segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Dados pessoais: um negócio assustadoramente lucrativo e atual

Será que nós achamos que estamos seguros porque temos uma palavra passe para cada rede social, app ou qualquer outra plataforma? A maior parte das pessoas não lê os termos de utilização de dados por uma questão de pragmatismo e rapidez. No entanto, tudo o que fazemos fica registado no mundo virtual, desde os jogos, as compras online, a nossa atuação em redes sociais, o uso de uma app, entre outros exemplos.
Todos estes serviços têm algo em comum: são necessários dados para a sua utilização, muitas vezes apenas indiretamente. As redes possuem dados relativos às conversas que estabelecemos, fotografias e informações pessoais que partilhamos. Além disso, as apps que usamos têm, por norma, as chamadas cookies que armazenam a nossa informação e que nós aceitámos sem sequer ler as suas condições.
Todas essas informações que partilhamos, ainda que sem termos sempre essa noção, são uma grande fonte de negócio de grandes empresas como a Google, que prestam serviços de informação que permitem traçar os perfis dos consumidores. Então a Google vende os nossos dados? Não! Se alguém gosta de nadar e fá-lo com frequência, a probabilidade de comprar produtos ligados à natação é mais relevante. Assim sendo, é aí que entram estas multinacionais, exibindo os anúncios com produtos de natação a quem pratica ou gosta desse desporto. Na verdade, o facto de não vender os dados é o que torna o negócio tão lucrativo, disponibilizando a informação que pode, no momento certo, ao cliente que faz mais sentido.
A Google sabe muito sobre nós, conhece o que compramos online na nossa loja preferida, os compromissos que temos registados no calendário ou todos os locais que percorremos? Será que temos assim tanto poder de escolha? Na teoria temos, mas as nossas decisões, por exemplo de consumo, são muitas vezes condicionadas por aquilo que pesquisamos na internet. De facto, isto acontece até mesmo quando vamos ao supermercado, já que o uso dos cartões de desconto permite-lhes perceber quais os produtos que nos vão suscitar interesse, para que depois possam enviar aquela mensagem “nada programada” a informar que na semana seguinte irão fazer promoção nesses artigos.
Os maiores defensores da privacidade dos dados pessoais dos indivíduos acreditam que se pode proteger mais informações com uma maior transparência sobre os dados que realmente existem e não podem ser utilizados para nada além do estritamente aceite. Nesta linha de pensamento, a Google tem sido multada por violar alguns desses direitos. A mais recente contraordenação teve a ver com o uso não autorizado de informações de crianças via Youtube, tendo sido aplicada uma multa na ordem dos 150 milhões de euros. De facto, a Children's Online Privacy Protection Act (criada em 1998) nunca tinha revelado uma punição com um valor monetário tão avultado.
De facto, a realidade dos dias de hoje pode ser bastante assustadora quando refletimos um pouco sobre a mesma. Pensar que tudo aquilo que fazemos está à disposição de todo um mundo digital é realmente apavorante. No entanto, toda essa evolução está associada a uma maior eficiência das empresas, pois conseguem direcionar muito mais a sua atuação para os seus alvos e os consumidores têm acesso a informação e publicidade sobre produtos que vão de encontro às suas necessidades.
Concluindo, não vou dizer que a falta de privacidade não me deixa insegura, mas, numa perspetiva macro, esta permite uma melhor interação e concretização da lei da oferta e da procura, ou seja, um melhor funcionamento da economia

Alice Graça

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

domingo, 29 de setembro de 2019

Eleições e abstenção - inimigas letais?

Eleições: um direito muito disputado ao longo dos séculos, desde o começo dos começos com o simples direito ao voto, passando por lutas mais recentes que permitiram que este direito fosse de todos os cidadãos e não só de classes/géneros específicos, como fora no passado.
A existência de eleições é, a meu ver, algo extremamente positivo, permitindo que tenhamos algum impacto nas decisões feitas pelas identidades para as quais votamos. Claro está, tem custos inerentes (alguns muito significativos), desde a paralisação do país nos meses que antecedem as eleições, passando pela aprovação/manifestação de ideias dos políticos no período final do mandato apenas para agradar ao eleitorado, aos custos da própria eleição. Importa não esquecer, ainda, os ciclos viciosos de repetição de eleições, que têm-se tornado mais comuns na Europa, com graves consequências para os países por afetar a estabilidade e a imagem destes face a investidores estrangeiros.
Ainda assim, pesando ambos os lados da balança, continua a fazer todo o sentido manter este direito que tanto custou a conseguir. Mas, parece que nem toda a gente pensa desta maneira, ou pelo menos os dados da abstenção isso indicam:

Acima, pela leitura do gráfico, é possível detetar um crescimento bem claro. Destacar ainda que se trata de dados sobre a abstenção para a eleição da AR. Se analisássemos para as Europeias, os números seriam ainda mais expressivos.
Elevadas abstenções são graves? Evidentemente, pela simples razão que comprometem a democracia – aumenta a distância entre os eleitores e os governantes, correndo inclusive o risco destes últimos serem elegidos de forma enviesada, ou seja, não refletirem efetivamente a maioria com que o país se identifica.
Porque estão as pessoas a deixar de votar? Existe um famoso paradoxo, o “paradoxo do voto”, que ajuda a explicar isto. Economicamente, falando de milhões a votar para estas eleições, o benefício que tiramos do nosso voto, que estatisticamente não terá influência, é inferior ao custo (seja ele um dia em casa com a família ou um dia a passear de carro). Logo, racionalmente, ninguém deveria votar. Mas as pessoas votam! Votam pela consciência de que é um direito cívico e que é a forma de preservar o nosso estilo de vida democrático.
Achámos então o nosso problema e com ele a solução: as pessoas deixaram de estar consciencializadas com esta mentalidade e, portanto, a solução passa por voltarem a estar.
Na minha perspetiva, formas de o conseguir podem surgir por uma referência a este direito mais frequentemente, utilizando os media e as redes socias para chegar aos jovens (um dos segmentos populacionais com maior abstenção) e também por um estilo político mais perto dos mesmos, com referência a causas que estes acham relevantes (o PAN suporta muito o seu crescimento neste método). Sejam estas, ou outras soluções mais concretas, o facto é que é um problema muito atual e todos devemos endereçar esforços para o solucionar, e em especial a esfera política.

Rui Moutinho Bessa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Carros elétricos: já passado ou (ainda) futuro?

