sábado, 26 de dezembro de 2020

“Green finance”: o novo vocabulário das finanças

Ao ligar a televisão, as notícias retratam manifestações e, ao abrir um jornal, somos invocados para referências ao nível da economia sustentável. Num mundo onde é cada vez mais significativa a presença de indivíduos ou comunidades ativistas que ambicionam levar a sua voz a todos, sejam potências mundiais ou minorias, é necessária uma intervenção económica que tenha em conta preocupações ambientais, sociais e de governação.

Neste sentido surgem as finanças sustentáveis ou, como comummente dito, “green finance”. As finanças sustentáveis, no sentido político da União Europeia (UE), são entendidas como o financiamento que promove o desenvolvimento económico, ao mesmo tempo que reduz os encargos ambientais e, ainda, tem em conta os aspetos sociais e governamentais. Para além disso, também exigem a divulgação dos riscos associados às variáveis ASG (Ambiente, Social e Governação), que podem vir a ter impacte no sistema financeiro, atuando na mitigação dessas ameaças por meio de uma logística eficaz dos atores financeiros e corporativos.

Posto isto, o incentivo à adoção de visões como as que se exprimem no conceito de “green finance” é, cada vez mais, fundamental numa economia que se ambiciona ser sustentável e circular.

O papel crucial das finanças sustentáveis inicia-se com a mobilização dos recursos necessários à conquista dos objetivos políticos de acordos (como o Acordo Verde Europeu) e compromissos internacionais da UE. Estas mobilizações acabam por colaborar ao garantir que os investimentos promovem uma economia resiliente e, também, dada a situação atípica atual, intervém em termos de uma recuperação sustentável perante os efeitos da pandemia COVID-19.

O financiamento sustentável a nível da UE procura promover a realização dos objetivos do Acordo Verde Europeu (política de desenvolvimento que visa tornar a Europa no primeiro continente neutro ao clima até 2050), canalizando o investimento privado como suplemento do dinheiro público para a transição de uma economia neutra e resiliente em termos de clima, eficiente em termos de recursos e justa. As adversidades surgem quando é exigido capital que ultrapassa a capacidade do setor público. Por isso, a UE aloca a ajuda necessária para a atração de tais investimentos, sendo o setor financeiro um interveniente indispensável dado que através dele é possível:

·       Reorientar o investimento nas empresas para a aposta em tecnologias mais sustentáveis;

·       Financiar o desenvolvimento a longo-prazo de forma sustentável;

·     Contribuir para o desenvolvimento de uma economia com baixas emissões de carbono, sustentável e circular para o meio ambiente.

Dada a popularidade desta prática nos dias de hoje, os investidores estão cada vez mais determinados: o dinheiro encontra-se em qualquer tipo de ativo que seja verde ou sustentável. De acordo com o último relatório lançado pela Global Sustainable Investment Alliance, em 2018, pelo menos US$30,7 triliões de fundos são mantidos para investimentos sustentáveis.


Figura 1 – Um novo mercado verde. Dívida sustentável emitida, por tipo de instrumento (em US$)


Fonte: Bloomberg Finance

A emissão global de obrigações verdes era inferior a 1.000 milhões de euros em 2008, atingindo em 2017 o valor de 120.000 milhões de euros.

A 14 de janeiro do presente ano, a Comissão Europeia apresentou o Plano Europeu de Investimento do Acordo Verde, como parte do próprio Acordo Verde, que mobilizaria pelo menos 1 trilião de euros em investimentos sustentáveis na próxima década.

Inclusive, neste mês de dezembro foi noticiado que a partir de 2021 o Banco Central Europeu passará a aceitar obrigações verdes como garantia nos seus programas de compra e refinanciamento. Ainda a nível europeu, existe o exemplo das empresas suecas destacadas pela enorme percentagem de emissão de dívida verde. Em 2019, os títulos sustentáveis denominados em krona (coroa sueca) representaram 20% da emissão total, ultrapassando as participações dos Estados Unidos da América e Reino Unido.

Em Portugal, os passos para a sustentabilidade são largos e um exemplo deste trajeto é a EDP Renováveis, considerada, recentemente, uma das 50 empresas mais sustentáveis do mundo no índice GCX de uma lista elaborada pela Boersen AG.

E, então? Será o futuro do investimento sustentável? A resposta não é certa, mas a sustentabilidade associada às finanças é uma parte essencial do porvir. A probabilidade do setor financeiro se tornar um parceiro fiel deste novo mundo de investimentos é enorme, onde uma economia circular e conservadora é promovida e conciliada com riqueza, criação de emprego e bem-estar.

 

Francisca Gomes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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