A dívida pública portuguesa não esteve sempre tão elevada. Apesar de adotar um comportamento crescente notório a partir de 2001, em 2007 ela ainda se situava nos 72% do PIB. Mas no final de 2019 o valor da dívida situava-se nos 249,7 mil milhões de euros, representando 118%, posicionando-se muito acima do limite estipulado pelo Tratado de Maastricht - 60% do PIB.
Para
percebermos quais foram os fatores que levaram ao crescimento contínuo da
dívida teremos de recuar à década de 1980-90. Após a adesão de Portugal à CEE,
a necessidade de atingir o padrão que essa entrada prometeu e a divergência
face às possibilidades económicas portuguesas levou a sucessivos défices
externos e ao endividamento do Estado, que posteriormente levaram a aumentos
excessivos da dívida pública.
Apesar
do facto desse aumento abrupto da despesa pública ter sido um dos pontos
iniciais para o crescimento incansável da dívida, ela permitiu recuperar
significativos atrasos que Portugal vinha registando desde o Estado Novo, como
o acesso universal ao SNS, e a diferentes níveis de ensino, por exemplo. Com
isto, Portugal entrou para o séc. XXI com a economia fortemente desequilibrada.
De facto, a gestão das finanças públicas foi das principais razões para o
início da crise.
Para
contrariar os efeitos da recessão e não repetir os erros da Grande Depressão,
tanto a Europa como os EUA decidiram adotar medidas keynesianas -
estimular a procura de forma a contrariar os efeitos da queda da mesma. Ademais,
os próprios governos nacionais adotaram medidas para combater a crise. Mas,
mesmo assim, não conseguiram evitar os efeitos da recessão. Então, vários
bancos centrais decidiram intervir com a adoção de políticas monetárias muito
expansionistas, utilizando as denominadas medidas não-convencionais.
Uma
das formas de gerir esse endividamento excessivo seria com um elevado
crescimento económico, mas entre os anos 2000-2010 o crescimento médio anual per
capita foi de apenas 0,5% e entre 2010-2019 esse valor agravou-se para 0,1%.
Portanto, antes da crise
financeira, o endividamento público português apresentava valores estáveis. Apesar
do forte crescimento da despesa pública e dos recorrentes défices orçamentais
nos anos 90, estes foram contrabalançados com as descidas das taxas de juro, as
receitas das privatizações e o bom desempenho da economia nesses anos. Isto
levou a certos economistas a desvalorizar a sua importância, mas a realidade é
que o seu crescimento explosivo tem sido explícito, e as dificuldades em conter
as despesas face ao baixo crescimento chega a pôr a sustentabilidade da dívida
em causa.
Desde 2013, a economia
tem vindo a recuperar, mas no que toca à dívida pública portuguesa, ela subiu
até 2014, ficando pouco acima dos 130% do PIB. Estabilizou até 2016 e em 2017
registou a sua primeira descida assinável depois da crise, chegando aos 125% do
PIB. Tratava-se de uma descida que fazia antever uma provável trajetória
descendente da mesma. Ao manter umas contas públicas equilibradas, um
crescimento sustentado e uma taxa de inflação a rondar os 2%, acreditava-se que
a dívida pública diminuísse ao mesmo ritmo do crescimento do país e chegasse ao
60% do PIB em 2036.
Mas
a realidade foi outra. Após registar o primeiro excedente orçamental em 2019
desde o tempo do estado novo, de 0,2% do PIB, o ano de 2020 iniciava-se da
melhor forma para o estado português, não fazendo antever uma pandemia. Agora
com esta situação de incógnita que paira sobre o futuro, todas as previsões
anteriormente realizada invalidaram-se, sendo que, por exemplo, o excedente
orçamental de 0,2% do PIB e a diminuição da dívida previsto para 2020 passaram
a um défice orçamental de 7,1% do PIB e a um aumento da dívida pública para uns
históricos 135% do PIB.
Aquilo que se espera e que vem sendo sustentado por muitos economistas é que Portugal não volte a repetir os erros do passado, apesar da instabilidade política. E em termos macroeconómicos é expectável que o país continue a registar défices no curto/médio prazo, mas as previsões do crescimento económico podem atenuar esses efeitos e, até mesmo, diminuir o peso da dívida no PIB.
Mickaël
Cruz
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário