Face à recessão da COVID-19, a União Europeia tem adotado medidas para promover a expansão da sua economia. Contudo, residem ainda entre os estados-membros egocentrismos e egoísmos que dificultam a execução de mecanismos que promovam tanto a estabilidade económica como, também, a igualdade. Nos meios de comunicação social tem sido alvo de discussão o futuro da UE e, nesse sentido, levanta-se a seguinte questão: Qual rumo deve a UE tomar?
Primeiramente, é preciso compreender
que a UE é um projeto económico e político com, atualmente, 27 estados-membros
com interesses nacionais distintos mas similares em termos de desejo de
autonomia orçamental. Esta distinção e vontade, por sua vez, alimentam expressões
de individualismo por parte dos países.
Normalmente, com a existência de crises, a
centralização da economia europeia tende a crescer através da aplicação de
regras comuns. A título de exemplo, temos a compra das vacinas para a COVID-19
pela UE. Com isso, pretendia-se reprimir eventuais individualismos, porque, de
uma forma geral, se evitasse nacionalismos exacerbados e a provável desigualdade
de acesso às mesmas. Por outro lado, facilitou-se a capacidade negocial de cada
Estado.
Outra medida comum muito exposta
foi a “bazuca europeia”. Muitos foram os chefes de governo que defenderam a
mutualização de dívida através dos designados “coronabonds”, referindo
mesmo que sem este avanço a continuidade da União estaria posta em causa.
Porém, a Holanda, a Áustria e a Finlândia opõem-se a qualquer tipo de mecanismo
comum, evidenciando a divisão clara existente e a indiferença destes países
para com os demais.
Apesar da Europa ter sido
considerada a região mais igualitária do mundo pelo World Inequality Lab,
o rendimento de 108 pessoas mais ricas da Europa aumentou 15,7%, desde novembro
de 2019, consoante
o índice Bloomberg. Além disso, também a própria Comissão Europeia aponta para o
agravamento das desigualdades com a crise económica atual. Desse modo, muitos
economistas aludem a uma recuperação em forma de “K”, termo preconizado por
Peter Atwater. Este baseia-se num crescimento que aumenta o fosso entre ricos e
pobres, dado que os primeiros saem beneficiados face aos segundos, e como
consequência disso poderão existir fortes divergências de rendimento e crises
sociais.
De um ponto de vista
pessoal, creio que a Europa continuará desigual sem uma maior cooperação entre
os países e um sistema fiscal mais forte, capazes de garantir a igualdade de
oportunidades e uma distribuição mais equitativa da riqueza. Nesse sentido, uma
contribuição muito interessante é o designado imposto GAFA - tributação
unilateral para os gigantes da “internet” (Google, Apple, Facebook, Amazon). Porém,
face às reticências de alguns países da EU, o processo legislativo deste
imposto ainda não avançou.
Num contexto de crise
como o atual, é urgentemente necessário que a Europa se torne mais sólida,
justa e forte para existir uma recuperação coesa, dinâmica, inclusiva, sustentável
e igualitária. Quanto a isto, considero que pode ser conseguido com uma maior
integração económica e um maior sentido de solidariedade entre os
estados-membros (o que, como vimos, não se tem verificado, mesmo
perspetivando-se um aumento de desigualdades). As vantagens disso para os
países são: eficiência na afetação de recursos; aumento da produtividade;
possibilidade de alcançar o pleno emprego; obtenção de economias de escala;
redução de assimetrias com a mobilidade do trabalho e recursos; aumento da
competitividade e do crescimento económico. Uma economia solidária permite,
ainda: contestar o modelo capitalista; construir relações mais justas,
sustentáveis e solidárias; homogeneizar a distribuição de capitais entre as
nações; e garantir o bem-estar das gerações atuais e vindouras.
Em suma, a solidariedade
é um valor necessário e uma mais-valia para os países. Dinâmicas e regras
solidárias que evitem desigualdades e divergências entre os países são
imprescindíveis para a continuidade da UE e para uma recuperação sólida baseada
nos valores de justiça, igualdade e entreajuda entre os membros.
Adriana Carmo
[artigo
de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e
Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário