A especulação imobiliária
é uma espécie de jogo, em que quem tem dinheiro aposta na compra de imóveis com
o objetivo de obter lucro, pois é dinheiro fácil e imediato.
Atualmente, em Portugal,
há pouca oferta e muita procura, e enquanto subsistir este desequilíbrio os
preços não descem. Criou-se uma espécie de “bolha imobiliária”, que pode
rebentar quando os preços descerem. Esta descida vai ter impacto na
estabilidade macroeconómica e financeira devido aos ajustes ocorridos, afetando
negativamente os bancos e a taxa de desemprego.
A especulação “apenas” se
manifesta nas duas áreas metropolitanas (apesar de já se alastrar ao resto do
país), e surgiu através da aglutinação de fatores políticos, sociais e
económicos. Do meu ponto de vista, o principal problema foi que a subida dos
preços foi muito mais rápida do que o rendimento das pessoas. Para ficarmos com
uma noção, em termos mundiais, Portugal foi o 5º país onde o preço da habitação
mais subiu em 2017, mas o rendimento dos portugueses não acompanhou esta
subida. Contudo, há outras razões que permitiram esta “ganância imobiliária”, entre
elas:
- O “boom” do alojamento
local e o turismo, que provocaram um aumento na pressão sobre os inquilinos.
- O investimento e
financiamento de casas, que permitiram às pessoas optar por investir as suas
poupanças no mercado imobiliário pois este não tem limite, ao invés de
depositar nos bancos sem obter qualquer retorno.
- O Estado e a Câmara de
Lisboa que também contribuíram, através da legislação e políticas adotadas, como
os vistos gold e os benefícios
fiscais a residentes não habituais.
- Desde 2010 que não eram
concedidos tantos empréstimos para a compra de casa em Portugal, e, se
continuarmos ao mesmo ritmo, 2018 poderá bater o valor registado no período
pré-troika. As habitações, as aquisições imobiliárias
e as atividades de construção são financiadas pelo crédito, e estes ativos são
usados como garantia aquando da concessão de empréstimos, daí que o
setor bancário esteja extremamente “exposto” ao mercado imobiliário. A juntar a
tudo isto, recentemente, as taxas de juros em
Portugal atingiram valores bastante baixos, o que criou a expetativa de um
aumento do montante dos empréstimos, aumentando ainda mais a subida dos preços.
- E, finalmente, a
alteração da lei das Rendas em 2012, cujo objetivo era aumentar o número de
habitações para arrendamento através da liberalização do mercado de
arrendamento (legislação muito pressionada pela troika).
Quem sofre são as
famílias portuguesas, que estão a viver um cenário aterrorizante e angustiante.
Algumas vivem com o medo de receber uma carta do senhorio a informar da não-renovação
do contrato, outras estão a ser despejadas de forma cruel e atroz. Se, por um
lado, as famílias estão a perder as moradias onde viveram grande parte da sua
vida, por outro lado, estamos perante uma geração de jovens para quem o
conceito de ter uma casa é fictício. Neste situação também se enquadram os
estudantes universitários, que vivem um pesadelo, isto é, os preços dos quartos
continuam a disparar e muitos não encontram outra alternativa senão aceitar os
preços exorbitantes que lhes são solicitados pelos proprietários gananciosos,
que se aproveitam desta situação imobiliária pois têm a consciência que vão
conseguir arrendar “num instante”.
Contudo, é errado pensar
que os preços das casas que se verificam atualmente são os mais altos de sempre
e que as habitações estão mais caras que nunca. Houve períodos da economia
portuguesa em que os preços foram maiores, no entanto, o que diminuiu foi o
poder de compra. Em contrapartida, os preços das rendas têm aumentado de forma constante desde 1995. Os portugueses optaram por
arrendar em vez de comprar devido aos desenvolvimentos no funcionamento do
mercado de rendas e à crescente acessibilidade a estes, o que provocou uma
subida nos preços.
Não há dúvida que tem de
se pôr um travão à especulação imobiliária, contudo, não nos podemos esquecer
que foi graças aos “especuladores” que houve uma reabilitação dos imóveis mais
antigos e degradados, e que permitiu um aumento na quantidade de casas
habitáveis disponíveis para a população.
Os preços estão a subir
porque a procura é maior do que a oferta, logo, a meu ver, a aplicação de taxas
na venda de casas não é uma solução viável, pois estaríamos a correr o risco de
reduzir as casas que vêm para o mercado, aumentando ainda mais os preços das
habitações. Assim, o maior problema é que qualquer coisa que se faça neste
momento vai fazer com que os investidores não apostem tanto na oferta, e como
já se percebeu o problema é a falta de oferta e não a procura frenética. Uma “possível”
solução seria a adoção de um modelo similar ao de Barcelona, em que 30% da
construção residencial é reservada para a população.
Jéssica
Marina Fernandes Eiriz
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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