Desde a entrada de Portugal na CEE que poucos acreditavam que uma indústria antiquada, situada em zonas pouco atrativas e gerida por empresários com a quarta classe fosse capaz de sobreviver aos desafios da modernização. Hoje, o calçado português está no auge da técnica, consegue produzir moda high-quality, disputa com a Itália a liderança dos preços mundiais e exporta 71 milhões de pares de sapatos por ano. A indústria do calçado é, sem duvida, uma história feliz e de sucesso na economia portuguesa do último meio século.
Há 15 anos ninguém teria a coragem de dizer que o calçado português é a "indústria mais sexy da Europa". Hoje, porém, a associação dos industriais do calçado apresenta-se com esse slogan nas revistas de moda de Paris, Londres ou nas grandes feiras internacionais, sem que alguém manifeste desprezo.
No período de uma geração, os "sapateiros" portugueses ocuparam o segundo lugar do ranking do prestígio mundial: inovaram nas técnicas e nos materiais, lideram empresas que estão na vanguarda da tecnologia e criaram marcas e tendências capazes de atrair clientes por todo mundo.
Com isto, foram capazes de, a partir de exportações, render ao país 1600 milhões de euros no ano de 2012, e registando, em 2013, um novo máximo histórico de exportações, superando os 1700 milhões de euros.
Com isto, foram capazes de, a partir de exportações, render ao país 1600 milhões de euros no ano de 2012, e registando, em 2013, um novo máximo histórico de exportações, superando os 1700 milhões de euros.
É de realçar que estudos sobre o futuro do setor revelaram que esta indústria era considerada uma “indústria péssima” e poucos confiavam num futuro bem sucedido. Contudo, a abertura dos mercados da EFTA e da CEE, após o acordo comercial negociado com Portugal, em 1972, fez aumentar a procura externa. As fábricas, como a da Felmini, nasciam no meio das aldeias ou vilas, especializavam-se, dispunham de mão-de-obra abundante e barata e atraíam um número crescente de marcas estrangeiras que lhes encomendavam a produção das suas linhas. Entre 1972 e 1981, as exportações cresceram 251%. Em 1983, trabalhavam 30 mil portugueses no calçado e exportavam-se 16 milhões de pares de sapatos por ano (cerca de 20% do que se exporta atualmente).
Os empresários foram entendendo a necessidade da modernização, e desde a primeira década da integração europeia começaram a aproveitar-se os fundos europeus para a indústria para a modernização das máquinas antigas (e apostar em novas).
Assim, enquanto uma parte da indústria e a maioria do país apoderou-se do crédito fácil e do mercado interno protegido, os “sapateiros” aprenderam rapidamente o significado de concorrência internacional e o valor da competitividade. E, mesmo sabendo que o modelo de negócio português estava comprometido pela máquina de produzir barato em que a China se estava a transformar (22,7 euros por par de sapatos é quanto custa em média um par de sapatos portugueses no exterior - o segundo preço mais alto do mundo, logo depois da Itália -, enquanto que os chineses não conseguem vender acima dos três euros por par), foi possível, através do investimento em inovação, e pelo destaque do design e criatividade, dar um grande passo para competir com a concorrência asiática. Criaram-se marcas próprias, como a Lemon Jelly e a Gino B, que conquistaram novos segmentos de mercado com produtos diferenciados.
O calçado português afirma-se também nos mercados internacionais pela excelência e pelo luxo e, neste caso, é inevitável falar da Carlos Santos. Esta é uma marca que tem conquistado os mercados internacionais com a sua mais-valia assente na qualidade, tradição, design, e contemporaneidade “Made in Portugal”.
Concluindo, a estratégia de modernização executada pelo setor nos últimos anos faz desta indústria um exemplo entre os setores com elevada incorporação de tecnologia e design, que soube internacionalizar-se e conquistar um público fiel em vários países. Hoje, o sucesso desta indústria serve de lição ao país.
Os industriais olham a concorrência com naturalidade; não têm medo. Os que resistiram ao impacto das últimas décadas arriscaram, acreditaram e foram cada vez mais bem sucedidos. Como diz Carlos Santos, "porque é que, havendo quatro ou cinco marcas de calçado famosas no mundo, uma não havemos de ser nós? Temos de lutar por esse sonho".
Susana Costa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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