Após décadas a poluir constantemente este planeta, nos últimos anos vemos uma crescente preocupação com a Natureza. Esta preocupação levou a que nos anos 90, com os novos acordos ambientais (por exemplo, a norma EURO 0 – imposição de limites máximos de emissões de poluente), surja um renascimento da discussão sobre a sustentabilidade rodoviária e os veículos elétricos. Sim, renascimento.
O primeiro carro elétrico já data de 1884, construído pelo engenheiro Thomas Parker. E os carros elétricos “dominavam” o quotidiano até…Henry Ford construir o Model T, a gasolina. Assim, a produção de carros elétricos passou a ser praticamente nula até que nos anos 70, devido à crise petrolífera provocada pelo embargo dos países da OPEP, muitos viram os automóveis elétricos como uma possível solução. Hoje, mais de 1 século depois de Parker, temos as maiores marcas do mercado com carros elétricos no mercado.
Mas voltando ao carro elétrico, afinal o que é um carro elétrico? Os carros elétricos diferenciam-se dos demais pelo facto de utilizarem um sistema de propulsão elétrica e não terem a necessidade de recorrer à combustão interna. O motor elétrico converte a energia armazenada (em baterias recarregáveis), alimentando um motor que, por sua vez, fará a conversão da energia em energia mecânica, possibilitando que o veículo se mova.
Agora a questão que se prende é: os carros elétricos vão cair novamente em desuso ou, desta vez, é para se imporem firmemente no mercado?
Por um lado, quem compra um carro elétrico ainda tem direito a muitos benefícios por optar por esse tipo de viaturas. Deste modo, os governos, as leis, as normas tentam impor a ideia de que os carros elétricos vão ter uma posição cada vez mais forte no mercado. Um dos incentivos, a nível nacional, prende-se com o facto das pessoas singulares poderem receber um incentivo de € 3 000 e as pessoas coletivas receberem até quatro unidades de incentivo (€ 2 250 cada incentivo, num total de 9 000 euros). Outro exemplo é a aquisição destas viaturas e as respetivas despesas não estarem sujeitas a qualquer tributação autónoma e, ainda ser possível deduzir o IVA (os valores limites de dedução referem-se ao preço base dos carros, sem impostos). Mesmo o IUC destes carros é consideravelmente mais baixo. Além disto tudo, todos sabemos que já existem zonas (em Lisboa, por exemplo) que impedem a entrada de viaturas que tenham determinados níveis de emissão de poluentes. Estas medidas sugerem que a um curto/médio prazo vão surgir (possivelmente, até já existem) zonas de países que estejam restritas ao acesso a carros elétricos.
Contudo, nem tudo é bom nestas viaturas. Um dos principais problemas prende-se com o custo e recarregamento das baterias destes carros. Outro é o custo de instalação de postos de recarregamento de baterias.
Assim, volto a perguntar: esta ideia de carros elétricos não está a começar a ficar em desuso, novamente?
E, de facto, já há algum tempo que se vem mencionando o novo “modelo” de carros: carros movidos a… hidrogénio!! Isso mesmo, hidrogénio e, os próprios responsáveis de algumas marcas defendem esta ideia. De acordo com o responsável da Mercedes na Índia, Roland Folger, “…dentro de pouco mais de duas décadas, todas as populações vão conduzir automóveis a hidrogénio!”. Outro a defender esta ideia é um dos diretores executivos da Continental. Segundo este, as baterias dos carros elétricos são muito limitadas. Estas limitações permitem assim abrir portas aos veículos movidos a hidrogénio. Outra desvantagem apontada por este diretor é o facto dos carros elétricos terem uma relação qualidade/preço mais baixa do que os modelos a gasolina ou diesel. Assim, o mesmo conclui que a Continental já está a considerar investir na tecnologia das células de combustível a hidrogénio.
Uma das principais vantagens do hidrogénio é o facto de ser o elemento mais abundante no universo e ter grande densidade energética. E depois, claro, também não contribui com efeitos nocivos para o ambiente. A nível de custos, são ligeiramente superiores aos elétricos. Além disso e como ainda não são tão populares como estes, ainda não têm tantos benefícios.
Num futuro próximo, os carros elétricos ainda continuarão muito provavelmente a circular, a par dos carros movidos a hidrogénio (apesar de neste momento só a Toyota, Hyundai e Honda comercializarem estes carros). Como tal, a nossa escolha deverá recair em dois principais aspetos: preferimos ter um carro com bateria, que pode carregar em casa todos os dias (sem contudo, estar assegurado, neste momento, um sistema nacional de rede elétrica que permita esse carregamento numa situação dos carros serem elétricos a 100%) ou preferimos ter um carro a hidrogénio, mais eficiente e que abastece muito mais rápido, com um custo ligeiramente superior?
Esta luta entre estes dois tipos de células de combustível será resolvido pelas marcas e pelos produtores. No entanto, as decisões deles serão influenciadas diretamente pelo mercado, no qual os consumidores (e os governos de todos os países) têm uma palavra muito importante a dizer.

Pedro Luís Pereira de Sousa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Transportes híbridos e elétricos

