A pouco mais de uma semana para o Natal, as compras pagas com cartões bancários chegaram aos 1969 milhões de euros. O valor, divulgado pela SIBS, corresponde ao período entre 24 de Novembro e 14 de Dezembro e é 5,1% superior ao do ano passado, na mesma altura. Estes valores já tinham sido antecipados por um estudo do IPAM - The Marketing School, que apontava para uma subida de 7% nos gastos com compras este Natal e para um valor médio de gastos a rondar os 272 euros.
Mas onde é que está a crise, afinal? Numa altura em que apenas se fala no colapso do maior banco português, nos cortes salariais, no facto da bolsa portuguesa estar entre as piores do mundo, no aumento do IVA e outros impostos, na pobreza do país, é possível haver um aumento de gastos, seja no que for?
A taxa de desemprego está a diminuir, é certo, mas talvez devido ao facto de cada vez mais pessoas que faziam parte da população ativa e desempregada estarem a emigrar. O salário mínimo aumentou em 20 euros, praticamente nada se comparado com o aumento do IVA que vai ocorrer já no início de 2015.
Então, qual é a lógica disto? Se os salários estão mais baixos, como é que se gasta mais em relação ao ano passado? Se há pessoas a passar fome, como é que se gasta milhões em compras de natal? Em plena crise, enquanto dizem que é para apertar o cinto, que a austeridade vai continuar, os portugueses continuam a ter os mesmos padrões de consumo do pré-crise? Falam que a crise está a abrandar, mas isso não significa que tenha acabado. Aliás, está muito longe de acabar!
Só há, então, uma explicação para estes valores: há uma loucura instalada na sociedade em relação ao natal (e não só). A população portuguesa continua a ser consumista, parece haver uma ignorância por parte dos consumidores em relação à crise, pois esta parece não estar a afetar em nada o poder de compra dos portugueses. Basta dizer-se que a crise está a abrandar para se aumentar o clima de confiança dos consumidores portugueses. Há claramente uma inconsciência por parte dos consumidores em relação à crise que enfrentamos ou, pior que isso, os portugueses estão a ignorar a crise e continuam a gastar mais do que podem, como faziam noutros tempos. Tudo isto não faz sentido, na minha opinião, e contraria tudo que se tem vindo a afirmar nos últimos anos. Afinal, estamos em crise ou não?
Sara Margarida Pimenta
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]