No
final do ano passado, a taxa de poupança das famílias atingiu o mínimo
histórico, três vezes inferior à média na zona euro (de 12,5%). A tendência de
queda começou com a entrada no euro e só foi interrompida nos anos de crise. É
também verificado que quem poupa são sobretudo os mais ricos. Isto é comprovado
pelo fato de cerca de 80% da poupança em Portugal ser gerada pelos 20% de
famílias com rendimentos mais elevados. Inversamente, os que têm menos
rendimentos registam níveis negativos de poupança.
Nesta
temática, é evidenciado que a taxa de poupança das famílias, desde a chegada do
euro até à atualidade, é acompanhada do nível de riqueza líquida, mas, também,
do nível de escolaridade. O nível de escolaridade influencia a quantidade de
rendimento disponível que não é absorvido em consumo e é canalizado para
poupanças. Ou seja, poupar é mais comum entre os que têm o ensino superior, e
pouco relevante entre os que têm apenas o ensino básico ou um nível inferior.
É
verificado que, há 20 anos, a taxa de poupança das famílias era de 12.9% e, no
último ano, atingiu o valor de apenas 4.2%, segundo o INE. Entre 2013 e 2014, a
diminuição foi de 2.8 pontos percentuais, sendo que, foi no ano transato que se
constatou o valor mais baixo alguma vez verificado. Logo, em 20 anos, esta taxa
sofreu uma diminuição de 8.7 p.p., o que revela um cenário preocupante.
Tendo
em conta que associados ao rendimento permanente tem-se a riqueza líquida e o
nível de escolaridade, chega-se à conclusão que as alterações da desigualdade
na distribuição de rendimento poderão ter um impacto negligenciável sobre a
evolução da poupança agregada. Ou seja, uma redução nas desigualdades não
levará necessariamente a uma subida do nível de poupança.
Constata-se
que a entrada no euro fez cair de forma mais acentuada a poupança dos
portugueses do que a de outros países desta moeda. O acesso mais fácil a
crédito a preços mais baixos e as taxas de juro mais constantes são alguns dos
motivos para tal ter sucedido. Isto gerou uma subida do nível de endividamento,
o que também levou a repercussões na capacidade de poupar.
Após
a crise, o nível de poupança aumentou (até 2013), pois Portugal teve de pedir
ajuda financeira e, consequentemente, o acesso ao crédito diminuiu, assim como
as expetativas. Os indivíduos começaram a adiar as intenções de compra e a
diminuir o seu consumo, pois viram as suas expetativas de emprego e de
rendimento igualmente a decrescerem.
Sendo
que nos últimos dois anos esta taxa diminuiu substancialmente, o Banco de
Portugal estima, para este ano, um ligeiro aumento da taxa de poupança, a qual
deverá aumentar para os 5%. Tal expetativa de subida será auxiliada pelo processo
de desendividamento das famílias portuguesas e pelo ligeiro aumento do consumo
privado.
Nesta
época natalícia vemos o consumo das famílias portuguesas a aumentar
consideravelmente. Atualmente, em 2016, as famílias mostram-se mais otimistas
em relação ao futuro da economia. Logo, estão dispostas a gastar mais em presentes,
comida e eventos sociais neste Natal. Com um aumento no seu poder de compra
face a 2015, os consumidores portugueses preveem gastar mais do seu rendimento
do que no ano passado. Desde
2014, os portugueses têm vindo a declarar ter gasto mais do que as suas
expetativas e esta tendência prevê-se manter este ano, o que indicia um
contínuo aumento do consumo e uma diminuição mais abrupta da poupança nesta
época.
Num
país em que a taxa de investimento se encontra em valores mínimos históricos,
em que o crescimento potencial é muito baixo e os níveis de endividamento são
ainda muito elevados, de empresas, famílias e do país como um todo, valores tão
baixos da taxa de poupança são preocupantes. Tendo isto em conta, o ciclo deve
ser invertido, pois um aumento no nível de consumo não é favorável se este
mesmo for realizado através de um endividamento externo. Contudo, face à
instabilidade política presente e ao clima de incerteza futura, é antecipado
para os anos seguintes um incremento da poupança nas famílias portuguesas.
Eva
Nunes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade
curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º
ciclo) da EEG/UMinho]