quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

´Green bonds`: uma forma sustentável de investir

A sustentabilidade passou a ser um tema de elevada preocupação em diferentes esferas da sociedade e, ultimamente, têm sido claros os esforços das economias para cumprir as metas relacionadas com a sustentabilidade ambiental e a descarbonização mundial até 2050. Alinhado com estes objetivos, cada vez mais ouvimos falar de um novo segmento do mercado financeiro, as green bonds.

Mas, afinal, de que se trata? Green bonds são instrumentos de dívida que, tal como as obrigações tradicionais, conferem ao seu titular um direito sobre um juro periódico e que são amortizadas na sua maturidade. A sua especificidade reside na aplicação do capital angariado em projetos que visam o desenvolvimento sustentável, por exemplo, projetos de energias renováveis, eficiência energética, entre outros.

A primeira green bond foi emitida em 2007, pelos European Investment Bank (EIB) e World Bank, com a designação de Climate Awareness Bond, dedicadas ao financiamento de projetos de energia renovável e eficiência energética. Desde a sua primeira emissão, o EIB já captou mais de 33,7 biliões de euros.

De acordo com a Carbon Bonds Initiative, a emissão de green bonds alcançou os 257,7 biliões de dólares em 2019, um aumento de 51% face a 2018, contudo, representa ainda uma pequena parte do mercado global de obrigações – cerca de 3,5% da emissão total de títulos globais ( $7,15 triliões). Os 5 países onde se emitiram mais green bonds foram os Estados Unidos, China, França, Alemanha e Holanda.

O mercado mundial de obrigações verdes está a crescer a um ritmo exponencial e Portugal começou recentemente a recorrer a este tipo de financiamento. Apenas 3 empresas se estrearam neste segmento: a EDP, em 2018 e 2019, emitiu 3 green bonds, num total de 2,2 mil milhões de euros; a Altri, em 2019, com uma emissão de 50 milhões; e a Corticeira Amorim SGPS, que anunciou a 3 de dezembro a sua primeira emissão de green bonds, no valor de 40 milhões de euros.

A emissão de uma green bond pressupõe que o capital obtido seja investido em projetos alinhados com os critérios da Taxonomia Verde e que seja feita a publicação de uma Green Bond Framework, definindo quais são os objetivos de sustentabilidade que se pretende alcançar e quais os indicadores que vão utilizar para medir esses objetivos. Para além disso, terão de reportar anualmente a efetiva alocação dos capitais e o impacte ambiental dos projetos realizados. Adicionalmente, é efetuada uma verificação externa, antes da sua emissão, para a  verificação do alinhamento com a Taxonomia, e após a alocação total dos fundos.

Um dos desafios da integração das green bonds no mercado associa-se à falta de uma definição consensual ou harmonização dos critérios de caraterização das mesmas, que pode colocar em causa a integridade do emitente caso não sejam cumpridos os compromissos assumidos. Para além disso, a burocracia associada ao cumprimento dos requisitos, os reportes e os custos adicionais da verificação externa também podem ser encarados como entraves ao uso destas obrigações.

A maior vantagem associada às green bonds é o impacte ambiental positivo, contribuindo para a transição verde da economia. Cada vez mais as empresas encaram a sustentabilidade como uma das suas principais prioridades de investimento e o seu envolvimento com causas ambientais aumentam o seu valor de mercado.

Da perspetiva do investidor, as green bonds oferecem uma nova forma de diversificar o seu portefólio de investimentos, alinhando a rendibilidade com um propósito ambiental. Para além disso, os rigorosos procedimentos de reporte garantem transparência e credibilidade no mercado.

Atualmente, os investidores anseiam por novas formas de canalizar a sua poupança e este tipo de financiamento oferece a oportunidade de o fazer em prol de investimentos sustentáveis, com efeitos financeiros reais e relevantes. As tendências apontam para um crescimento acelerado do segmento de Green Finance, que surgiu de uma necessidade ambiental de extrema importância.

 

Íris Soraia Costa 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

A Desigualdade da Digitalização

           A cada segundo que passa, surge mais uma invenção tecnológica. Apesar de falar numa questão de segundos poder, à partida, parecer uma hipérbole, a verdade é que se olharmos para a realidade de há 15 anos no que concerne às tecnologias disponíveis, vemos que muito mudou. Contudo, a dúvida que persiste é se a rápida transição para esta nova era digital, a que temos assistido nos últimos anos, trará benefícios suficientes que nos permitam ignorar descaradamente os malefícios causados.

          Não existem quaisquer dúvidas de que o advento da tecnologia nos tem permitido derrubar barreiras nunca desmoronadas: encurtou distâncias outrora demasiado grandes; melhorou a eficiência de muitos serviços prestados; capacitou as sociedades com mais ferramentas, sobretudo úteis em situações extremas, como a pandemia que atualmente vivemos; entre muitos outros benefícios.         

          Nunca foi tão fácil e rápido aceder ao que precisamos. Na verdade, no que a Portugal diz respeito, com apenas um clique, podemos encomendar comida sem sair de casa, criar conta num banco ou gerir a já existente a partir do conforto do nosso sofá, tratar das Finanças e da Segurança Social sem enfrentar longos períodos de espera, fazer uma consulta médica por videochamada, evitando deslocações desnecessárias e novos contágios.

          Contudo, sendo muito comum que, a acompanhar as incríveis consequências de algo, existam sempre aspetos negativos, quais são os malefícios, frequentemente esquecidos, de tal evolução? A rapidez do desenvolvimento tecnológico e da transição para uma era onde (quase) tudo pode ser feito usando as tecnologias de informação e comunicação veio acentuar, ainda mais, as desigualdades que já existiam. Apesar de estarem facilmente disponíveis, as tecnologias continuam a não ser acessíveis para aqueles cuja capacidade financeira, tantas vezes insuficiente para promover uma vida digna e confortável, não estica.

