Passada uma década desde a “maior
falência de todos
os tempos”, a
pergunta que me ocorre
é a descrita
no título. Seremos capazes de antecipar
os sinais que
levaram à falência do quarto
maior banco de
investimento norte-americano e prevenir
um cenário de
crise económica profunda?
Será que a
euforia ligada ao
setor imobiliário (em Portugal,
particularmente) nos pode
levar a uma
espécie de crise
subprime?
Observando o nosso
país, penso que
a nossa posição a
nível económico, embora
evolua favoravelmente (há
que reconhecer o grande mérito
do nosso ministro
das finanças e do atual governo),
ainda
é frágil. Temo
que um abalo
de origem externa possa
fazer tremer os alicerces
que estamos a
reconstruir.
Nos EUA, há 10 anos , o
clima que se vivia era de euforia. Era uma
altura onde todos achavam que podiam
ter uma grande casa, uma mansão, ou mesmo uma
casa
na cidade e uma na
praia, e para tal “apenas” precisavam
de pedir um empréstimo.
O grande problema é que o “apenas” escrito no parágrafo
anterior era um “apenas”
sem as aspas, ou seja,
bastava mesmo ir
ao banco e
pedir um empréstimo
(absurdamente, houve até quem
colocasse a hipoteca em nome
do cão). Os
grandes cúmplices destas famílias americanas
e os principais
culpados eram, obviamente, os bancos. O slogan na altura
era: “se você tem
pulsação, nós damos-lhe
crédito”. Não
é difícil perceber
o porquê do
colapso.
Voltando a falar do
nosso país, aproveito
agora para fazer
uma pequena comparação entre a
euforia vivida naquela
altura e a euforia que se faz sentir
hoje em dia no setor imobiliário.
Pelo décimo nono trimestre
consecutivo, o índice de
preços da habitação do INE
aumentou, o que é sinónimo de um aumento da procura que não
está a ser acompanhado pela oferta. “Entre abril e
junho de 2018
foram transacionadas 45 619 habitações. O valor
das vendas foi aproximadamente de 6,2 mil milhões de euros, mais 34,9% do
que no segundo trimestre de 2017.”
Estes dados revelam um “boom”
no setor imobiliário, um acontecimento
fantástico para o nosso país,
impulsionado principalmente pelo
crescente interesse estrangeiro
em Portugal motivado pelo turismo. Embora
seja algo muito
positivo, não podemos cair no
erro de achar que estamos num conto
de fadas. Este “boom” pode
ter tanto de bom como de
mau.
Com o valor das casas a
subir de trimestre em trimestre,
começa a surgir
especulação,
o lado mau
do “boom”. O Banco
de Portugal já veio
alertar para a
possível existência de “alguns
sinais” de sobrevalorização
dos preços do imobiliário,
embora limitados, e já impôs regras,
como por exemplo a recomendação
da atribuição de novos
créditos apenas a
clientes que gastem no máximo
metade (50%) do
seu rendimento líquido com as prestações mensais de todos
os empréstimos detidos. No seguimento destes avisos,
verifiquei também que,
segundo o DN, desde 2010
que não eram concedidos tantos empréstimos para compra de habitação.
Como todos sabemos, o crédito
malparado é algo que assombra
os nossos bancos. Em 2018,
houve uma redução significativa de 1,7 mil milhões de euros (1º trimestre), o que comprova
as melhorias significativas
que temos sentido, mas o crédito malparado dos bancos
portugueses ainda é de 35,2 mil
milhões de euros (+/- 18% do PIB).
Um possível cenário de incumprimento
por parte das famílias
(e empresas) pode levar
este número para valores
megalómanos, podendo arruinar os bancos
por completo.
Vimos o efeito da
falência do Lehman
Brothers na economia
norte-americana (e mundial!). Se algo
assim acontecer aos nossos bancos, Portugal cairá numa
situação de onde
jamais se levantará.
Atestando a minha
confiança nos nossos
decisores políticos e
nas instituições reguladoras (BdP),
espero que continuem
a realizar um trabalho sólido de consolidação
e crescimento sustentado.
Gostaria de terminar deixando um reparo,
lembrando que, por
vezes, é necessário
retirar o pé do acelerador (da euforia).
Obviamente, precisamos de crescer, mas não devemos trocar um
crescimento sustentado e estável, com perspetivas
de longo-prazo, por um crescimento rápido e efémero, colocando em risco a economia
e o longo-prazo. Devemos tentar manter os
níveis de confiança
dos últimos trimestres e limitar esta euforia
para que esta se
possa prolongar
no tempo. Acredito que é possível e pelo que vejo já
há esforços nesse sentido.
Penso que estivemos atentos e afinal… a lição
foi aprendida!
MIGUEL ÂNGELO MARQUES FERNANDES
Webgrafia:
·
TVI24
·
PORDATA
·
Jornal de
Negócios
·
INE
·
Dinheiro
Vivo
·
Diário de
Notícias
·
https://www.pordata.pt/Europa/Produto+Interno+Bruto+(Euro)-1786
·
http://www.jornaldenegocios.pt/mercados/detalhe/como-e-que-estao-a-evoluir-os-precos-das-casas
[artigo de opinião produzido
no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do
curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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