terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Portugueses poupam cada vez menos

No final do ano passado, a taxa de poupança das famílias atingiu o mínimo histórico, três vezes inferior à média na zona euro (de 12,5%). A tendência de queda começou com a entrada no euro e só foi interrompida nos anos de crise. É também verificado que quem poupa são sobretudo os mais ricos. Isto é comprovado pelo fato de cerca de 80% da poupança em Portugal ser gerada pelos 20% de famílias com rendimentos mais elevados. Inversamente, os que têm menos rendimentos registam níveis negativos de poupança.
 Nesta temática, é evidenciado que a taxa de poupança das famílias, desde a chegada do euro até à atualidade, é acompanhada do nível de riqueza líquida, mas, também, do nível de escolaridade. O nível de escolaridade influencia a quantidade de rendimento disponível que não é absorvido em consumo e é canalizado para poupanças. Ou seja, poupar é mais comum entre os que têm o ensino superior, e pouco relevante entre os que têm apenas o ensino básico ou um nível inferior.
É verificado que, há 20 anos, a taxa de poupança das famílias era de 12.9% e, no último ano, atingiu o valor de apenas 4.2%, segundo o INE. Entre 2013 e 2014, a diminuição foi de 2.8 pontos percentuais, sendo que, foi no ano transato que se constatou o valor mais baixo alguma vez verificado. Logo, em 20 anos, esta taxa sofreu uma diminuição de 8.7 p.p., o que revela um cenário preocupante.
Tendo em conta que associados ao rendimento permanente tem-se a riqueza líquida e o nível de escolaridade, chega-se à conclusão que as alterações da desigualdade na distribuição de rendimento poderão ter um impacto negligenciável sobre a evolução da poupança agregada. Ou seja, uma redução nas desigualdades não levará necessariamente a uma subida do nível de poupança.
Constata-se que a entrada no euro fez cair de forma mais acentuada a poupança dos portugueses do que a de outros países desta moeda. O acesso mais fácil a crédito a preços mais baixos e as taxas de juro mais constantes são alguns dos motivos para tal ter sucedido. Isto gerou uma subida do nível de endividamento, o que também levou a repercussões na capacidade de poupar.
Após a crise, o nível de poupança aumentou (até 2013), pois Portugal teve de pedir ajuda financeira e, consequentemente, o acesso ao crédito diminuiu, assim como as expetativas. Os indivíduos começaram a adiar as intenções de compra e a diminuir o seu consumo, pois viram as suas expetativas de emprego e de rendimento igualmente a decrescerem.
Sendo que nos últimos dois anos esta taxa diminuiu substancialmente, o Banco de Portugal estima, para este ano, um ligeiro aumento da taxa de poupança, a qual deverá aumentar para os 5%. Tal expetativa de subida será auxiliada pelo processo de desendividamento das famílias portuguesas e pelo ligeiro aumento do consumo privado.
Nesta época natalícia vemos o consumo das famílias portuguesas a aumentar consideravelmente. Atualmente, em 2016, as famílias mostram-se mais otimistas em relação ao futuro da economia. Logo, estão dispostas a gastar mais em presentes, comida e eventos sociais neste Natal. Com um aumento no seu poder de compra face a 2015, os consumidores portugueses preveem gastar mais do seu rendimento do que no ano passado. Desde 2014, os portugueses têm vindo a declarar ter gasto mais do que as suas expetativas e esta tendência prevê-se manter este ano, o que indicia um contínuo aumento do consumo e uma diminuição mais abrupta da poupança nesta época.
Num país em que a taxa de investimento se encontra em valores mínimos históricos, em que o crescimento potencial é muito baixo e os níveis de endividamento são ainda muito elevados, de empresas, famílias e do país como um todo, valores tão baixos da taxa de poupança são preocupantes. Tendo isto em conta, o ciclo deve ser invertido, pois um aumento no nível de consumo não é favorável se este mesmo for realizado através de um endividamento externo. Contudo, face à instabilidade política presente e ao clima de incerteza futura, é antecipado para os anos seguintes um incremento da poupança nas famílias portuguesas.

