente pensada para as famílias mais carenciadas.
A questão ainda paira no ar, crédito habitação ou arrendamento de imóveis? Uma casa, dois caminhos, uma escolha difícil.
O necessário é que o mercado imobiliário continue estável para que a saúde da economia portuguesa não se degrade ainda mais.

António David Pereira Esteves
adp.esteves@sapo.pt

(artigo de opinião)

A Crise do petróleo será problema só dos dias de hoje?

A presente crise é o mais sério episódio de uma mesma sucessão histórica. Na 1ª Guerra Mundial em que se evidenciou a grande vantagem comparativa desse recurso energético do Médio Oriente e da Ásia Central, o Reino Unido impondo o seu controlo. Na 2ª Guerra Mundial marca a viragem para a ascensão dos EUA à posição de potência hegemónica. De 1970-71, a capacidade de produção de petróleo os EUA atingiu o seu auge para iniciar depois um persistente declínio. Esse primeiro choque é seguido pela guerra Israelo-Árabe em 1973, a reacção da OPEC (Organization of the Petroleum Exporting Countries) com o embargo da produção e a subida do preço do petróleo. Não obstante a subida do preço e a corresponde tentativa de reanimar a extracção de petróleo no território dos EUA, a custos marginais mais encorajantes, essa produção não pôde ser incrementada, em vista dos factores naturais, e o declínio foi inevitável. Iniciou-se por esse tempo o longo período de contracção económica, que se prolonga até hoje. A guerra Irão-Iraque (1980-88) iria desgastar a solidez da administração do estado e da capacidade militar desses dois países, que se contam como os detentores das segundas maiores de reservas mundiais, um de petróleo e o outro de gás natural. A passagem do auge da capacidade de produção de petróleo na URSS, entre 1983-87, seguida do inevitável declínio, tal como nos EUA na década anterior. A revisão em alta das reservas de petróleo no Médio Oriente, entre 1986 e 1989, e a corresponde queda do preço do petróleo no mercado internacional no mesmo período; com efeito, as reservas provadas de petróleo (a nível mundial) subiu de 710 Gb (710 bilhões Giga barris) em 1986 para 900Gb em 1987 e de novo para 1010 Gb em 1989; tomando como referência o preço do petróleo do Dubai ele caiu de 1980 (US$ 35,69) para US$ 27,53 em 1985 e dramaticamente para US$ 12,95 em 1986, mas para subir de novo, porém já só no fim da década, em 1990 (US$ 20,50); em sentido inverso, a produção subiu sensivelmente, de 57Mb (milhões barris) /dia em 1985 para 63 Mb/dia em 1989. A crise económica e política da URSS, acelerada pela corrida armamentista e pela redução das receitas externas, sobretudo provenientes da exportação de petróleo, mas então a preço deprimido e sem a possibilidade de incrementar a extracção, que conduziu à dissolução do bloco soviético. Em 1990 o Iraque é induzido a invadir o Kuwait e desencadeia a intervenção militar de uma coligação militar estrangeira sob a direcção dos EUA, sancionada pela ONU. É a Primeira Guerra do Golfo. Desde 1991 até agora, o Iraque ficou sujeito a um regime de embargo decretado pela própria ONU a que, unilateralmente, os EUA e o Reino Unido adicionaram duas "zonas de exclusão aérea" que demarcaram e passaram a bombardear regularmente. Após o atentado terrorista de 11 de Setembro de 2001, os EUA desencadearam a campanha global de "guerra contra o terrorismo", tendo de imediato invadido o Afeganistão (Outubro de 2001) e estabelecido "alianças" com "novos estados independentes" anteriormente integrados na URRS e, também, mais bases militares, estas já na Ásia Central. Se os picos de produção de petróleo nos EUA na década de 70 e na URSS na década de 80 tiveram conexões com graves incidentes à escala mundial de natureza económica, política e militar, o iminente pico de produção à escala mundial permite recear extensas repercussões no próximo futuro. Futuro que parece ter já começado.

Lília Regina Vieira Martins

(artigo de opinião)

O OE 2009 – Mais do mesmo?

O Orçamento de Estado de 2009 já está a ser amplamente discutido por todo o lado. Desde cidadãos a dirigentes partidários todos têm opinião acerca deste tema. Mas o que revela este Orçamento, mais do mesmo?
As políticas económicas adoptadas neste orçamento mostram as perspectivas em que o governo tenciona investir ou desinvestir, assim como, as perspectivas de crescimento económico ou a falta dele.
Neste sentido e analisando o OE observamos a conduta política que está a ser adoptada e as duras críticas que já têm sido feitas. Será possível que se preveja para Portugal um crescimento económico para 2009 três vezes superior ao da média da Zona Euro? Sabendo que essa é uma tendência completamente oposta à que temos assistido ao longo da última década na qual temos crescido abaixo da média…
Assim, uma das soluções apresentadas é o aumentar o investimento público. O que importa saber é que tipo de investimento público estamos a falar! Porque, está visto que a construção “desenfreada” até pode ser muito boa no curto prazo, para as empresas de obras públicas, mas temos de ter em atenção se tem mesmo utilidade pública.
Um dos grandes problemas a ser resolvido, neste momento, é a situação da maioria dos portugueses, que passa pelos empréstimos que não conseguem liquidar e a taxa de desemprego elevada pois uma coisa leva a outra. No orçamento vem previsto um fundo especialmente criado para quem tem dificuldades em pagar o empréstimo da casa, pode vendê-la e depois pagar renda.
Por outro lado, também os funcionários públicos vêem a sua situação melhorar, pois irão beneficiar de aumentos salariais com base na inflação prevista o que até é bom pois já não ocorriam aumentos desde 2000, mas também é bastante conhecida a “fama” do governo português de rever as suas expectativas de inflação em alta e, portanto, os funcionários públicos vêem anulados os aumentos.
Segundo a Dra. Manuela Ferreira Leite em entrevista ao programa “Cartas na Mesa” na TVI, dia 20 de Outubro, o motor de crescimento para a economia para 2009 são as pequenas e médias empresas. Segundo a dirigente do PSD, quem está a segurar o défice nos 2,2% são os pequenos e médios empresários, já que, vêem os seus recebimentos por parte do Estado a chegar tarde e a más horas, por contrapartida dos seus impostos que são pagos, cada vez, mais cedo – esta opinião é também partilhada pelo líder parlamentar do mesmo partido.
Esse programa vale o que vale, mas temos de concordar que, por exemplo, baixando o IRC isso apenas melhora a situação das empresas que no meio desta crise ainda reconhecem lucros e que não é a situação geral, muito pelo contrário. No caso das empresas que são problemáticas, as que têm prejuízos, essas já nem pagam IRC, portanto, a medida já não as afecta e, segundo o Jornal de Negócios, são 2/3.
Uma das medidas que tinha sido discutida era se os impostos para os pensionistas deveriam ser iguais aos de um trabalhador no activo, essa medida não teve efeitos, pelo menos neste orçamento, sendo que se alteram as fórmulas de cálculo o que dará benefícios a alguns aposentados.
O que me incomoda neste orçamento é a falta de investimento na educação. Há um aumento mas, no meu ver, muito pouco significativo. Mas como esta é uma medida que apenas afecta o longo prazo e dado que estamos em vésperas de ano de eleições, as medidas de longo prazo não afectam a opinião do eleitorado, portanto, há desincentivo por parte do governo em apostar nesse tipo de medidas.
Em conclusão, assistimos neste orçamento a políticas redundantes com a crise económica, sendo muito pouco solucionadoras do problema em si, esperando que a Europa arranque e nos arraste. Pois numa situação destas as prioridades deveriam ser a competitividade das empresas e a educação reais e não apenas distribuição de portáteis porque isso apenas cega as estatísticas.