A mobilidade de passageiros e mercadorias, em constante crescimento, fruto da globalização, é uma das mais relevantes, se não a maior, fonte de emissão de gases de efeito estufa, devido ao alargado/generalizado uso de combustíveis fósseis no setor dos transportes. Esta realidade, tem vindo a preocupar a humanidade; despertam-se consciências, difundem-se produtos/escolhas mais sustentáveis, mais amigas do ambiente.
Os automóveis híbridos plug in e 100% elétricos estão em voga um pouco por todo o mundo. Portugal não é exceção… “Portugal quer também estar na linha da frente nos automóveis elétricos”, diz Siza Vieira, o ministro da Economia.
Os incentivos dados por empresas, governos, ou os atuais “influencers” são formas de cativar a atenção dos consumidores, formas de manipular vontades, de maneira a que as pessoas optem por adquirir ou trocar os seus automóveis por uns mais sustentáveis.
Contudo, um estudo realizado por um aluno de mestrado mostra que ainda há muita resistência à mudança. Nem toda a gente está recetiva a trocar o seu meio de transporte: “em Portugal existem ainda consumidores equivocados e pouco confiantes sobre a autonomia, custo e confiabilidade dos automóveis elétricos, o que pode favorecer a escolha de uma viatura convencional”.
Enunciando algumas vantagens e desvantagens dos carros híbridos e elétricos, podemos perceber se a escolha das pessoas foi feita em prol do “bolso” de cada um ou da “consciência”. 
Vantagens: a emissão de gases de efeito de estufa é nula, ou muito reduzida; são independentes do petróleo;  têm elevada eficiência energética; um veículo 100% eléctrico não tem que pagar ISV e o proprietário tem direito a uma redução do IUC; e a manutenção de um carro elétrico é mais barata do que a dos carros movidos a hidrocarbonetos, porque não precisam tão frequentemente da manutenção do motor (mudanças regulares de óleo, por ex.).
 Desvantagens: o custo inicial do automóvel é muito elevado; tem uma autonomia limitada, pela bateria; e a infraestrutura de carregamento limitada, por ainda ser uma tecnologia recente e não haver ainda muita adesão.
Não considero bem uma desvantagem, mas estes automóveis, pela quase total ausência de ruído, ameaçam a segurança dos invisuais e dificulta a utilização das estradas e rodovias pelos mesmos. São automóveis silenciosos, tornando difícil aos peões cegos identificá-los no trânsito e julgar corretamente a sua distância de modo a evitar atropelamentos e colisões.
O Lítio é o elemento químico mais procurado na atualidade, com tantas utilidades, como, por exemplo, a produção de baterias para os automóveis elétricos. A procura do lítio em Portugal está a aumentar. Portugal tem um enorme potencial para ser um “país com reservas suficientes para uma exploração comercial economicamente viável.”
Siza Vieira afirmou também o seguinte: “Se para haver mobilidade elétrica é necessário haver baterias, é importante que as baterias que os automóveis europeus utilizem sejam baterias que são fabricadas no respeito pelos mais exigentes ‘standards’ ambientais e sociais”. Dessa forma dando a entender que apoia totalmente a ideia de que a produção destes automóveis seja mais regular e que “Interessa a Portugal porque obviamente nós temos um setor automóvel muito importante. Este ano vamos bater o recorde de exportações do setor automóvel como um todo, mas também do número de veículos produzidos em Portugal. Vamos entrar no clube dos grandes produtores automóveis. E temos, além disso, toda uma cadeia de valor muito focada no automóvel”.
Gostava de concluir dizendo que partilho da mesma opinião que Siza Vieira. Reconheço que os veículos elétricos e híbridos só trazem vantagens, tanto para a economia portuguesa, como para a nossa mãe natureza. Só há um pequeno contra: o elevado preço de compra, matéria onde urge intervenção estatal, nomeadamente no reforço dos incentivos na aquisição/troca. Ainda há muita gente sem capacidade financeira para adquirir um veículo elétrico devido ao seu alto valor de mercado.

Ariana da Cunha Alves 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Relaxar no interior

Há anos que dizemos que o turismo em Portugal está a aumentar, contudo, cada vez a passos mais pequenos. Pela primeira vez desde que temos verificado este crescimento, enfrentamos uma diminuição do número de dormidas em alojamentos turísticos. Constata-se que o maior impacto desta caída foi no mercado externo, tendo as dormidas aumentado 1,8% em 2018, sendo que no ano anterior obteve-se um crescimento de 12,2%. Contrariamente a este movimento, os estabelecimentos de turismo no espaço rural e de habitação são cada vez mais procurados. De 2017 para 2018, registou-se um aumento do número de hóspedes (+6,8%), que proporcionou um aumento do número das dormidas (+5,3%).


Os indicadores da secção rural do turismo em Portugal apontam para que, em termos gerais, os interessados pelos espaços rurais sejam uma clientela culta e com poder económico superior à média. Aquilo que se tem verificado nos últimos anos é que, cada vez mais, não só os turistas estrangeiros, como também os portugueses, que desejam explorar os quatro cantos do seu país, demonstram interesse por este tipo de turismo, fazendo, assim, com que o leque de clientes se alargue. Para além disso, atividades como caça, pesca, feiras e festivais atraem turistas, maioritariamente nacionais, independentemente dos seus status socioeconómicos.
         Por um lado, podemos notar que o turismo rural no nosso país afeta positivamente as economias nacional, regional e local, ao criar empregos, promover a sustentabilidade e gerar receitas que dinamizam as economias ao, indiretamente, levar ao crescimento de outros setores de atividade para os quais o turismo é benéfico – como, por exemplo, a restauração.
Em 2018, o número de dormidas em estabelecimentos de turismo de habitação e de turismo no espaço rural representou cerca de 2% do número total de dormidas em Portugal. Tendo em conta que os mercados interno e externo obtiveram em 2018 um total de 67,7 milhões de dormidas, de facto, está longe de ser a área do turismo com maior impacto a nível nacional. No entanto, também é verdade que nos últimos 6 anos se verificou um aumento de mais de 1 milhão de dormidas. De entre as diversas regiões, destacaram-se o Norte e o Alentejo, com crescimentos de +8,5% e +7,6%, respetivamente.


Por outro lado, também positivo, acredito que o turismo rural traz dinamismo às regiões do interior. O aumento da procura por parte de turistas locais e estrangeiros por estabelecimentos rurais nas zonas menos povoadas do nosso país gera a necessidade de abertura de novos alojamentos turísticos e de outros negócios. Prevê-se, então, o aumento do número de estabelecimentos não só para a clientela com maior poder económico que referi como, também, alojamentos mais acessíveis, que fomentam o interesse da população e combatem a desertificação destas regiões.
Se acredito que o turismo rural é a resposta à discrepância entre o litoral e o interior e à necessidade de aumentar a população deste último? Não. Acredito, sim, que tem a capacidade de apoiar o desenvolvimento económico das regiões e, consequentemente, criar incentivo à mobilidade da população. O apetite por explorar o interior de Portugal é cada vez maior e com isso cresce o interesse pelas tradições e património portugueses e potencia-se a melhoria dos acessos e das comunicações.
Concluindo, vejo o turismo rural como uma mais-valia para o país e para as pessoas que o procuram. Acredito que, apesar de enfrentarmos uma desaceleração no crescimento do turismo português, esta secção, em específico, ainda tem um caminho longo para crescer. Desde as termas aos campos de férias para as crianças, penso que há zonas muito sub-exploradas que agora, com o crescimento do interesse pelo turismo rural, têm a oportunidade de prosperar.

Bruna Torres,

Dados consultados no Instituto Nacional de Estatística (INE), Pordata e Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural.

