Face à crise económica que se instalou, em que o desemprego representa uma constante, a agricultura revelou-se como uma última alternativa a ser pensada, principalmente para os jovens que optam por não emigrar.
Na verdade, cada vez mais se ouve falar do regresso ao campo e às origens e do crescente número de jovens que trocam as cidades pelo trabalho rural, bem como de alguns projetos agrícolas de sucesso, que aos poucos contribuem para revitalizar e dinamizar as zonas rurais do país.
No entanto, apesar da tendência crescente de jovens agricultores, esta ainda se revela pouco expressiva, posicionando Portugal entre os países da União Europeia com menos jovens agricultores: somente 2,5% dos agricultores portugueses têm menos de 35 anos, face à quase metade que tem mais de 65 anos. Contudo, aproximadamente metade dos jovens que procuram uma oportunidade no setor agrícola tem formação superior (46%) e são os homens que predominam, ainda que sem uma maioria significativa (60%).
Como tal, nos últimos anos, tem-se assistido à criação de mais condições e incentivos para que os jovens empreendedores, com uma ideia de negócio e com vontade de trabalhar a terra, possam ocupar os campos e mobilizar a agricultura. Produções agrícolas rentáveis, como a do mirtilo e dos frutos vermelhos, são cada vez mais procuradas pelos países Nórdicos. Outras, como cogumelos, kiwis, ervas aromáticas e medicinais, plantas ornamentais, árvores de fruto, vinho e outras menos conhecidas, como a do physalis ou açafrão-das-índias são também algumas das grandes apostas feitas pelos jovens.
Contudo, os agricultores sem experiência e a quase sem acompanhamento técnico, as condições financeiras e as dificuldades de escoamento da produção são o reverso da medalha do regresso aos campos. Esta viragem para a agricultura tem que ser acompanhada de eficiência, evitando, por exemplo, a plantação de culturas em terrenos impróprios, pensando nos custos de transporte e não vendendo a produção a qualquer preço.
Outro dos problemas que o regresso à agricultura coloca é a descida dos preços, impulsionada pelo aumento da produção. De acordo com os dados do INE, a superfície agrícola não utilizada diminuiu 20% face a 2009, apresentando o valor mais baixo desde que existem registos estatísticos.
Por outro lado, a incerteza do setor, que se encontra sujeito às alterações climáticas, põe em causa todo o projeto. As dificuldades de acesso ao crédito e de comercialização, representam também algumas das dificuldades da profissão de agricultor. No entanto, muitos dos jovens desistem dos seus projetos agrícolas quando percebem que têm que sujar as mãos, que abdicar de férias, fins-de-semana e da comodidade da cidade.
Assim sendo, apesar de dever ser incentivada a exploração agrícola, dado que permite combater a desertificação e pode contribuir para ultrapassar a atual conjuntura económica, representando uma alternativa aliciante ao desemprego, é necessário ter presente que a agricultura não é para todos. É necessário um gosto especial.
Ana Raquel Silva
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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