Luciana Fradique
Raquel_fradique@msn.com
(artigo de opinião)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O porquê da crise

“Quando era jovem pensava que o dinheiro era a coisa mais importante do mundo. Hoje tenho a certeza.” A frase é de Oscar Wilde e, na minha opinião, não podia ser mais adequada aos tempos que correm. Mas o mundo está a sofrer uma grave crise financeira. É como diz Sérgio Rebelo, professor na Kellogg School of Management, Northwestern University: “… o sistema financeiro é um castelo de cartas que está assente na confiança dos investidores. Se essa confiança vacilar, o castelo pode cair, baralhando todas as cartas. Infelizmente, é isso que está a acontecer.”
Mas afinal como é que começou a crise? Pois bem, todos se recordam da crise hipotecária que abalou o mercado americano há menos de um ano. Empresas especializadas em empréstimos, tendo em vista aumentar a margem de lucro, sobrevalorizaram os imóveis para que pudessem emprestar dinheiro a juros superiores ao normal no mercado, recebendo como garantia hipotecas (direito sobre um imóvel). Passado algum tempo, visando obter mais uma fonte de rendimento, essas mesmas empresas transformaram as hipotecas em títulos a serem negociados no mercado, títulos esses que foram comprados de seguida pelos bancos, com a crença de lucros a longo-prazo. No entanto, uma vez que os empréstimos foram concedidos para pessoas que não tinham rendimentos para os sustentar, os pagamentos começaram a falhar, e com isso deu-se a quebra das financeiras. Com essa quebra e falta de crédito dos devedores, os imóveis foram tomados pelos bancos (que possuíam os títulos hipotecários). Mas como um grande número de imóveis foi alvo dessa acção, o seu valor diminui e os títulos comprados pelos bancos acarretaram prejuízos e a consequente falência. Porém, alguns bancos são mais afectados do que outros. E é aí que reside o problema que muitas vezes acaba por “tramar” os bancos: a falta de informação. Durante a crise é difícil distinguir um “bom banco” de um “mau banco”, o que leva os investidores a preferirem não correr riscos e levantarem o seu dinheiro. Esta corrida aos bancos pode ter efeitos gravíssimos, forçando os bancos, quer se trate de bancos pouco afectados pela crise, a liquidar os seus activos a preços muito baixos.
Em Portugal (e no resto do mundo, como é obvio) também se sentiu, e ainda se sente, essa crise: o valor médio de avaliação bancária de apartamentos e moradias baixou 4,6% no segundo trimestre deste ano no mesmo período do ano passado. Se formos buscar valores por zonas, encontramos zonas como Almada ou Espinho com quebras de mais de 10% nos preços. Mas no que toca aos bancos a crise não chegou ainda em força, mas o medo e a insegurança já é muita. Devido aos riscos, já são concedidos menos créditos, e já foi necessário o Governo anunciar a garantia de 50.000€ pelo Fundo de Garantia, em caso de falência do banco, para acalmar um pouco o país, que via exemplos como os da Islândia, que entrou em grande recessão, e cujos bancos congelaram as contas para não falirem.
Em forma de conclusão, devo dizer que os EUA não devem ser seguidos como exemplo. A meu ver, a única forma de não agravar o inevitável é a confiança. Sem confiança, os bancos vão à falência, a bolsa cai a pique pois os investidores não confiam mais nas empresas e entraremos numa recessão gravíssima. Devemos confiar na palavra dos nossos governantes (embora alguns não mereçam) quando estes dizem que em caso de falência parte do dinheiro será garantido. O que não falta ao longo da história são casos que mostram que se as crises (não necessariamente financeiras ou económicas) forem precedidas de pânico geral, só podem agravar.

João Viana
skateman161616@hotmail.com

(artigo de opinião)

Portugal e a “Economia do povo”

Portugal apresenta-se como um país ainda muito pouco desenvolvido quando equiparado aos países pertencentes ao grupo de países considerados desenvolvidos. Um dos factores numéricos que ilustra este facto é o valor médio dos rendimentos anuais de um indivíduo em Portugal, que ronda os 12000 euros, o que representa uma média de 1000 euros mensais.
Na minha opinião, estes valores apresentam-se como “irrisórios”, e digo isto pois, conhecendo minimamente a realidade do nosso país sabemos perfeitamente que a maior parte das pessoas não obtêm este nível de rendimentos. Tendo este conhecimento, da verdadeira realidade portuguesa, ou seja, da “economia do povo”, não será como que uma ofensa falarem-se em tantos milhões de euros quando existem pessoas que nem dinheiro têm para uma casa, roupa ou até mesmo para comida? Será aceitável que discutam tão intensamente temas como a tx. Inflação, a tx. Câmbio, a falta de liquidez da banca, quando esses temas se apresentam como verdadeiros tabus para o “povo”?
Obviamente, que todos estes temas são muitíssimo importantes para o crescimento e desenvolvimento das economias e do mundo em geral, mas não será fácil para as autoridades governativas falarem em milhões quando não têm uma única necessidade/dificuldade financeira na sua vida particular?
O ponto ao qual pretendo chegar é que, ao chamado “povo” torna-se constringente ouvir tantas vezes falar nestes temas, os quais directamente não lhes provoca interesse (qual a diferença entre mais uma ou menos uma décima na tx. Inflação?, por exemplo). O que eu quero dizer com tudo isto é que as pessoas de rendimentos mais baixos têm muitas dificuldades às quais as altas entidades governamentais são alheias. Uma ideia que eu apresento é a de se transmitir mais poder para juntas e câmaras municipais as quais estão mais perto da realidade e têm melhor percepção das reais necessidades do “povo”, ou seja, tentar-se aproximar as autoridades governamentais do “povo”.
Nesta minha opinião, necessito também referir uma pequena/grande crítica à mentalidade dos trabalhadores portugueses, a qual se pode reflectir nos seus rendimentos. Os trabalhadores portugueses (não querendo generalizar) “trabalham de acordo com o que ganham e não trabalham para ganhar mais”, ou seja, eles têm a ideia de que estão a prestar um favor à entidade patronal e esquecem-se do outro lado. Esquecem-se de que se a entidade patronal obtiver mais receitas/lucros isso se vai repercutir nos seus salários e assim todos ficariam melhor.
Em conclusão digo que se os trabalhadores trabalharem mais e melhor no sentido de progredirem na carreira; se as entidades patronais forem justas e cumprirem as suas obrigações quer em termos fiscais, quer em termo de salários; se as juntas e municípios tiverem mais em conta os verdadeiros problemas sociais e financeiros da sua zona/região; e se o Governo controlar os tais milhões de que falam e os tabus aos quais, muitas vezes o “povo” é alheio, talvez assim, Portugal consiga começar a obter uma organização interna, a qual lhe permita no futuro uma expansão sustentável para o estrangeiro.
Portugal é um país com 800 anos, não necessita de apresentar resultados ao estrangeiro, temos de criar bases sólidas internamente para que sejamos sustentáveis. É necessário acabar com a desculpa dos “problemas estruturais”, já tivemos e continuamos a ter mais do que tempo para acabarmos com esses problemas e crescermos para que possamos obter o respeito e a dimensão que já tivemos.

Nuno Miguel Ribeiro Fernandes

(artigo de opinião)

Sumário das aulas de 2ª feira, 20 de Out.

O défice orçamental português e o défice da Balança Comercial: evolução dos últimos anos; alguns dados comparativos de outras países da UE.
Investimento em infraestruturas e competitividade da economia portuguesa: o caso dos impactes estimados da construção da linha férrea de altas prestações entre Porto e Vigo.

domingo, 19 de outubro de 2008

Qual o sentido dos preços do petróleo nestes próximos tempos?