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Coitada da Greta

Greta Thunberg é uma miúda sueca que ficou famosa por faltar às aulas. Sofre de ansiedade por ver o mundo a transformar-se num inferno. Diz que a infância lhe foi roubada. Felizmente, nasceu num dos países do mundo onde a qualidade de vida está entre as melhores possíveis, o que lhe permitiu preocupar-se com questões como o das Mudanças Climáticas. Se tivesse nascido no meio da guerra ou da miséria, como milhões de crianças, que seria da Greta?

De momento, é o rosto do combate às Mudanças Climáticas. Fez um discurso no World Economic Forum, em Davos, e ainda outro na Cimeira de Ação Climática planificada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Porquê dar tempo de antena a uma criança que claramente não sabe do que está a falar, em vez de dar voz a alguém com mais conhecimento na matéria? Alguém que se dê ao trabalho de separar os factos da ficção e que não regurgite o mesmo “mantra” simplificado de como o clima no nosso planeta funciona.

Desde que Edward Bernays aplicou as descobertas do seu tio, Sigmund Freud, na técnica científica de moldar e manipular a Opinião Pública, que se sabe que as crianças podem ser usadas para fins políticos. Se estiverem a chorar baba e ranho, mais impacto têm.

Durante a Cimeira de Acção Climática o atual secretário geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, também discursou, tendo dito que a natureza está arreliada, e que nos iludimos se pensamos que podemos enganar a natureza, porque a natureza contra-ataca sempre. Que tinha ido à ilha de Tuvalu, onde testemunhou uma nação inteira a lutar pela sua existência contra a subida do mar. Se a natureza pode ser considerada um inimigo, que nos contra-ataca, é debatível. O que não é debatível é a situação que se vive no arquipélago de Tuvalu.

Num estudo feito pela Escola do Meio Ambiente da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, com o título “The dynamic response of reef islands to sea-level rise: Evidence from multi-decadal analysis of island change in the Central Pacic”, os investigadores concluíram que, apesar da subida do nível do mar, os resultados demonstram que a área das ilhas se manteve estável, ou aumentou durante o período em análise. Que não há evidência de uma diminuição da área em grande escala.

Mudanças Climáticas sempre existiram. Há períodos em que as temperaturas médias aumentam, e há períodos em que o contrário acontece. Isso é confirmado por evidência de Eras Glaciares. Há milhões de anos que as temperaturas oscilam sem influência da ação humana.

A mediatização das Mudanças Climáticas já tem barbas. Há mais de 80 anos que se reportam previsões de degelos. “Todos os glaciares do lado Este da Gronelândia estão a derreter rapidamente”, foi declarado pelo Professor Hans Ahlmann, um geologista sueco, em 1939. Depois, a narrativa mudou de direcção. Desta vez, em vez de as temperaturas estarem a aumentar, estavam a diminuir. Em 1970, James Lodge, um especialista em poluição, previa que por causa da poluição do ar a energia solar poderia não chegar à Terra o que originaria uma nova Era Glaciar. Outros especialistas corroboravam a versão de um Arrefecimento Global.

Nos anos 80, um consenso foi formado, o do Aquecimento Global. Em 1989, Noel Brown afirma que nações inteiras poderão desaparecer devido ao aumento de nível do mar se o Aquecimento Global não for revertido até ao ano de 2000. As previsões de que não existiria gelo no Ártico continuaram, sendo das mais famosas, entoada por Al Gore no documentário Verdade Inconveniente. A verdade inconveniente é que nenhuma das previsões se concretizou.

O ser humano tem por caraterística resolver problemas. Mas quando tenta perceber um problema com várias camadas de complexidade e reduz o problema a uma causa e a um efeito, assemelha-se aos curandeiros cuja solução para as doenças dos enfermos era expurgação de sangue. Durante anos, o tema do Aquecimento Global mudou para Arrefecimento Global, retornando a Aquecimento Global e hoje é batizado de Mudanças Climatéricas. E o culpado desta situação é o ser humano, que produz dióxido de carbono ou a flatulência das vacas que contém metano.

A narrativa é que o dióxido de carbono é um gás com efeito de estufa, que produzido e emitido para a nossa atmosfera provoca um efeito de aquecimento por não permitir que os raios infra vermelhos se escapem.

Num artigo elaborado pelo Departamento de Física e Astronomia da Universidade de Turku, os cientistas chegam à conclusão de que a contribuição do dióxido de carbono para o aumento da temperatura nos últimos 100 anos é de 0,1 graus Célsios e que o impacto antropogénico é ainda menor.

Apesar de novas descobertas, a narrativa persiste. Já Lenine sabia que uma mentira repetida frequentemente torna-se uma verdade.

Dentro do leque das soluções estão medidas de diminuição da emissão de gases de estufa, impostos sobre poluição ou ideias mais arrojadas como o lançamento de partículas na estratosfera para refletir os raios solares. Ainda há aqueles que defendem que devíamos deixar de procriar porque a solução passa por uma diminuição do número de seres humanos.

Concordo com a diminuição da emissão de gases de estufa. Por princípio, ar limpo é melhor que ar poluído. Mas a imposição de regras a nível global penaliza aqueles que sendo pobres não podem optar por alternativas “amigas do ambiente”, pois são substancialmente mais caras que combustíveis fosseis. Lançamento de partículas para estratosfera acho que é uma ideia de jerico. O mundo é demasiado complexo para deixarmos que o impacto das experiências de uns cientistas seja partilhado por todo o mundo. Quanto àqueles que acreditam que a solução passa pela diminuição do número de pessoas, não se fiquem pelas palavras, suicidem-se já.

Creio que esta narrativa ainda vai coabitar connosco mais umas temporadas. Como Charles Mackay escreveu no livro Extraordinary Popular Delusions and the Madness of Crowds: “Men, it has been well said, think in herds; it will be seen that they go mad in herds, while they only recover their senses slowly, and one by one.”

