quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

´Green bonds`: uma forma sustentável de investir

A sustentabilidade passou a ser um tema de elevada preocupação em diferentes esferas da sociedade e, ultimamente, têm sido claros os esforços das economias para cumprir as metas relacionadas com a sustentabilidade ambiental e a descarbonização mundial até 2050. Alinhado com estes objetivos, cada vez mais ouvimos falar de um novo segmento do mercado financeiro, as green bonds.

Mas, afinal, de que se trata? Green bonds são instrumentos de dívida que, tal como as obrigações tradicionais, conferem ao seu titular um direito sobre um juro periódico e que são amortizadas na sua maturidade. A sua especificidade reside na aplicação do capital angariado em projetos que visam o desenvolvimento sustentável, por exemplo, projetos de energias renováveis, eficiência energética, entre outros.

A primeira green bond foi emitida em 2007, pelos European Investment Bank (EIB) e World Bank, com a designação de Climate Awareness Bond, dedicadas ao financiamento de projetos de energia renovável e eficiência energética. Desde a sua primeira emissão, o EIB já captou mais de 33,7 biliões de euros.

De acordo com a Carbon Bonds Initiative, a emissão de green bonds alcançou os 257,7 biliões de dólares em 2019, um aumento de 51% face a 2018, contudo, representa ainda uma pequena parte do mercado global de obrigações – cerca de 3,5% da emissão total de títulos globais ( $7,15 triliões). Os 5 países onde se emitiram mais green bonds foram os Estados Unidos, China, França, Alemanha e Holanda.

O mercado mundial de obrigações verdes está a crescer a um ritmo exponencial e Portugal começou recentemente a recorrer a este tipo de financiamento. Apenas 3 empresas se estrearam neste segmento: a EDP, em 2018 e 2019, emitiu 3 green bonds, num total de 2,2 mil milhões de euros; a Altri, em 2019, com uma emissão de 50 milhões; e a Corticeira Amorim SGPS, que anunciou a 3 de dezembro a sua primeira emissão de green bonds, no valor de 40 milhões de euros.

A emissão de uma green bond pressupõe que o capital obtido seja investido em projetos alinhados com os critérios da Taxonomia Verde e que seja feita a publicação de uma Green Bond Framework, definindo quais são os objetivos de sustentabilidade que se pretende alcançar e quais os indicadores que vão utilizar para medir esses objetivos. Para além disso, terão de reportar anualmente a efetiva alocação dos capitais e o impacte ambiental dos projetos realizados. Adicionalmente, é efetuada uma verificação externa, antes da sua emissão, para a  verificação do alinhamento com a Taxonomia, e após a alocação total dos fundos.

Um dos desafios da integração das green bonds no mercado associa-se à falta de uma definição consensual ou harmonização dos critérios de caraterização das mesmas, que pode colocar em causa a integridade do emitente caso não sejam cumpridos os compromissos assumidos. Para além disso, a burocracia associada ao cumprimento dos requisitos, os reportes e os custos adicionais da verificação externa também podem ser encarados como entraves ao uso destas obrigações.

A maior vantagem associada às green bonds é o impacte ambiental positivo, contribuindo para a transição verde da economia. Cada vez mais as empresas encaram a sustentabilidade como uma das suas principais prioridades de investimento e o seu envolvimento com causas ambientais aumentam o seu valor de mercado.

Da perspetiva do investidor, as green bonds oferecem uma nova forma de diversificar o seu portefólio de investimentos, alinhando a rendibilidade com um propósito ambiental. Para além disso, os rigorosos procedimentos de reporte garantem transparência e credibilidade no mercado.

Atualmente, os investidores anseiam por novas formas de canalizar a sua poupança e este tipo de financiamento oferece a oportunidade de o fazer em prol de investimentos sustentáveis, com efeitos financeiros reais e relevantes. As tendências apontam para um crescimento acelerado do segmento de Green Finance, que surgiu de uma necessidade ambiental de extrema importância.

 

Íris Soraia Costa 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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