          Desta forma, a digitalização de grande parte dos serviços implica uma maior desigualdade no acesso aos mesmos, tal como foi exemplo, em Portugal, a transição para o ensino à distância, que, apesar de ser imperativamente necessária, acentuou a incapacidade de muitos alunos acompanharam as aulas por não possuírem os meios necessários para tal.

          Estas desigualdades, porém, não surgem apenas da menor capacidade financeira dos indivíduos, já que o uso das tecnologias pressupõe, igualmente, que quem as utilize possua os conhecimentos para tal. Contudo, se para aqueles que cresceram com estes desenvolvimentos pode ser fácil acompanhar a evolução, o mesmo pode não se verificar com os que viveram mais de metade da sua vida sem a existência destas tecnologias. Não querendo, de todo, afirmar que as dificuldades no uso de tecnologias são homogéneas e específicas a determinada faixa etária, considero ser irrealista acreditar que a adaptação a esta nova realidade será somente difícil para uma proporção insignificante da população.

          Assim, convergindo para a questão inicialmente apresentada, deveremos deixar de investir na inovação tecnológica ou parar a transição para a era da digitalização? Do meu ponto de vista, a resposta é obviamente negativa, até porque todos nós (não só a nível individual, mas também enquanto sociedades) beneficiamos profundamente com esta nova realidade. A utopia, a meu ver, é considerar que esta transição pode ocorrer de um dia para o outro e que tal não impactará negativamente uma percentagem significativa da população, nem acentuará as graves desigualdades que já existem.


Beatriz Costa Azevedo 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

sábado, 26 de dezembro de 2020

“Green finance”: o novo vocabulário das finanças

Ao ligar a televisão, as notícias retratam manifestações e, ao abrir um jornal, somos invocados para referências ao nível da economia sustentável. Num mundo onde é cada vez mais significativa a presença de indivíduos ou comunidades ativistas que ambicionam levar a sua voz a todos, sejam potências mundiais ou minorias, é necessária uma intervenção económica que tenha em conta preocupações ambientais, sociais e de governação.

Neste sentido surgem as finanças sustentáveis ou, como comummente dito, “green finance”. As finanças sustentáveis, no sentido político da União Europeia (UE), são entendidas como o financiamento que promove o desenvolvimento económico, ao mesmo tempo que reduz os encargos ambientais e, ainda, tem em conta os aspetos sociais e governamentais. Para além disso, também exigem a divulgação dos riscos associados às variáveis ASG (Ambiente, Social e Governação), que podem vir a ter impacte no sistema financeiro, atuando na mitigação dessas ameaças por meio de uma logística eficaz dos atores financeiros e corporativos.

Posto isto, o incentivo à adoção de visões como as que se exprimem no conceito de “green finance” é, cada vez mais, fundamental numa economia que se ambiciona ser sustentável e circular.

O papel crucial das finanças sustentáveis inicia-se com a mobilização dos recursos necessários à conquista dos objetivos políticos de acordos (como o Acordo Verde Europeu) e compromissos internacionais da UE. Estas mobilizações acabam por colaborar ao garantir que os investimentos promovem uma economia resiliente e, também, dada a situação atípica atual, intervém em termos de uma recuperação sustentável perante os efeitos da pandemia COVID-19.

O financiamento sustentável a nível da UE procura promover a realização dos objetivos do Acordo Verde Europeu (política de desenvolvimento que visa tornar a Europa no primeiro continente neutro ao clima até 2050), canalizando o investimento privado como suplemento do dinheiro público para a transição de uma economia neutra e resiliente em termos de clima, eficiente em termos de recursos e justa. As adversidades surgem quando é exigido capital que ultrapassa a capacidade do setor público. Por isso, a UE aloca a ajuda necessária para a atração de tais investimentos, sendo o setor financeiro um interveniente indispensável dado que através dele é possível:

·       Reorientar o investimento nas empresas para a aposta em tecnologias mais sustentáveis;

·       Financiar o desenvolvimento a longo-prazo de forma sustentável;

·     Contribuir para o desenvolvimento de uma economia com baixas emissões de carbono, sustentável e circular para o meio ambiente.

Dada a popularidade desta prática nos dias de hoje, os investidores estão cada vez mais determinados: o dinheiro encontra-se em qualquer tipo de ativo que seja verde ou sustentável. De acordo com o último relatório lançado pela Global Sustainable Investment Alliance, em 2018, pelo menos US$30,7 triliões de fundos são mantidos para investimentos sustentáveis.


Figura 1 – Um novo mercado verde. Dívida sustentável emitida, por tipo de instrumento (em US$)


Fonte: Bloomberg Finance

A emissão global de obrigações verdes era inferior a 1.000 milhões de euros em 2008, atingindo em 2017 o valor de 120.000 milhões de euros.

A 14 de janeiro do presente ano, a Comissão Europeia apresentou o Plano Europeu de Investimento do Acordo Verde, como parte do próprio Acordo Verde, que mobilizaria pelo menos 1 trilião de euros em investimentos sustentáveis na próxima década.

Inclusive, neste mês de dezembro foi noticiado que a partir de 2021 o Banco Central Europeu passará a aceitar obrigações verdes como garantia nos seus programas de compra e refinanciamento. Ainda a nível europeu, existe o exemplo das empresas suecas destacadas pela enorme percentagem de emissão de dívida verde. Em 2019, os títulos sustentáveis denominados em krona (coroa sueca) representaram 20% da emissão total, ultrapassando as participações dos Estados Unidos da América e Reino Unido.

Em Portugal, os passos para a sustentabilidade são largos e um exemplo deste trajeto é a EDP Renováveis, considerada, recentemente, uma das 50 empresas mais sustentáveis do mundo no índice GCX de uma lista elaborada pela Boersen AG.

