“Três em cada quatro jovens ganham menos de 950 euros”. Este é um dos vários títulos de notícias que têm vindo a ser publicadas nos media acerca da temática dos salários baixos e instabilidade do mercado para a faixa etária entre os 15 e 34 anos. Temos vindo a observar um aumento exponencial na formação dos jovens, na criação maciça de mão-de-obra qualificada e pronta a operar nas diversas áreas. No entanto, tal crescimento das qualificações académicas não está sempre aliado nem a remunerações justas nem a empregos estáveis. Estará Portugal a perceber as consequências desta falta de evolução e organização do mercado?
Através
de dados conseguidos no estudo “Os jovens em Portugal, hoje”, liderado pela
Fundação Francisco Manuel dos Santos, foi possível determinar que metade dos
jovens apresenta trabalho pago, enquanto os restantes não. Dentro da metade
remunerada, que corresponderá a 1,1 milhões de jovens, é onde se enfatiza os
salários baixos praticados no mercado, assim como a instabilidade dos empregos.
Cerca de três quartos dos jovens – 72%, se quisermos analisar em valores
concretos – não recebem mais de 950 euros líquidos por mês, sendo que a maior
parcela de jovens (30%) acaba mesmo por apenas auferir entre 601 e 767 euros
líquidos mensais. Se já não fossem suficientes os salários reduzidos praticados
no mercado de trabalho, mais de metade (51%) encontra-se em situações de
emprego precário e onde o vínculo contratual é instável.
Esta
conjuntura salarial afeta diretamente a qualidade de vida dos jovens, limitando
as opções viáveis que estes podem suportar. Neste mesmo estudo, ficou
comprovado que apenas 19% dos jovens vive confortavelmente com o que ganha e,
complementarmente, 40% não se sente realizado no seu emprego, o que deixa no ar
uma preocupação imensa sobre o futuro da geração ativa mais jovem.
Um
dos projetos que é mais adiado pelos jovens nestas condições é a saída de casa
dos pais – em média, os jovens tendem a sair de casa dos pais pelos 30 anos,
valor este superior à média europeia (27 anos), o que, consequentemente, coloca
Portugal como o quinto país onde os jovens saem mais tardiamente de casa. Esta
situação pode ser justificada, em parte, pelo fraco conforto financeiro atual
dos indivíduos na faixa etária entre os 15 e 34 anos, o que os impede de aderir
a novos projetos pessoais e profissionais, levando ao seu adiamento por tempo
indeterminado.
Por
outro lado, a insatisfação e visão negativista desta faixa etária em relação ao
mercado de trabalho português pode ser vista como um incentivo à emigração.
Apesar de não haver dados muito alarmantes sobre esta possível tendência – é
evidenciado que os jovens aceitam muito mais facilmente a ideia da mobilidade
em Portugal, em comparação com a ideia de se deslocarem para o estrangeiro –
ainda, é atingido o patamar dos 30%, valor este de que transparece a quantidade
de jovens que se mostrou totalmente disponível para emigrar.
Assim,
tendo em conta a problemática evidenciada, considero que o mercado de trabalho
português não incentiva os jovens a escolher Portugal como país impulsionador
da sua carreira profissional. Portugal investe cada vez mais na educação da sua
população, contudo, a fraca consistência do mercado não gera os incentivos
necessários para que a mão-de-obra qualificada, cuja educação foi parcialmente
sustentada pelo Estado, encare o mercado de trabalho português com positivismo.
A
meu ver, rever os salários praticados no mercado, assim como a estabilidade dos
empregos, que, atualmente, se mostra difícil de se conseguir para os que
iniciam a sua vida adulta, seria importante. A revisão de regras já existentes acerca
das diversas situações salariais, levando a uma distribuição mais justa dos
indivíduos em termos do respetivo salário e à tentativa de aumento da média
salarial portuguesa, seriam determinantes na solução deste problema.
Marta Miranda
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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