“Pedrogão” foi uma
palavra muito ouvida nas televisões portuguesas desde o verão do ano passado,
infelizmente pelos piores motivos.
No verão de 2017,
um grande incêndio tirou a vida a mais de 60 pessoas e feriu outras tantas, deixando
também sem teto dezenas de habitantes neste concelho do centro do país. Sendo
este um assunto que tocou o lado sensível da população portuguesa e,
principalmente, daqueles que viviam em Pedrogão Grande, rapidamente surgiram
donativos para tentar atenuar a dor de quem viu as suas casas, carros e animais
transformarem-se em nada. À primeira vista, o pós-tragédia parecia estar
associado a palavras como solidariedade e altruísmo, no entanto, se esmiuçarmos
melhor este tema, logo conseguimos perceber que alguma coisa não estava a
funcionar de forma correta.
Segundo os
residentes deste concelho, nem a cronologia de construção de habitações parecia
estar a ser adequada, nem as pessoas envolvidas seriam as certas. Segundo foi
apurado, pessoas como o irmão do Presidente da Junta de Vila Facaia, funcionários
da Câmara Municipal de Pedrogão Grande e a sogra do Presidente da Junta da
Graça dirigiram-se às finanças, a conselho de “alguém superior”, para alterarem
a morada fiscal após a tragédia ter acontecido. Ou seja, casas em ruínas e
desabitadas e palheiros foram transformados em casas de 1ª habitação, para
desta forma conseguirem candidatar-se aos fundos dirigidos às casas destruídas
pelos fogos.
A acrescentar a
isto, pessoas que viviam há mais de 40 anos em casas que foram arruinadas pelas
chamas continuam a viver em casas alugadas pela segurança social e pagas por
todos os contribuintes, e casas que nem sequer tinham ardido já estão prontas a
habitar e vender. Além disso, pessoas que realmente precisavam de ajuda foi
lhes disponibilizado um orçamento que rondava os 4.000€ e a estes “senhores” foi
lhes concedido perto de 100.000€.
Estamos a falar de
500.000€ desviados para apoio indevido! Casas em ruinas, sem água e luz,
desabitadas há mais de 30 anos, convertidas em moradias novas. Vergonhoso!
Desperta-me uma revolta enorme ver pessoas que tudo o que lhes restou foi a
roupa que traziam vestidas continuarem a viver em condições deploráveis e os
donos da corrupção e da mentira estarem descansados, nas suas casas novas.
O pior disto tudo
é que notícias como estas diminuem o incentivo a fazerem-se donativos e
aumentam a desconfiança junto das pessoas, pela incerteza do paradeiro dos
mesmos.
A meu ver, crimes
como estes têm de ser punidos de forma severa, para de alguma forma se desincentivarem
este tipo de ações e tem de se parar de fechar os olhos e favorecer o “amigo”,
porque no final de tudo são sempre os mais fracos que acabam prejudicados.
Bárbara Coelho
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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