Ao longo dos últimos anos, tem-se vindo a assistir a um sobreaquecimento do mercado imobiliário em Portugal. O crescimento deste mercado foi determinado pelo grande aumento da procura de habitação e oferta escassa, o que gerou uma crise social no setor. Sendo a habitação uma necessidade básica das populações, é natural que a sua procura seja sempre relevante, sendo importante salientar que, apesar de ter diminuído no início de 2020, rapidamente a procura de casas recuperou, mantendo estável o mercado imobiliário português.
O
ano de 2020 foi, assim, marcado pela subida do preço das casas e dos contratos
de arrendamento, uma vez que a procura dos agentes económicos era demasiado
elevada para que fosse possível satisfazer as necessidades. De acordo com o
FMI, Portugal é o oitavo país do mundo com os preços da habitação mais elevados
e, no ano em questão, o aumento dos preços foi de 9%. Esta tendência também se
tem verificado na maior parte dos países da União Europeia.
Deste
modo, é de elevada complexidade para as classes mais baixas da sociedade
suportarem estes custos, quando comparados com o baixo rendimento que auferem,
o que leva a um acréscimo do número dos despejos. Ou seja, a evolução do
rendimento das famílias não acompanha o crescimento dos preços das habitações
em Portugal. Para além disso, este fenómeno constitui um grave entrave para os
jovens que ingressam no mercado de trabalho que, porém, não conseguem ter
habitação própria para residir, sendo ‘obrigados’ a manterem-se na casa dos
progenitores até uma idade tardia.
É
cada vez mais comum a compra de casas para fins turísticos, e isso verificou-se
no ano em que a pandemia surgiu. Este era um setor em que se esperava grandes
fragilidades. No entanto, acabou por atrair os investidores e um grande número
de famílias portuguesas que procuravam mais conforto devido ao isolamento
social que se viveu.
Em
relação aos motivos que explicam este boom
dos preços no mercado imobiliário, temos as baixas taxas de juros, que permitem
que mais famílias tenham acesso a créditos concedidos pelos bancos, o apoio
público dado pelos governos às empresas e famílias, nomeadamente às com mais
necessidades, a facilidade de conceção de crédito e o teletrabalho, ou seja, a
necessidade acrescida de trabalhar em casa. Ademais, surge o aumento do custo
de materiais de construção variados, devido às interrupções na cadeia de
fornecimento. É de notar, ainda, o impacte deste aumento de preços na inflação
dos países, levando a pressões inflacionistas persistentes.
No
decorrer dos anos, também se verifica cada vez mais o arrendamento de habitação
ao invés da sua compra, principalmente na camada mais jovem da população, uma
vez que para estes não é viável a sua compra devido ao baixo poder de compra.
Esta faixa etária procura residência nos espaços urbanos, perto dos locais de
trabalho e outros pontos importantes para a sua carreira e vida, e é nesses
locais onde o preço das casas é bastante mais elevado.
Concluindo,
esta crise social pode ser minimizada através da subida das taxas de juro e de
um menor apoio público aos agentes económicos, bem como da restauração do
fornecimento de materiais de construção. Na minha opinião, o Estado tem de
intervir no sentido de implementar medidas que abranjam as classes baixas e médias,
assim como a população jovem, para que estas possam ter acesso a condições de
habitação dignas.
Sofia Salgado
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário