O reconhecimento da relevância das dinâmicas
de empreendedorismo foi ganhando terreno nos discursos sociopolíticos, fenómeno
evidente no eco produzido pelos media,
e disseminou-se muito para além do domínio estrito da esfera empresarial, porque
se foi sedimentando a perceção de que a tessitura de uma economia sólida
depende de uma rede de interações, mormente com o domínio da educação.
Na União Europeia, desde há mais de uma
década que o objetivo de implementar a educação para o empreendedorismo, pela
sua correlação com a empregabilidade e a vitalidade económica, se tornou um
desígnio prioritário da agenda política; no entanto, nem todos os países
caminharam ao mesmo ritmo na persecução desta meta. Pela análise de um estudo
da Comissão Europeia (relativo a 2014/15), constatamos que as estratégias
específicas de educação para o empreendedorismo estão concentradas no norte da
Europa e na região das Balcãs Ocidentais, sendo Portugal um dos países onde não
existe uma estratégia nacional.
É certo que a Direção Geral da Educação
trabalha já na promoção de um papel ativo das escolas no desenvolvimento do
espírito empreendedor – apresenta, na sua página online, essa intenção, documentos de referência, projetos e
concursos, recursos educativos e ferramentas de avaliação – porém sem que isso resulte
na definição de uma linha de ação efetiva vertida, por exemplo, nos curricula. Assim, fica ao critério, e
vontade, das escolas o comprometimento com a inclusão de estratégias de
aprendizagem estimuladoras de perfis empreendedores, o que parece
democraticamente válido mas que compromete, certamente, a desejável difusão de
práticas neste domínio.
Apesar de as abordagens à educação para o
empreendedorismo poderem ser várias – desde a sua configuração como disciplina
à tematização incluída nos programas das disciplinas que já integram o
currículo ou enquanto área interdisciplinar –, a verdade é que o exercício de
experiências de aprendizagem centradas nesse objetivo não tem ganho espaço
significativo na moldura escolar (são tão residuais os casos de escolas que
criaram a disciplina como oferta de escola quanto os exemplos de exploração de
dinâmicas de empreendedorismo no âmbito dos programas das disciplinas instituídas)
e parece confinar-se, maioritariamente, ao pontual decorrente da participação
em projetos e concursos.
Claro que as modalidades podem e devem ser
heterogéneas consoante o público-alvo a que se destinam: turmas do ensino
regular vs. ensino profissional (será
sempre mais premente ser disciplina no plano de estudos dos cursos
profissionais, porque estes preparam jovens adultos para a entrada no mercado
de trabalho); alunos dos ciclos do básico ou secundário (sobretudo nos
primeiros ciclos, o importante é estimular a curiosidade, a cooperação, a ideia
de superação, algo trabalhável no âmbito das áreas disciplinares existentes). O
problemático será se o volume de experiências educativas que envolvem o
desenvolvimento de competências de empreendedorismo se reduzir a avulsas atividades
extracurriculares, coincidentes com o calendário de concursos de
ideias/projetos, de incipiente implicação disciplinar/interdisciplinar.
Não obstante a ressalva sobre a limitação de
um trabalho decorrente apenas de estímulos exteriores à escola, sem uma linha
de ação pedagógica intrínseca, é inegável o contributo dos concursos de ideias
e projetos, cada vez mais a multiplicarem-se do local ao nacional (o INOVA é um
bom exemplo da forma como diferentes instituições se associam para promover dinâmicas
de empreendedorismo); bem como das iniciativas da própria esfera empresarial, ou
desenvolvidas com a sua parceria, que procuram incentivar o espírito empreendedor
no contexto escolar (casos da Associação Nacional de Jovens Empresários e da
Associação Industrial Portuguesa); potenciando competências importantes para o
percurso académico, a vida pessoal/profissional e o quadro económico-social.
Enfim, apesar do atávico atraso de Portugal, começam
a ser dados passos no sentido de promover o empreendedorismo em contexto
escolar, todavia ainda pouco consistentes face aos desafios que se colocam aos
jovens e premência no quadro de uma crise económica onde o impulso empreendedor,
assente na criatividade e inovação, pode ser essencial para potenciar o aumento
da taxa de empregabilidade. Falta uma política educativa clara que fomente a
implementação de práticas coerentes e consequentes que viabilizem aprendizagens
específicas neste domínio da construção do conhecimento que é o empreendedorismo,
pois Portugal precisa de jovens proativos, que tenham ambição e visão, que
sejam o futuro.
Inês Magalhães Castro
Silva
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular
“Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da
EEG/UMinho]