quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

O colapso económico do Afeganistão

Grave crise fiscal e da balança de pagamentos. É este o cenário económico sombrio que o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirma que o Afeganistão enfrenta e que se veio agravar-se desde a ocupação e chegada ao poder dos talibãs. Desta forma, o FMI prevê que, este ano, a economia deste país contraia em 30%, levando à “quebra dos padrões de vida” e empurrando milhões de habitantes para condições de vida muito precárias.

Olhando cuidadosamente para a situação económica deste país, esta parece reunir os “ingredientes” fundamentais para confecionar o cocktail perfeito para uma crise humanitária: ativos de estrangeiros congelados; dependência de ajuda internacional (a qual se encontra interdita); escassez em dinheiro, moeda em desvalorização; e uma inflação exorbitante. Estes são alguns dos aspetos referidos que estarão a pôr em causa a estabilidade económica que este país necessita alcançar.

Desta forma, esta situação terá, primeiramente, impacto nos principais parceiros comerciais com os quais estabelece uma forte relação e dependência, atingindo potências económicas como a paquistanesa, turquemena e uzbeque. Dada a elevada relevância que as exportações do Afeganistão têm, quer a nível económico como social no comércio destas comunidades, tal poderá pôr em causa toda a estrutura económica destes países, afetando-os negativamente.

Por conseguinte, e como tem sido noticiado regularmente, existe um enorme afluxo de refugiados, que pode levar à sobrelotação dos mesmos nos países vizinhos, como o caso do Tajiquistão, que somente poderá acolher mais pessoas se lhes for facultada assistência financeira. Contudo, existe ainda um problema que se prende com a rejeição por parte de vários países da Ásia Central em aceitar a presença de refugiados.

É necessário estarmos cientes que esta corrente de refugiados não trará, em parte, boas consequências para os países acolhedores. Afirma-se que tal pode traduzir-se no aumento da pressão no mercado do trabalho, levar a maiores entraves/tensões sociais e terá decerto impacto nos recursos públicos destes países.

Assim sendo, o FMI aponta que, se houver um fluxo de mais de um milhão de refugiados, será necessária a ajuda financeira a estados vizinhos, ou seja, Tajiquistão, Irão e Paquistão, para os acolher. Esta contribuição adicional terá, respetivamente, um custo, em dólares, de 100 milhões no caso do Tajiquistão, o que corresponde a 1,3 % do seu PIB, de 300 milhões no que diz respeito ao Irão, o que equivale a 0,003% do seu PIB, e, por fim, de mais de 500 milhões no que toca ao Paquistão, traduzindo-se em 0,2% do seu PIB.

Devido ao seu estatuto de beneficiário de fundos monetários, anualmente, o Afeganistão tem recebido alguma ajuda monetária por parte dos países da OCDE, possibilitando, assim, o acesso e a compra de diversos bens. No entanto, o FMI alerta que é necessária ter precaução quanto ao uso destes montantes no fomento de atividades como a lavagem de dinheiro e o financiamento de mais ações terroristas.

Do meu ponto de vista, as consequências nefastas que podem advir desta crise são variadas. Daí a necessidade de uma resposta rápida por parte não só do Afeganistão como dos países europeus e dos Estados Unidos da América (EUA) no auxílio à população local, que já se encontra em condições de extrema pobreza. Medidas como o desbloqueio de mais de nove mil milhões de reservas do Banco Central afegão facultado pela reserva federal dos EUA terá o objetivo de “garantir que estamos a implementar as nossas sanções contra os talibãs e a rede Haqqani mas, ao mesmo tempo, a permitir o fluxo de assistência humanitária para o país”, como afirmado por Waddy Adeyemo, vice-secretário do Tesouro da Administração Biden.

 

Eduarda Lima

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]


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