Carlos Jorge Costa Leite

Fontes:
https://www.sciencedaily.com/releases/2019/07/190703121407.htm

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sábado, 28 de setembro de 2019

O custo da Moda

Com a emergência das problemáticas climáticas, revelou-se que a indústria da moda é uma das áreas mais destrutivas no que diz respeito à preservação do ambiente. Assim, uma realidade talvez não tão conhecida é a da poluição causada por cabides de plástico descartados pela indústria de Retail. Na mais recente semana da moda em Paris, o realizador português John Filipe realizou uma campanha que traz o problema à luz das atuais medidas ecológicas.
O fenómeno denomina-se de GOH ou “Garments On Hangers”. Segundo o realizador, quando as roupas são transportadas das fábricas para as lojas, as mesmas já estão em cabides de plástico, prontas para serem expostas. A justificação encontra-se, para uns, no facto de a roupa ter menos “dobras” desta forma e, para outros, no facto de ser um método de poupar no empacotamento e na própria exposição das mesmas. No entanto, a realidade é mais assoladora do que aquilo que aparenta. Os cabides de plástico barato servem como “plástico de uso único”, isto é, não são vendidos junto com a peça e acabam em aterros sanitários ou no fundo dos nossos oceanos.
Apesar de incertos, os números são aterrorizantes: de cerca de 150 mil milhões de peças, 2/3 delas usam este método. Assim sendo, cerca de 100 mil milhões de cabides são usados apenas uma vez, levando mais de 1000 anos a decompor.
Aos olhos de qualquer um de nós, o fenómeno é demasiado ridículo para ser real. Quando compramos uma peça de roupa, o cabide vai parar a uma caixa debaixo de um balcão para nunca mais ser usado. Contudo, cada um de nós também compra cabides, duplicando assim o desperdício. Por outro lado, os mesmos cabides poderiam voltar à fábrica para serem utilizados, mas são tão baratos que a firma não tem qualquer proveito em tal.
Uma outra hipótese seria a da venda de roupa sem os cabides. No entanto, do ponto de vista do marketing, as pessoas tendem a comprar menos quando o produto não se encontra disposto.
Num jogo de culpas, estas distribuem-se equitativamente. Em 2006, a Voluntary Inter-industry Commerce Solutions Association alertou para este problema e apresentou uma solução: um cabide “emagrecido”, que usaria qualquer tipo de plástico reciclado e que, na teoria, pouparia 78 mil euros. Esta ideia, porém, não foi concretizada, já que a falta de exigência dos materiais poderia tornar-se nociva.
Agora, 13 anos depois, na situação de emergência ambiental com que nos deparamos, aparece uma verdadeira solução. Apresentado pelo Ridley Scott Creative Group, em parceria com Arch & Hook, BLUE é o único cabide no mundo feito na sua totalidade de plásticos marinhos. Este artigo vira o jogo, sendo uma alternativa 100% reciclada e que pode ser utilizada várias vezes. Esta parece ser a oportunidade para acabar com a poluição marinha; no entanto, se veio tarde demais ou não, depende ainda da atitude dos retalhistas.
A meu ver, esta é apenas uma solução “ilusória”, isto é, enquanto a situação é recente há uma espécie de motivação publicitária para ser ambientalmente consciente. Todavia, com o correr do tempo, deixa de existir controlo em relação ao assunto, deixando de ser rentável utilizar estes cabides ecológicos. Todos sabemos que, em muitas destas empresas, economia e moralidade nem sempre coexistem, pois nem sempre a moralidade “vende”.

Ana Catarina Batista Pires Barroso


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Imigração e Asilo: a procura de uma mudança

O fenómeno da “Imigração e Asilo” sempre fez parte do cenário europeu, pelas oportunidades que oferece ou em busca da proteção que o país de origem é incapaz de oferecer. Estas mobilidades levaram a que seguisse uma abordagem comum para a Comunidade Europeia, tal como, por exemplo, o Sistema Europeu Comum de Asilo. É um dos variados temas que urge e divide opiniões na Comunidade Europeia. Contudo, a tomada de uma posição dos civis também é notória. Controverso e difícil, assim o poderia definir. Com isto, escolhi três notícias diferentes dentro do assunto “imigração e asilo”:
Primeiramente, abordo a posição da França, onde o tema sobre a atribuição de quotas à imigração na tentativa de controlar os fluxos migratórios e proteger os interesses da sua população, pelo atual presidente Emmanuel Macron. Esta opção, não é uma novidade dada a sua experimentação em 1993, que falhou. Na verdade, ia contra os seus princípios constitutivos e contra a Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Atualmente, é ainda considerada uma medida ineficiente na medida que não detém a imigração ilegal e poderá entrar em conflito com a questão de asilo. Situação semelhável a esta a nível europeu é o Sistema Dublin – o qual remete para a questão de asilo - que apela a uma reforma e a uma atualização, que tem encontrado dificuldade em gerar consenso. Criticam-se as nações, que num problema global, procuram soluções individuais.
Seguidamente, temos o caso urgente da Grécia, em especial na ilha de Samos, que é um dos cinco centros (nas ilhas gregas) de registo para requerentes de refúgio. A sua capacidade de servir de lugar de asilo aos refugiados já superou, em muito, a sua capacidade. Numa ilha com uma aptidão para receber cerca de 700 pessoas, no presente tem cerca de 4000 refugiados.
É visível o seu problema e, desta forma, exige-se uma resposta por parte da Comissão Europeia, pois atingiu-se já uma crise humanitária: não são asseguradas as condições mínimas para serem acolhidos os refugiados, diminuiu a capacidade de resposta a questões de saúde, aumentou a taxa de criminalidade e a própria vida dos civis gregos vê-se afetada por este cenário. Reivindica-se junto da EU a implementação de estratégias eficazes, que descongestionem a ilha e outras localidades gregas que se encontram num registo semelhante, sendo que, dia para dia, a situação piora e torna-se cada vez mais inumana, ao contrário do idealizado, que era serem centros de ajuda.
Por último, analiso a notícia que, estatisticamente, afirma que a tendência da imigração registada nos últimos anos tem sido para diminuir e que, neste seguimento, se preponderará. Porém, isto contrasta com a perceção da opinião pública, onde os cidadãos europeus veem a questão da imigração e asilo como das mais urgentes e que mais necessitam de resposta. Posto isto, vemos os civis preocupados com este cenário e, por outro, os decisores políticos que se questionam sobre que medidas deverão tomar para controlar o fluxo imigratório e para integrar os recém-chegados.
No que concerne à Comissão Europeia e ao ‘Asylum Procedure Regulation’ e à ‘Dublin Regulation’, esta procura implementar algumas leis que geraram consenso sem se efetuar uma reforma neste setor. A comunidade desaprova a inação por parte da União Europeia e dos seus órgãos. Não é capaz de rever a Comissão de Dublin, e é questionada a própria capacidade de liderança da Comissão.
Não obstante, e apesar das críticas e reivindicações, a procura de uma melhoria do sistema tem acontecido de forma contínua para que o resultado final seja o mais eficaz, equitativo e que, ao mesmo tempo, mantenha a harmonia entre os países membros da União Europeia e da sua relação com terceiros. Além do mais, é preciso uma verificação dos países, isto é, se aplicam as medidas de asilo comum e de imigração.
Em suma, assistimos a uma necessidade de uma maior capacidade de atuação por parte da União Europeia, isto é, que melhore o seu papel de liderança e a sua eficácia, que seja capaz de responder aos problemas que a desafiam, aos tratados que necessitam de uma revisão para ter uma melhor aplicação e, no que diz que respeito à questão imigração e asilo. Neste contexto, importa que os países pensem neste fenómeno como um problema global, e, partindo disto, tomem medidas comuns, que ajam local, permitindo assim uma melhor governação: “Think globally, act locally!”

