A saúde e a economia
estão intimamente interligadas, dada a evidência que investir em saúde e nos
sistemas de saúde é claramente benéfico para a realização de quaisquer que
sejam os objetivos económicos. A fim de explicar a relação existente entre
saúde e crescimento económico, é necessário entender o conceito de saúde num
sentido amplo.
Saúde
não é apenas ausência de doença, mas sim a capacidade dos indivíduos de
desenvolverem o seu potencial ao longo da vida. Nesse sentido, a saúde
corresponde a um bem que o indivíduo possui e que apresenta um valor
intrínseco. Como forma de suportar esta ideia, Michael Grossman, um economista
da saúde, investigou durante a sua atividade profissional e apresentou o atualmente
comumente conhecido Modelo de Grossman. O trabalho desenvolvido por este
notável economista permitiu compreender o papel de diversas variáveis, como
idade, estado de saúde, rendimento e educação na produção de saúde, através da
procura de cuidados de saúde.
A
proposição central do modelo é que a saúde pode ser vista como um stock de capital humano cujo output produzido corresponde a tempo de
vida saudável. Os indivíduos herdam um stock
inicial de saúde que se deprecia com a idade e, deste modo, este pode e deve ser
aumentado através de investimentos em saúde e do consumo de bens e serviços
apropriados para esse fim, como, por exemplo, cuidados médicos, exercício
físico e alimentação saudável. Grossman trata a saúde como um bem de consumo,
na medida em que dá satisfação ao consumidor, mas também como um bem de
investimento, no sentido em que investir em saúde aumenta o nosso stock de saúde, aumentando
significativamente os nossos níveis de produtividade e aprendizagem. Tal também
contribui para a diminuição dos dias de incapacidade e permite a obtenção de um
maior nível de rendimento, aliado à inerente possibilidade de mais dias de
trabalho com saúde, e assim maior disponibilidade para o consumo de bens e
serviços, bem como uma consequente participação ativa na economia.
Aprofundando
a ideia anterior, os impactes diretos na economia decorrentes da melhoria das
condições de saúde ocorrem sob a forma de maior produtividade do trabalhador. Um
aumento do stock de saúde da
população tem como consequência menos dias de ausência na escola durante a
infância e no trabalho no decurso da vida adulta, resultando em menores impactes
negativos sobre o salário do trabalhador. Em concreto, crianças provenientes de
famílias mais pobres, cujo leque de oportunidades de investimento em saúde se
encontra limitado à partida, tendem a ter stocks
de saúde mais baixos, o que compromete os seus níveis de produtividade e
consequentes capacidades cognitivas. Em geral, o estado de saúde durante a
infância determina as condições de saúde e o desempenho educacional enquanto
adolescentes, afetando as condições de saúde, rendimentos futuros e capacidade
de participar de forma eficiente na economia na idade adulta.
Em
síntese, a análise de Grossman baseia-se na teoria do capital humano, que
demonstra a forma como os indivíduos alocam todos os recursos que têm
disponíveis em investimentos próprios de forma a aumentar a sua produtividade.
O montante ótimo de capital humano é definido através dos custos e benefícios
relativos. De um modo geral, os custos ocorrem no curto prazo, enquanto que os
benefícios se manifestam no futuro, traduzidos principalmente, tal como
anteriormente referido, em aumento de oportunidades de emprego e aumento do
número de dias saudáveis.
Uma
população saudável é uma condição prévia para o desenvolvimento sustentável e
uma economia resistente. Por sua vez, uma economia forte é necessária para
gerar recursos suficientes para os sistemas de saúde. Contudo, embora haja e se
verifique uma relação mutuamente benéfica entre estas duas vertentes, muitos
governos e decisores de políticas financeiras têm uma visão pouco positiva no
que diz respeito a gastos com sistemas de saúde. Estes até podem ambicionar a
cobertura universal de saúde, mas receiam que, sem regulamentação, os gastos
com saúde cresçam de forma desproporcionada.
Embora
a saúde seja reconhecida já há muito tempo como um aspeto fundamental para o
desenvolvimento económico, as decisões de investimento em saúde têm sido
avaliadas puramente como um custo e não como um investimento com retorno
económico. Esta conceção é claramente errada porque melhorar a saúde da
sociedade é necessário para a prosperidade. Pessoas mais saudáveis são mais
produtivas e, ainda mais importante, investir na saúde infantil e criar
incentivos e oportunidades generalizadas no acesso a cuidados de saúde criará
os empreendedores, o conhecimento e os trabalhadores qualificados do futuro. Só
assim será possível aproveitar o potencial da saúde como motor de
desenvolvimento e torná-la um catalisador económico e social vital.
Guilherme
António Rodrigues Augusto
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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