Nos últimos tempos, as
privatizações têm sido um tema bastante discutido na comunicação social.
Contudo, devido à elevada complexidade deste tema, várias recomendações e
opiniões contraditórias têm surgido nas notícias. Desta forma, diversos
argumentos contra e a favor das privatizações têm sido lançados nesta área.
Um dos principais
argumentos apontados contra a privatização dos CTT é que estes não são um mero
fardo financeiro. Pelo contrário, são uma empresa pública caracterizada por uma
história de modernidade, que presta um serviço público imprescindível. Outro
argumento apresentado refere-se aos repetidos resultados positivos obtidos por
esta empresa, apesar das sucessivas transformações que perpassam a área postal.
Outras das razões apontadas é que os CTT sendo um dos maiores empregadores
públicos em Portugal (que emprega milhares de pessoas) pode ser gerido de forma
a constituir uma fonte de receita para o Estado ao longo do tempo. Por último,
os CTT caracterizam-se por uma rede postal de elevada densidade e de cobertura
(postos por cada 100km2), apresentando uma função social inegável,
principalmente, nos pequenos aglomerados.
A favor da
privatização dos CTT também têm surgido vários argumentos. Um dos argumentos
baseia-se na ideia de que o futuro não é tranquilizador. Tudo se está a alterar
rapidamente. Por exemplo, já não se escrevem muitas cartas, recebem-se e-mails. Da mesma forma, muitas vezes a
leitura de jornais já é feita por assinatura digital. Consequentemente, o
correio privado quase que desapareceu. E as famílias apenas destinam cerca de
0,1% do seu rendimento familiar às despesas de correio. Em contrapartida, o tráfego
postal de origem empresarial representa mais de 90% do sector postal. Desta
forma, existe um eminente efeito de substituição da folha em papel pela
comunicação eletrónica. Se o caminho for esse, no futuro o não digital irá
cingir-se apenas às encomendas. Outro dos argumentos é o facto de a baixa
escolaridade, a recessão económica ou a relativa dispersão da urbanização
constituírem causas conjunturais que podem ajudar a compreender a baixa
rentabilidade de postos dos CTT e a pressão para o encerramento de alguns. Uma
outra razão apresentada exprime-se na ideia de que a total liberalização do
sector implica que os CTT se deparem com concorrência em toda a sua dimensão,
salvo nos envios registados e nas notificações judiciais. Além disso, apesar de
o correio “não expresso” continuar a dominar o mercado em aproximadamente 99%,
a quota do sector “expresso” aproxima-se já dos 60%. Ainda no mesmo sentido,
argumenta-se que essas alterações poderão exortar competitividade e melhorar a
oferta.
Embora ambas as
vertentes, a favor e contra a privatização, apresentem vantagens e
desvantagens, antes da privatização dos CTT, prevista para 2013, creio que seja
importante pensar em tudo isto de forma bastante ponderada. Isto, porque no
momento atual de crise, a alineação de empresas públicas torna-se desfavorável,
devido sobretudo ao impacto negativo que as circunstâncias económicas poderão
ter nos preços de venda. E, apesar de o país necessitar de capital, não
acredito que privatizar os CTT resolva o problema da dívida. Além de que o
encaixe com privatizações equivale a menos de 2% do montante de dívida pública.
Portanto, acho que
privatizar não será solução. Uma das poucas certezas que existem se a privatização
ocorrer é que os despedimentos irão aumentar. Isto, porque os privados
minimizam os custos sociais e maximizam lucros. Porém, os empregos e as
receitas poderiam ser mantidos pelo Estado. Ainda no mesmo sentido, a
privatização não melhora a qualidade. Pelo contrário, deteriora o emprego e as
receitas anuais do Estado. Desta forma o Estado fica ainda mais pobre devido ao
aumento da despesa social. Consequentemente, no longo prazo a privatização
traria ainda mais desvantagens ao país, uma vez que os seus efeitos na economia
são sempre temporários.
Valentina Maria Sousa
Cerqueira Lima
“Os CTT devem ser privatizados?”; Jornal de
Negócios; Quinta-feira – 29 de Novembro de 2012; pp. 39.
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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