Ana Catarina Matos Dias

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Carne de vaca – medida extremista ou pequeno contributo?

Amílcar Falcão, reitor da Universidade de Coimbra (UC), pretende abolir a carne de vaca da ementa das 14 cantinas daquela instituição de Ensino Superior. Numa cerimónia de receção a novos alunos, disse que “Vivemos um tempo de emergência climática e temos de colocar travão nesta catástrofe ambiental anunciada”, fazendo com que a Universidade de Coimbra se torne na “primeira universidade portuguesa neutra em carbono”.
Por outro lado, esta medida que começará a ser implementada a partir de janeiro de 2020, não foi bem encarada pela Confederação dos Agricultores de Portugal e pela Federação Nacional das Associações de Bovinicultores. Estes últimos consideravam - se “em choque”. Com isto, deverá a Universidade de Coimbra continuar com o uso desta carne nas suas cantinas ou deverá aboli-la, tornando-se numa Universidade mais sustentável? Ora vejamos:
A bovinicultura é uma atividade muito poluente em todo o processo. Os animais emitem metano para a atmosfera e os seus alimentos foram gerados com o uso de fertilizantes e pesticidas. Para além disso, há que considerar a desflorestação provocada. Por outro lado, a carne de vaca é um dos alimentos mais usados na cozinha portuguesa. Assim, importa referir que uma Universidade Portuguesa que é visitada por imensos estrangeiros anualmente deveria continuar a mostrar o legado português.
Esta instituição que está preocupada com a pegada ecológica provocada, está também a substituir os kits de receção ao caloiro por uns mais sustentáveis, utensílios de madeira e palhinhas de papel. No entanto, só está agora a proceder à colocação de ecopontos nas residências universitárias, o que é uma medida que, a meu ver, estará muito atrasada no tempo.
Com a diminuição deste consumo, a UC terá que fazer uma substituição adequada face aos níveis nutricionais necessários e usar alimentos que proporcionem esses níveis adequados, não sendo apenas usados os alimentos que trazem uma maior poupança. Essa escolha teria que ser obviamente pensada e balanceada com a sustentabilidade, pois alimentos como tofu e seitan, usados para substituir carne, têm uma pegada ecológica ainda maior.
Para além disso, importa também referir que esta é das carnes mais caras do mercado e que a visibilidade que a UC poderá estar a ter, mostrando que é sustentável, poderá ser apenas uma medida para poupar imenso dinheiro e continuar a cobrar o mesmo por algo que dantes incluía na sua ementa. Lembro ainda que, para muitos jovens estudantes, esta poderá ser a única refeição diária quente e com carnes vermelhas, que também são essenciais ao bem-estar físico.
Então o que deverá fazer a Universidade de Coimbra para dignificar a ciência que representa e mostrar-se um agente informado, em que prova não estar a tomar esta medida de forma leviana? Pois bem, na minha opinião, em detrimento da abolição total de carne de vaca, deveriam aboli-la parcialmente – utilizar carne desfiada ou menores porções, por exemplo. Um pequeno contributo já faz diferença e, para além disso, também deveria apoiar alguma medida relativamente a queijos e leite, que são produtos derivados da bovinicultura.
As novas opções e refeições deverão ser bem ponderadas. O uso de vegetais e peixes de origem desconhecida ou com más condições de conservação não são uma melhor opção do que carnes provenientes de agricultura extensiva com uso abusivo de fertilizantes e pesticidas. Um bom exemplo é o Instituto Politécnico de Bragança. Este, apenas serve carne de vaca mirandesa com Denominação de Origem Protegida. A aposta em produtos da região dá apoio e incentivo a pequenos produtores, que de outra forma não teriam tanta visibilidade nem sucesso.

Alexandra Isabel Machado de Oliveira

Fontes:
https://observador.pt/opiniao/fraca-carne/?fbclid=IwAR39WyedtP4DfNYv-VRirlcOXa0n25ycW-ODTbub10TO8KHJ83SCJFmzsDA (acedido em 22 de setembro de 2019)

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Inteligência artificial: um parceiro ou um rival?

