Quem não gosta de ir de férias, sair do sítio onde passamos o dia-a-dia e conhecer novos lugares? Acredito que a resposta a esta questão é bastante óbvia e a maioria das pessoas gosta de sair da sua zona de conforto e explorar novos locais!
Na verdade, temos registado um aumento acentuado do
turismo desde a Revolução Industrial e Portugal não é exceção. Mas será que o
turismo é sempre igual?
Podemos distinguir aquele turista que prefere explorar a
cidade daquele que prefere o sol e a praia, daquele que prefere a calma do
campo, a tradição e o contacto com a Natureza, entre outros. É este último
ponto que irei desenvolver ao longo deste texto.
O turista rural distingue-se dos outros pois procura
experiências relacionadas com os espaços rurais, que conservam as caraterísticas
primordiais, a gastronomia e os modos de vida e de pensamento das comunidades
rurais. Assim, este tipo de atividade engloba as Casas de Campo, o Turismo de
Aldeia, o Agroturismo e os Hotéis Rurais.
Todavia, é preciso ter “cuidado” no desenvolvimento deste
tipo de turismo, quer a nível económico quer a nível ambiental, e zelar para
que este se desenvolva de forma sustentável. No caso do Turismo em Espaço Rural
(TER), este pode representar uma solução para a resolução de crises que afetam
as áreas rurais através do desenvolvimento endógeno, ou seja, ser o próprio
meio rural a iniciar o seu processo de desenvolvimento, baseando-se nos
conhecimentos das empresas regionais e dos habitantes. Este tipo de turismo
promove a conservação do ambiente, a reabilitação do património e o aumento do
emprego nas zonas rurais.
Em Portugal, temos vindo a assistir a um incremento na procura do TER, principalmente desde 2014, como é possível verificar pelo gráfico abaixo descrito. Por exemplo, em apenas 5 anos (entre 2014 e 2019) o número de dormidas aumentou em 1109049.
Mais ainda, observamos que, em 2019, há mais pessoas a
recorrer ao turismo rural em Portugal Continental do que nas ilhas e que as
Casas de Campos são o tipo de estabelecimento de TER com taxas de ocupação
maiores.
Atentos à crescente procura do TER, os proprietários deste tipo de turismo têm vindo a aumentar tanto o número de estabelecimentos como o número de quartos por estabelecimento. Por exemplo, no ano passado, o número de quartos nos estabelecimentos perfez um total de 11992.
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística, a percentagem de dormidas nos estabelecimentos de TER, em 2008, para o Continente, correspondia a 29,4%, para a Região Autónoma dos Açores, a 41,7%, e para a Região Autónoma da Madeira, a 6,4% do valor total das dormidas. Já em 2019, para o Continente, para a Região Autónoma dos Açores e para a Região Autónoma da Madeira esses valores eram de 87,4%, 86,3% e 94,9%, respetivamente. Ou seja, registou-se um crescimento das dormidas em contexto de turismo rural, principalmente nas regiões autónomas.
Fonte/Entidades: INE
Em 2003, verificamos que a maior parte dos turistas que
optavam pelo TER eram estrangeiros (55,1%), sobretudo vindos do Reino Unido,
França, Alemanha, Espanha e Holanda (correspondendo a 75% das dormidas de
estrangeiros).
No entanto, nem tudo é um “mar de rosas” para o setor do
turismo e este enfrenta um problema de sazonalidade, ou seja, há muita procura
em certos períodos do ano e nos restantes meses a procura é bastante reduzida.
Dados de 2003, mostram que o TER não é exceção e entre julho e setembro há
muita procura (as taxas de ocupação estão acima dos 20%) e em janeiro,
fevereiro, novembro e dezembro a taxa de ocupação corresponde a menos de 10%.
Como podemos confirmar pelo gráfico abaixo designado, em 2019, foi reportada a
mesma situação.
Para contornar esta problemática, as empresas “poupam”
aquilo que ganham no verão para depois, no inverno (época de procura mais
baixa), conseguirem fazer face às despesas.
Com a COVID-19, o setor do turismo assistiu a uma mudança
de paradigma, em 2020: segundo o presidente do turismo do Porto e do Norte de Portugal,
os turistas foram maioritariamente portugueses (cerca de 80%) e preferiram o
interior do país, sendo que o turismo rural passou a ser o mais procurado
(creio que isto aconteceu pois as pessoas quiseram evitar o contacto social e
apostaram na calma da natureza). Todos os estabelecimentos foram obrigados a
repensar as estratégias de forma a cumprir com as medidas de segurança. Por
exemplo, no caso do TER, a redução da capacidade oferecida rondou os 46,7%.
Na minha opinião, o impacte da COVID-19 no TER foi
positivo já que, este ano, incentivou mais pessoas (algumas das quais que até então
desconheciam o TER) a optar por este tipo de turismo. Considero que, provavelmente,
grande parte destas pessoas continuarão a procurar o turismo rural nos próximos
anos.
Apesar desta situação ser favorável ao TER, devemos
continuar a apostar em medidas que promovam o Turismo em Espaço Rural pois
todos temos interesse em preservar o património, a cultura, a tradição, a
gastronomia, entre outros…
Do meu ponto de vista, as soluções passam por: uma gestão
descentralizada ou uma redução na dependência financeira e material dos
governos, já que a chave para o desenvolvimento assenta na própria comunidade e
na sua inovação; por um maior investimento por parte, principalmente, da União
Europeia e das autarquias locais; pelo incremento das atividades de
entretenimento, por parte dos estabelecimentos de TER; e, por fim, por uma
maior oferta pública e privada que permita uma maior exploração do potencial
deste tipo de mercado.
Em suma, podemos concluir que o turismo rural constitui
um gerador de emprego e rendimento, mas é necessário o seu desenvolvimento
sustentável e que a sua promoção retire o maior proveito dos recursos
turísticos do território. É, ainda, fulcral que os proprietários do TER prestem
atenção às necessidades dos consumidores de forma a retirar o maior
aproveitamento deste tipo de mercado turístico.
Sofia Pereira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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