E, então? Será o futuro do investimento sustentável? A resposta não é certa, mas a sustentabilidade associada às finanças é uma parte essencial do porvir. A probabilidade do setor financeiro se tornar um parceiro fiel deste novo mundo de investimentos é enorme, onde uma economia circular e conservadora é promovida e conciliada com riqueza, criação de emprego e bem-estar.

 

Francisca Gomes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Combustíveis: o condutor da economia

Os combustíveis fósseis são, desde a Revolução Industrial, um dos principais impulsionadores da economia. São utilizados em todos os ramos cruciais, como os transportes, onde pessoas e mercadorias se deslocam, na indústria, para o funcionamento de maquinaria ou até no consumo privado das famílias, no transporte individual ou aquecimento da habitação, em alguns casos. Assim, o consumo individual gera investimento empresarial, culminando no crescimento generalizado da economia. Este progresso foi verificado nos últimos dois séculos, tendo o PIB mundial crescido cerca de 600%, no entanto, com elevados custos sociais e ambientais, especialmente através da poluição causada pelo uso dos combustíveis.

Com crescentes preocupações ambientais e diversos desenvolvimentos tecnológicos, despontaram-se alternativas ao uso excessivo dos combustíveis. Foram implementadas restrições para evitar a sobre-utilização destes recursos, surgiram fontes de energia “verdes”, criaram-se meios de transporte elétricos e em sistema misto, cuja utilização de combustíveis fósseis é mais reduzida ou até nula, alcançando um menor emprego e dependência nestes recursos.

Devido à sua grande procura e necessidade por parte das nações, qualquer variação no preço do barril do petróleo (preço pelo qual o combustível é valorizado no mercado) implica uma notável flutuação no preço dos bens. Isto acontece, por exemplo, quando o transportador gasta mais em combustível para a deslocação. Aqui, o consumidor final terá de reembolsar essa diferença e suportar um custo maior do bem.

O peso que a alteração dos preços petrolíferos dispõe na economia mundial revela-se pelo surgimento de crises económicas após uma disrupção na estrutura de preços deste ramo. Através do exemplo anterior, notamos que se se dá uma redução do poder de compra dos consumidores, e esta se verificar numa escala mais alargada, tal pode implicar uma contração económica. As crises financeiras mais notáveis deram-se em 1973, quando rivalidades orientais implicaram uma subida do preço do petróleo para o resto do mundo, e em 1979, quando um rápido crescimento da procura por combustíveis levou a que o preço desses aumentasse, levando os países a contrair maior despesa.

Em efeito oposto, a pandemia COVID-19 gerou uma oscilação no preço dos produtos petrolíferos. Numa primeira fase, na qual a procura baixou, graças à queda do número de deslocamentos, consequentes de medidas restritivas de confinamento e incentivos ao teletrabalho, deu-se uma redução do preço destes recursos em cerca de 14%. Seguidamente, com o retorno gradual das atividades, a procura destes produtos aumentou, fazendo subir o seu valor. Através desta conjuntura, inferimos que, embora a flutuação do preço dos combustíveis tenha impactos generalizados na economia, o contrário também se verifica.

O facto destes recursos serem não renováveis, ou seja, bens naturais que não são regenerados no tempo médio de vida humana, sendo o seu consumo superior à sua extração, a utilização atual coloca em causa a sua sustentabilidade. Porém, ao verificarmos que a sua procura pode vir a diminuir devido à constante evolução tecnológica, perspetiva-se um decréscimo da pressão sobre estes, o que abre a oportunidade para a formação de reservas que possam ser utilizadas quando e se nos depararmos com uma situação onde estes sejam necessários.

Assim, em forma de conclusão, posso afirmar que, do meu ponto de vista, é obrigatória uma gestão eficaz dos produtos petrolíferos, uma vez que, como podemos observar, são os “condutores” do comportamento da economia e influenciam os ecossistemas naturais. A redução da pressão sobre a extração dos mesmos consegue ajudar as economias a reduzir a sua dependência destes e beneficia o meio ambiente. Do lado económico, esta redução permite dinamizar outros setores de energia e permite à economia mundial um desprendimento das flutuações do preço dos combustíveis.

 

Diogo Araújo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

A Mobilidade laboral intra-Europeia

A abolição de barreiras à mobilidade laboral, através do Tratado da União Europeia de 1992, representou um notável avanço na circulação de cidadãos dos estados-membros, o que impulsionou a criação de uma nova geração multicultural Europeia.

É possível caraterizarmos a mobilidade laboral como a mudança do espaço físico (mobilidade geográfica) e do tipo de trabalho (mobilidade ocupacional) de um indivíduo, estando esta porém sujeita a uma variedade de situações de elevada complexidade. Desta forma, foram desenvolvidas diversas regulamentações e políticas para esta iniciativa de movimento, na qual destaco o European Employment Services (EURES), uma rede criada em 1994 pela Comissão Europeia para facilitar a livre circulação de trabalhadores. Incorporado nesta rede, existe o serviço de regiões transfronteiriças, que pretende prestar apoio e disponibilizar informação necessária a quem necessita.

Os desenvolvimentos mais recentes confirmam que a mobilidade Intra-EU continua em crescimento. Em 2018, existiam 17,6 milhões de cidadãos EU-28 deslocados da sua área de origem, sendo que 12,9 milhões pertenciam à população ativa (20-64 anos). Adicionalmente, foram registados cerca de 1,5 milhões de trabalhadores transfronteiriços no mesmo ano.

