terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Conta bancária de serviços mínimos: forte potencial, pouca visibilidade

Ao longo dos anos, os produtos bancários sofreram alterações substanciais nos custos que acarretam para os consumidores. As mensalidades, anuidades e até mesmo as comissões exigidas pelos bancos têm-se mostrado imparáveis, alcançando novos máximos ao longo do tempo. Assim, tornou-se determinante encontrar uma solução para esta problemática, um novo produto que garanta que as pessoas com menos possibilidades também possam possuir uma conta bancária à ordem. Mas será que todos os cidadãos têm conhecimento deste serviço?

Segundo dados disponibilizados pela Lusa, até setembro de 2021, as comissões dos principais bancos tinham subido cerca de 10,8% no ano, em comparação com o período homólogo de 2020, correspondendo a 1.453,2 milhões de euros em comissões apenas referentes aos cinco principais bancos portugueses (BCP, Caixa Geral de Depósitos (CGD), Santander Totta, Novo Banco e BPI). Assim, com estas variações nos custos de manutenção das contas à ordem tradicionais, houve uma contínua busca dos consumidores por produtos de manutenção mais baratos e que, complementarmente, suprissem as suas necessidades básicas.

Uma conta de serviços mínimos é definida como uma conta à ordem que engloba os serviços bancários considerados indispensáveis, a custo reduzido. Legalmente, a comissão de manutenção de uma conta desta tipologia, no ano de 2022, não pode superar os 4,43€ - 1% do indexante dos apoios sociais para este mesmo ano -, o que não incentiva, propriamente, os bancos a publicitar e a estimular a sua adesão. Contudo, os números falam por si – o número de contas abertas deste tipo passou das 1000, no início deste milénio, para as 141 000, em 2021 -, mostrando o aumento da instrução da população acerca deste produto obrigatório em todas as unidades bancárias.

Pelo nome que acarreta, é usual pensar-se que este tipo de contas apresenta um conjunto muito reduzido de operações, no entanto, este tem vindo a sofrer sucessivas atualizações, sendo que, neste momento, apresenta uma boa panóplia de serviços, já incluindo a possibilidade de transferências interbancárias através de homebanking e, ainda, transferências limitadas através de aplicações de terceiros, nomeadamente, MB WAY. Tal melhoria tem vindo a aliciar os consumidores a optar por este tipo de serviços, contudo, a existência de barreiras ao acesso a este leva a que a maioria dos portugueses não possa abrir uma conta de serviços mínimos, nomeadamente por já possuir outra(s) conta(s) à ordem no sistema bancário.

Em termos de poupança, esta é, sem dúvida, a melhor opção no mercado, sendo que a poupança pode chegar aos 91 euros anuais, quando comparada a contas à ordem tradicionais. Em 2021, foram comparados os custos anuais de uma conta de serviços mínimos com a respetiva conta à ordem mais barata dos diferentes bancos, sendo que ficou claro que o banco mais barato e onde não há qualquer diferença de custos entre as duas tipologias de conta é o Activo Bank, sendo o custo de manutenção das duas contas igual a zero. Por outro lado, o banco mais caro é o Santander, onde a conta à ordem tradicional mais barata se situava nos 137.28€ - cerca de 86€ mais cara que a respetiva conta de serviços mínimos.

De um ponto de vista pessoal, considero que deveriam ser realizadas ações de sensibilização acerca desta opção bancária junto dos consumidores. Apesar do aumento no número de contas ativas, não há dúvida que os bancos não publicitam este produto, tentando que os clientes optem por contas tradicionais, cujas comissões são bem mais aliciantes para as estruturas bancárias. Adicionalmente, considero que rever as regras de acesso a este serviço – principalmente, a obrigação dos indivíduos não possuírem nenhuma outra conta no sistema bancário - seria importante. Uma conta de serviços mínimos é uma verdadeira alternativa a contas tradicionais, sendo que a possibilidade de adesão a estas por uma maior parcela da população é, a meu ver, o caminho mais assertivo.

 

Marta Miranda 

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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