Ao ligar a televisão, as notícias retratam manifestações e, ao abrir um jornal, somos invocados para referências ao nível da economia sustentável. Num mundo onde é cada vez mais significativa a presença de indivíduos ou comunidades ativistas que ambicionam levar a sua voz a todos, sejam potências mundiais ou minorias, é necessária uma intervenção económica que tenha em conta preocupações ambientais, sociais e de governação.
Neste
sentido surgem as finanças sustentáveis ou, como comummente dito, “green
finance”. As finanças sustentáveis, no sentido político da União
Europeia (UE), são entendidas como o financiamento que promove o
desenvolvimento económico, ao mesmo tempo que reduz os encargos ambientais e,
ainda, tem em conta os aspetos sociais e governamentais. Para além disso,
também exigem a divulgação dos riscos associados às variáveis ASG (Ambiente,
Social e Governação), que podem vir a ter impacte no sistema financeiro,
atuando na mitigação dessas ameaças por meio de uma logística eficaz dos atores
financeiros e corporativos.
Posto
isto, o incentivo à adoção de visões como as que se exprimem no conceito de “green
finance” é, cada vez mais, fundamental numa economia que se ambiciona ser sustentável
e circular.
O
papel crucial das finanças sustentáveis inicia-se com a mobilização dos
recursos necessários à conquista dos objetivos políticos de acordos (como o
Acordo Verde Europeu) e compromissos internacionais da UE. Estas mobilizações
acabam por colaborar ao garantir que os investimentos promovem uma economia
resiliente e, também, dada a situação atípica atual, intervém em termos de uma
recuperação sustentável perante os efeitos da pandemia COVID-19.
O
financiamento sustentável a nível da UE procura promover a realização dos
objetivos do Acordo Verde Europeu (política de desenvolvimento que visa tornar
a Europa no primeiro continente neutro ao clima até 2050), canalizando o
investimento privado como suplemento do dinheiro público para a transição de
uma economia neutra e resiliente em termos de clima, eficiente em termos de
recursos e justa. As adversidades surgem quando é exigido capital que
ultrapassa a capacidade do setor público. Por isso, a UE aloca a ajuda
necessária para a atração de tais investimentos, sendo o setor financeiro um
interveniente indispensável dado que através dele é possível:
· Reorientar
o investimento nas empresas para a aposta em tecnologias mais sustentáveis;
· Financiar
o desenvolvimento a longo-prazo de forma sustentável;
· Contribuir
para o desenvolvimento de uma economia com baixas emissões de carbono,
sustentável e circular para o meio ambiente.
Dada
a popularidade desta prática nos dias de hoje, os investidores estão cada vez
mais determinados: o dinheiro encontra-se em qualquer tipo de ativo que seja
verde ou sustentável. De acordo com o último relatório lançado pela Global
Sustainable Investment Alliance, em 2018, pelo menos US$30,7 triliões de
fundos são mantidos para investimentos sustentáveis.
Figura
1
– Um novo mercado verde. Dívida sustentável emitida, por tipo de instrumento
(em US$)
Fonte: Bloomberg Finance
A
emissão global de obrigações verdes era inferior a 1.000 milhões de euros em 2008,
atingindo em 2017 o valor de 120.000 milhões de euros.
A
14 de janeiro do presente ano, a Comissão Europeia apresentou o Plano Europeu
de Investimento do Acordo Verde, como parte do próprio Acordo Verde, que
mobilizaria pelo menos 1 trilião de euros em investimentos sustentáveis na
próxima década.
Inclusive,
neste mês de dezembro foi noticiado que a partir de 2021 o Banco Central Europeu
passará a aceitar obrigações verdes como garantia nos seus programas de compra
e refinanciamento. Ainda a nível europeu, existe o exemplo das empresas suecas
destacadas pela enorme percentagem de emissão de dívida verde. Em 2019, os
títulos sustentáveis denominados em krona (coroa sueca) representaram
20% da emissão total, ultrapassando as participações dos Estados Unidos da América
e Reino Unido.
Em
Portugal, os passos para a sustentabilidade são largos e um exemplo deste
trajeto é a EDP Renováveis, considerada, recentemente, uma das 50 empresas mais
sustentáveis do mundo no índice GCX de uma lista elaborada pela Boersen AG.
E,
então? Será o futuro do investimento sustentável? A resposta não é certa, mas a
sustentabilidade associada às finanças é uma parte essencial do porvir. A probabilidade
do setor financeiro se tornar um parceiro fiel deste novo mundo de
investimentos é enorme, onde uma economia circular e conservadora é promovida e
conciliada com riqueza, criação de emprego e bem-estar.
Francisca
Gomes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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