A abolição de
barreiras à mobilidade laboral, através do Tratado da União Europeia de 1992,
representou um notável avanço na circulação de cidadãos dos estados-membros, o
que impulsionou a criação de uma nova geração multicultural Europeia.
É possível caraterizarmos
a mobilidade laboral como a mudança do espaço físico (mobilidade geográfica) e
do tipo de trabalho (mobilidade ocupacional) de um indivíduo, estando esta
porém sujeita a uma variedade de situações de elevada complexidade. Desta
forma, foram desenvolvidas diversas regulamentações e políticas para esta
iniciativa de movimento, na qual destaco o European
Employment Services (EURES), uma rede criada em 1994 pela Comissão Europeia
para facilitar a livre circulação de trabalhadores. Incorporado nesta rede,
existe o serviço de regiões transfronteiriças, que pretende prestar apoio e disponibilizar informação
necessária a quem necessita.
Os
desenvolvimentos mais recentes confirmam que a mobilidade Intra-EU continua em
crescimento. Em 2018, existiam 17,6 milhões de cidadãos EU-28 deslocados da sua
área de origem, sendo que 12,9 milhões pertenciam à população ativa (20-64
anos). Adicionalmente, foram registados cerca de 1,5 milhões de trabalhadores
transfronteiriços no mesmo ano.
Segundo o Relatório anual de 2019 sobre a mobilidade
laboral Intra-EU, em 2018 os principais destinos de referência foram a
Alemanha e Reino Unido, que, em conjunto, acolhiam mais de 50% das mobilidades,
seguidos da Espanha, Itália e França, com um quarto dos cidadãos a optar por aí
residir. Por sua vez, Roménia, Polónia, Itália, Portugal e Bulgária permaneciam
com o estatuto de países predominantemente emissores. O relatório sugere ainda
que, na maioria dos Estados-membros, os indivíduos da EU-28 em mobilidade
laboral têm uma menor probabilidade de se encontrar desempregados do que
aqueles que permanecem no seu país de origem, e as áreas de emprego mais
procuradas foram a manufatura, o comércio, a construção e os serviços de
alojamento e de alimentação.
Olhando
atualmente para o contexto Europeu, é indiscutível a importância da mobilidade.
Este fenómeno potencializou uma alocação mais eficiente do trabalho,
impulsionou as diferentes economias, cultivou a troca de conhecimentos,
permitiu diminuir as taxas de desemprego e dar melhores condições aos
indivíduos que não arranjavam trabalho no seu país, entre outros. Na minha
perspetiva, a livre circulação de pessoas representa não só a oportunidade de
um maior desenvolvimento de aptidões dos cidadãos e crescimento do emprego mas,
também, o aumento da competitividade no mercado e a sua diversidade.
No entanto, a
mobilidade laboral prende-se ainda com questões de direitos sociais, pouca
integração no mercado, opinião pública negativa, menor coesão social, condições
de trabalho menos favoráveis e exploração. Com o aumento significativo da
mobilidade dentro da União, fomentou-se um maior debate sobre as suas
consequências, sendo inclusive exigidas medidas restritivas na gestão do
movimento livre e conceção de benefícios a cidadãos de outros Estados-membros.
Este debate tomou maiores proporções no Reino Unido, que após a realização de
um referendo, a junho de 2016, saiu da UE. Observando estes comportamentos,
podemos considerar que o mercado de trabalho está mais segmentado, com maior
instabilidade e as condições providenciadas são cada vez mais precárias e
restritas.
Observando a
realidade em que nos encontramos, acredito que muitos esforços podem ser feitos
para potencializar a mobilidade, sem comprometer a diversidade e o bem-estar
social. Devido à falta de harmonia, considero ser importante repensar as
políticas de integração, através da elaboração de programas a nível local e
cursos linguísticos. Salvaguardar o princípio da livre circulação deverá ser
uma prioridade na agenda, com a definição de padrões e normas a seguir, de
forma a garantir a proteção dos direitos dos trabalhadores entre todos os
Estados-membros.
Vera Araújo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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