O
ano de 2012 está a ficar para trás mas será um ano que ficará na memória de
toda a gente. A crise que se vive actualmente está a pôr à prova as decisões
políticas tomadas pelos países da União Europeia e pelos EUA, depois de um ano
como o de 2012, ano bastante atribulado e de transformações rápidas. Um ano onde
se pediram reformas à estrutura económica de muitos países ocidentais de forma
a combateram as persistentes taxas de desemprego elevadas, como também a
escalada da dívida para níveis insuportáveis, aliado a “tímidos” crescimentos
económicos. Ano esse também de bastantes discórdias na União Europeia
relativamente ao tema “euro” e relativamente às intervenções financeiras feitas
nos países periféricos.
O
ano de 2012 já passou mas deixou um legado negro à União Europeia, legado esse
que poderá continuar e acentuar-se no ano que se avizinha. A UE que fora criada
no intuito de criar uma sociedade mais livre e unida já não se verifica nos
dias de hoje. Existe uma clara polarização das decisões políticas e económicas
na Europa, estando essa polarização concentrada nos credores dos países
europeus, basicamente a Alemanha. A Alemanha neste momento é quem dita as
regras. A França está a perder esse estatuto, começando também a sentir o
“peso” da sua dívida, tal como a Espanha e a Itália.
Quando
François Hollande ganhou as eleições frente ao presidente Nicolas Sarkozy, este
prometeu aos franceses e à Europa que o rumo que se devia tomar era o do
crescimento económico em vez da austeridade alemã, pois a austeridade estava a
levar os países da moeda única para a recessão, desestabilizando mais o euro e
impossibilitando cada vez mais a recuperação da “soberania” dos países
intervencionados pelo FMI e pelo BCE. Mas Hollande esqueceu-se no seu discurso
que quem manda são os credores, e estes querem a austeridade e consolidação
orçamental para continuarem a dar crédito aos países europeus. Trata-se de uma
“machadada” no projecto europeu.
A
Alemanha já não olha para o projecto europeu como olhavam os estadistas alemães
antes de Maastricht. A integração europeia foi posta em causa, e isso foi
verificado pelos credores, ao considerarem alguns países europeus como “lixo”
no que toca a investimento em dívida pública.
Outra
evidência da fragilização da integração europeia foi a reação dos países do
norte europeu como a Finlândia, que se recusavam a pagar pelos erros cometidos
pelos países do sul. E aqui chegamos à questão, cuja resposta é cada vez mais
consensual: Será que o integralismo europeu é possível?
Analisando
a situação europeia actual, o federalismo não iria resultar. A Europa, o “velho
Continente”, é constituída por países com culturas tão diferenciadas, muitas
delas conquistadas e defendidas à custa de guerras. Será que um país com
novecentos anos de história estaria disposto a abdicar da sua autonomia para
ser liderado por uma instituição? O Reino Unido já deu mostras de que não está
interessado em perder a sua soberania, sendo este um país de grande importância
para Europa e com um historial sem par. Penso que podemos pegar na Espanha como
exemplo, apesar de as regiões autónomas espanholas partilharem mais elementos
culturais entre si do que os países europeus entre si.
Tem-se
verificado nos últimos tempos a ascensão de alguns partidos ou movimentos
extremistas em alguns países europeus. O Syriza, esquerda radical na Grécia, a Frente
Nacional de extrema-direita na França, da extrema-direita da Holanda, o partido
da liberdade e democracia e da Finlândia, o “True Finns”, partidos eurocépticos
que estão a ganhar força nos seus países. Este fenómeno demonstra realmente as
profundas diferenças culturais entre os países.
A Europa está a perder poder na
economia mundial e continuará a perder se as coisas continuarem como estão
agora, tudo na mesma. A Alemanha assumiu-se como líder da Europa, não porque
quisesse mas por ser a economia mais forte, por ser o “motor” da Europa. Mas o
que se tem verificado é algum cepticismo também por parte dos alemães. A
Alemanha aposta na austeridade, na consolidação das contas públicas, mas as
economias europeias estão a entrar em recessão, o que leva a que esse processo
de consolidação seja mais demoroso e mais penoso. Além disso, a própria
Alemanha está em austeridade e isso tem-se revelado prejudicial pelo facto de
esta ter diminuído as importações de bens oriundos dos outros países da união.
Eu penso que 2013 irá ser um ano de
muita discussão na UE, um ano em que se verá se há ou não vontade por parte dos
decisores europeus de alterar a situação actual, se há vontade em continuar a
integração europeia e se há vontade em pensar no futuro não só do euro e do
sistema bancário, mas principalmente nas pessoas, que têm vindo a suportar tudo
este processo. É necessário que a Europa permita aos países fazer as suas
reformas e consolidar as suas contas públicas de forma sustentável e planeada,
não da forma que se está a fazer, tudo feito de forma acelerada e num curto
espaço de tempo. O banco central europeu tem de ter um papel preponderante, não
permitindo que o euro enfraqueça mas também permitindo aliviar as dificuldades
dos países intervencionados para o bem destes e da Europa. Espera-se um ano de
grandes dificuldades e de muitos sacrifícios.
Bruno Fernandes
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