O envelhecimento demográfico, em Portugal, é uma problemática que há muito tempo é conhecida por todos nós, tornando-se consensual que é necessária uma atuação nessa área que vise inverter esta realidade.
Segundo David Bloom, professor da
Universidade de Harvard e demógrafo norte-americano, Portugal terá mais
cidadãos dependentes do que a trabalhar e o peso dos cidadãos com mais de 65
anos poderá representar cerca de 30% da população até 2050. Consequentemente,
isto irá ter um impacte no futuro económico português que tem vindo a ser
fortemente pressionado por esta problemática, sendo que o envelhecimento da
população é considerado o maior problema demográfico e é um cenário quase transversal
a todos os países desenvolvidos.
De
acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), ao longo dos anos tem-se
verificado aumentos significativos no índice de envelhecimento, como se pode
verificar no gráfico 1, e é ainda possível afirmar que, em 2019, para cada 100
jovens existiam 163,2 idosos. Isto acontece, maioritariamente, graças à
diminuição da natalidade, à emigração dos mais jovens e ao aumento da esperança
média de vida, que é uma consequência das crescentes melhorias no que diz
respeito à área da saúde.
Tal
como já foi referido, esta problemática prende-se muito com a fraca natalidade
que se verifica em Portugal, que não é suficiente para ultrapassar as questões
associadas ao envelhecimento. Assim, de acordo com o INE, em 2019, 42,2% das
mulheres dos 18 aos 49 anos e 53,9% dos homens dos 18 aos 54 anos não tinham
filhos. Relativamente ao ano 2013, e fazendo uma breve comparação, verifica-se
que estas percentagens apresentavam valores mais reduzidos, de 35,3% e 41,5%,
respetivamente. Além disso, observou-se uma diminuição do número médio de
filhos, de 2013 para 2019, de mulheres e de homens, passando de 1,03 para 0,86
filhos.
Gráfico 1 - Evolução do Índice de Envelhecimento de 2011 a 2019. Fonte: INE
Isto
acontece, segundo a opinião do economista Ricardo Arroja, porque “Portugal não
é um país especialmente acolhedor para as famílias com filhos que vivem de
rendimentos de trabalho”, por várias razões. Primeiramente, o economista aponta
a dificuldade em conciliar o trabalho e a vida familiar. Em segundo lugar, o
valor das propinas de berçários e de creches privadas, e às quais o Estado não
faculta oferta pública, é impossível de suportar por muitas famílias,
tornando-se o nascimento de uma criança um custo de oportunidade difícil de
suportar. Além disso, refere ainda, em termos de educação, que as carências do
ensino público básico e secundário preocupam as famílias cuja escolha está
limitada ao ensino público. Em último lugar, destaca que, para as famílias que
são contribuintes líquidos de IRS, o facto de o quociente conjugal do IRS não
acomodar minimamente o acréscimo de uma despesa que uma criança representa no
orçamento familiar pode vir a tornar-se um entrave à natalidade.
Assim,
existe uma crescente necessidade de dar resposta a esta problemática para se
começar a contornar os efeitos nefastos que tem vindo a ter na economia,
nomeadamente, a nível de sustentabilidade da segurança social, bem como a nível
de despesas públicas no setor da saúde. Contudo, alguns economistas acreditam
que é preciso implementar medidas diferentes daquelas a que se tem vindo a
assistir, já que, tal como refere David Bloom, “não temos exemplos históricos
de como lidar com o envelhecimento da população” dado que esta problemática tem
vindo a atingir valores históricos. Acredita-se, então, que a resposta irá ter
de passar por políticas públicas, apoiadas no desenvolvimento da tecnologia e
da medicina, que visem o envelhecimento ativo, a independência física, económica
e social dos mais velhos e, também, uma maior aposta na saúde, através da
prevenção e do diagnóstico precoce.
Posto
isto, torna-se importante questionarmo-nos em que medida esta realidade irá ter
repercussões nas nossas vidas, mais concretamente na economia portuguesa, nos apoios à
natalidade, no atual modelo da segurança social e, consequentemente, nas
reformas dos atuais jovens, entre outros fatores, para se tentar encontrar
soluções que sejam eficazes e que tenham impacte positivo no curto-prazo. Em
suma, na minha opinião, sem a implementação de um modelo económico que permita
que as economias diminuam os seus endividamentos pode afirmar-se que a
sociedade de hoje poderá deixar aos de amanhã um futuro hipotecado.
Marta
Navio dos Santos Costa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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