Desde o dia 11 de Julho de 2008, dia de máximo histórico do preço do petróleo, em que o barril atingiu valores superiores a 147 dólares, o preço do “ouro-negro” já mais teve um pico por excelência até aos dias de hoje, iniciando uma queda um tudo ou quanto aparatosa, principalmente nestas duas últimas semanas.
Em Nova Iorque o preço do barril já caiu nestas duas ultimas semanas mais de 24% e 50% desde o máximo histórico em 11 de Julho.
Em Londres, mercado que serve de referência a Portugal, o preço do brent já perdeu mais de 23% nas 2 semanas antecedentes e mais de 52% desde o máximo de sempre obtido também em Julho.
Esta queda abrupta da cotação do petróleo vem no seguimento de vários aspectos na economia mundial, entre eles podemos constatar 3 aspectos como sendo os principais:
As expectativas cada vez maiores de uma recessão económica mundial, que por consequente tem vindo a originar um abrandamento na procura de petróleo, principalmente pelo maior consumidor do mundo, os EUA, país que consome 24% do petróleo mundial, que durante estas ultimas duas semanas atingiu o nível mais baixo desde 1999 na procura de combustíveis.
O anúncio por parte do Departamento de Energia norte-americano de que as reservas petrolíferas estratégicas teriam aumentado de uma forma substancial mais que o esperado puxando os preços de petróleo ainda mais para baixo.
E aumento substancial de descobertas de jazidas petrolíferas por todo o globo, que com os preços praticados até algum tempo se tinham tornado comercialmente viáveis, como é o caso das novas jazidas ao largo da Bacia de Santos no Brasil.
Durante estas semanas esta descida ainda conseguiu ser apaziguada pela apresentação, por parte das principais economias do mundo, de planos contra a crise financeira actualmente instalada por todo o mundo, aspecto que o mercado receia não serem suficientes para travar a recessão económica, e consequente queda da procura de produtos petrolíferos. Estando já a OPEP, o cartel responsável por mais de 40% de todo o petróleo mundial a rever em baixa as suas estimativas para a procura desta matéria-prima para 2009 devido a “um agravamento dramático” das condições dos mercados financeiros, ou como o presidente da consultora Cameron Hanover afirmou, “A OPEP está obviamente em pânico”. Sendo, portanto, outro factor apaziguador da queda abrupta do petróleo durante esta ultima semana a marcação de uma reunião extraordinária por parte da OPEP para o dia 24 de Outubro com intuito de baixar a produção diária de barris de petróleo, diminuição esta que será de pelo menos um milhão de barris por dia com preços de petróleo inferiores a 70 dólares, segundo Rob Laughlin da MF Global.
Em observância com estes diversos factos poderemos perguntar qual será o rumo a tomar pelo preço do petróleo nestes próximos tempos.
Por um lado, temos a reunião extraordinária da OPEP com intuito de diminuir a produção de barris diários para assim o preço do preço do petróleo voltar a subir, acontecimento este que se vier registar terá que ser seguido com atenção devido estarmos à beira de uma recessão económica global.
Mas, por outro lado, temos os analistas mais pessimistas, que estimam que esta diminuição na produção poucos efeitos terá no actual preço do petróleo, graças não só há constante diminuição da procura de petróleo, acontecimento este que será agravado por essa suposta subida no preço do barril como também ao cepticismo por parte dos agentes económicos nos planos de combate à crise financeira até hoje apresentados, sentimento este que dará continuidade ao actual clima de instabilidade nas economias globais.
E, sendo assim, resta-nos aguardar a resposta que os mercados nos darão acerca de qual será o próximo rumo do “Ouro-Negro”.

Pedro Jorge Oliveira
pedj_oliveira@hotmail.com

(artigo de opinião)

sábado, 18 de outubro de 2008

Desburocratização: Sim ou Não?

Em 2006 assistimos ao início de uma revolução na burocracia da Administração Pública, o Programa Simplex. Que visa aumentar a rapidez e eficácia na relação dos cidadãos e das empresas com a Administração.
O Programa tem por objectivo aumentar a confiança dos cidadãos nos serviços e nos funcionários públicos. Por outro lado, pretende também permitir que as empresas obtenham, num curto prazo de tempo, as licenças de funcionamento, de encerramento entre outras formalidades.
Com este programa, o Bilhete de Identidade vai sendo substituído pelo Cartão do Cidadão que comporta num só título cinco cartões (n.º do cidadão; n.º de segurança social; n.º utente; n.º contribuinte; n.º eleitor). Uma das outras reformas mais visíveis aos olhos do cidadão comum é a variedade de serviços oferecidos pela Loja do Cidadão. Assim, nesta loja, podemos encontrar o serviço “empresa na hora”, um serviço destinado ao tratamento de heranças, entre vários outros. Enquanto antigamente, para resolver esses assuntos o cidadão tinha de se dirigir a vários serviços geograficamente espalhados e bastante lentos.
O “Simplex” assenta em dois eixos que são melhorar a produção legislativa e assegurar a prévia avaliação dos custos administrativos de cada nova regulamentação e a simplificação da vida dos cidadãos e das empresas.
Sendo assim, vemos o governo preocupado com o desempenho da Administração o que não só envolve a preocupação com os cidadãos e empresas de maneira directa como também a preocupação com os gastos avultados que o excesso de burocracia acarreta tanto para os cidadãos – encargos administrativos – como para a própria Administração Pública.
Analisando o “Programa Simplex” percepcionamos que a sua principal medida é a eliminação de certidões, pois as certidões mostram como os serviços públicos não têm comunicação entre si, e daí a necessidade de provar com as certidões que determinadas informações eram verdadeiras. Ao eliminar-se esta burocracia facilita-se a vida do cidadão comum pois não tem de se dirigir a inúmeros serviços para resolver os seus assuntos, porque quando for a um serviço este pode ir buscar toda a informação de maneira rápida e eficaz.
Desta forma, o país torna-se mais competitivo pois, na minha opinião, a desburocratização é um sinal positivo de crescimento económico. Num país que se quer dizer desenvolvido não é sustentável um serviço ao cidadão tão lento e, por vezes, tão ineficaz. A incapacidade existente na maioria dos serviços de informar os cidadãos nas atitudes que têm de tomar para resolver as suas situações é – para ser politicamente correcta - bastante desagradável.
Portanto, acredito que nesta altura foi uma medida bastante importante, apesar de ainda estar em aplicação. A economia, certamente, ainda não espelha especificamente essas medidas, contudo acredito ser um ponto positivo e talvez um ponto de arranque para outras “revoluções” mais importantes e mais significativas para a economia portuguesa e para o crescimento económico.
Concludentemente, a iniciativa marca pontos positivos do ponto de vista dos custos diminuídos para a abertura de novas empresas, bem como para o seu encerramento o que pode ser um incentivo estranho, mas ao mesmo tempo interessante. A vantagem prende-se em ser um bom lançamento para novas medidas estimuladoras do crescimento.

Luciana Fradique
raquel_fradique@msn.com

(artigo de opinião)

Optimismo …ou burrice?

No contexto da crise financeira que abrange todo o mundo em que situação se encontra o nosso país? O primeiro intuito é esperar que nos aconteça o mesmo ou pior que nos outros países. No entanto há quem não espere isso.
Será um pouco cedo para dissertar sobre tal assunto, no entanto lendo na passada segunda feira (13 Outubro) uma notícia onde se denotava o optimismo português questionei-me sobre os governantes e executivos que dirigem este país.
Segundo James Daniel, economista do fundo que segue Portugal, “Portugal entrou nesta crise razoavelmente bem posicionado” e acredita que Portugal se está a empenhar na prossecução dos planos de contingência propostos no dia 10 de Outubro (sexta) pelo FMI.
Apesar disso poderemos nós confiar no sistema? Temo que o optimismo português se converta num pesadelo futuro e prolongado. Se temos governantes (Teixeira dos Santos, Vítor Constâncio, por exemplo) que nem se dignam a ir a Washington, para em conjunto planearem soluções para a resolução da crise, como podemos confiar?
Este optimismo é simplesmente burrice. Que ninguém acredite que Portugal sairá ileso no final. Portugal vai ser dos países que mais vai sofrer com tudo isto, pois Portugal já está a viver um do piores momentos de sempre, taxas de desemprego elevadas, baixa produção nacional, baixo poder de compra, e um endividamento de 100% do PIB, não os aproximadamente 60% que toda a gente pensa, baixos salários, com uma conjuntura económica tão má como a nossa a crise vai chegar e arrasar.
Apesar dos nossos bancos até estarem bem preparados, o nosso país é extremamente dependente, se os países dos quais Portugal depende estão a viver crise, obviamente Portugal vai por arrasto.
Os portugueses endividaram-se demasiado, estando muitos deles com dificuldades no pagamento desses créditos. Mas acredito que o mal não seja dos bancos, mas sim do dito “crédito rápido e fácil” que é péssimo e o principal causador do endividamento do “povo português”, uma vez que este país criou uma sociedade de consumo para além das nossas possibilidades. Agora teremos que implementar o conceito de poupança à muito esquecida.
Apesar de tudo congratulo, não sei se os dirigentes, se os cidadão pela calma que se vive, pois o pânico e a especulação teria piorado muito mais a situação. Só nos resta esperar que o pânico não se instale, ninguém corra aos bancos (pois acredito que se as pessoas forem conscientes e pacientes todos verão as suas poupanças a salvo), que os governantes apelem ao bom senso para diminuir o consumo, já que a receita diminuirá (IRC a diminuir para fomentar a produção), que sejam cautelosos. Devendo ser o Estado o primeiro a tomar essa iniciativa, que apele a produção e que seja o primeiro a conter-se na despesa. E que se promova o crescimento da produção e o andamento dos mercados, pois estagnar será o pior.
(artigo de opinião)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Uma questão de perspectiva