Segundo o Relatório anual de 2019 sobre a mobilidade laboral Intra-EU, em 2018 os principais destinos de referência foram a Alemanha e Reino Unido, que, em conjunto, acolhiam mais de 50% das mobilidades, seguidos da Espanha, Itália e França, com um quarto dos cidadãos a optar por aí residir. Por sua vez, Roménia, Polónia, Itália, Portugal e Bulgária permaneciam com o estatuto de países predominantemente emissores. O relatório sugere ainda que, na maioria dos Estados-membros, os indivíduos da EU-28 em mobilidade laboral têm uma menor probabilidade de se encontrar desempregados do que aqueles que permanecem no seu país de origem, e as áreas de emprego mais procuradas foram a manufatura, o comércio, a construção e os serviços de alojamento e de alimentação.

Olhando atualmente para o contexto Europeu, é indiscutível a importância da mobilidade. Este fenómeno potencializou uma alocação mais eficiente do trabalho, impulsionou as diferentes economias, cultivou a troca de conhecimentos, permitiu diminuir as taxas de desemprego e dar melhores condições aos indivíduos que não arranjavam trabalho no seu país, entre outros. Na minha perspetiva, a livre circulação de pessoas representa não só a oportunidade de um maior desenvolvimento de aptidões dos cidadãos e crescimento do emprego mas, também, o aumento da competitividade no mercado e a sua diversidade.

No entanto, a mobilidade laboral prende-se ainda com questões de direitos sociais, pouca integração no mercado, opinião pública negativa, menor coesão social, condições de trabalho menos favoráveis e exploração. Com o aumento significativo da mobilidade dentro da União, fomentou-se um maior debate sobre as suas consequências, sendo inclusive exigidas medidas restritivas na gestão do movimento livre e conceção de benefícios a cidadãos de outros Estados-membros. Este debate tomou maiores proporções no Reino Unido, que após a realização de um referendo, a junho de 2016, saiu da UE. Observando estes comportamentos, podemos considerar que o mercado de trabalho está mais segmentado, com maior instabilidade e as condições providenciadas são cada vez mais precárias e restritas.

Observando a realidade em que nos encontramos, acredito que muitos esforços podem ser feitos para potencializar a mobilidade, sem comprometer a diversidade e o bem-estar social. Devido à falta de harmonia, considero ser importante repensar as políticas de integração, através da elaboração de programas a nível local e cursos linguísticos. Salvaguardar o princípio da livre circulação deverá ser uma prioridade na agenda, com a definição de padrões e normas a seguir, de forma a garantir a proteção dos direitos dos trabalhadores entre todos os Estados-membros.

 

Vera Araújo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]        


“UE e Turquia: portas abertas?”

A adesão à União Europeia está sujeita ao cumprimento de variadas condições e princípios, fixados no Tratado da União Europeia (1992). Para além disso, existem os chamados critérios de Copenhaga, que permitem definir se o país em concreto é elegível para a adesão. Passo a mencionar:

 i.          Critério político: é exigida a estabilidade das instituições públicas que garantam a democracia, o Estado de direito, os direitos humanos e o respeito pelas minorias e a sua proteção;

ii.          Critério económico: requer uma economia de mercado que atue efetivamente e que consiga corresponder à pressão concorrencial, nomeadamente do mercado da EU.

 iii.          Critério jurídico: o país candidato tem de proceder à transposição para o seu direito interno de todas as normas políticas comunitárias, ou seja, pretende-se que estes assumam as suas obrigações, enquanto membro da UE, incluindo a capacidade de impor eficazmente regras, normas e políticas e de contribuir para os objetivos comuns da união política, económica e monetária. 

A Turquia tem afirmado o compromisso com o objetivo de adesão à UE, repetidamente: desde a sua candidatura, em 1987, da qual lhe resultou ser-lhe concedido o estatuto de país candidato, em 1999, até hoje, 2020, com a declaração do presidente turco, Erdogan, do objetivo da integração continuar ativa.

A verdade é que as subsequentes negociações, iniciadas em 2005, têm-se mostrado demorosas e frágeis, muito devido à instabilidade política e repressão social do governo turco. O sistema político implementado - uma democracia parlamentar - permitiu a chegada ao poder a Erdogan e do seu partido (Partido da Justiça e Desenvolvimento- AKP), em 2002. Na última década, a Turquia alcançou algum avanço na laicização do Estado e na emancipação da mulher e um crescimento económico bastante favorável. No entanto, estes progressos foram restringidos pelas relações violentas entre turcos e a minoria curda (localizados na região oriental da Turquia), perseguições políticas e restrições à liberdade de expressão, o que demonstra um recuo na consolidação da democracia, por parte do governo de AKP.

Para além disso, é importante denotar o conflito existente com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que está incluído na lista da UE de pessoas, grupos e entidades envolvidas em atos de terrorismo, mas sabe-se da atual repressão em que vivem por parte do governo turco, o que agrava o conflito. O governo turco tem atuado através da implementação de medidas antiterrorismo, porém, considero que a sua atuação é desrespeitadora dos diretos humanos, não pacífica e insustentável.

A corrupção no país está generalizada, já que não existe qualquer órgão permanente e independente que a combata. Os quadros legais e institucionais continuam a permitir influências vindas do governo executivo nos processos de investigação e julgamento de casos de corrupção. Na minha opinião, a inexistência de uma estratégia anticorrupção é um retrocesso na democracia, o que não se alinha com os princípios da UE.

Relativamente aos critérios económicos, mesmo fazendo parte do G20, a Turquia tem registado algumas recessões, nos últimos anos. O seu mercado depende fortemente do financiamento externo, o que o torna bastante vulnerável às conjunturas internacionais.  Estando bem integrada, parceira estratégica da UE em termos de comércio e investimento, a Turquia tem bastante potencial nas áreas de desenvolvimento tecnológico e no setor de energia.

Em relação ao terceiro critério de adesão à UE, considero que a Turquia não tem ainda capacidade para proceder à transposição para o seu direito interno todas as normas políticas comunitárias e cumprir os seus compromissos. Contudo, é visível o desenvolvimento das redes transeuropeias, serviços financeiros e união aduaneira.  É necessário, na minha opinião, a aposta na inovação nas áreas que carecem do desenvolvimento necessário para competir com os mercados da EU e criar condições para a livre circulação de capitais, e o que supõe a implementação de várias políticas económicas e monetárias e a nível de relações internacionais.

