Falando da realidade da agricultura portuguesa e da competitividade internacional do setor, é sabido este é um setor que apresenta algumas condicionantes que não lhe permitem ser mais competitivo em relação ao estrangeiro. Alguns desses fatores são físicos, como o clima, o relevo, a fragmentação das terras, disponibilidade dos recursos hídricos, mas também fatores humanos, como os contrastes da densidade ou as caraterísticas da população agrícola portuguesa, pelo que muitas perguntas se fazem acerca da nossa capacidade competitiva quando comparada com outros países da UE.
Em 2019, foi verificado
que apenas 2,5% dos gestores de explorações têm educação completa,
comparativamente com 9,1% da EU. Adicionalmente, temos uma população agrícola envelhecida,
em que a maior parte dos agricultores tem mais de 45 anos, cerca de 72,8% das
explorações são muito pequenas, sendo que 94% das explorações são familiares e
muitos dos agricultores não trabalham a tempo inteiro na agricultura. No
entanto, nem tudo é negativo: cerca de 30% dos gestores de explorações são
mulheres, estando acima da média de 28% da UE e apesar do setor representar
cerca de 8,4% do emprego atual, o que é um número considerável.
Por outro lado, o setor
agrícola tem dado passos na direção certa: entre 2013 e 2017, o número de
empresas do setor da agricultura e das pescas cresceu cerca de 31%, sendo o
ritmo da criação de empresas na agricultura e pescas mais de quatro vezes o de
todas as atividades económicas. O produto agrícola bruto em valor, medido pelo
valor acrescentado bruto a preços no produtor correntes, cresceu 4,6% em 2019
em relação a 2018, evolução esta que foi, também, bastante mais elevada do que
a verificada, em média, na última década (+1,9%). No que diz respeito ao
rendimento do sector agrícola naciona, medido pelo valor acrescentado bruto a
custo de fatores e a preços correntes, a variação entre 2018 e 2019 foi de
(+4,8%), mais positiva do que a verificada, em média, na última década (+2,1%).
É também importante destacar que, em 2019, as exportações da agricultura,
floresta e indústrias conexas representaram cerca de 20% do total de
exportações de bens do país.
Mas a agricultura
portuguesa afinal é ou não um setor competitivo? Quando nos debatemos com esta
pergunta, devemos ter presentes se estamos a falar numa vertente internacional
ou nacional. Em termos internacionais, penso que a resposta é óbvia para a
maioria: não temos um setor competitivo. As condicionantes do nosso país acima
mencionadas, bem como o dimensão reduzida do nosso país e o nosso atraso
tecnológico e em processos produtivos são fatores demasiado condicionantes para
podermos afirmar que o nosso setor agrícola é competitivo. No entanto, isto não
impede a nossa competitividade pontual em alguns produtos, como é o caso de
sucesso do azeite, da polpa de tomate, da cortiça e do vinho do Porto, entre
outros produtos que o nosso país consegue produzir com qualidade e em
quantidade suficiente para exportar.
Já em termos nacionais,
temos assistido nos últimos tempos a alguns indicadores positivos: a
agricultura biológica e a aposta em produtos certificados é algo cada vez mais
corrente, produtos estes que estão mais valorizados a nível nacional e nos
mercados estrageiros. Vemos também que a população agrícola se tem
rejuvenescido e que este setor tem crescido de maneira contínua nos últimos
anos e que, mesmo com a crise sanitária que atravessamos, a produção não tem
sofrido quedas, até porque, apesar da pandemia, as pessoas continuam a ter que
consumir produtos agrícolas.
De forma a aumentar a competência
e a sustentabilidade agrícola, é importante investir nas regiões deprimidas e nas
pequenas explorações. Além disso, nos próximos anos, ao abrigo de programas
comunitários, irá existir uma alavanca financeira muito expressiva e estes
recursos deverão servir para se fazerem investimentos onde for necessário e
continuar a investir na modernização do setor. Estes fundos devem ser
estrategicamente utilizados, já que vale a pena relembrar que, após a pandemia,
o setor agrícola irá possivelmente passar para segundo plano visto que a
preocupação do Estado estará voltada para os setores mais afetados. São
necessárias reformas da PAC, como as políticas que dão apoios em função da
dimensão dos terrenos e a implementação de metas concretas. Deve-se continuar a
apostar na formação e no rejuvenescimento dos agricultores, que são o futuro do
setor.
Em suma, embora o setor
agrícola esteja gradualmente a tornar-se mais competitivo nacionalmente, no
plano internacional este setor fica ainda muito aquém do necessário e, dados os
problemas crónicos deste setor (falta de escoamento e baixos preços na
produção) e as caraterísticas do nosso país, as expetativas para os próximos
anos não são de convergência.
Augusto
Bernardes Espinosa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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