Portugal
é um país virado para o mar, que tem milhões de cidadãos espalhados pelo mundo
e cuja prosperidade depende do turismo e do comércio internacional. Uma
companhia aérea bem gerida e com a dimensão certa pode ser um instrumento
poderoso para a defesa dos nossos interesses.
Com
efeito, a TAP (Transportes Aéreos Portugueses) é uma empresa com 75 anos que
soube modernizar-se e se tornou detentora de um elevado conhecimento técnico e
tecnológico e que, apesar de alguns erros de gestão já amplamente reconhecidos,
conseguiu sobreviver num mercado concorrencial muito competitivo, como é o da
aviação civil. Alcançou esse feito sem nunca deixar de cumprir em segurança os
seus objetivos, transportando pessoas e mercadorias para vários mercados e
destinos, prestando especial atenção à diáspora portuguesa.
Aquilo
a que estamos a assistir na TAP deve-se a vários fatores, incluindo uma
pandemia que forçou o setor da aviação mundial a fazer uma aterragem de
emergência. Porém, ao contrário do que está a acontecer noutros países e com
outras companhias, no caso da TAP a aterragem de emergência vai custar três mil
milhões de euros aos contribuintes. Ou seja, estaremos a falar de ajudas do
Estado e da injeção pública de mais de 3,2 mil milhões de euros na TAP, quando
tudo parece levar a crer que o plano do Governo passará por vender aviões e
reduzir a frota, pelo despedimento de cerca de dois mil trabalhadores e por
cortes salariais médios de 25%.
Ora,
na minha opinião, nenhuma restruturação deve ser feita à custa de tornar a TAP
numa companhia muito pequena, opção insustentável face aos milhares de milhões
que todos os portugueses terão de pagar. Mas o Governo parece muito inseguro,
pois, também, referiu “entre linhas” que pretende levar o plano de
reestruturação ao Parlamento para votação, o que se afigura não só uma clara
fuga às suas responsabilidades mas também um precedente muito grave, onde
muitas outras e quaisquer matérias governamentais serão também apreciadas em
plenário, com todas as consequências daí decorrentes.
No
quadro atual de pandemia, a TAP encontra-se com a sua operação suspensa quase
na totalidade, com dezenas de aviões aparcados sem utilização, e com o Estado a
reforçar a sua posição acionista de 50% para 72,5%, injetando, em 2020, 1,2 mil
milhões na empresa. Assim, falar da TAP é falar muito mais do que uma simples empresa,
mas, também, de milhares de trabalhadores e das suas famílias, das centenas de
empresas nacionais que são suas fornecedoras e parceiras e de um contributo
para a exportação que representa cerca de 2% do PIB português. Isto demonstra a
dimensão da riqueza com que a TAP contribui para o nosso país.
Para
o ministro da Economia e Finanças francês, Bruno Lemair, apoiar a Air France
é uma questão de soberania. “Se não tivermos uma companhia área própria pode
ser um problema para a nossa soberania”, afirmou o ministro. Perante esta
afirmação, o governo francês concedeu um empréstimo à Air France de 7
mil milhões de euros. Deste modo, torna-se, portanto, imperativo que Portugal
pense de forma semelhante em relação à TAP e, desta forma, é impreterível defender
a empresa, defender os trabalhadores, defender as famílias e a economia
portuguesa.
É
certo que a aviação civil foi, mundialmente, um dos setores mais severamente
afetados pela atual crise pandémica, mas devemos também olhar para o futuro com
esperança, dado que o processo de vacinação contra a Covid-19 já se encontra em
execução.
Concluindo,
sabemos agora que, ao longo do próximo ano, poderemos, em diferentes fases, ser
vacinados para proteção contra um vírus que, desde há mais de 12 meses,
paralisa setores económicos inteiros e encerra empresas, lançando milhões no
desemprego. Posto isto, a TAP não é uma empresa, mas sim a Empresa que merece,
precisa e deve ser ajudada pelo governo português. Na minha opinião, devemos
ter orgulho naquilo que é nosso e que representa a nossa soberania e, deste
modo, tentar solucionar o problema que, atualmente, assombra o setor de aviação
português.
Joana Gonçalves Faria
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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