Num cenário em que a crise afecta a Economia à escala global, os efeitos começam a fazer-se sentir em determinados sectores como é o caso do mercado petrolífero. Balançado pela especulação em torno da possível recessão mundial, o preço do barril de petróleo tem baixado a olhos vistos nestas últimas semanas. O barril de brente atingiu 75,63 dólares no passado dia 10, sendo que no NYMEX chegou a ser negociado nos 78,61 dólares. Comparando estes valores com os de Julho passado, temos uma descida de aproximadamente 50% no preço do barril de petróleo.
Face a estes dados, grande parte dos consumidores continua sem perceber o porquê de os preços da gasolina e gasóleo se manterem praticamente inalterados, ou melhor, de apresentarem descidas pouco significativas, sendo que questionam sobretudo a posição do Estado em relação a este caso. Muito se tem especulado sobre a existência de um possível cartel entre as principais gasolineiras a operarem em território nacional, sendo que a Autoridade da Concorrência desenvolve actualmente um segundo estudo que procura apurar a existência de dados que indiciem a existência do referido cartel.
Sendo difícil apurar neste momento a veracidade da existência de um cartel, será importante analisarmos algumas dúvidas que podem surgir na análise feita pelos consumidores em relação à posição do Estado.
Em primeiro lugar importa realçar o facto de em Portugal apenas existirem duas refinarias de petróleo, ambas pertencentes à Galp, o que significa que a mesma empresa é monopolista no que concerne à refinação do petróleo, o que é diferente no que concerne à distribuição de produtos petrolíferos. Assim não é a Galp que define directamente os preços operados pelas outras empresas.
O que de facto se verifica é que os preços dos produtos petrolíferos não dependem apenas do valor do barril do petróleo, mas como alguns consumidores não percebem esta situação não entendem o porquê de estes se manterem tão elevados.
Tem-se discutido se o Estado não deveria intervir no mercado e reduzir o nível de tributação ou fixar preços máximos. O que muitos consumidores não percebem é que o nível arrecadado pelo Estado neste ramo é muito elevado, uma vez que arrecada o valor do IVA e do ISP, receita esta muito importante para o equilíbrio do défice.
Aliás se o Estado procedesse à redução do nível de tributação estaria a ir contra a proposta “20-20-20” da União Europeia, que procura uma melhoria a nível ambiental no sentido de reduzir as emissões e aumentar a quota-parte de energias renováveis e aumentar a eficiência energética em 20% até 2020. Se o Estado baixasse o IVA ou o ISP, não estaria a procurar a desenvolvimento das energias renováveis nem a redução da emissão de Co2. A proposta visa sobretudo a sustentabilidade do ambiente para gerações futuras e o Estado não deve tomar medidas que “estimulem” o consumo de produtos petrolíferos, mesmo sabendo da importância dos mesmos para a Economia nacional (e internacional).
Desta forma, podemos compreender que até o estudo desenvolvido pela AdC estar concluído não podemos concluir se estamos perante uma situação de cartelização, ou se os preços verificados são apenas o reflexo do mercado actual. Pode-se especular (por exemplo é muito estranho entre o 1º Trimestre de 2007 e o 1º Trimestre de 2008, os lucros da Galp terem aumentado em 228,6%(!)), mas até ao estudo estar concluído apenas se pode fazer isso… O Estado não pode ser encarado como uma solução para o problema, uma vez que não pode nem deve alterar o nível de tributação no que concerne aos produtos petrolíferos. O consumidor é mais uma vez o principal prejudicado com a situação, mas como consumidores, não podemos ajuizar a “indiferença” do Estado se não conhecermos também o seu lado da questão. É tudo uma questão de perspectiva.

Helder Manuel Silva Meira
heldermeira@hotmail.com
(artigo de opinião)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Orçamento de Estado para 2008

Artigo Diário Económico
O Orçamento do Estado ministério a ministério:
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/edicion_impresa/destaque/pt/desarrollo/1174948.html

(cortesia de Nuno Soares da Silva)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Portugal e a crise do Subprime

A crise financeira que neste momento o Mundo atravessa a um nível global iniciou-se nos Estados Unidos com a crise do subprime. Na verdade, esta tem-se revelado uma das mais graves crises dos últimos anos a ocorrer no sistema financeiro mundial.
As consequências desta crise à escala global não podem nem devem ser ignoradas. A causa desta situação todos conhecemos e sabemos que se deveu ao crédito hipotecário e de consumo de alto risco nos Estados Unidos, motivado pela quebra do valor dos imóveis que serviam de garantia a essas mesmas hipotecas. Esse valor foi ainda inflacionado pelo fácil acesso aos créditos e os baixos custos dos empréstimos.
Uma vez iniciada verificou-se logo um abrandamento no ritmo de crescimento das economias dos Estados Unidos e, consequentemente, da economia da zona euro, assim como uma deterioração inevitável dos indicadores de confiança.
Na verdade, a ameaça constante dos efeitos da crise podem ser vistas na série de falências que todos os dias são notícia no nosso país, e o seu efeito é perceptível nos impulsionadores da economia portuguesa, sendo eles: as exportações (num contexto mais actual) e o consumo privado e o investimento (numa perspectiva futura).
Desta forma, é-nos fácil compreender actualmente em que medida as exportações são afectadas por esta situação e, para isso, basta-nos pensar nos máximos históricos atingidos pelo euro e o abrandamento dos principais mercados para os quais o mercado português exporta, sendo entre eles os mercados da Espanha, EUA e Alemanha, países esses que tais como nós se encontram em turbulência financeira, o que poderá ser prejudicial para nós, uma vez que poderá existir um certo risco de contágio. Esse risco de contágio da crise de liquidez é mais acentuado nos estados-membros onde o endividamento dos estados agregados se encontra num nível relativamente elevado e onde os empréstimos são substancialmente baseados em taxas de juros variáveis, elementos estes que em Portugal se destacam pela negativa. Além do mais, este risco pode ainda aumentar devido a falta de transparência nos instrumentos do sector financeiro e a crescente integração, levando à falência de activos de alto risco em toda a União Europeia, com especial enfoque nas economias mais abertas, onde podemos localizar a economia Portuguesa.
O consumo privado e o investimento estão também em risco, uma vez que com a actual situação financeira, os bancos portugueses estão mais cuidadosos com a atribuição de créditos, o que poderá resultar em perdas de investimentos sobretudo nas pequenas e médias empresas - PME (que constituem grande parte da indústrias portuguesas), mas também uma desaceleração do consumo privado. Além do mais, as sucessivas falências que se tem verificado nos bancos e a necessidade de serem nacionalizados para uma melhor preservação e estabilização do sistema leva a que estas instituições financeiras sejam mais desconfiadas em relação à concessão de créditos, mesmo entre eles, o que por sua vez, encarece o custo do dinheiro. Isto faz com que os prémios de risco aumentem, aumentando as taxas de juro. No caso concreto de Portugal isto faz com que o recurso ao crédito seja mais complicado e o facto do dinheiro ficar mais caro tem como consequência a diminuição do investimento privado e, desta forma dificulta o crescimento económico levando a menores níveis de emprego e salários.
Para concluir, e segundo o FMI, esta crise ainda não tem um fim á vista e esta poderá ter consequências muito significativas. No entanto, devemos aprender com ela principalmente para os sectores privados, mas também nos domínios da regulação e da supervisão.

