As criptomoedas têm dado muito que falar,
em especial nos últimos dois anos, após o “boom”
ocorrido em Janeiro
de 2018, seguido
do “crash” até ao presente.
No início de 2018, o mercado das criptomoedas chegou
a atingir os 700 mil milhões de dólares. Hoje, vale cerca de 125 mil milhões.
A queda foi resultado da implementação de contractos futuros,
que facilitaram o “short” da criptomoedas (BTC),
eliminando o preço fictício que detinha, derivado
da alavancagem permitida
pelas corretoras. Ou seja, sem alteração dos fundamentais, as criptomoedas cresceram
exponencialmente, atingindo valores
insustentáveis, alimentados por dívida, e após pressão
dos vendedores (provocando
o chamado “margin
squeeze”), posições alavancadas
foram forçadas a serem vendidas.
A exemplo, a Bitcoin
caiu de máximos
de 19 000 $ para os 4 000 $ (preço médio corrente).
Esta desinformação
deveu-se ao facto de as transações das criptomoedas serem maioritariamente realizadas
por “investidores de retalho”, e não por investidores institucionais. Logo, estes, sendo mais desinformados, estão mais facilmente
sujeitos a manipulações
e persuasões sobre as suas expetativas, ou seja, maior parte do volume transacionado
era derivado de indivíduos que não sabiam
o que estavam
a comprar. Mas então,
se não existiu
alterações dos fundamentais,
de onde veio esta euforia
sobre a tecnologia
“Blockchain”?
Apesar destas
conotações negativas, as criptomoedas têm como objetivos
resolver certos problemas
inerentes a um sistema fiduciário
tradicional, nomeadamente o problema de inconsistência temporal. Na abstenção
de políticas reguladoras,
entidades responsáveis pela oferta e distribuição monetária
(B.C. e bancos
comerciais) não são incentivadas a reter moeda de forma a evitar
uma sobre-inflação dos preços (White
1999). Produtores de moeda podem criar moeda de forma a “produzir”
receita, hiperinflacionando a economia, contudo
potenciais consumidores não têm incentivos
para reter a mesma.
Apesar deste fenómeno não ser visível
em economias avançadas,
é fortemente realizável
em economias subdesenvolvidas, como a hiperinflação
do dólar Zimbabuense
de 2009, ou
a recente crise
vivida na Venezuela, onde
o próprio dinheiro
(papel) é usado
para produzir acessórios de
moda (Ex: Bolsas e
carteiras). Visto o sistema bancário
e financeiro ser o intermediário
entre Bancos Centrais
e a população,
a confiança na moeda fiduciária
encontra-se paralelamente subjacente
ao funcionamento deste primeiro, o que implica
que apenas uma pequena intervenção
de agentes maliciosos
(gananciosos) ou manipuladores
(Ex: ciclo político
económico e as eleições), possa destabilizar completamente
uma economia.
As criptomoedas, face
aos problemas descritos,
eliminam a necessidade
de intermediários bancários
na realização de transações, permitem
uma descentralização governamental
quanto à emição
de moeda e têm o potencial de eliminar qualquer
tipo de atividade
corrupta, se estas destituíssem o seu caráter
anónimo.
São compreensíveis as razões pelas quais as criptomoedas são um “bicho
de 7 cabeças”.
Na sua estrutura
atual, são dificilmente
taxáveis, eliminariam o poder das políticas monetárias
(se assumidas como moeda principal
corrente), são demasiado
voláteis , levando a um “pricing out the dollar”
( Warren Buffet
2017) e, acima de tudo, dado o seu caráter
anónimo facilitam o tráfico ilegal.
Concluindo, no seu estado
atual, as criptomoedas de pouco servem
e não devem
sequer ser consideradas moedas,
contudo a potencialidade da tecnologia por detrás delas é ilimitada.
Eliminando o caráter anónimo, o tráfico
ilegal das mesmas
seria fortemente limitado,
bem como a própria corrupção
(David Cameron: "most
excites me is the potential
that your technology
has to fight corruption”). A transparência
daí decorrente permitiria a entidades centrais seguir o rasto de qualquer ato ilegal cometido.
Finalmente, para defensores
de mercados livres,
a blockchain é o passo certo para a destituição de barreiras à proliferação comercial.
Se pensarmos mais além, quando reduzidas
discrepâncias económicas entre os países,
tal seria um grande passo para a criação de uma área monetária ótima.
Luan Fermino
Pires
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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