Todos os dias observamos à nossa volta crianças cujas brincadeiras advém de óculos de realidade virtual, bebés que adormecem a ouvir a música de embalar no tablet, animais de estimação com chips identificadores e telemóveis que nos relembram coisas básicas da vida como a hora de acordar e as tarefas que temos para fazer. Daqui, podemos concluir que o ser humano está a evoluir de uma forma diferente e que a tecnologia segue as leis de Darwin que ditam que apenas “o mais apto sobrevive” e que todas as máquinas se têm de adaptar a ambientes em constante mudança. Prova disso é o facto de o fax ter tido um final semelhante ao dos dinossauros e que os Iphones só sobreviverão se conseguirem continuar a ser superiores à concorrência, em geral. Logicamente, poderíamos concluir que o futuro da tecnologia é algo bastante incerto, porém os especialistas da área afirmam que a evolução tecnológica é algo mais previsível do que aparenta. Dadas todas as componentes que a mesma possui, é possível traçar padrões e tendências evolutivas - "A trajetória real de uma gota da chuva que desce o vale é imprevisível, mas a direção geral é inevitável".
Uma das possíveis ilações relativamente ao futuro da inteligência artificial (IA) é que será cada vez mais uma realidade do nosso quotidiano, uma vez que a IA já se encontra muitas vezes presente nos nossos dias, mas em segundo plano, como, por exemplo, o GPS, as preferências que a Netflix e o Facebook nos apresentam e algumas avaliações de provas jurídicas. Segundo um relatório elaborado pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual, o crescimento da IA é consequência da grande quantidade de dados que se encontram digitalizados e dos avanços a nível do processamento computacional. Este relatório menciona ainda que o progresso referido poderá espoletar uma revolução através da deteção de padrões entre biliões de pontos de dados aparentemente não relacionados.
Assim, podemos denotar que o futuro assenta na base de tornar a tecnologia cada vez mais inteligente, ou seja, cognificar. Logo, através da cognificação, a IA poderá vir a impulsar o rendimento das colheitas, aperfeiçoar o diagnóstico de cancro e melhorar a produtividade industrial, sendo este último exemplo de elevada relevância, já que um dos autores do estudo declara que o crescimento da automatização da economia vai conduzir ao que os economistas denominam de “desindustrialização prematura”, por exemplo, isto é, ao desaparecimento dos trabalhos fabris. Por conseguinte, a IA é algo assustador para a maioria das pessoas devido ao número de empregos que podem vir a desaparecer e às consequências que podem advir do seu crescimento.
Todavia, os especialistas observam o futuro de uma forma distinta. Ou seja, a IA quando é corporizada origina robots, que, contrariamente aos seres humanos, não se distraem com as pequenas coisas e cuja função consiste simplesmente em fazer tarefas. Os especialistas afirmam que os robots vão redefinir os nossos empregos dado que irão realizar algumas tarefas, mas eles também vão gerar empregos e tarefas completamente distintas, dos quais não era conhecida a existência, da mesma forma que automatização deu origem a um conjunto de coisas que nós nem sabíamos que precisávamos e agora não conseguimos viver sem elas.
No entanto, a questão central está no tipo de tarefas que lhe serão atribuídas, dado que as mesmas têm de ser definidas em termos de eficiência e produtividade. A produtividade e a eficiência serão a principal característica dos robots, uma vez que estes são programáveis, enquanto que o ser humano é essencial em coisas “ineficientes”, tais como a ciência, uma vez que consiste em várias experiências falhadas que nos levam à aprendizagem e à inovação. Tal também, por si, só é “ineficiente” dado que construímos protótipos que falham e não funcionam. Porém, a melhor forma de observar a IA é como uma parceira de equipa, dado que os robots pensam de maneira diferente do ser humano e isso faz com que se completem.
No caso português, de acordo com um estudo da Microsoft, 75% das organizações em Portugal têm uma “baixa maturidade digital”, o que implica que ainda exista um longo caminho a percorrer. Contudo, os responsáveis da Sogrape, da Navigator e da Efacec afirmam que "Estamos a introduzir a IA na operação com vista a obter benefícios ao longo do tempo”. Todavia, também afirmam que "não adianta fazer apenas a transformação digital, é preciso mudar os processos e a cultura organizacional e apostar nas pessoas".
Concluindo, na minha opinião, a inteligência artificial é essencialmente o processo que as pessoas desenvolveram para que um computador realize as tarefas por elas de forma eficiente e produtiva, o que faz com que o ser humano possa utilizar o tempo que gastava a realizar essa tarefa a desenvolver novas ideias, a inovar. Durante os últimos anos, o slogan “A inovação é a chave para o sucesso” tem sido uma constante, o que me permite concluir que o ser humano vai ser sempre a base do sucesso de algo, porém um auxiliar como a IA só vai acelerar e aperfeiçoar todo o processo.

Ana Catarina Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

“Desta vez é diferente!”

O grande problema é que não é! Passados mais de 10 anos desde que a Crise Imobiliária dos Estados Unidos da América se manifestou, a resolução da situação na Europa ainda está por vir. Se é que vai chegar.
O Banco Central Europeu (BCE) pouco mais pode fazer que “zombificar” a economia. Manter as taxas de juro baixas e aceitar as dívidas dos estados-membro como colateral, pois caso contrário ninguém aceitaria comprar dívida de países que não sejam a Alemanha, e baixar as taxas de depósito de reservas no Banco Central Europeu, com o argumento que incentiva os bancos a fazerem empréstimos. Para empréstimos serem concedidos, tem de haver procura deles. E a procura deles só é feita quando há confiança, ou desespero.
De momento, do outro lado do Atlântico, a situação aparenta estar melhor, embora as medidas tomadas pelo governador da Reserva Federal dos Estados Unidos da América (FED) levarem-nos a pensar que não.
Com taxas de desemprego em níveis que não se viam há mais de 30 anos, no presente, em cerca de 3,6%, com um crescimento do Produto Interno Bruto a rondar os 2% e com o Mercado Bolsista em máximos históricos, porque é que as decisões da FED não vão ao encontro do que a teoria mostra? Por um lado, a FED parece estar a atuar como o Banco Central do Mundo, já que as suas ações beneficiam mais o resto do mundo que a eles mesmos, por outro, parece que se está a formar uma crise de liquidez nos EUA por causa de incerteza. Perto de 70% dos dólares físicos em circulação estão amealhados fora dos EUA. Isto deve-se à confiança que as pessoas têm na moeda, já que é comummente aceite que tem um estatuto de moeda de reserva mundial.
As medidas que estão a ser tomadas para contrariar a tendência de acumulação de moeda física são tão diversificadas como implementar nano-chips nas notas, para saber o seu paradeiro (isto foi proposto na Austrália), eliminar as notas de maior denominação (como na India) ou, o preferido da próxima presidente do BCE, eliminar por completo a moeda física, tornando assim toda a moeda digital. A narrativa para que isto aconteça é que só detém moeda física quem quer fugir a impostos, ou seja, os criminosos. Mas como disse Jean Claude Juncker, “When it becomes serious, you have to lie”.
Claro que esta desconfiança está enraizada na má gestão efetuada pelos sucessivos governos. Provavelmente, o preço que se paga quando a eleição não é feita com base na competência das pessoas, mas nas promessas infundadas de políticos ou, como Ayn Rand escreveu no seu livro “Atlas Shrugged”:
“When you see that in order to produce, you need to obtain permission from men who produce nothing - When you see that money is flowing to those who deal not in goods, but in favors - When you see that men get richer by graft and by pull than by work, and your laws don’t protect you against them, but protect them against you - When you see corruption being rewarded and honesty becoming a self-sacrifice - You may know that your society is doomed.”
Carlos Jorge Costa Leite
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Novo episódio, mesmo protagonista: Donald Trump