Bruna Isabel Dias da Silva
brunisah@hotmail.com
(artigo de opinião)

domingo, 12 de outubro de 2008

“Poupanças dos portugueses estão garantidas”

A actual instabilidade a nível mundial no sistema financeiro, provoca um aumento de incerteza ao longo dos próximos meses.
Segundo garantias do governo e dados já existentes, leva-nos acredita que neste momento nenhum banco português esteja sob risco de ameaça, tal como tem acontecido com grandes instituições financeiras na Europa e na América, sendo na minha opinião este facto justificável pelos aumentos de capital já realizados, que deixam as instituições portuguesas numa posição mais segura e confortável em relação aos seus pares internacionais.
Contudo, devido ao endividamento dos portugueses e à paralisação do mercado monetário, as restrições de acesso ao crédito tem vindo a aumentar e quanto maior for a duração para a normalização e equilíbrio do mercado, maiores são os riscos que as instituições financeiras têm que enfrentar.
Segundo Ministro das finanças, as “poupanças dos portugueses” relativas a depósitos estão cobertos por depositante e por banco até ao valor de vinte e cinco mil euros. A expectativa dos agentes económicos é de que no prazo de um ano este valor suba para os cinquenta mil euros na União Europeia. Fernando Teixeira dos Santos, tal como o governo, desenvolveu esforços para tranquilizar os portugueses acabando por declarar o seguinte:”Aconteça o que acontecer, as poupanças dos portugueses em qualquer banco que opere em Portugal estão garantidas”.
A economia Americana pode entrar em recessão e os efeitos fazem-se sentir na Europa. Num momento de enorme tensão na economia mundial, leva a uma crescente quebra nas bolsas e as “instituições financeiras declaram falência ou sobrevivem a custos de processos de nacionalização e injecções de capital, e os investidores têm dificuldade em perceber se o seu dinheiro está seguro”.
No caso da assumpção de uma nacionalização, como já ocorreu este ano no Reino unido (nacionalização do Northern Rock e do Bradforf & Bingley), apenas altera o accionista maioritário porque a actividade do banco prossegue com normalidade, mas as existe inúmeras possibilidades de intervenção.
A falta de confiança e a constante incerteza é a principal razão da falta de liquidez e que leva ao aumento da taxa de juro, pois os bancos evitam fazer empréstimos a outras instituições financeiras. A estratégia alvo destas instituições é arrecadar dinheiro através da captação de poupanças de novos clientes. Neste ponto percebemos a razão da preocupação constante dos bancos e do governo em garantir as poupanças dos portugueses, pois se os depositantes procederem ao levantamento das suas poupanças levará à fatalidade das instituições financeiras portuguesas.
Fica também por esclarecer o que acontecerá no caso de os problemas surgirem fora da banca. Como agirá o executivo no caso de uma seguradora que comercializa produtos de poupança, seguros de capitalização ou seguros de vida associados a fundos de investimento entrar em colapso? Até hoje ainda não foi esclarecido aos portugueses os mecanismos que eles poderão accionar nestes casos, porém tem sido assegurado que não há risco de falência das seguradoras a operar em Portugal.
Fica também por clarificar quem agirá no caso de uma sociedade gestora de fundos de investimento a operar em Portugal, mas que não tenha ligação a uma instituição bancária entrar em apuros.
Há uma série de questões ainda por solucionar e por esclarecer que deixa a população mundial retraída e indecisa.
- Romão, António [Org.] (2004), Economia Europeia, Celta Editora, Oeiras
(artigo de opinião)

Prejuízos e nacionalizações marcam crise financeira na Europa

Prejuízos de bilhões de dólares e necessidade de intervenção governamental para evitar quebras em serie de instituições financeiras, são os efeitos da actual crise financeira entre bancos europeus. Crise essa que teve origem no mercado imobiliário dos EUA.
O director do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, reconheceu que as medidas tomadas pelos governos e bancos centrais só funcionarão depois de estar estabelecida a confiança nos mercados financeiros.
Entretanto, os bancos continuam a sofrer os efeitos da crise. Os EUA aprovaram um controverso plano de resgate dos bancos, que mandata o Estado a adquirir crédito no valor de 700 mil milhões de dólares. Na Europa, a Alemanha salvou o Hypo Real Estate que em parceria com outros bancos privados, fecharam um pacote de 50 bilhões de euros. Além disso, a chanceler alemã, Angela Merkel, sinalizou com uma garantia do governo a todos os depósitos bancários do país que chegam a 568 bilhões de euros.
França e Irlanda encontram-se perto de uma crise económica. Segundo o Insee (Instituto de Estatística da França), o PIB terá uma queda de 0,1% no terceiro e quarto trimestres, depois de ter retrocedido 0,3% no segundo trimestre. A Irlanda já detém o título do primeiro país a entrar em recessão na zona euro: o PIB no segundo trimestre deste ano teve uma contracção de 0,5%, depois de uma contracção de 0,3% no primeiro. O banco central irlandês já previu que a recessão no país deve durar dois anos, e por isso o governo irá garantir todos os depósitos bancários dos seis grandes bancos nacionais.
Um dos primeiros e mais atingidos pela crise foi o banco suíço UBS, que teve no segundo trimestre deste ano um prejuízo de 328,45 milhões de dólares, ligado ao sector de créditos “subprime”.
O Reino Unido salvou quatro bancos e lançou um plano que prevê a entrada no capital dos bancos ingleses num valor ate 65 mil milhões de euros, e libertou fundos ate 570 mil milhões de euros. O governo britânico já anunciou um pacote de investimento e corte de impostos para estimular o mercado imobiliário. Os preços dos imóveis caíram cerca de 10,5% segundo a Nationwide Building Society. Segundo a OCDE, a economia do Reino Unido deve registar contracções de 0,3% e 0,4% nos dois últimos trimestres de 2008, o que significa que mais uma das grandes economias mundiais entrava em recessão.
Bélgica, França e Luxemburgo uniram-se para salvar o banco franco-belga Dexia, com uma injecção de 9,2 bilhões de dólares, e de 18 bilhões de dólares para o grupo bancário e de seguros belga-holandês Fortis, nacionalizando parte do grupo. A Islândia nacionalizou todo o sistema bancário. Em Portugal, as quedas dos valores dos bancos estão a fragiliza-los e a CGD emprestou 200 milhões de euros ao BPN.
A raiz dos problemas europeus tem em comum com a dos americanos as ligações com o mercado imobiliário.
A OCDE espera um crescimento de 1,3% para a zona euro neste ano, contra 1,7% na projecção anterior. A economia contraiu-se 0,2% no segundo trimestre de 2008 em comparação aos primeiros três meses deste ano.
Em Washington, no final de um encontro entre líderes das sete maiores economias mundiais (G7) foi emitido um comunicado onde, mais uma vez, se assegura que tudo será feito para garantir a estabilidade dos mercados.
No entanto, nem as baixas nas taxas de juro, nem as operações maciças de apoio aos bancos com fundos públicos, nem as garantias dos depósitos pelos governos e nem os apelos à calma dos grandes banqueiros internacionais têm conseguido travar o pânico.

Fátima Isabel de Abreu Carqueijó
fatima_lkt@hotmail.com

(artigo de opinião)

sábado, 11 de outubro de 2008

OE 2009

Artigo Diário Económico
Governo antecipa entrega do Orçamento de Estado para 14 de Outubro:
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/nacional/economia/pt/desarrollo/1174405.html

(cortesia de Nuno Soares da Silva)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

“Portugal é um dos países menos competitivos na zona euro”

O último relatório do World Economic Fórum (WEF) revelou que Portugal ocupa a quadragésima terceira posição a nível mundial, e entre os 27 países da União Europeia fica no 17º posto. Encontrando-se à frente da Itália e da Grécia, mas atrás do Chipre. Numa lista de 134 países os EUA continua a liderar desde 1994, enquanto a Suiça surge em 2ºlugar, seguida da Dinamarca, Suécia e Singapura.
As “Leis laborais restritivas” e a “excessiva burocracia dos serviços estatais” são os factores que mais contribuem para reduzir a capacidade competitiva do nosso país, sustenta o relatório do WEF.
Os “rankings” foram elaborados com base em dados de domínio público e na recolha de opiniões em cada um dos 134 países.
O BCE revela que Portugal tem “uma desvantagem tecnológica relativa, um enquadramento institucional menos favorável, o que é ponderado por uma desfavorável capacidade de acesso aos mercados”. Portugal é o país que demonstra menos capacidade para competir no mercado internacional em termos de produção e preço.
Para potenciar a competitividade exterior das empresas europeias, o BCE propõe a execução de reformas no sentido de tornar o mercado único europeu mais integrado e flexível assim como mais investimento em inovação e formação dos recursos humanos.
O Governo lançou o SIMPLEX (plano de simplificação administrativa) que continua a melhorar o clima empresarial, e afirma ter gasto milhões com as PME e melhorado a justiça, no entanto nada disto se reflectiu, até agora, no crescimento potencial da economia. O crescimento potencial mantém-se nos 1,5%, o que é demasiado baixo para melhorar substancialmente e rapidamente os padrões de vida, como também considerando a velocidade à qual outras economias estão a mover-se.
Segundo o Banco de Portugal, o défice externo português deverá atingir os 10,6% do PIB este ano e os 11,1% em 2009, o valor mais elevado desde 1982. este é o reflexo de uma deteorização da competitividade nacional e do aumento dos juros pagos ao exterior pelo endividamento externo crescente.
Embora haja esforços da parte do Governo para atenuar esta situação, como o SIMPLEX, o plano tecnológico, o novo código de Trabalho as melhorias verificadas não são significativas. Segundo o meu ponto de vista a resposta a este problema terá de partir do sector privado, com incentivos do Estado. Há que assentar a nossa recuperação nas exportações e tornar o país mais competitivo, como as exportações não estão em boa situação temos de recorrer a políticas públicas.
É necessário seguir “estratégias e políticas adequadas”, as empresas deviam investir mais, deveríamos ter uma classe empresarial com mentalidade de risco, mais aberta e preparada para criar riqueza no país.
O “problema central” é fazer de Portugal um país competitivo.