Deste modo, com as negociações da entrada da Turquia na UE estagnadas, o mais provável é que a resposta da UE seja negativa. Os problemas existentes relativos à falta de liberdade de expressão, perseguição política, discriminação das minorias e crimes de ódio, desigualdade de género, impedem o progresso socioeconómico turco e, assim, a entrada na UE. 


Luísa Bento 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]        

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

O envelhecimento em Portugal

          O envelhecimento demográfico, em Portugal, é uma problemática que há muito tempo é conhecida por todos nós, tornando-se consensual que é necessária uma atuação nessa área que vise inverter esta realidade.

        Segundo David Bloom, professor da Universidade de Harvard e demógrafo norte-americano, Portugal terá mais cidadãos dependentes do que a trabalhar e o peso dos cidadãos com mais de 65 anos poderá representar cerca de 30% da população até 2050. Consequentemente, isto irá ter um impacte no futuro económico português que tem vindo a ser fortemente pressionado por esta problemática, sendo que o envelhecimento da população é considerado o maior problema demográfico e é um cenário quase transversal a todos os países desenvolvidos.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), ao longo dos anos tem-se verificado aumentos significativos no índice de envelhecimento, como se pode verificar no gráfico 1, e é ainda possível afirmar que, em 2019, para cada 100 jovens existiam 163,2 idosos. Isto acontece, maioritariamente, graças à diminuição da natalidade, à emigração dos mais jovens e ao aumento da esperança média de vida, que é uma consequência das crescentes melhorias no que diz respeito à área da saúde.

Tal como já foi referido, esta problemática prende-se muito com a fraca natalidade que se verifica em Portugal, que não é suficiente para ultrapassar as questões associadas ao envelhecimento. Assim, de acordo com o INE, em 2019, 42,2% das mulheres dos 18 aos 49 anos e 53,9% dos homens dos 18 aos 54 anos não tinham filhos. Relativamente ao ano 2013, e fazendo uma breve comparação, verifica-se que estas percentagens apresentavam valores mais reduzidos, de 35,3% e 41,5%, respetivamente. Além disso, observou-se uma diminuição do número médio de filhos, de 2013 para 2019, de mulheres e de homens, passando de 1,03 para 0,86 filhos.  

Gráfico 1 - Evolução do Índice de Envelhecimento de 2011 a 2019. Fonte: INE

Isto acontece, segundo a opinião do economista Ricardo Arroja, porque “Portugal não é um país especialmente acolhedor para as famílias com filhos que vivem de rendimentos de trabalho”, por várias razões. Primeiramente, o economista aponta a dificuldade em conciliar o trabalho e a vida familiar. Em segundo lugar, o valor das propinas de berçários e de creches privadas, e às quais o Estado não faculta oferta pública, é impossível de suportar por muitas famílias, tornando-se o nascimento de uma criança um custo de oportunidade difícil de suportar. Além disso, refere ainda, em termos de educação, que as carências do ensino público básico e secundário preocupam as famílias cuja escolha está limitada ao ensino público. Em último lugar, destaca que, para as famílias que são contribuintes líquidos de IRS, o facto de o quociente conjugal do IRS não acomodar minimamente o acréscimo de uma despesa que uma criança representa no orçamento familiar pode vir a tornar-se um entrave à natalidade.

Assim, existe uma crescente necessidade de dar resposta a esta problemática para se começar a contornar os efeitos nefastos que tem vindo a ter na economia, nomeadamente, a nível de sustentabilidade da segurança social, bem como a nível de despesas públicas no setor da saúde. Contudo, alguns economistas acreditam que é preciso implementar medidas diferentes daquelas a que se tem vindo a assistir, já que, tal como refere David Bloom, “não temos exemplos históricos de como lidar com o envelhecimento da população” dado que esta problemática tem vindo a atingir valores históricos. Acredita-se, então, que a resposta irá ter de passar por políticas públicas, apoiadas no desenvolvimento da tecnologia e da medicina, que visem o envelhecimento ativo, a independência física, económica e social dos mais velhos e, também, uma maior aposta na saúde, através da prevenção e do diagnóstico precoce.

Posto isto, torna-se importante questionarmo-nos em que medida esta realidade irá ter repercussões nas nossas vidas, mais concretamente na economia portuguesa, nos apoios à natalidade, no atual modelo da segurança social e, consequentemente, nas reformas dos atuais jovens, entre outros fatores, para se tentar encontrar soluções que sejam eficazes e que tenham impacte positivo no curto-prazo. Em suma, na minha opinião, sem a implementação de um modelo económico que permita que as economias diminuam os seus endividamentos pode afirmar-se que a sociedade de hoje poderá deixar aos de amanhã um futuro hipotecado.

  

Marta Navio dos Santos Costa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Bitcoin, a criptomoeda original!

        A Bitcoin (BTC) é considerada a primeira moeda digital mundial descentralizada. Foi lançada em 2009 e tornou-se um fenómeno revolucionário, quer em termos tecnológicos, quer em termos financeiros. Assente no sistema peer-to-peer, carateriza-se pelo total controlo da moeda e das suas transações por parte dos utilizadores. Esta permite operações financeiras sem recurso a intermediários, porém verificadas por todos os usuários da rede, pois são gravadas num banco de dados (blockchain).

Se, por um lado, a Bitcoin apresenta algumas das caraterísticas das moedas comummente utilizadas (durabilidade, portabilidade, escassez, divisibilidade e reconhecimento), por outro lado, revela caraterísticas muito particulares: a descentralização (isto é, a mesma não é controlada por nenhum banco central ou governo), o anonimato da identidade do detentor de moeda (forte proteção contra furto de identidade), a imutabilidade das transferências, a limitação de quantidade de moeda existente (limite máximo de 21 milhões de Bitcoins) e, finalmente, a velocidade do processamento das transações, sem esquecer a simplicidade e agilidade das mesmas.

