domingo, 17 de setembro de 2017

Igualdade de género – longe de ser uma verdade absoluta

A igualdade de género é uma questão de direitos humanos e de justiça social, sendo igualmente um requisito fundamental para a igualdade, o desenvolvimento e a paz. Exige que, numa sociedade, homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades, rendimentos, direitos e obrigações em todas as áreas. No entanto, e apesar da luta pela igualdade de género ter vindo a dar frutos, já que, de acordo com o portal estatístico Pordata, quase metade da força de trabalho em Portugal é do sexo feminino (49 em cada 100 trabalhadores), não é isto que se verifica.
A igualdade de género está longe de ser uma verdade absoluta. Se, em 2015, 52,6% da população residente era do sexo feminino, os dados relativos à formação, à remuneração média, à representação política, à tecnologia e ciência deviam apresentar valores idênticos. Contudo, muitas mulheres veem os seus direitos e regalias ficarem aquém daqueles que são os dos homens.
Ainda que em maior número, as mulheres recebem menos que os homens e têm menor representação nos órgãos de decisão. Em 2015, uma mulher recebia, em média, 824,99 euros por mês, enquanto um homem auferia 990,05 euros, existindo, assim, uma diferença de 16,7% entre os géneros. Também, ocupam constantemente níveis de qualificação mais baixos do que homens com as mesmas qualificações.
No meu ponto de vista, existem dois motivos para estes factos. O primeiro é que as mulheres, por vezes, não se sabem valorizar e não sabem o impacto que as suas competências têm no mercado de trabalho, fazendo com que se deixem ficar para trás. Todavia, e como segundo motivo, a tendência é também privilegiar a contração de um homem por acarretar menos riscos e um custo inferior, já que, à partida, o homem estará mais disponível. Além disso, as mulheres trabalham mais sem serem pagas. Por exemplo, se as mulheres trabalham 8 horas e 35 minutos por dia no seu emprego remunerado e os homens 9 horas e 22 minutos, no trabalho não remunerado, as mulheres despendem mais 1 hora e 40 minutos por dia útil que os homens.
A desigualdade de género é ainda visível na área tecnológica, científica e do desporto. Há um ano, o conselho de administração da Apple enviou um documento aos seus acionistas a recomendar que rejeitassem a proposta de ter mais mulheres em lugares de destaque. A verdade é que, em 11 lugares, 10 são ocupados por homens e 1 por uma mulher.
A meu ver, a mulher tem que aprender a arriscar e a mexer-se digitalmente. Se o número de mulheres na tecnologia fosse igual ao dos homens, de acordo com o CIG, o PIB avançaria cerca de 9000 milhões de euros anualmente. No que diz respeito à ciência, as estatísticas da Unesco provam que apenas 28,4% dos investigadores são do sexo feminino. Quanto ao desporto, o ténis é o desporto mais igualitário de todos, mas, ainda assim, os vencedores masculinos continuam a receber quantias superiores às vencedoras femininas.
O Fórum Económico Mundial prevê que a paridade global de género não será atingida até ao ano 2095. Ainda assim, os primeiros passos parecem-me estar a ser dados. Ao serem as mulheres a saírem em maior percentagem das faculdades com cursos superiores, a próxima geração de líderes será, inevitavelmente, de mulheres. Mais, a temática da igualdade de género vai ser implementada neste ano letivo, 2017/2018, no ensino básico e secundário.
Assim, para que se acelere este processo de igualdade, devemos eliminar as barreiras que as mulheres enfrentam. As empresas devem mudar as suas políticas de contratação e de recursos humanos para que mulheres sejam mais envolvidas nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia, negócios, e a sociedade deverá alterar as suas atitudes tradicionais, de forma a haver uma carga de responsabilidade familiar proporcional, até porque estudos confirmam que a presença de mulheres em posições executivas leva a uma maior rendibilidade nas empresas, bem como a uma recuperação mais rápida em períodos de crise, maior retorno sobre o capital investido e também uma melhor saúde organizacional. “O relógio está a contar”.

Fabiana Alexandra de Freitas Fernandes Martins
 
 
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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