Setembro é o mês mais aguardado pelos estudantes que terminam o ensino
secundário pois todo o seu percurso académcio é verdadeiramente definido. É, de
facto, uma mudança na vida de todos aqueles que ingressam no ensino superior,
não só a nível académico/profissional como também a nível pessoal. Assim sendo,
este fenómeno é anualmente falado no que toca, por exemplo, ao número de
inscritos no ensino superior, às médias de ingresso ou até mesmo às rendas pedidas
aos estudantes na hora de alugar uma casa para viverem no período letivo.
No decorrente ano, foram 43 992 os alunos colocados na 1ª fase de candidaturas ao ensino superior público
face aos 49 362 candidatos, o que perfaz
uma redução de 2% de colocados em relação a 2017. Pelo contrário, no que toca
ao ensino superior privado, deu-se o crescimento entre os 4% e os 20%, destacando-se
que no anterior ano letivo ocorreu algo similar, rondando um crescimento entre 10
e 36%, segundo o Jornal de Notícias.
Analisando de forma cronológica, o ensino público sempre foi o favorito no
que toca ao ingresso no ensino superior. No entanto, olha-se cada vez mais para
as universidades privadas como uma
opção viável e, por isso, justifica-se o movimento a que se tem assistido a
partir do ano letivo de 2015/2016. Perante tais resultados, é inevitável a
seguinte questão: por que razão há tanta aderência às universidades privadas
nos últimos anos?
Primeiramente, a conjuntura económica
tem-se verificado cada vez mais sorridente após a última crise sentida em
Portugal e este torna-se um fator muito relevante, ou até mesmo o mais
relevante, na hora da escolha por parte das famílias. A partir de dados
económicos de 2017, e prevendo que siga uma tendência semelhante no presente
ano, o rendimento disponível das famílias registou um aumento, exibindo uma
taxa de variação de 1,7%. Tal foi possível devido ao aumento das remunerações e
prestações sociais, segundo o Instituto Nacional de Estatítica, permitindo às
famílias alocar uma maior parte do seu rendimento à educação.
É ainda de destacar que, no ano transato,
o poder de compra registou o seu nível máximo desde 2000 (var. 2,9%), segundo o
FMI, salientando o papel da diminuição da taxa de desemprego para tal.
Posto isto, os pais têm uma maior facilidade
de proporcionar o percurso académico numa universidade privada aos seus filhos
de modo a, entre outras razões, ficarem mais perto da família.
Além deste fator, podemos também identificar
a implementação de uma medida pelo Estado português que acabou por não refletir
o objetivo primordial da mesma, fazendo com que existisse um incentivo à
procura das universidades privadas. Esta medida consistia na diminuição das
vagas no ensino superior público no Porto bem como em Lisboa. Apesar da mesma ter
como principal finalidade a deslocação dos jovens para o interior do país de
forma a dinamizar e combater o envelhecimento, os jovens não responderam a tal de
forma positiva, preferindo recorrer a uma universidade mais próxima, apesar do
valor das propinas poder ser 5 vezes maior, por exemplo.
Por fim, podemos ainda destacar a
entrada, cada vez mais significativa, de estudantes internacionais no nosso
país, bem como o facto da escolaridade obrigatória, atualmente em vigor, se
situar no 12ºano. Esta última medida
referida potencia os estudantes a seguir o ensino superior, mesmo aqueles que
não têm os resultados mais satisfatórios, uma vez que têm sempre a opção onde
as médias do secundário não são consideradas da mesma forma que no ensino
público.
Perante todos estes fatores, será de esperar no curto
prazo um crescimento da procura do ensino superior privado. Por um lado, este
aumento da procura das mesmas é propício ao desincentivo e, talvez, a uma desacreditação
do ensino público, o que leva à velha história de que só as pessoas com mais
rendimentos têm o acesso a educação superior. No entanto, este também pode
tornar-se um desafio ou até mesmo um incentivo à modernização/inovação do
ensino público.
Célia Catarina Barbosa Santos
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário