sábado, 25 de dezembro de 2021

A Economia é o retrato da vida - aprende-se (e muito) com os erros do passado!

           Qual é o caminho que temos de percorrer na economia, à semelhança da vida, para chegar ao estado em que nos encontramos hoje? Para responder a esta questão, devemos antes de mais entender como tudo se iniciou.

Desta forma, remontando à década passada, nos anos de 2007/2008, como resultado da prevalência a nível global do capitalismo neoliberal instituída nos Estados Unidos e com a liberalização e desregulamentação abrangente dos mercados financeiros, instaurou-se uma acentuada crise financeira e política naquele país.

Por um lado, tendo por base a nova definição de prioridades baseada na dimensão dos mercados financeiros, ao invés da regulação e consolidação financeira, observou-se nos EUA um progresso desnorteado dos empréstimos bancários aos agentes económicos, fundamentalmente os respeitantes aos créditos à habitação, adotando os bancos uma postura de despreocupação básica face à adoção de atitudes cautelosas e de avaliação do risco dos créditos facultados. Consequentemente, assimilando a ideia de que “o tempo é o relógio da vida”, surgiu como que inevitavelmente a designada crise do crédito hipotecário de alto risco “subprime”.

Por outro lado, inúmeras instituições financeiras de duvidosa atividade e com diminuta credibilidade, do tipo “bancos de investimento “e “fundos de pensões”, foram progressivamente emergindo, dando aso à circulação de uma multiplicidade de títulos “artificiais”, ou seja exclusivamente direcionados para o lucro especulativo e desprovidos de qualquer substrato económico real de suporte, os vulgarmente  designados “ativos tóxicos”.

Neste sentido, o avolumar do incumprimento por parte das famílias e empresas à banca, a depreciação nos ativos e a colossal queda de liquidez no mercado interbancário nos EUA, fruto de todo este processo, levaram necessariamente ao aumento descomunal de falências de famílias e empresas e, assim, de instituições bancárias e financeiras (caso do “Lehman Brothers”).

Como seria, a meu ver, expectável, a crise financeira americana acarretou, forçosamente, fortes efeitos de contágio por toda a Europa. No caso particular de Portugal, as sequelas foram ainda mais penosas fruto das vistosas fragilidades inerentes à nossa economia, das quais se destacam a estagnação dos níveis de crescimento económico que se tem vindo a averiguar no período pós-adesão ao Euro, a débil qualificação laboral e, ainda, a falta de planeamento e deficiência na organização e gestão das empresas.

Paralelamente, a falta de liquidez no mercado monetário interbancário na zona Euro (Euribor) e, simultaneamente, a contínua redução de confiança na economia levou à emergência de elevadas restrições na concessão de crédito aos agregados familiares e, nomeadamente, às pequenas e médias empresas-PME (que representam a generalidade do tecido empresarial português e são o motor fulcral de arranque da nossa pequena economia), interligado com a crescente insolvência de bancos, famílias e empresas.

O Estado Neoliberal na Europa (e em Portugal) adotou uma estratégia de atuação central no sistema bancário e financeiro, tendo em vista a “salvação” de instituições bancárias falidas fruto da má gestão e do uso inadequado e muitas vezes fraudulento de fundos financeiros. Mas, de que forma? Essencialmente, através da transferência de avultadas quantias do Estado para estas instituições falidas (veja-se os casos do BPN e BPP), ou seja, em virtude de colossais sacrifícios dos contribuintes e, pasme-se, para subsequente venda dos ativos bancários ao desbarato!!

Tendo estas assunções em mente, pode-se assim inferir que a admissão destas medidas, interligadas com as garantias e rendas excessivas concedidas às parcerias público-privadas “PPP” por parte das autoridades portuguesas, podem servir de base teórica para a explicação da atual derrapagem das contas públicas portuguesas e do panorama recessivo que a economia portuguesa tem vindo a exibir na última década.

 

Tiago Martins

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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