sexta-feira, 28 de setembro de 2018

“Boom” Imobiliário em Portugal…Lição aprendida com o Lehman Brothers?

Passada uma década desde a “maior  falência  de  todos  os  tempos”,  a  pergunta que  me  ocorre  é  a  descrita  no  título.  Seremos capazes de  antecipar  os  sinais  que  levaram  à  falência  do  quarto  maior  banco  de  investimento  norte-americano  e prevenir  um  cenário  de  crise  económica  profunda?  Será  que  a  euforia  ligada  ao  setor  imobiliário (em  Portugal,  particularmente)  nos  pode  levar  a  uma  espécie  de    crise  subprime?
Observando  o  nosso  país,  penso  que  a  nossa posição  a  nível  económico,  embora  evolua  favoravelmente  (há  que  reconhecer  o  grande  mérito  do  nosso  ministro  das  finanças e do atual governo),  ainda  é  frágil.  Temo  que  um  abalo  de  origem  externa  possa  fazer  tremer  os alicerces  que  estamos  a  reconstruir. 
Nos  EUA,   10  anos ,  o  clima  que  se  vivia  era  de  euforia.  Era  uma  altura  onde  todos  achavam  que  podiam  ter  uma  grande  casa, uma  mansão,  ou  mesmo  uma  casa  na  cidade  e  uma  na  praia,  e  para  tal   “apenas”   precisavam  de  pedir  um  empréstimo.
O  grande   problema  é  que  o  “apenas”  escrito  no parágrafo  anterior  era  um  “apenas”  sem  as  aspas,  ou  seja,  bastava  mesmo  ir  ao  banco  e  pedir  um  empréstimo  (absurdamente,  houve  até  quem  colocasse  a  hipoteca  em  nome  do  cão).  Os  grandes  cúmplices  destas  famílias  americanas  e  os  principais  culpados  eram,  obviamente,  os  bancos.  O  slogan  na  altura  era:  “se  você  tem  pulsação,  nós  damos-lhe  crédito”.  Não  é  difícil  perceber  o  porquê  do  colapso.
Voltando  a  falar  do  nosso  país,  aproveito  agora  para  fazer  uma  pequena  comparação  entre  a  euforia  vivida  naquela  altura  e  a  euforia  que  se  faz  sentir hoje  em  dia  no  setor  imobiliário. 
Pelo  décimo  nono  trimestre  consecutivo,  o  índice  de  preços  da  habitação  do  INE aumentou,  o  que  é  sinónimo  de  um  aumento  da  procura  que  não  está  a  ser  acompanhado  pela  oferta. “Entre  abril  e  junho  de  2018  foram  transacionadas  45  619  habitações.  O  valor  das  vendas  foi  aproximadamente  de  6,2  mil  milhões  de  euros,  mais  34,9%  do  que  no  segundo  trimestre  de  2017.”
Estes  dados  revelam  um  “boom”  no  setor  imobiliário,  um  acontecimento  fantástico  para  o  nosso  país,  impulsionado  principalmente  pelo  crescente interesse estrangeiro  em  Portugal  motivado pelo turismo.  Embora  seja  algo  muito  positivo,  não  podemos  cair  no  erro  de  achar  que  estamos  num  conto  de  fadas.  Este  “boom”  pode  ter  tanto  de  bom  como  de  mau.
Com  o  valor  das  casas  a  subir  de  trimestre  em  trimestre,  começa  a  surgir   especulação,  o  lado  mau  do  “boom”.  O  Banco  de  Portugal   veio  alertar  para  a possível  existência  de  “alguns  sinais”  de  sobrevalorização  dos  preços  do  imobiliário,  embora  limitados,  e   impôs  regras,  como  por  exemplo  a  recomendação  da  atribuição  de  novos  créditos  apenas  a  clientes  que  gastem  no  máximo  metade  (50%)  do  seu  rendimento  líquido  com  as  prestações  mensais  de  todos  os  empréstimos  detidos. No  seguimento  destes  avisos,  verifiquei  também  que,  segundo  o  DN,  desde  2010  que  não  eram  concedidos  tantos  empréstimos  para  compra  de  habitação.
Como  todos  sabemos,  o  crédito  malparado  é  algo  que  assombra  os  nossos   bancos.  Em  2018,  houve  uma  redução  significativa  de  1,7  mil  milhões  de  euros  (1º trimestre),  o  que  comprova  as  melhorias  significativas  que  temos  sentido,  mas  o  crédito  malparado  dos  bancos  portugueses  ainda  é  de  35,2  mil  milhões  de  euros  (+/-  18%  do  PIB).
Um  possível  cenário  de  incumprimento  por  parte  das  famílias  (e  empresas)  pode  levar  este  número  para  valores  megalómanos,  podendo  arruinar  os  bancos  por  completo.  Vimos  o  efeito  da  falência  do  Lehman  Brothers  na  economia  norte-americana  (e  mundial!).  Se  algo  assim  acontecer  aos  nossos  bancos,  Portugal  cairá  numa  situação  de  onde  jamais  se  levantará.
Atestando  a  minha  confiança  nos  nossos  decisores  políticos  e  nas  instituições reguladoras  (BdP),  espero  que  continuem  a  realizar  um  trabalho  sólido  de  consolidação  e  crescimento  sustentado.
Gostaria  de  terminar  deixando  um  reparo,  lembrando  que,  por  vezes,  é  necessário retirar  o   do  acelerador  (da  euforia).  Obviamente,  precisamos  de  crescer,  mas não  devemos  trocar  um  crescimento  sustentado  e  estável,  com  perspetivas  de  longo-prazo,  por  um  crescimento  rápido  e  efémero,  colocando  em  risco  a economia  e  o  longo-prazo.  Devemos  tentar  manter  os  níveis  de  confiança  dos últimos  trimestres  e  limitar  esta  euforia  para  que  esta  se  possa  prolongar  no tempo.  Acredito  que  é  possível  e  pelo  que  vejo    esforços  nesse  sentido.
Penso  que  estivemos  atentos  e  afinal…  a  lição  foi  aprendida!

MIGUEL ÂNGELO MARQUES FERNANDES  

Webgrafia:    
·        TVI24
·        PORDATA
·        Jornal de Negócios
·        INE
·        Dinheiro Vivo
·        Diário de Notícias
·        https://www.pordata.pt/Europa/Produto+Interno+Bruto+(Euro)-1786
·        http://www.jornaldenegocios.pt/mercados/detalhe/como-e-que-estao-a-evoluir-os-precos-das-casas

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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