Ao analisar o comportamento do PIB português nos últimos dez anos
assistimos a um crescimento medíocre situado, em média, abaixo de 1%. A questão
relevante centra-se em perceber a disparidade em comparação com a performance dos anos 80 e princípios dos
anos 90, onde os acréscimos na riqueza rondavam os 4%.
Na verdade, assisto diariamente a dizer-se nos ínfimos programas de
comentário político-económico que os problemas para tão baixo crescimento devem-se
essencialmente à baixa taxa de investimento. Todavia discordo totalmente, uma
vez que julgo que a questão central não é a quantidade mas sim a qualidade. Ou
seja, o problema nacional não se reflecte no que concerne à falta de
investimento; é de investimento onde o mesmo não faz sentido. Clarificando, é
um facto que na última década houve uma aposta em novas infra-estruturas,
nomeadamente rodoviárias. Dir-se-ia mesmo que as famosas vias de comunicação,
que aproximam o interior do litoral, tiveram o efeito oposto: intensificação da
bipolarização geográfica, onde o desinvestimento em certas regiões ajudou a
desertificar o interior. Outra perplexidade prende-se com a existência de
auto-estradas paralelas com exactamente o mesmo sentido. Além disso, outro
exemplo perturbante é o actual estereótipo gerado à volta do ensino superior:
“todos devem ser doutores”. Concordo que ter uma mão-de-obra qualificada ajuda
a fomentar o crescimento económico, mas a questão prende-se com a excessiva
oferta, agravada com perda de qualidade. Por outro lado, tem falhado sim o
investimento essencial no ensino profissional, reflectido na
“Desindustrialização” da economia portuguesa, principal problema em comparação
com outras vigorantes décadas.
Assim sendo, na minha opinião, o problema centra-se no facto do investimento
ter sido canalizado para sectores ligados à procura interna, isto é, os bens
não transaccionáveis. Esta aposta, sobretudo no consumo, de forma a sustentar o
crescimento da economia portuguesa é ingénua e chocante quando nos lembramos
dos chamados “elefantes brancos”. Em comparação com países de semelhante
dimensão geográfica e populacional, como a Suíça, a Holanda, a Irlanda e a
Bélgica são exemplos de economias pequenas abertas ao exterior, cujo modelo de
crescimento assenta sobretudo na aposta no sector exportador. Por outro lado, é
crucial colmatar deficiências ao nível da concorrência, fiscalidade elevada,
administração pública obsoleta, barreiras ao investimento, baixa celeridade na
justiça (burocracia), etc.
É necessário ter coragem para corrigir os problemas aqui identificados,
de preferência no curto prazo, uma vez que, como diria J. M. Keynes, “No
longo-prazo estaremos todos mortos”. Dirão que será normal um país saído de uma
ditadura de cerca de 40 anos precisar de tempo para crescer em democracia, mas
convém não adormecer na forma.
André Torres Oliveira da Silva
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]