A
indústria corticeira em Portugal surgiu em meados do século XIX, inicialmente
com pequenas instalações dedicadas ao fabrico manual de rolhas cilíndricas,
distribuídas especialmente no Sul do País. A cortiça é um material cujas
referências históricas como produto de exportação para o Reino Unido e para
Flandres remontam ao século XIV. Este material era utilizado, sobretudo, como
artefacto flutuante, para a produção de aparelhos de pesca e também como
vedante, para a produção de rolhas que serviriam para o engarrafamento de
vinhos. Contudo, foi após a Primeira Guerra Mundial que se assistiu a um grande
desenvolvimento desta indústria, o que contribuiu para que Portugal assegurasse
a liderança da produção mundial de cortiça.
Atualmente, Portugal é ainda líder
mundial na produção e transformação de cortiça, apresentando hoje uma indústria
consolidada. Esta consolidação deve-se ao facto de Portugal ter como vantagem a
sua densa área de sobreiro, concentrando 34% da área mundial de montado de
sobro (isto é, cerca de 736 mil hectares), sendo o Alentejo a região que
concentra a maior área de sobreiro nacional (aproximadamente 84%).
Ao
longo dos anos, verificou-se que o uso deste material em produtos foi evoluindo
e que, a cada dia, surge uma nova aplicação para esta matéria-prima com
qualidades bastante peculiares, que a tornam única. Além disso, este setor
assume uma posição de relevo também no contexto da economia nacional,
nomeadamente pelo nível das exportações, pelo volume de emprego associado
(direto ou indireto) e pela sua importância para o funcionamento económico de
algumas zonas específicas.
A
relevância do setor da cortiça é inquestionável em diferentes dimensões, tais
como a sustentabilidade ambiental e a importância económica e histórica, sendo
este um dos principais produtos exportados pelo país. Além disso, estima-se que
cerca de 54% da produção mundial de cortiça é realizada por Portugal e, segundo
dados atuais, o setor corticeiro português emprega diretamente cerca de 15000
indivíduos no setor fabril e cerca de 6500 na sua extração e manuseamento,
existindo cerca de 1100 estabelecimentos fabris. Desta forma, Portugal assume a
primeira posição na produção mundial de cortiça, sendo que este setor contribuí
para, aproximadamente, 3% do PIB nacional.
Este
setor destaca-se, em Portugal, por ser a única atividade com capacidade para
liderar no mercado externo, bem como pela sua rendibilidade no comércio
externo. Assim, cerca de 90% do material corticeiro produzido em Portugal é
exportado, sendo os principais importadores dos produtos corticeiros
portugueses a Alemanha, a França e os Estados Unidos da América. Importa ainda
referir que as rolhas de cortiça representam 60% do total das exportações,
tornando-se o principal produto desta indústria. No entanto, os recentes e
inovadores produtos construídos a partir deste material, nomeadamente na área
da construção, têm vindo a ganhar ênfase no mercado internacional e já
representam 15% do total das exportações. São exemplos de outros produtos em
que a cortiça pode ser aplicada: o calçado, o vestuário, louças, móveis, entre
outros.
Henrique
Martins, Presidente da APCOR (Associação Portuguesa de Cortiça) refere que “os
industriais corticeiros portugueses se têm esforçado para acompanhar o
desenvolvimento e a modernização constante – não há nenhum setor que tenha
evoluído, nos últimos anos, tanto quanto nós”. Ainda assim, importa ressalvar
que este setor pode evoluir, sendo um dos que tem maior capacidade de desenvolvimento,
dada à sua diversa gama de produtos e a sua crescente procura. Isto porque a
indústria corticeira portuguesa é líder mundial, não só a nível de produção e
de transformação de cortiça mas também de mão-de-obra qualificada e de
inovadora tecnologia, sendo o país impulsionador de inovações e novas
alterações no processo produtivo neste setor.
Em
suma, este setor constitui uma oportunidade para a construção de uma imagem
positiva de Portugal, contrariando a ideia de que o país está preso ao passado
e permitindo também demonstrar a sua dinâmica empresarial e o rumo que Portugal
tem estado a tomar em termos de inovação e de desenvolvimento. Além disso, a
criação de incentivos neste setor poderia ser vantajosa, dado que o incentivo à
criação de mais empresas e a aposta na formação dos trabalhadores são medidas
que poderiam tornar a indústria corticeira, em Portugal, ainda mais dinâmica e
competitiva.
Marta Navio dos Santos Costa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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