Isa Andreia Oliveira Martins
isa_m.88@hotmail.com

(artigo de opinião)

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Energias renováveis para acabar com a dependência

A actual instabilidade no preço do petróleo, assim como as reservas cada vez mais diminutas do mesmo, evidenciam a necessidade crescente de encontrar alternativas energéticas viáveis e eficientes. Portugal, um país sem reservas petrolíferas, gás natural, carvão e sem experiência em energia nuclear, encontra-se ainda mais vulnerável a esta instabilidade, sendo directamente afectado pelos constantes aumentos do preço da energia e do combustível.
O crescente investimento que se vem vindo a sentir nas energias renováveis é prova de que, de facto, a aposta neste tipo de fontes “amigas do ambiente” se virá a tornar, cada vez mais, na melhor opção para contornar as limitações que o nosso país apresenta em relação à sua subsistência energética.
O parque solar que, no final deste ano, se encontrará plenamente instalado no Alentejo vem a consolidar o papel pioneiro que Portugal assume, no contexto europeu, em relação à utilização e investimento em fontes de energia limpas. Este parque, que será a maior exploração fotovoltaica do mundo, terá capacidade para abastecer 30 mil lares por ano, gerando electricidade directamente através da luz solar. A exploração, avaliada em 600 milhões de euros, vem em linha com os objectivos ambiciosos do executivo português, que pretende passar a sua quota de energias renováveis, em 2020, para 60%.
É, também, necessário destacar o maior parque eólico da Europa, instalado no norte do nosso país que, para além da componente energética, permitiu a criação de cerca de 1200 postos de trabalho, no fabrico das pás utilizadas para a captação do vento. Novamente no norte, mais precisamente no Porto, está a ser posto em prática o primeiro parque de energia das ondas, único em todo o mundo.
De facto, as energias renováveis assumem-se como a melhor solução face á conjuntura actual. O aumento do preço do petróleo acabou por conduzir a um crescimento da utilização da luz solar, assim como a um aumento da produção da energia fotovoltaica, tornando-se esta mais barata e, consequentemente, mais acessível e competitiva. A “paridade na rede” consolida-se como uma realidade: prevê-se que, daqui a alguns anos, a electricidade produzida pelo sol seja comparativamente igual á comprada á rede, em termos de preço. No nosso país, a aposta na energia solar é explícita, já que em cada nova habitação construída se torna obrigatório instalar painéis solares.
A crise petrolífera da actualidade acaba por oferecer um contributo essencial para a procura de outras alternativas e opções. A nossa dependência externa em relação à energia precisa de uma solução, principalmente agora que estamos completamente expostos à oscilação constante dos preços. Com esta aposta nas novas fontes de energia, para além de aumentarmos a nossa capacidade de produção de energia, poderemos alcançar uma economia com poucas emissões de carbono para a atmosfera. Num contexto globalizado, em que as questões ambientais surgem com cada vez mais relevância, torna-se fulcral a preservação do planeta. São estas preocupações que dão um maior impulso e apoio á exploração destas fontes de energia, não prejudiciais ao ambiente, provenientes de fontes limpas e renováveis. No entanto, seria utópico pensar que só as inquietações levantadas pelos ambientalistas conseguirão levar à completa consolidação das energias renováveis. È essencial apostar nos incentivos, que consigam provar aos empresários que, de facto, as energias renováveis são uma alternativa competitiva em relação às outras fontes energéticas mais poluentes, o que iria mostrar que, no longo-prazo, conseguiriam obter lucros através da utilização das mesmas. Estes lucros assumiriam um carácter não só monetário, como também ambiental.
Assim, o caminho para o desenvolvimento sustentável começa a ser traçado através destas iniciativas que, apesar de serem ainda em pequena escala face às necessidades energéticas do país, se fortalecem como precursoras na revolução tecnológica em busca da preservação do ambiente.

Vera Castro
veracastro24@hotmail.com
8artigo de opinião)

Portugal no caminho para os projectos públicos?

Na actual situação económica, grandes investimentos públicos (TGV, auto-estradas, aeroportos, etc.) são questionáveis. Para os socialistas (PS), são relevantes para o futuro de Portugal, enquanto os democratas (PSD) os vêem como o buraco que afundará ainda mais o país. Ambas as partes possuem fortes pilares de razão, sendo apenas possível optar não pela decisão certa, mas sim pela mais apropriada.
De facto, se os projectos são cancelados o investimento público diminuí. Esta escolha, para além de afectar projectos do sector privado, também produz impacto negativo no desemprego (considerando que esses investimentos iriam recrutar desempregados). Deste modo, seria de esperar uma retracção do consumo privado, e um eventual aumento da despesa pública (subsídios de desemprego). Com este panorama, a economia portuguesa deteriora-se.
Se os projectos seguirem em frente, o Estado ao ir buscar financiamento na banca aumenta assim as suas responsabilidades. Este processo leva a que os juros subam, o que torna a obra mais cara e dificulta o acesso a crédito por parte do sector privado. Este aumento do custo faz com que a despesa do Estado aumente o que directa ou indirectamente agrava o défice público. Caso o défice supere os 3% o Estado é obrigado a aumentar os impostos e/ou reduzir a despesa. Nesta situação, o efeito revitalizador dos projectos seria perdido. Contudo, num panorama de excepção do Pacto de Estabilidade, com margem para flexibilizar a obrigação da redução do défice em situações de crise, a hipótese de ultrapassar os 3% poderá ser concedida. Deste modo, a realização dos projectos públicos pode reanimar a economia.
Outro aspecto a realçar é a aprovação do Plano Paulson nos E.U.A. o que pode levar o mercado financeiro mundial à normalidade. Mesmo na Europa, apesar de não haver um plano semelhante, tem existido um esforço conjunto na estabilização do mercado, através de injecções de liquidez e nacionalizações de instituições. Estes acontecimentos podem levar o mundo de volta à Grande Moderação. De um ponto de vista mais pessoal, é preferível usar fundos do Estado para financiar a obra, do que encaminhá-los para subsídios de desemprego. A meu ver, os projectos públicos são o aditivo que o motor do nosso país precisa, mas só aumentam o desempenho se no motor existir gasolina, e essa deve ter ingredientes como estabilidade do mercado, melhores políticas económicas, melhor alocação dos recursos humanos, maior produtividade e melhor formação profissional.

Helder Fernando Pereira Alves
(artigo de opinião)

TGV: um projecto prioritário num tempo de reduzidos recursos financeiros?

Foram entregues, no passado dia dois, as propostas dos quatro consórcios para o primeiro troço do projecto da Alta Velocidade, TGV, em parceria público-privada. Nos quatro agrupamentos, contam-se cerca de 30 empresas, entre construtoras, gestoras de activos, concessionárias e entidades financeiras.
Os quatro concorrentes apresentaram propostas entre os 1,3 e 1,7 mil milhões de euros, as candidaturas incluem também os preços médios anuais de manutenção do troço. Quem vencer, fica com a concessão de 40 anos, recebendo uma renda do Estado pela disponibilidade da infra-estrutura.
De entre as propostas entregues, destacam-se as dos consórcios nacionais, que exigem o menor esforço líquido do “tesouro” público ao longo dos 40 anos da concessão. O agrupamento Elos, liderado pela Brisa e pela Soares da Costa apresentou o preço mais baixo, de 1,32 mil milhões de euros para a construção e de 11,6 mil milhões de euros por ano no que respeita à manutenção. Já o agrupamento Altavia-Alentejo, liderado pela Mota Engil e os franceses da Vinci, apresentou uma proposta de 1,33 mil milhões de euros para a construção e de 16,7 mil milhões de euros por ano para a manutenção. Os outros dois agrupamentos terão apresentado propostas mais elevadas: o consórcio liderado pela Cintra e o agrupamento Eurolinhas do Eiffage e da FCC.
O Estado vai pagar à cabeça ao concessionário que vencer o concurso para a construção do troço Poceirão-Caia cerca de 838 milhões de euros, dos quais 641 milhões são provenientes de fundos comunitários, 137 milhões do Orçamento do Estado e 60 milhões pagos pela Refer. Àparte destes valores o Estado terá ainda de pagar a renda anual a quem construir e gerir a infra-estrutura.
Além do financiamento, que pode revelar-se complicado devido ao elevado risco que comporta o projecto para os privados, há ainda a questão das ligações ibéricas. No Orçamento de Estado espanhol é notório que têm uma maior preocupação com a integração com a rede francesa do que com a portuguesa.
Até Janeiro do próximo ano, o júri de avaliação das propostas deverá escolher os dois concorrentes para passarem às negociações finais.
O projecto está avaliado em 8,2 mil milhões de euros, para já divididos pelos eixos Lisboa-Madrid, Lisboa-Porto e Porto-Vigo, a linha entra em funcionamento em 2013.
Apesar de, no curto prazo, ser um investimento demasiado dispendioso e pouco lucrativo para o país, com elevado custo-benefício, pode revelar-se benéfico para o desenvolvimento das relações económicas intraeuropeias.
É de fácil compreensão que, quanto maior for a integração de uma economia no espaço económico envolvente, maior será o seu sucesso económico. Ou seja, no longo prazo, o TGV pode projectar a nossa economia e levar-nos a uma maior integração no panorama europeu.
No entanto, tendo em conta a situação económica nacional e todos os sacrifícios inerentes a este projecto, penso que os benefícios do TGV não são suficientemente fortes para justificar tal investimento. Neste momento, as prioridades do estado devem prender-se com o desenvolvimento económico de um país com profundos problemas estruturais. Apesar de ver com bons olhos este tipo de investimento, não considero oportuno inserido no actual contexto económico português.

Ana Sofia Martins Gerós
sofiageros@hotmail.com

(artigo de opinião)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Três anos consecutivos de perda do poder de compra

Os dados divulgados pela Comissão Europeia, em meados do presente ano, mostram-nos uma verdade incontornável: os preços têm aumentado acima dos salários e, sobretudo, dos rendimentos das famílias portuguesas. A mesma Comissão fez as contas e, segundo os seus resultados, o ano em curso deverá completar o terceiro ano seguido de variação negativa dos salários reais por trabalhador em Portugal, apresentando estes uma queda de 0.2%. Este dado mais não significa que o aumento de 2.6% nos salários nominais será totalmente absorvido pela inflação prevista de 2.8%. A uma conjuntura pouco animadora de reduções reais dos salários de 0.9% em 2006 e de 0.6% em 2007 segue-se mais um ano de perda do poder de compra.
Desde 1981 os anos de 2006, 2007 e o presente ano de 2008 apresentam aumentos salariais abaixo da inflação, o que representa o período mais longo de perda do poder de compra em Portugal, sendo que, até então, se tinha apenas registado a diminuição dos salários médios em quatro anos de recessão económica, a saber 1983, 1984, 1993 e 2003. Neste sentido pode-se conjecturar dizendo que a presente década será, provavelmente, aquela que piores notícias acarretou para os portugueses, não só ao nível dos seus próprios salários como também nas esferas sociais e políticas. Deste modo, as autoridades europeias estimam que entre 2001 e 2009 a variação real será, simplesmente, de 0.2% ao ano, valor este que contrasta com os 6.6% dos anos 60, com os 4.5% dos anos 70, com os 1.6% dos anos 80 e com os 2.9% dos anos 90.
No entanto e, fundamentalmente na prática, os números são, somente, a confirmação daquilo que os portugueses sentem todos os dias quando se confrontam com a factura da electricidade, do gás, das compras do supermercado, da educação dos filhos, da saúde entre outras coisas afectas ao quotidiano do mais simples cidadão. Em suma e de uma forma simples, o que se verifica é um agravamento paulatino e recorrente de tudo aquilo que é essencial e que, infelizmente, não escapa a ninguém. Passo a passo a política do Governo distancia Portugal dos níveis de desenvolvimento médio dos países da Europa e, assim sendo, os portugueses cada vez mais se desviam das condições médias de vida dos países comunitários. Mais ainda: há uma notória persistência das dificuldades de vida dos portugueses, com graves problemas de desemprego, gritantes situações de pobreza e centenas de milhar de portugueses a serem empurrados para novas vagas de emigração. Não bastando e cada vez mais no limite do fio, verificamos um agravamento da injustiça e da desigualdade sociais, aumentando, hipocritamente, os lucros daqueles que pavoneiam as suas fortunas nas páginas da imprensa e nas listas dos mais ricos do mundo.
Entre as explicações mais resolutivas para este fenómeno estão a contenção salarial verificada na Administração Pública, com consecutivos anos de aumentos salariais abaixo da inflação e, igualmente, a escalada da taxa de desemprego para níveis mais altos, o que, por sua consequência, retira e fracciona o poder negocial dos trabalhadores do sector privado na ânsia de exigirem aumentos salariais mais generosos. Ainda assim, a contenção nos aumentos salariais que se tem vindo a registar nos últimos anos tem algumas consequências positivas para o desempenho das empresas, nomeadamente quando estas estão a competir com estrangeiros, e principalmente quando em concomitância se registam acréscimos significativos ao nível da produtividade.
Segundo a Comissão Europeia a produtividade cresceu 1.7% em 2007, registando o valor mais alto desde 1999. E apesar do abrandamento da economia prevê-se que continue a subir a um ritmo de 1% em 2008 e no seu subsequente. Assim, este facto combinado com as actualizações salariais moderadas faz com que os indicadores de competitividade evidenciados pela União Europeia registem uma forte melhoria.
Neste seguimento, conclui-se que o problema para os trabalhadores, como tantas vezes aconteceu, está em saber qual vai ser, na realidade, a inflação do próximo ano. As previsões do Governo têm sido, nos últimos anos, um elemento de forte perturbação da política económica, mas, sobretudo, têm sido um elemento de destabilização da política de rendimentos e da negociação colectiva, com impactos negativos sobre o crescimento real dos salários, pensões e demais rendimentos. É fundamental que a estimativa da inflação se transforme num referencial realista e credível para a política de rendimentos e para a negociação salarial, sendo, de igual modo, urgente alterar a política económica que tem vindo a apostar na “moderação salarial” como principal factor de consolidação das contas públicas, de controlo da taxa de inflação e até de melhoria da competitividade. Na prática, o peso dos salários no rendimento total tem vindo a perder peso nos últimos anos, sendo este um facto recorrente nos cidadãos portugueses. Para contrariar esta tendência, a consolidação das finanças públicas não pode continuar a ser feita à custa de políticas salariais e de rendimentos restritivos, cujas implicações são negativas não só sobre a vida e o bem-estar dos trabalhadores, pensionistas e suas famílias, como também sobre o potencial de crescimento económico do país.

