Ao longo da história, Portugal sempre enfrentou um dilema estratégico, dada a sua posição geográfica, e procurou superá-lo voltando-se para o mar. Com isso, não só prosperou como foi também pioneiro na descoberta do mundo. E se hoje, tal como há seis séculos, o nosso país trilhar o seu caminho pelo mar, mostrando novamente ao mundo a perícia e o esplendor da nossa nação?
Hoje,
a meu ver, Portugal tem a oportunidade de embarcar num novo ciclo geopolítico,
no qual pode explorar a sua relação marítima com o mundo, dado o volume de
recursos financeiros significativos a que vai poder aceder. Deste modo, creio
que a resposta nacional passa pelo reconhecimento estratégico das oportunidades
latentes nas adversidades, valorizando de forma sustentável as potencialidades
do nosso território para o crescimento da economia e para a criação de emprego.
Efetivamente,
a exploração da dimensão marítima exige o reforço do investimento nas
estruturas portuárias, na ampliação dos cais e da capacidade de armazenamento,
nos equipamentos de manutenção, consolidando o papel do país como plataforma
comercial e logística e reforçando a sua inserção em hubs, em polos
agregadores de valências e nas redes mundiais de comércio, energia,
transportes, tecnologia e conhecimento.
Além
disso, a exploração, aliada à fonte de riqueza económica deste recurso com a
extensão da plataforma continental, permite dinamizar novos polos de
atividades, desde as biotecnologias às ciências da saúde, do aproveitamento
sustentável de recursos minerais estratégicos às energias renováveis, da
indústria alimentar ao apoio e à modernização dos setores da economia azul. São
assim inúmeros os setores que a transformação do mar numa nova âncora da
economia nacional pode potenciar o desenvolvimento.
É
ainda importante salientar que, atendendo ao renascimento comercial e
energético da bacia do Atlântico e à crescente digitalização dos oceanos, é
possível incentivar uma intervenção mais sustentável na gestão dos ecossistemas,
potenciar o desenvolvimento do poder dos sensores e, ao mesmo tempo, permitir
um aproveitamento dos recursos marinhos com base no conhecimento e na
tecnologia. Nesta perspetiva de revolucionar a oceanografia e a climatologia,
de modo a aproveitar estrategicamente o nosso recurso geográfico e a ZEE, seria
promissor construir uma Universidade do Atlântico e instalar o Observatório nos
Açores, em estreita articulação com o AIR Centre, tendo em vista a
criação de um grande centro tecnológico para estudar o clima, a atmosfera e a
terra, e promover o conhecimento do oceano e estimular a ligação à economia.
Para
superar as limitações do mercado interno, Portugal, como espaço geoeconómico
integrado, pode articular o fomento da identidade territorial com o desenvolvimento
dos setores tradicionais da economia e edificar com as empresas uma nova visão,
de modo a aumentar a competitividade, através do reforço do seu dinamismo e do
ecossistema de inovação, com o intuito de promover a capacidade de se
internacionalizar cada vez mais e de explorar os nichos certos do mercado
globalizado. Por conseguinte, é possível solidificar e diversificar o setor
exportador ao integrá-lo e potenciá-lo em plataformas logísticas
diversificadas.
O
país pode ainda transformar-se numa Plataforma Tecnológica Integrada, através
da qual seria possível desenvolver e testar novas soluções científicas e
tecnológicas para os desafios do nosso tempo em relação à gestão dos recursos,
à mobilidade, às energias, às cidades, à economia circular, reformatando as
alianças com países e multinacionais. Portugal precisa de abrir novas vias para
a criação de riqueza e políticas ativas para a atração do investimento.
Posto
isto, acredito que o país, pelas suas especificidades, encontra nesta crise uma
oportunidade de ultrapassar constrangimentos estruturais e de valorizar
vantagens competitivas, pois Portugal não é, de todo, um país periférico! Está
na hora de potenciar a economia atlântica e fruir do cruzamento das redes da
globalização, ao exaltar os nossos ativos e inseri-los nessas mesmas redes. Com
efeito, o nosso país pode ser reconfigurado em função do paradigma da
conectividade e tornar-se num ator económico polifacetado.
Em
suma, considero que o mar é um ativo estratégico e que devemos olhar para o
futuro e para todas as suas potencialidades como uma oportunidade única de estimular
o desenvolvimento e fomentar o crescimento económico, social e sustentável,
podendo aumentar a nossa projeção internacional.
É
possível engrandecer Portugal pelo MAR, tal como outrora o foi feito pelos
“mares nunca dantes navegados”, imortalizando a nação como “Heróis do mar”!
Ana Sofia Prelado Diogo
[artigo de opinião
produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do
3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]
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