A cada segundo que passa, surge mais uma
invenção tecnológica. Apesar de falar numa questão de segundos poder, à
partida, parecer uma hipérbole, a verdade é que se olharmos para a realidade de
há 15 anos no que concerne às tecnologias disponíveis, vemos que muito mudou.
Contudo, a dúvida que persiste é se a rápida transição para esta nova era digital,
a que temos assistido nos últimos anos, trará benefícios suficientes que nos
permitam ignorar descaradamente os malefícios causados.
Não
existem quaisquer dúvidas de que o advento da tecnologia nos tem permitido
derrubar barreiras nunca desmoronadas: encurtou distâncias outrora demasiado
grandes; melhorou a eficiência de muitos serviços prestados; capacitou as
sociedades com mais ferramentas, sobretudo úteis em situações extremas, como a pandemia
que atualmente vivemos; entre muitos outros benefícios.
Nunca
foi tão fácil e rápido aceder ao que precisamos. Na verdade, no que a Portugal
diz respeito, com apenas um clique, podemos encomendar comida sem sair de casa,
criar conta num banco ou gerir a já existente a partir do conforto do nosso sofá,
tratar das Finanças e da Segurança Social sem enfrentar longos períodos de
espera, fazer uma consulta médica por videochamada, evitando deslocações
desnecessárias e novos contágios.
Contudo,
sendo muito comum que, a acompanhar as incríveis consequências de algo, existam
sempre aspetos negativos, quais são os malefícios, frequentemente esquecidos,
de tal evolução? A rapidez do desenvolvimento tecnológico e da transição para
uma era onde (quase) tudo pode ser feito usando as tecnologias de informação e
comunicação veio acentuar, ainda mais, as desigualdades que já existiam. Apesar
de estarem facilmente disponíveis, as tecnologias continuam a não ser
acessíveis para aqueles cuja capacidade financeira, tantas vezes insuficiente para
promover uma vida digna e confortável, não estica.
Desta
forma, a digitalização de grande parte dos serviços implica uma maior
desigualdade no acesso aos mesmos, tal como foi exemplo, em Portugal, a
transição para o ensino à distância, que, apesar de ser imperativamente
necessária, acentuou a incapacidade de muitos alunos acompanharam as aulas por
não possuírem os meios necessários para tal.
Estas
desigualdades, porém, não surgem apenas da menor capacidade financeira dos
indivíduos, já que o uso das tecnologias pressupõe, igualmente, que quem as
utilize possua os conhecimentos para tal. Contudo, se para aqueles que
cresceram com estes desenvolvimentos pode ser fácil acompanhar a evolução, o
mesmo pode não se verificar com os que viveram mais de metade da sua vida sem a
existência destas tecnologias. Não querendo, de todo, afirmar que as
dificuldades no uso de tecnologias são homogéneas e específicas a determinada faixa
etária, considero ser irrealista acreditar que a adaptação a esta nova
realidade será somente difícil para uma proporção insignificante da população.
Assim, convergindo para a questão inicialmente apresentada, deveremos deixar de investir na inovação tecnológica ou parar a transição para a era da digitalização? Do meu ponto de vista, a resposta é obviamente negativa, até porque todos nós (não só a nível individual, mas também enquanto sociedades) beneficiamos profundamente com esta nova realidade. A utopia, a meu ver, é considerar que esta transição pode ocorrer de um dia para o outro e que tal não impactará negativamente uma percentagem significativa da população, nem acentuará as graves desigualdades que já existem.
Beatriz Costa Azevedo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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