Evidentemente, foram surgindo defensores e opositores das moedas virtuais, e mais especificamente da Bitcoin, que apresentaram variados argumentos a favor e contra a sua utilização. A perspetiva favorável defende a universalidade (uso em todos os países), a liberdade de pagamento (qualquer quantia em qualquer lugar a qualquer momento), a transparência e neutralidade, a taxa de transação reduzida, a elevada portabilidade e a impossibilidade de falsificação. Por seu turno, os críticos apontam que a falta de segurança, a instabilidade e a inexistência de regulação sobressaem como desvantagens das moedas digitais. Por outras palavras, estas podem ser hackeadas, têm um caráter altamente volátil e podem ser utilizadas em atividades criminosas, incluindo branqueamento de capitais, financiamento do terrorismo, cibercriminalidade e evasão fiscal (desafios à investigação criminal). Além do mais, de um modo geral, a Bitcoin ainda se encontra em fase de desenvolvimento.

De facto, é do conhecimento geral que as moedas digitais são cada vez mais populares. Ademais, à medida que a Bitcoin e outras moedas virtuais começam a revelar-se expressivas nos mercados internacionais, as várias cidades mundiais procedem, gradualmente, à sua adoção. Praga, capital da República Checa, destaca-se como o maior hotspot da Bitcoin no mundo, dado que a cidade possui o maior número de estabelecimentos que aceitam Bitcoin a nível mundial, concretamente 147. Além desta, também outras capitais europeias se encontram bem classificadas em termos de utilização de criptomoedas, nomeadamente Madrid, Amesterdão, Londres e Paris, com 101, 88, 85 e 82 locais de aceitação da Bitcoin, respetivamente.

Por sua vez, em Portugal, embora a Bitcoin ainda seja alvo de desconfiança e de algum desconhecimento, são várias as empresas que já aderiram a este sistema, incorporando aquela nas suas modalidades de pagamento. Ainda que se trate de uma comunidade relativamente pequena, em 2018, havia 58 estabelecimentos a aceitar pagamentos com Bitcoin em Portugal. Curiosamente, na zona de Lisboa o número de comerciantes (entre eles, papelarias, lojas de informática, restaurantes e hotéis) que aceitam pagamentos nesta criptomoeda tem crescido.

Figura 1: Evolução da Bitcoin (2017-2020)

A verdade é que foram muito recentemente atingidos novos máximos históricos. No dia 16 de dezembro, a Bitcoin registou um novo recorde, ao ultrapassar o limite dos 20.000 dólares pela primeira vez desde 2017. Não obstante, três dias mais tarde, esta criptomoeda registou uma subida, alcançando os 24.000 dólares. Deste modo, muitos entendedores da matéria acreditam no enorme potencial da Bitcoin e na sua tendência de crescimento. No entanto, ninguém está em condições de prever qual será o seu futuro. Do meu ponto de vista, há uma grande possibilidade da Bitcoin continuar a valorizar-se, pelo menos nos próximos anos. Segundo Eric Schmidt, presidente executivo da Google, a Bitcoin “é uma realização criptográfica notável (...) Muitas pessoas construirão negócios baseados nisso."

 

Cristiana Mendes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]


Quem casa quer casa, mas… não será melhor esperar?

        Será que a expressão da sabedoria popular “quem casa quer casa” ainda reflete aquilo que se passa na sociedade atual? Quais são as decisões tomadas pelos consumidores na hora de colmatarem as suas necessidades de habitação?

Até há alguns anos, a aquisição de habitação própria era a opção mais frequente e tida como mais desejável pelos consumidores. Paralelamente, a habitação para arrendamento era um produto com pouca atratividade para os investidores. Esta tendência parece estar a alterar-se e o mercado de arrendamento pode vir a ganhar expressão pois vai ao encontro das necessidades da geração millennial, que privilegia a flexibilidade, da classe média com menor poder de compra e do número elevado de estrangeiros que estão em Portugal temporariamente. O mercado habitacional ligado ao arrendamento apresenta um potencial de crescimento, apesar de ainda ter pouca expressão.

Não é segredo nenhum que, nos últimos 6 anos, temos assistido a um aumento nos valores de venda dos imóveis. As oscilações nos preços das casas devem-se, essencialmente, às taxas de juro e ao crescimento económico que se fez sentir. Para o setor imobiliário, desde 2013, o número absoluto de transações tem aumentado e demonstra que as pessoas preferem comprar casas já existentes, em detrimento de casas novas (devido ao tempo exigido pela construção e processos burocráticos).

No entanto, esta subida de preços da habitação não tem constituído um entrave para o crescimento da procura, verificando-se um grande dinamismo no mercado imobiliário. Este dinamismo é sustentado por um conjunto de fatores, como a maior facilidade de obtenção de empréstimos bancários, o maior apoio governamental e também a existência de um grande número de promotores imobiliários.

Todavia, em 2020, o cenário mudou de figura e, por causa da pandemia provocada pela doença COVID-19 e do período de confinamento que vivemos e que impossibilitou a realização de muitos negócios, o setor imobiliário sofreu um ligeiro retrocesso e venderam-se, no segundo trimestre deste ano, menos 21,6% de alojamentos familiares do que no período homólogo de 2019.  Apesar disto, ainda não conseguimos ter a noção absoluta do impacte que esta pandemia provocará. A única conclusão que podemos retirar é que, numa fase pré-COVID, o mercado imobiliário estava em ascensão e atingia valores históricos na venda de casas, com preços acima do que era esperado.

