quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Indústria da cortiça em Portugal (versão revista)

          A importância do setor da cortiça na economia portuguesa é inegável. Este setor apresenta uma forte componente exportadora, que contribui para a competitividade e o crescimento da economia portuguesa e cujas atividades vão desde a extração, transformação e à comercialização da cortiça.

          Como sabemos, a cortiça tem origem na casca dos sobreiros, sendo que 34% da área mundial do montado de sobro se localiza em Portugal (maioritariamente no Alentejo), o que corresponde a uma área de 720 mil hectares e a 23% da floresta nacional, permitindo que Portugal lidere na produção, transformação e exportação desta matéria-prima, com produtos com elevado valor acrescentado.

          Das empresas do setor da cortiça, que estão divididas em diversas atividades económicas, as que predominam são as que fabricam rolhas, uma vez que um dos principais destinos dos produtos de cortiça é a indústria vinícola. Outro subsetor que também se destaca é o da preparação da cortiça, seguido pelo fabrico de outros produtos desta matéria prima, nomeadamente para a construção civil, decoração e isolamento.

A tendência de crescimento deste setor pode verificar-se na balança comercial da fileira de cortiça, que tem apresentado sempre um saldo positivo e crescente, e no valor das exportações de Portugal, desde 2011 até 2018, que apresenta um crescimento anual médio de 4,5%, já que 2018 foi considerado um ano marcante para o setor, sendo ultrapassados os mil milhões de euros no valor global das exportações. Esta evolução das exportações de cortiça é estimulada não só pelo uso progressivo da rolha de cortiça na vedação das garrafas de vinho, em todo o mundo, como também na sucessiva utilização desta matéria prima no setor da construção civil.

          Deste modo, Portugal é o maior exportador mundial de cortiça, exportando para mais de 130 países, dominantemente europeus. De seguida, encontram-se Espanha e França, embora estejam, ainda assim, bastante distantes em termos monetários e percentuais. As exportações de cortiça representam 2%, em termos globais, das exportações de bens portugueses, e cerca de 1% nas exportações totais portuguesas. Além disso, Portugal é o terceiro maior importador mundial de cortiça, a qual é utilizada para transformação e posterior exportação sob a forma de produtos de consumo final.

          Nos dias de hoje, enfrentamos uma crise sanitária mundial, crise esta que, para além de prejudicar a saúde da comunidade, também está a causar danos muito graves a nível económico. O setor da cortiça não é imune a estes danos e verificam-se perdas significativas nesta indústria, uma vez que as medidas de prevenção, como o encerramento de lojas e as reduções salariais, retraíram o seu consumo.

Em suma, este é um setor que, nas últimas décadas, tem registado um crescimento económico contínuo, demonstrando-se uma mais valia nacional, liderando a produção, transformação e exportação de cortiça. Sendo este um setor de mérito em Portugal, é importante que se tenha atenção ao impacte da crise pandémica que atravessamos, pois os danos notar-se-ão mais intensamente a longo prazo e é possível que estaremos perante um impacte mais estrutural. Tendo em conta a importância deste setor, é imperativo que o Estado prolongue as medidas e apoios ao longo do tempo, de forma a conter prejuízos.

          Considero ainda que a cortiça terá um papel importante na recuperação económica, coesão social e territorial e no desenvolvimento sustentável do nosso país, uma vez que é um produto natural e ecológico, que substitui, em muitos casos, materiais prejudiciais ao ambiente. É inevitável concluir que esta indústria é de extrema importância para o desenvolvimento da economia, quer pelo lado da produção e do emprego, quer pelo lado das exportações.

 

Daniela Bastos

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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