Tânia Peixoto
tani_peixoto@hotmail.com

(artigo de opinião)

Talvez seja algo mais que uma crise hipotecária, financeira e global ……

A enorme expansão do sector imobiliário dos Estados Unidos gerou uma massiva oferta de hipotecas, das quais quase uma quinta parte foi concedida a famílias que só tinham rendimentos à justa para pagá-las, quando as taxas de juro estavam baixas. À medida que as taxas de juro foram subindo e as hipotecas foram encarecendo começaram a dar-se as faltas de pagamento. Isto afecta imediatamente os bancos que tinham concedido estas hipotecas, mas perante o que normalmente fazem com os títulos, a crise estendeu-se. O que acontece é que os bancos que concedem estas hipotecas vendem, por sua vez, os títulos hipotecários nos mercados financeiros. Esta é a forma pela qual os bancos convertem o endividamento familiar num impressionante negócio, porque recebem o dinheiro que emprestaram mais os juros e, além disso, obtêm lucros negociando os títulos de crédito. Quando começa a haver faltas de pagamento, porque os juros subiram ou porque diminuiu o rendimento familiar, gera-se um efeito em cadeia que é o que leva a que a crise se estenda. Gera-se assim uma crise de liquidez, não porque "faltem" meios de pagamento, mas porque são retirados. Isto acontece porque actualmente a imensa maioria dos meios de pagamento são "fictícios", isto é, papéis financeiros semelhantes aos títulos hipotecários, que estão vinculados principalmente a operações financeiras de carácter especulativo. Ainda que a crise se inicie no mercado hipotecário de um país, neste caso dos Estados Unidos, é indubitável que se estenderá por todo o globo, pois os mercados financeiros são globais e os bancos e investidores. Directa ou indirectamente os bancos são verdadeiros protagonistas das bolhas especulativas imobiliárias dos últimos anos, das aquisições especulativas de empresas e do vaivém das bolsas. Mas agora, a questão centra-se, nos bancos depois de terem colocado as suas reservas em tantos investimentos especulativos, estarão em condições de suportar uma crise de liquidez financeira, uma drástica diminuição da capacidade de endividamento das famílias e das empresas, com falta de pagamentos mais ou menos generalizados, ou uma explosão da bolha imobiliária que reduza o valor contável dos seus activos. Isto é, se dispõem de recursos financeiros suficientes para fazer frente aos pedidos efectivos ou para proporcionar os recursos financeiros que a vida económica requer. Nas últimas décadas a actividade bancária mudou e dedica-se a colocar a poupança, principalmente, em operações financeiras especulativas. Graças ao apoio dos bancos centrais (que os apoiam quando necessitam) e ao ambiente geral de aceitação que este estado de coisas tem, os bancos puderam aumentar os seus negócios, mantendo uma percentagem de reservas cada vez mais pequena, o que logicamente aumenta a sua rentabilidade, como vem sucedendo, mas aumenta exponencialmente o risco e diminui a sua solvência. A consequência de tudo isto é o extraordinário aumento da instabilidade do sistema e do risco assumido. A pergunta que actualmente é inevitável ser feita é se, nesta louca corrida ao lucro, os bancos não terão chegado ao paroxismo e ao risco excessivo?

Lília Martins
Lília Regina Vieira Martins

(artigo de opinião)

Investimento privado

Desde 2001, que Portugal não consegue atingir os níveis de crescimento económico que atingiu anteriormente. Entre 1985-1991, Portugal teve uma variação no crescimento económico de 5,7% do PIB per capita, enquanto entre 2001-2005 apenas se observou um crescimento de 0,1% ao ano.
Mas na verdade o que estará na causa desta diminuição? Estudos comprovam que esta acentuada discrepância no crescimento económico que se tem vindo a verificar, resulta da alteração negativa de diversos factores, nomeadamente da despesa pública e privada e do investimento público e privado. O aumento da despesa pública e as restrições ao endividamento das empresas e do Estado que se tem vindo a verificar desde 2001, têm inabilitado Portugal de atingir o ritmo de crescimento económico anterior.
A actual crise dos mercados financeiros desencadeada pelo subprime (crédito de alto risco) tem causado nos bancos um aumento da percepção do incumprimento por parte dos outros bancos ou clientes que contraem empréstimos. Este aumento do risco provoca um aumento das taxas de juro, o que por sua vez, gera uma inibição à obtenção de empréstimos.
Assim, com o difícil acesso ao crédito torna-se complicado para as empresas conseguirem aumentar os seus investimentos e tornarem-se mais competitivas face ao exterior. Por outro lado, considera-se ainda que o sector privado se deve afastar o mais que possível do Estado sobretudo as empresas que produzem produtos não transaccionáveis, pois assim só faz com que o Estado aumente ainda mais os seus Gastos e consequentemente o Défice Orçamental e não haja aumento da competitividade.
Contudo, este “travão” ao crédito afecta também os consumidores, que vêem as suas poupanças e o seu poder de compra a diminuir. Nem mesmo com a redução, em Julho, da taxa normal do IVA as despesas de consumo final das famílias aumentaram. Por isso, eu considero que esta diminuição reflectiu-se acima de tudo, numa diminuição da carga fiscal que as empresas entregam ao Estado e não da carga fiscal que as empresas recebem dos consumidores. Ou seja, esta diminuição do IVA de 21% para 20% foi fundamentalmente para incentivar as empresas a aumentar os seus investimentos e consequentemente tornar Portugal mais competitivo, embora pense que não foi muito significativa. A acumulação de stocks que se tem verificado ultimamente tem sido um outro entrave ao investimento feito pelas empresas, pois se estas não conseguem esgotar toda a sua produção do período anterior, vão perder incentivos para investirem no período seguinte.
No entanto, outros factores estão na origem desta diminuição da produtividade e competitividade de Portugal tais como, a taxa de abandono escolar, a má formação nas escolas, a rigidez do mercado de trabalho, a escassez da capacidade de investimento e inovação por parte das empresas, a perda de competitividade das exportações, a informalidade (fuga ao fisco por parte das empresas), o aumento do peso do sector público na economia, entre outros.
Portanto, se o sector público não pode continuar a assumir os encargos que assumia antes devido à carência dos recursos financeiros públicos, então o sector privado deve ser mais autónomo, aumentar o seu nível de investimento em Inovação e Desenvolvimento, aumentar as suas exportações externas, permitir uma maior mobilidade de trabalhadores e aumentar o nível de formação fornecido aos trabalhadores.

Ana Matilde Carvalho Gonçalves
matildegoncalves_001@hotmail.com
(artigo de opinião)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Serão os Biocombustiveis uma alternativa ao Petróleo?

A irregularidade existente no mercado do crude tem vindo a ser um problema que nos afecta á décadas.
Já está interiorizado para a maioria das pessoas que tem de se encontrar soluções dada a volatilidade do mercado e o poder existente dos detentores do crude, este poder prova que eles regulam de um modo conveniente.
Nestes últimos dias verificou-se uma queda do preço do petróleo derivado do aumento das reservas do crude e da crise financeira dos EUA. Como resposta a esta situação a OPEP afirmou que vai diminuir a produção de petróleo, o que mais uma vez levará a aumentos do preço do crude. Esta dependência do petróleo tem de ser controlada através da criação de alternativas que sejam mais amigas do ambiente e renováveis.
Uma das respostas a esta dependência tem sido os biocombustíveis, defendido e criticado por muitos. Diz-se ser uma resposta de curto prazo á dependência, mas o que se verificou é que derivado aos biocombustíveis o preço do milho e trigo disparou, registou valores que há muito não se verificavam, as reservas globais de cereais desceram para valores muito baixos.
Sabemos também que os agricultores respondem á procura de quem lhes oferecer melhores preços, têm plantado mais, mas isto não garante que possam dar resposta á crescente procura dos biocombustíveis. Mesmo que seja possível não se assegura que sejam nos melhores locais, podendo assim destruir áreas que deveriam ser protegidas.
A meu ver para o planeta é mais prejudicial o biocombustível que o petróleo. No ano passado foi publicado pelas Nações Unidas um relatório onde se estimava que 98% da floresta tropical da Indonésia estará abatida até 2022, à 6 anos atrás, a mesma fonte afirmava que tal não aconteceria antes de 2032. Mas antes, à 6 anos atrás, não se contava com a produção de óleo de palma que é destinado para o mercado europeu de biocombustíveis. Esta desflorestação aumentará num âmbito mundial e levará á extinção de algumas espécies.
Existem malefícios maiores quando se queimam as florestas, quer as árvores quer a turfa são transformados em dióxido de carbono. Uma consultora holandesa mostrou num dos seus relatórios que cada tonelada de óleo de palma origina a emissão de 33 toneladas de dióxido de carbono, significa que é dez vezes superior ao que o petróleo produz. O Biodisel de óleo de palma representa dez vezes mais alterações ambientais que o diesel tradicional.
Concluindo, são necessárias alternativas ao petróleo, alternativas estas que causem menos impactos ambientais e menos problemas financeiros, ou seja, que se resolva um problema sem se criar outro maior. É de acreditar e consolidar as esperanças nas energias renováveis (Eólica, Solar, Hidráulica, etc.), é necessário investimento focado nestas energias.

Liliana Soraia Ferreira Vieira
(artigo de opinião)