E quem comprou? Nos primeiros meses da pandemia em Portugal faria sentido que as pessoas começassem a procurar habitações em zonas rurais (para “fugir” à densidade populacional), mas tal não se verificou. Penso que, apesar da COVID-19, as pessoas continuam a preferir espaços perto de escolas e do mercado de trabalho, e esses fatores pesam mais na decisão da compra de uma casa dado que este é um investimento de longo prazo. Além disso, como as pessoas passam agora mais tempo em teletrabalho (em casa), quem tem possibilidades, prefere comprar uma casa maior.

Mas como será daqui para a frente? Considero que o mercado imobiliário deverá continuar a sentir o impacte da pandemia em 2021, pois muitos daqueles que planeavam sair de casa dos pais e procurar casa própria ou trocar de casa deverão atrasar esse plano devido ao clima de incerteza, instabilidade financeira e à perda de poder de compra (por causa do aumento da taxa de desemprego). Por outro lado, a pandemia, provavelmente, irá mudar o paradigma e fazer com que as pessoas prefiram apostar no arrendamento de longa duração do que comprar uma habitação de imediato. Outra alternativa que reconheço que possa ocorrer é a transformação dos alojamentos locais em habitações de arrendamento de longo prazo, o que trará uma consequente descida de preços por causa da subida da oferta.

Para concluir, penso que, pelo facto de o mercado imobiliário depender muito das flutuações económicas, a sua recuperação passa por incentivos por parte dos governos e por dar confiança às pessoas de que este setor continua a ser “seguro” para investir. No entanto, acredito que a recuperação do setor imobiliário será relativamente rápida porque os juros irão manter-se baixos por mais tempo. O importante é ser otimista e adaptar este setor aos novos tempos!

 

Sofia Pereira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sábado, 19 de dezembro de 2020

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

A Importância do Setor Corticeiro em Portugal

A indústria corticeira em Portugal surgiu em meados do século XIX, inicialmente com pequenas instalações dedicadas ao fabrico manual de rolhas cilíndricas, distribuídas especialmente no Sul do País. A cortiça é um material cujas referências históricas como produto de exportação para o Reino Unido e para Flandres remontam ao século XIV. Este material era utilizado, sobretudo, como artefacto flutuante, para a produção de aparelhos de pesca e também como vedante, para a produção de rolhas que serviriam para o engarrafamento de vinhos. Contudo, foi após a Primeira Guerra Mundial que se assistiu a um grande desenvolvimento desta indústria, o que contribuiu para que Portugal assegurasse a liderança da produção mundial de cortiça.

Atualmente, Portugal é ainda líder mundial na produção e transformação de cortiça, apresentando hoje uma indústria consolidada. Esta consolidação deve-se ao facto de Portugal ter como vantagem a sua densa área de sobreiro, concentrando 34% da área mundial de montado de sobro (isto é, cerca de 736 mil hectares), sendo o Alentejo a região que concentra a maior área de sobreiro nacional (aproximadamente 84%).

Ao longo dos anos, verificou-se que o uso deste material em produtos foi evoluindo e que, a cada dia, surge uma nova aplicação para esta matéria-prima com qualidades bastante peculiares, que a tornam única. Além disso, este setor assume uma posição de relevo também no contexto da economia nacional, nomeadamente pelo nível das exportações, pelo volume de emprego associado (direto ou indireto) e pela sua importância para o funcionamento económico de algumas zonas específicas.

A relevância do setor da cortiça é inquestionável em diferentes dimensões, tais como a sustentabilidade ambiental e a importância económica e histórica, sendo este um dos principais produtos exportados pelo país. Além disso, estima-se que cerca de 54% da produção mundial de cortiça é realizada por Portugal e, segundo dados atuais, o setor corticeiro português emprega diretamente cerca de 15000 indivíduos no setor fabril e cerca de 6500 na sua extração e manuseamento, existindo cerca de 1100 estabelecimentos fabris. Desta forma, Portugal assume a primeira posição na produção mundial de cortiça, sendo que este setor contribuí para, aproximadamente, 3% do PIB nacional.

Este setor destaca-se, em Portugal, por ser a única atividade com capacidade para liderar no mercado externo, bem como pela sua rendibilidade no comércio externo. Assim, cerca de 90% do material corticeiro produzido em Portugal é exportado, sendo os principais importadores dos produtos corticeiros portugueses a Alemanha, a França e os Estados Unidos da América. Importa ainda referir que as rolhas de cortiça representam 60% do total das exportações, tornando-se o principal produto desta indústria. No entanto, os recentes e inovadores produtos construídos a partir deste material, nomeadamente na área da construção, têm vindo a ganhar ênfase no mercado internacional e já representam 15% do total das exportações. São exemplos de outros produtos em que a cortiça pode ser aplicada: o calçado, o vestuário, louças, móveis, entre outros.

Henrique Martins, Presidente da APCOR (Associação Portuguesa de Cortiça) refere que “os industriais corticeiros portugueses se têm esforçado para acompanhar o desenvolvimento e a modernização constante – não há nenhum setor que tenha evoluído, nos últimos anos, tanto quanto nós”. Ainda assim, importa ressalvar que este setor pode evoluir, sendo um dos que tem maior capacidade de desenvolvimento, dada à sua diversa gama de produtos e a sua crescente procura. Isto porque a indústria corticeira portuguesa é líder mundial, não só a nível de produção e de transformação de cortiça mas também de mão-de-obra qualificada e de inovadora tecnologia, sendo o país impulsionador de inovações e novas alterações no processo produtivo neste setor.

Em suma, este setor constitui uma oportunidade para a construção de uma imagem positiva de Portugal, contrariando a ideia de que o país está preso ao passado e permitindo também demonstrar a sua dinâmica empresarial e o rumo que Portugal tem estado a tomar em termos de inovação e de desenvolvimento. Além disso, a criação de incentivos neste setor poderia ser vantajosa, dado que o incentivo à criação de mais empresas e a aposta na formação dos trabalhadores são medidas que poderiam tornar a indústria corticeira, em Portugal, ainda mais dinâmica e competitiva.

