Será que a Alemanha, a quinta maior economia do Mundo (considerando a paridade de poder de compra, PPP) e a maior da Zona Euro, está a travar a recuperação económica da Europa?
A Alemanha é, atualmente, o terceiro maior exportador do Mundo, tendo perdido o primeiro lugar em 2009 para a China e o segundo em 2010 para os Estados Unidos, sendo reconhecido como um dos principais exportadores de alta tecnologia do mundo (maquinaria, automóveis e equipamento eletrónico são os produtos mais exportados). As exportações geram 1/3 do output nacional e a sua economia beneficia de uma força de trabalho qualificada, infraestruturas de qualidade e elevado stock de capital.
Nos últimos anos, verificou-se uma descida da taxa de desemprego Alemã, estando nos 4.9% hoje em dia, ao contrário do que aconteceu em grande parte dos países Europeus, onde se verificaram valores excessivos de desemprego, nomeadamente nos países periféricos, como por exemplo Portugal, onde os valores chegaram a 17,5%, em Espanha (26,95%) e na Grécia (27,9%). Estes resultados advêm da crise mas também da austeridade imposta, tendo esta última como principal impulsionadora e grande defensora a chanceler alemã, Angela Merkel. A chanceler acredita que esta é a maneira de salvar a Europa, no entanto, se a zona euro permitisse uma flexibilização das metas do défice para os 3% em 2015, contrariando os 2,3% previstos, a economia teria um ganho entre 0,6% e 1,2% do PIB. Estamos a falar de um acréscimo entre 60 e 120 mil milhões de euros na economia em termos nominais, que ajudariam a pressionar a subida de preços e a diminuir o desemprego.
A Alemanha, que em 2015 deverá ter défice próximo de zero, segundo a Comissão Europeia, é o país com maior margem para puxar pela economia e deixar aumentar os défices, podendo apenas um ponto percentual a mais de défice germânico representar um acréscimo de 26 mil milhões a 48 mil milhões de euros na zona euro. Mesmo assim, Berlim ainda se manteria distante do limiar de 3 % de Maastricht.
Detendo a Alemanha condições para relançar o crescimento, vem-se discutindo um aumento salarial para incentivar o consumo interno e, assim, aumentar as importações de forma a melhorar a situação económica da Europa, beneficiando e dinamizando as trocas intracomunitárias e criando um efeito amplificador noutros países com a mesma margem, como por exemplo a Holanda. Mas esta medida não vai de encontro às políticas defendidas pelo Governo de Merkel, pois este sempre defendeu uma política de salários baixos, de forma a permitir ao país maior competitividade.
O medo da Alemanha da inflação está presente desde o período pós I Guerra Mundial, altura em que esta viveu uma hiperinflação que aterrorizou a população e cujo trauma ainda hoje é evidenciado através da política económica Alemã. Entre Janeiro de 1919 e Dezembro de 1923, os preços na Alemanha aumentaram 481,5 biliões de vezes, chegando no fim de 1923 um pão de 50g a custar 21 mil milhões de marcos e um jornal 200 mil milhões.
A política alemã de não gastar mais do que se recebe, não possuir créditos e de poupança, está enraizada na população devido ao que viveram após a II Guerra Mundial, época em que não havia dinheiro e as pessoas foram obrigadas a passar necessidades, acabando por transmitir às gerações futuras esta mentalidade de terem recursos aos quais recorrer em caso de necessidade. Embora esta forma de pensar ainda esteja presente, sobretudo nos mais idosos, os jovens já começam a ter perspetivas diferentes e estão mais abertos ao consumo.
Considerando os factos históricos da Alemanha, pode-se de certa forma compreender a sua política económica, no entanto, sendo esta o principal motor da Europa, seria de esperar que adotasse uma política que, ao invés de travar a recuperação económica, fosse um alicerce para o seu crescimento, pois com uma Europa desmotivada, as exportações Alemãs são afetadas negativamente, e, consequentemente a sua economia, pois estas são suportadas em grande parte pela importação dos restantes países Europeus. Assim, podemos concluir que não interessa à Alemanha um prolongamento da situação económica Europeia, com um crescimento lento e anémico, mas sim a sua recuperação rápida e robusta.
Francisca Ferreira Braga
Referências:
SILVESTRE, João e RODRIGUES, Jorge N. (2014), “E se houver flexibilização?”, Expresso, 6 de setembro, p. 6
Observatory of economic complexity: http://atlas.media.mit.edu/profile/country/deu/
The World Bank: http://data.worldbank.org/country/germany#cp_surv
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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