O tempo vai passando e as marcas do mandato de Donald Trump não param de aumentar, sendo já bastantes as polémicas geradas ao longo dos últimos 2 anos. O presidente norte-americano continua a acumular “inimizades” e climas de tensão com outras nações, como por exemplo com o seu país vizinho, o México, aparte a Coreia do Norte, o Irão ou até mesmo com a China, com a qual mantém uma relação baseada em polémicas.
Os Estados Unidos e China têm vindo a rivalizar de forma crescente no panorama económico mundial, o que se refletiu numa queda das trocas comerciais entre ambos os países. No foco desta situação estão as taxas alfandegárias impostas pelo governo aos bens importados do país rival. Deste modo, numa tentativa de garantir a supremacia americana, Donald Trump já alegou intenções de elevar o valor destas taxas para os 30% sobre os 250 mil milhões de bens comprados à China, bem acima dos 15% anteriormente fixados, como forma de diminuir a importação de bens chineses. O líder norte-americano afirma ainda que os EUA “perderam estupidamente” biliões de dólares para a China nos últimos anos, incluindo “no roubo de propriedade intelectual”.
As repercussões desta disputa fizeram-se de imediato sentir: ocorreu uma queda de 22% nas importações de produtos americanos por parte da China durante o mês de agosto, comparativamente ao mesmo mês do ano transato, o que representa a perda de 10.3 milhões de dólares. No sentido oposto, o consumo de produtos chineses pelos norte americanos (maiores consumidores dos mesmos) sofreu uma quebra de 16%, cerca de 44.4 milhões de dólares.
Deste processo resultou que as empresas norte-americanas receberam um aviso para que cessassem quaisquer negócios que mantivessem com entidades chinesas, e começassem a procurar parcerias noutros países. Um dos casos que teve mais destaque no seio desta situação foi a proibição imposta no início de maio do ano corrente (que mais tarde nesse mesmo mês foi levantada por um período de 3 meses, a pedido de empresas norte-americanas) à empresa “Huawei”, marca chinesa e maior representante do país na produção de smartphones no cenário internacional. O hardware e software utilizados na produção dos smartphones era em grande parte proveniente de empresas americanas.
O impedimento de ter acesso ao sistema operativo “Android” e ao maior motor de busca existente, o “Google”, como restrição de acesso a aplicações americanas, como “Facebook” e “Instagram”, levou a que a empresa tivesse quebras nas receitas a rondar os 30 milhões de dólares até ao passado junho, e espera que até ao final do ano atinjam os 100 milhões de dólares, cerca de 10% face ao ano anterior.
Na outra face da moeda, levantam-se algumas preocupações em relação ao homólogo americano da fabricante de smartphones chinesas, a “Apple”.
A “Apple” deverá ser provavelmente o gigante americano que mais depende dos produtos chineses uma vez que a grande maioria dos seus fornecedores são entidades chinesas. A multinacional norte-americana tem, em solo chinês, cerca de 17% das suas receitas, e 29% dos lucros da empresa advêm das margens sobre os produtos de alta qualidade lá vendidos. Contudo, a confirmar-se o cenário negativo para a “Apple”, o Goldman Sachs estima que os lucros da empresa possam cair 30%, cerca de 15 biliões de dólares.
Outro ponto importante carateriza-se pelos problemas associados à realocação do elevado volume de negócios para fora de território chinês, assim como ações associadas a empresas de produção do mesmo. É de realçar que a “Apple” é a primeira empresa com valor superior a 1 trilião de dólares.
Várias questões se levantam: e se a China retribui da mesma forma? Que impacto terá na empresa mais rentável dos EUA? Caso a China retalie, irá Donald Trump reagir da mesma forma, como reagiu perante a resposta da China face às taxas aduaneiras e agravar ainda mais esta guerra comercial instaurada?

Daniel Andrade

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Alojamento universitário

O alojamento nos centros universitários tem sido um tema alvo de debate e preocupação social. A cada ano letivo a situação repete-se. Vagas completas nas residências universitárias e rendas insuportáveis nas habitações privadas, para a maioria das famílias portuguesas.
A posição da Secretária de Estado do Ensino Superior, Fernanda Rollo, segundo o jornal público, encontra-se dividida em duas vertentes: “um problema que é bom”, porque vem mostrar a existência de muitos alunos deslocados, alunos que estudam fora da sua área de residência; mas que, por outro lado, torna-se um fator de desencorajamento ao ingresso do ensino superior. Está à vista de todos, portanto, que são necessárias medidas como forma de resposta a este problema social. Um dos objetivos do Plano de Alojamento no Ensino Superior é a aposta na reabilitação de edifícios públicos para a conversão em residências.

 No que concerne a estudantes deslocados, a região do Algarve e a área metropolitana de Lisboa (AM Lisboa) são as únicas regiões onde se verificam valores inferiores a 40%. Pela observação da figura percebe-se que são várias as regiões onde os valores passam os 50%, culminando em 42% de deslocados do total de estudantes. 

É importante observar quantos destes alunos têm vaga em residências públicas. Nesta vertente, o Algarve apresenta uma das maiores taxas de cobertura, 31,2%. Já no Porto o cenário é bem diferente uma vez que apenas 9,7% dos estudantes deslocados conseguem cama nas residências. Em Lisboa a proporção é semelhante, 9,2%. As 13.971 camas disponíveis nas residências para estudantes do ensino superior só garantem alojamento para 12% dos 131.813 alunos deslocados.
Com o agravamento da situação ao longo dos anos, os universitários este ano letivo podem contar com mais 595 camas. Este aumento resulta, principalmente, de protocolos de colaboração estabelecidos com pousadas de juventude, Santa Casa da Misericórdia, exército e diocese do Porto. E irá sentir-se, na sua larga maioria, em Lisboa e no Porto, representantes de 44% e 31% deste aumento, respetivamente, por força da procura. De acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, trata-se de um aumento de 4% face ao último ano, aumentando para 15.965 o número de camas disponíveis.
Perante esta situação as associações académicas começam a fazer-se ouvir. Em Vila Real, na academia transmontana, como forma de protesto foram colocados 600 tecidos e almofadas representantes das “camas que não atravessaram a serra do Marão”, segundo a Associação Académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (AAUTAD), “nas universidades do interior, onde se verifica um número significativo de alunos deslocados, e o aumento de camas foi zero ou abaixo de dez”. Nesta instituição cerca de 72% dos alunos são deslocados, e neste novo ano letivo verificou-se um aumento do número de entradas na primeira fase de acesso ao ensino superior.
Já em Braga a medida foi diferente, mas com o mesmo intuito. A Associação Académica do Minho (AAUM) lançou neste início de ano o movimento “Uma Pedra Por Mim” para o apelo ao aumento de alojamento público. Nesta academia, cerca de 74% dos alunos são deslocados.

Margarida Pimenta

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]