A expansão da
digitalização tem sido um fenómeno crescente ao longo do tempo e reforçou-se
com a COVID-19. Todavia, as influências do crescimento digital na economia não são
consensuais entre os autores - alguns, indicam que, aliado ao desenvolvimento tecnológico,
criam-se maiores desigualdades. Será, então, a digitalização um entrave para a dinamização
da economia?
A impossibilidade de
negação de que o analfabetismo e a exclusão digital diminuem o leque de
oportunidades, seja para encontrar trabalho, como para aceder ao conhecimento e
adquirir novas competências, reside no facto de que “A tecnologia deixou de ser
uma comodidade e passou a ser uma necessidade”, conforme o diretor executivo da
Paradigm Iniciative. Ainda assim, os
portugueses estão sujeitos a este tipo de desigualdade, com um quarto dos
portugueses a não usarem internet em casa e com uma taxa de utilização de
internet abaixo da média da União Europeia, 71% contra os 84%.
Outro processo
potenciador da desigualdade é a robótica, pois leva a um efeito de substituição
do trabalho pouco qualificado por máquinas, com consecutiva polarização do mercado
de trabalho, com diminuição da procura de trabalhadores pouco qualificados e
aumento dos mais qualificados. Ora, isso traduz-se numa disparidade salarial
entre estes dois grupos e na destruição de postos de trabalho - o Fórum
Económico Mundial aponta para a eliminação de 85 milhões de empregos até 2025.
Este desajustamento poderá levar a divisões sociais que afetem o crescimento, a
produtividade, o crescimento e a coesão social.
Contrariamente ao que se
diz no parágrafo acima, a maioria dos países da OCDE viram as suas taxas de
emprego aumentar com o deslocamento da mão-de-obra, resultado da globalização e
do progresso tecnológico. Isso acontece, possivelmente, porque as tecnologias
provocam uma espécie de “transferência/compensação” de umas indústrias para/por
outras, com crescimento da procura e emprego noutras indústrias. Um trabalho
recente de Moretti mostra que a criação de empregos no setor das TIC tem um
efeito multiplicador em outras indústrias - por cada emprego adicional no setor
tecnológico, cinco empregos adicionais são criados na comunidade.
Ao mesmo tempo que existe
“desemprego tecnológico”, originou-se uma procura adicional de bens e serviços,
o que levou à criação de mais empregos e, consequente, à potenciação da
produtividade e do rendimento. Consoante a OCDE no Employment Outlook 2019,
as mudanças líquidas no emprego causadas pela digitalização têm sido positivas a
longo-prazo, sendo que, entre 2005 e 2016, 40% dos empregos criados foram em indústrias
digitalmente intensivas.
Embora, no passado, a
expansão tecnológica tenha revelado um efeito líquido positivo no emprego, e, consequentemente,
na economia, muitos autores apontam para uma mudança atual muito mais rápida e
ampla do que no passado e para uma automação, por vezes excessiva, potencialmente
geradora de externalidades negativas para a sociedade. Portanto, é preciso que
os governos e instituições estejam atentas a esta dinâmica para que se evitem
cenários mais pessimistas. Contudo, a OCDE constatou a existência de várias
lacunas nos sistemas dos países que dificultam o enfrentar dos efeitos da
automação e da digitalização e, à vista disso, propõe revisões nos mercados de
trabalho e educacional, e nos sistemas de proteção social.
Refletindo sobre tudo isto,
considero que a digitalização tem sido um processo benéfico e contínuo ao longo
do tempo, uma vez que, até ao momento, os benefícios têm superado os malefícios.
Adicionalmente, consoante o Banco Europeu de Investimento, são várias as
vantagens da transformação digital para qualquer economia: maior produtividade;
crescimento; eficiência energética; capacidade para investir e exportar bens e
serviços. Também tem permitido encontrar soluções mais eficazes para problemas
e economizar custos em matérias-primas e componentes.
Em suma, é imprescindível
uma resposta adequada e consistente das organizações e governos à situação
atual, para que se evitem efeitos negativos para a economia. “Cada segundo é
tempo para mudar tudo para sempre” (Charles Chaplin) porque, mesmo apresentando-se
a digitalização como “amiga da economia” (até ao momento), apressadamente,
pode-se tornar “inimiga” e destrutiva.
Adriana Carmo
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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