Qual é o caminho que temos de percorrer na economia, à semelhança da vida, para chegar ao estado em que nos encontramos hoje? Para responder a esta questão, devemos antes de mais entender como tudo se iniciou.
Desta forma,
remontando à década passada, nos anos de 2007/2008, como resultado da
prevalência a nível global do capitalismo neoliberal instituída nos Estados
Unidos e com a liberalização e desregulamentação abrangente dos mercados
financeiros, instaurou-se uma acentuada crise financeira e política naquele
país.
Por um lado,
tendo por base a nova definição de prioridades baseada na dimensão dos mercados
financeiros, ao invés da regulação e consolidação financeira, observou-se nos
EUA um progresso desnorteado dos empréstimos bancários aos agentes económicos,
fundamentalmente os respeitantes aos créditos à habitação, adotando os bancos
uma postura de despreocupação básica face à adoção de atitudes cautelosas e de
avaliação do risco dos créditos facultados. Consequentemente, assimilando a
ideia de que “o tempo é o relógio da vida”, surgiu como que inevitavelmente a
designada crise do crédito hipotecário de alto risco “subprime”.
Por outro
lado, inúmeras instituições financeiras de duvidosa atividade e com diminuta
credibilidade, do tipo “bancos de investimento “e “fundos de pensões”, foram
progressivamente emergindo, dando aso à circulação de uma multiplicidade de
títulos “artificiais”, ou seja exclusivamente direcionados para o lucro
especulativo e desprovidos de qualquer substrato económico real de suporte, os
vulgarmente designados “ativos tóxicos”.
Neste
sentido, o avolumar do incumprimento por parte das famílias e empresas à banca,
a depreciação nos ativos e a colossal queda de liquidez no mercado
interbancário nos EUA, fruto de todo este processo, levaram necessariamente ao
aumento descomunal de falências de famílias e empresas e, assim, de
instituições bancárias e financeiras (caso do “Lehman Brothers”).
Como seria,
a meu ver, expectável, a crise financeira americana acarretou, forçosamente,
fortes efeitos de contágio por toda a Europa. No caso particular de Portugal,
as sequelas foram ainda mais penosas fruto das vistosas fragilidades inerentes
à nossa economia, das quais se destacam a estagnação dos níveis de crescimento
económico que se tem vindo a averiguar no período pós-adesão ao Euro, a débil
qualificação laboral e, ainda, a falta de planeamento e deficiência na
organização e gestão das empresas.
Paralelamente,
a falta de liquidez no mercado monetário interbancário na zona Euro (Euribor)
e, simultaneamente, a contínua redução de confiança na economia levou à
emergência de elevadas restrições na concessão de crédito aos agregados
familiares e, nomeadamente, às pequenas e médias empresas-PME (que representam
a generalidade do tecido empresarial português e são o motor fulcral de
arranque da nossa pequena economia), interligado com a crescente insolvência de
bancos, famílias e empresas.
O Estado Neoliberal
na Europa (e em Portugal) adotou uma estratégia de atuação central no sistema
bancário e financeiro, tendo em vista a “salvação” de instituições bancárias falidas
fruto da má gestão e do uso inadequado e muitas vezes fraudulento de fundos
financeiros. Mas, de que forma? Essencialmente, através da transferência de
avultadas quantias do Estado para estas instituições falidas (veja-se os casos
do BPN e BPP), ou seja, em virtude de colossais sacrifícios dos contribuintes e,
pasme-se, para subsequente venda dos ativos bancários ao desbarato!!
Tendo estas
assunções em mente, pode-se assim inferir que a admissão destas medidas,
interligadas com as garantias e rendas excessivas concedidas às parcerias
público-privadas “PPP” por parte das autoridades portuguesas, podem servir de
base teórica para a explicação da atual derrapagem das contas públicas
portuguesas e do panorama recessivo que a economia portuguesa tem vindo a
exibir na última década.
Tiago Martins
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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