quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A educação como impulsionador económico

          Nos últimos anos, em Portugal, os números refletem um crescimento medíocre, que tem caraterizado o nosso país desde 2000. Fica na retina que o principal foco dos últimos governos se concentrou no controlo e na sustentabilidade das contas públicas, condição necessária para haver um crescimento sustentado, mas, como se vê, condição insuficiente também.

Numa opinião pessoal, uma das principais explicações que elucida este nosso atraso relativo a outros países da União Europeia - com exceção da Grécia -, está relacionado com uns índices baixos de educação. Comparando a realidade portuguesa com qualquer outro país da União Europeia, rapidamente observamos uns níveis de escolaridade singularmente baixos.

Com base em dados de 2019, fornecidos pelo Eurostat, é-nos demonstrado que Portugal era o país com menores níveis de educação de toda a União Europeia, com apenas 52% da população a concluir o ensino secundário e/ou superior até 2019, encontrando-se cerca de 26 pontos percentuais abaixo da média da UE (78%). De realçar que esta posição se deve muito à inclusão da população reformada – muito dela pouco ou nada instruída - na amostra, contudo demonstra à mesma o atraso educacional presente no nosso país.



Fonte: Retirado do Livro “A culpa vive solteira”, de Luís Aguiar Conraria

Num panorama geral, torna-se fulcral analisar o índice de capital humano. No gráfico acima, representativo da relação entre o índice de capital humano e o PIB per capita, é percetível que existem 53 países com o índice abaixo de Portugal e 100 países com PIB per capita inferior. É-nos também evidenciado, através deste gráfico, que aproximadamente três quartos das variações no PIB devem-se ao índice de capital humano.

A posição de Portugal nesta representação, no meu ponto de vista, é de especial destaque devido ao nível de educação baixíssimo corresponder a um nível de vida alto (o ponto de Portugal no gráfico é o de um outlyer), considerado até como um “milagre”.

Como mencionado supra, a educação é um dos tópicos que pode impedir o crescimento económico. Não obstante, não é justificativa para todo esse desaceleramento económico. A presença de mercados mais competitivos, uma segurança social que incite a poupança, um regime fiscal menos complexo e uma justiça com boa praticabilidade seriam premissas ótimas para o crescimento.

Os principais exemplos, que explicitam a educação não ser o principal entrave são os países de Leste que, antes da inserção na União Europeia, apresentavam um péssimo nível de vida, comparativamente com Portugal. Apesar disso, estes países do leste europeu apresentavam os seus níveis de escolaridade como uns dos mais altos da Europa. Assim, no mínimo, tem-se que admitir que o nível de escolaridade da sua população não era bloqueio ao crescimento, no momento de adesão.

Como conclusão, na minha conceção, teremos que, essencialmente, encontrar soluções imediatas para o combate a este entrave económico. Uma das soluções que se poderá adotar é a contínua aposta na educação, com um programa elaborado de requalificações que prepare os trabalhadores e atribua a cada um deles competências necessárias para lidar com uma economia mais verde, mais digital e mais inovadora. Este programa deve envolver as Universidades, os Politécnicos, as Escolas Profissionais e as empresas. Em conjunto com este programa, deve-se também repensar o sistema de ensino português, modernizá-lo e adaptá-lo às novas realidades. No médio prazo, Portugal depara-se com sérios desafios para adequar o conteúdo das qualificações da sua oferta de trabalho ao padrão da procura.

Assim, a acumulação de capital humano promove uma maior produtividade dos trabalhadores que é recompensada no mercado de trabalho sob a forma de salários mais elevados. Estes retornos individuais têm uma contrapartida direta no rendimento total dos países.                                                                                                                       


José Pedro Neves

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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