 

Marta Navio dos Santos Costa 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Mais vale tarde que nunca

Nos últimos tempos, a TAP tem sido tema de discussão, devendo-se tal ao facto de o prazo fornecido pela Comissão Europeia a Portugal para a entrega do plano de restruturação ter findado.

         De facto, a empresa TAP SA. tem um papel bastante importante no nosso país. Para além de ser a nossa companhia aérea de bandeira, tem um grande valor para as nossas exportações e emprega um número elevado de trabalhadores. Todavia, isto não serve de desculpa para se ter aproveitado ao longo dos últimos anos do dinheiro dos nossos contribuintes de uma forma tão exagerada, não mudando a sua postura.

É inadmissível uma empresa que recorreu a diversos empréstimos do Estado estar constantemente a apresentar investimentos de frota, entre outros custos adicionais não prioritários. Assim, acho necessária a intervenção do Estado e essencial um plano de reestruturação com vista a proteger os contribuintes e a empresa, em especial numa altura como esta, onde estamos com elevados custos no combate à pandemia. O principal foco desta restruturação é tornar a empresa sustentável a médio-prazo e capaz de pagar os seus empréstimos o mais rapidamente possível.

         É importante referir que este plano ainda não se encontra completamente definido e pode sofrer diversas alterações agora que foi apresentado em Bruxelas. No entanto, no que até agora foi apresentado, a TAP terá uma perda nas receitas consolidadas de 6,7 mil milhões de euros até 2025, enquanto que usufruirá de uma injeção por parte do Estado Português de 3 735 milhões de euros até 2024. Também estão patentes neste plano diversos despedimentos e cortes salariais, o que, a meu ver, são aspetos bastante importantes para o avanço da empresa. Estas medidas levam-nos a outro grande problema, sendo este a tensão social e política que se irá estabelecer. Estaremos perante um caso semelhante ao Novo Banco? Fica esta questão cheia de incertezas.

         Assim, é importante perceber que para a boa resolução da TAP é necessário que ela percorra todo este percurso. No entanto, é de reforçar que o Estado não deve dar prioridade a este assunto em relação às necessidades que o país tem para o combate à pandemia e auxílio às famílias. Uma coisa é certa: ainda iremos ouvir falar durante muito tempo deste caso.


Carlos Marinho

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

O futuro do setor das águas em Portugal

        Torna-se evidente que, nos dias que correm, o futuro do setor das águas se encontra comprometido na medida em que é fundamental que ocorra uma renovação a nível das infraestruturas e que a qualidade do serviço seja melhorada, de forma a combater as perdas de água em determinados locais do país e, de certo modo, assegurar a sustentabilidade deste recurso, que cada vez é mais escasso, fruto das alterações climáticas que se fazem sentir em todo o mundo.

Neste sentido, surgem as empresas privadas, que se apresentam como uma possível solução para contrariar este problema. Mas, de que forma estas o poderiam fazer? Ora, ao deter um maior papel neste setor, seriam geradas as condições necessárias para o aumento da competitividade, através de um maior contributo por parte do setor privado. Efetivamente, o recurso à inovação e ao aumento da eficiência facilitariam o financiamento que este setor requer.

De facto, através da análise dos indicadores pertencentes ao Plano Estratégico Nacional, PENSAAR 2020, verificou-se uma estagnação significativa em grande parte dos indicadores de desempenho e, ainda, diferenças substanciais relativamente aos objetivos delineados no Plano. No entanto, quando o desempenho é avaliado baseado no modelo de gestão, é notável que o setor privado, cuja expressão representa aproximadamente 20% da população, se destaca, apresentando, em geral, melhores indicadores. Para além disso, é este o setor que mais tem contribuído positivamente para a evolução da média nacional desses indicadores, tendo até ultrapassado os valores objetivos para o final do Plano. Assim, é visível que realmente as empresas privadas podem exercer um papel fundamental neste setor, caso adquiram uma maior parcela.

É crucial que o setor da concessão das águas passe a estar assente num setor concorrencial suficientemente evoluído a nível tecnológico, de forma a acrescentar valor ao PIB português. Deste modo, deixaria de estar relacionado diretamente com a política e com o consumo de meios financeiros e passaria a ser visto como uma fonte de riqueza sustentável, associada ao aumento da qualidade de serviço para os utilizadores. Perante este cenário, torna-se necessário que as condições de acesso sejam as mesmas para os diferentes intervenientes no setor, eliminando assim as barreiras existentes à participação das empresas privadas.

No entanto, de acordo com o Orçamento de Estado para 2021, para o setor das águas, prevê-se que sejam financiados empréstimos pelo FAM, Fundo de Apoio Mundial, para pagamentos a concessionários decorrentes de resgate de contrato de concessão de exploração e gestão de serviços municipais de abastecimento público de água, de saneamento de águas residuais ou de gestão de resíduos urbanos. Por razões de concorrência e perante esta medida, a Associação das Empresas Portuguesas para o Sector do Ambiente, AEPSA, coloca a possibilidade de apresentar queixa contra o Estado Português.

Em suma, o combate a este problema passa, por exemplo, pela construção de centrais de dessalinização ou investimento em novos sistemas que possibilitem um uso mais eficiente da água, e pelo aproveitamento das águas residuais. Apesar disto, penso que este não é um problema que possa ser resolvido só pelas entidades responsáveis, uma vez que é imprescindível que todos cidadãos se consciencializem que usar a água de uma forma correta, evitando desperdícios, é uma obrigação de todos. Sem esta mudança, todos os esforços revelar-se-ão inúteis.


Patrícia Sanches

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]