Eva Nunes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

O desemprego em Portugal

O Desemprego é uma situação de inatividade forçada da mão-de-obra ativa que, embora tenha capacidade para o exercício de uma profissão remunerada, não tem possibilidade, no momento, de a exercer.
O desemprego é explicado por causas estruturais e conjunturais. Há vários tipos de desemprego, tais como, tecnológico, cíclico, friccional, de longa duração, sazonal, voluntário e jovem.
As situações de desemprego, em especial com taxas elevadas, têm efeitos negativos na economia, nomeadamente: encargos para a segurança social; subida de preços; exploração de trabalhadores; e mercado negro do trabalho.
A União Europeia tem defendido uma política de emprego preventiva que deve assentar na empregabilidade dos candidatos ao emprego, na igualdade de oportunidades para todos, adaptabilidade das empresas e dos trabalhadores às inovações tecnológicas e estímulo do espírito empresarial.
Em muitos países, incluindo Portugal, têm sido tomadas medidas que procuram incentivar a empregabilidade e ao mesmo tempo reduzam o desemprego, nomeadamente: a realização de cursos para desempregados; incentivos à criação do próprio emprego; fomento da formação profissional para jovens.
Pela sua dimensão económica e social, o combate ao desemprego é uma das prioridades de qualquer governo.
O desemprego está a descer em praticamente toda a Europa, com os 28 Estados-membros a reduzirem o peso do número de pessoas à procura de trabalho, mas os dados divulgados recentemente pelo Eurostat revelam que em Portugal a descida homóloga está a ser mais acentuada, tanto em termos de taxa de desemprego, como em número de desempregados. Ainda assim, Portugal era em Julho o sexto país da União Europeia com a taxa mais elevada.
O desemprego na zona euro recuou para 10,2% em Abril, o valor mais baixo desde Agosto de 2011, e caiu para 8,7% na União Europeia, a menor taxa desde Abril de 2009. Desde 2009 que o desemprego em Portugal não divergia tão pouco da média europeia.
Em janeiro de 2013, quando a taxa de desemprego atingiu um máximo histórico de 17,4%, Portugal nunca viu a Europa tão longe no que diz respeito à saúde do mercado laboral – a diferença face à taxa de desemprego da Zona Euro foi de 5,4 pontos.
O Eurostat mostra que no último ano a taxa de desemprego desceu em 24 Estados-membros, dos 28 analisados. As maiores descidas foram registadas no Chipre, na Croácia e em Espanha. Neste momento, a Grécia e a Espanha continuam sendo os países com as taxas de desemprego mais elevadas (23,5% no caso da Grécia), enquanto que as menores taxas se verificam na Alemanha e na República Checa.
Em Julho a taxa de desemprego jovem em Portugal situava-se nos 26,3%, o que representava o quarto maior valor da UE, ultrapassado unicamente pela Grécia, Espanha e Itália. Os dados do INE mostram que o número de desempregados entre os 15 e os 24 anos está ao nível mais baixo em quinze anos, ou seja tem estado ligeiramente a cair desde 2012, o que é parcialmente explicado pela emigração e por uma ligeira criação de emprego.
Esta evolução também resultou da redução do desemprego de longa duração, visto que o mesmo afeta dois terços do total de desempregados.
É sobretudo o sector dos serviços que explica a criação de emprego, quer em termos trimestrais quer em termos homólogos. As classificações "transportes e armazenagem e atividades de comunicação" e as atividades financeiras e de seguros registam taxas homólogas de dois dígitos.
Com a economia a crescer aquém do esperado, a evolução favorável do desemprego tem apanhado todos de surpresa.

Edilson Gonga Mateus

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Viver em Alepo – uma situação bem real que muitos querem esquecer

Alepo é a maior cidade da Síria, e está localizada no norte deste país. Esta cidade desde 2012 que se encontra submersa numa batalha de poder na região, entre governo do país, rebeldes e jihadistas, o auto-proclamado estado Islâmico, e ainda um povo originário da Ásia Ocidental – os Curdos, que se encontram no país e estão em guerra com o governo Sírio.
“A ONU diz que esta guerra já provocou mais de 400 mil mortos mas há outras organizações, como o Centro de Investigação Política da Síria ou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que colocam o número entre os 430 e os 470 mil mortos”, segundo o Observador. Penso que é importante referir que o número de pessoas que morreram desde o início dos conflitos é terrivelmente elevado e que são maioritariamente civis. Nesta guerra não são só os mortos a lamentar mas também as condições, ou melhor a falta delas, que está a matar lentamente um número substancial de seres humanos.
“A estes números, a ONU soma mais 4,8 milhões de refugiados dispersos por países como a Turquia, o Líbano e a Jordânia. Há 6,6 milhões de pessoas deslocadas dentro do próprio país. Na parte leste de Alepo, segundo Jan Egeland, conselheiro da ONU para a crise humanitária na Síria, ainda há 30 mil pessoas à espera de serem retiradas. Cerca de 50 mil fugiram pelo seu próprio pé nos últimos seis meses, o período mais desesperado do conflito, quando o impasse entre americanos e russos impossibilitou a entrada de ajuda humanitária na cidade."
A meu ver, a ajuda humanitária é crucial para tentar garantir as necessidades básicas da população. Por um lado, com a entrada da Rússia e do Irão a proteger o governo de Bashar al-Assad e, por outro, os Estados Unidos fornecendo armas aos rebeldes, a  ajuda humanitária  é posta em causa.
Compreendo que a ideia destes países é terminar a guerra o mais cedo possível, mas torna-se mais complicado com grandes países a lutar em lados opostos. Contudo, é necessária muita cautela para não dar azo a mais conflitos para os civis sírios.
Felizmente, muito recentemente foi permitido pelo governo Sírio a evacuação da população de Alepo. “A operação deveria ter começado quarta-feira, dia 14 de dezembro, mas o cessar-fogo que necessariamente teria que estar em vigor para que se pudessem retirar as pessoas da cidade, em segurança, foi quebrado menos de três horas depois de ter sido acordado”. Na minha opinião, esta é uma solução muito vantajosa para todos. Os habitantes de Alepo já começaram a ser retirados. Porém, pelo menos, mais 50 mil ainda se encontram na cidade à espera de serem retirados. Contudo, estão a ser levados para Idlib, uma cidade no noroeste do país, a 65 quilómetros de Alepo, que ainda é controlada por rebeldes. Penso que os habitantes de Alepo ainda não se sentiram verdadeiramente salvos pois continuaram a ser controlados por rebeldes.
Muitos esperam que no futuro a guerra acabe e que tudo volte à normalidade, mas quem ficará a chefiar Alepo e a Síria? Na minha opinião, a reconquista de Alepo necessita de calmas negociações entre o regime que estiver no poder no fim da guerra e os seus aliados. Contudo, o “fim” da guerra aberta não é necessariamente o fim do sofrimento na Síria. As forças da guerra poderão somente mudar para outra cidade, como Idlib, para onde civis e rebeldes rendidos estão a ser enviados, e onde não haverá nenhuma potência ocidental disponível para os socorrer. A cidade de Idlib está a ser controlada pela al-Nusra, um dos dois grupos provenientes da al-Qaeda.
Em suma, todos nós somos alertados para o problema na comunicação social e nas redes sociais, com fotos e vídeos de famílias, parecidas em tudo com as portuguesas, mas que estão no país errado a viver um verdadeiro inferno. Cabe-nos a nós todos não deixar passar em branco esta situação, e ajudar da forma que cada um entenda ser a melhor. O que é realmente importante é não virar a cara a quem está em sofrimento.

