Actualmente, a indústria dos têxteis e vestuário portuguesa atravessa um período de reconversão e reestruturação causado essencialmente pela liberalização do comércio têxtil e vestuário mundial em Janeiro de 2005 e pela mudança do modelo de desenvolvimento económico e social do país, caracterizada principalmente pelo aumento do custo dos factores produtivos, sobretudo a mão-de-obra.
Em Portugal, nem toda a população, incluindo políticos e empresários, se apercebeu do que se está a passar no sector dos têxteis e vestuário. Muitos deles ainda acreditam que o sector é competitivo devido aos seus custos de produção, o que é errado. Em 1990, 2,75 USD/hora era o custo da mão-de-obra na indústria dos têxteis e vestuário, em 2007 era de 7,15 USD /hora, o que significa que existem agora muitos mais países em que é possível produzir a muito menores custos, tais como países como a Turquia e Marrocos, onde o custo da mão-de-obra não ultrapassa os 3 USD/hora, ou a China e a Índia, onde o custo da mão-de-obra não ultrapassa sequer 1 USD/hora. Para contornar esta situação, a solução passa pela inovação e a aposta em produtos de qualidade. Algumas empresas já adoptaram esta estratégia e o que se verifica é que, em Portugal, está-se a transitar de subcontratação para o Private Label, isto é, as empresas passaram a criar soluções para o cliente e a vendê-las ao invés de simplesmente aceitarem encomendas de produtos idealizados pelo cliente. Como João Costa, presidente da ATP, disse na edição de Outubro de 2011 de Portugal global: “A vantagem da marca própria está na independência no desenvolvimento do negócio e na margem que proporciona, dado que o contacto é estabelecido com o cliente final. Na marca própria é possível projectar a inovação, a criatividade e a moda por iniciativa autónoma.”
A área da Investigação e Desenvolvimento na ITV é uma área onde ainda se tem que progredir imenso. Comparativamente a outros países, verifica-se que a ITV portuguesa não acompanhou o desenvolvimento na área da I&D, visto que a aposta nesta área ainda é bastante reduzida para o que são os padrões internacionais. Contudo, a situação tem vindo a melhorar. A aposta em I&D tem vindo a aumentar, acompanhada pela aposta na formação profissional e na qualificação da mão-de-obra. Começa-se a assistir ao aparecimento de mercados muito associados a produtos com alto valor acrescentado. Impulsionada pelo aparecimento destes novos mercados surge a criação de novos produtos têxteis, denominados de “têxteis do futuro”. Estes produtos caracterizam-se pela elevada criatividade e inovação que incorporam, surgindo como uma capacidade de responder às novas necessidades do mercado. É necessário tornar o sector mais competitivo e proporcionar às empresas formas de se aguentarem no mercado, no entanto isto não é tarefa fácil. Tendo em conta a crise que se vive actualmente, é bastante complicado dispor de capacidade económica para fazer o que é preciso.
O caminho para o sucesso das empresas do sector de têxteis e vestuário português passa por estas ingressarem pelo caminho do domínio tecnológico, isto é, devem estar informadas e equipadas com tecnologia, devem possuir um bom leque de recursos humanos e dispor de uma grande capacidade de inovação, criatividade, adaptação e capacidade de superar adversidades. Concluindo, é fulcral que a solução para enfrentar os problemas da ITV passe por um investimento na I&D deste sector, tanto financiado pelo Estado como levado a cabo por iniciativas privadas.
Rui Manuel Sousa Barros
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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