Ana Catarina Gomes Peixoto de Sousa Baptista

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

PROPINAS NO ENSINO SUPERIOR: (DES)IGUALDADE?

Há anos que a questão das propinas tem vindo a desencadear fortes protestos e atitudes ambíguas de algumas associações e universidades. Várias estruturas do movimento associativo estudantil, que representam mais de cem mil estudantes, exigiram este ano o fim da existência de propinas, num documento conjunto assinado durante um Encontro Nacional de Direções Associativas. Tinham como objetivo a impulsão de uma reforma no sentido da gratuitidade progressiva do ensino superior, conforme previsto no artigo 74.º da Constituição da República Portuguesa.
O ensino superior é um bem público e, como tal, deve ser fornecido gratuitamente. De qualquer modo, é fácil entender que, na prática, bem público não significa gratuidade. Pagamos a saúde, o outro grande bem público comparável à educação, tanto como taxas moderadoras nos atos médicos como na percentagem que fica fora das comparticipações nos medicamentos.
Ainda assim, mais do que o valor das propinas e o seu caráter mais ou menos simbólico, devem-se invocar importantes aspetos éticos. A meu ver, já não está em causa o seu pagamento, em si, mas o peso que elas devem ter, por um lado, no financiamento das universidades e, por outro, na economia das famílias. O primeiro aspeto tem a ver com as dificuldades de financiamento pelo Estado e provavelmente tenderá a agravar-se. O segundo é mais complicado. Pôr de parte uma fração, muitas vezes considerável, do orçamento familiar pode ser uma tarefa muito complicada, principalmente quando acumulado com outras despesas, como alimentação e alojamento, tendo em conta que temos dos mais baixos rendimentos médios da Europa.
São milhares os jovens que não equacionam a entrada da universidade pela incapacidade de dispensar mais de mil euros anuais. Face ao desinvestimento no setor registado no passado recente, a propina converteu-se num mecanismo discriminatório no acesso e sucesso académico, em função da condição económica de cada estudante.
Atentando ao âmbito da ação social escolar e sendo que as bolsas são atribuídas com base na declaração fiscal de rendimentos, colocam-se os conhecidos problemas de distorção e injustiça em virtude dos vícios do sistema de IRS, a que acresce o constante atraso na atribuição e transferência das prestações. Uma proposta que eu poria em cima da mesa consistiria na criação de contas poupança educação, à semelhança do que acontece nos EUA, com uma comparticipação do Estado e com juros bonificados obrigatoriamente capitalizados. Outra hipótese, como praticado na Inglaterra, é a de empréstimos a pagar posteriormente com uma taxa na vida ativa. Assim, o pagamento futuro, dependente dos rendimentos, seria uma partilha de riscos entre o diplomado e o Estado.
Do meu ponto de vista, o aumento da qualificação geral do trabalho e do número de diplomados com grau superior é de interesse nacional, como fator de enriquecimento e de aumento de competitividade da economia. Desta forma, é possível a construção de uma sociedade democrática inclusiva e o desenvolvimento da cultura nacional. Não devemos cortar as asas a quem tem força para levar este plano em frente.
Pelo exposto, conclui-se que, a manter-se a atual política de propinas, estamos perante um problema de sustentabilidade do próprio sistema de ensino superior como fator de combate à desigualdade. Urgem medidas atenuantes que permitam limitar a pressão sobre os estudantes e as suas famílias, garantindo a sua permanência no sistema, e que evitem a progressiva mercantilização do ensino superior.


Daniela Marcelo

Referências:
http://www.esquerda.net/opiniao/propinas-para-que-vos-quero/46071 - (21 de Dezembro de 2016)

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]