O valor da nossa privacidade e da segurança dos nossos dados têm vindo a alimentar um negócio de milhões, que se encontra em constante crescimento. A utilização de navegadores de internet nos dias de hoje é maior cerca de 58% nos smartphones do que nos computadores.
Com
base nestes dados, as empresas de smartphones
tem a capacidade de aceder a um conjunto de dados pessoais, como por exemplo
impressões digitais, identificação facial, entre outros, e desta forma podem
utilizá-los para diversos fins, seja para vender ou para desenvolver novos
mecanismos com base nas nossas tendências. A mais recente introdução do
Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD), para além de consciencializar os
utilizadores para a importância dos seus dados, também implementou um maior
rigor no tratamento e proteção dos dados pessoais.
Num
dos livros de Julia Angwin, a autora explica como é que os nossos dados são
recolhidos e qual é a sua importância para a economia de muitas empresas que
trabalham com grandes volumes de dados. Enquanto consumidores, é-nos oferecido
algo em troca dos nossos dados, um pequeno brinde, por exemplo, acesso a um
conteúdo, ou a utilização completa de um serviço.
O
valor dos nossos dados está diretamente comprometido pelos sistemas de
informação desenvolvidos e algoritmos de big data, que têm vindo a
evoluir e torna-se mais comum criar perfis de utilizadores, e até mesmo prever
alguns dos comportamentos dos clientes utilizando apenas dados casuais e
aleatórios. Uma das principais empresas na área de marketing inteligente, a International Data Corporation (IDC),
prevê que o negócio de dados a nível mundial possa passar de 130 mil milhões de
euros, em 2016, para 200 mil milhões de euros, em 2020.
Um
dos termos mais extremistas relacionado com a manipulação de dados, um termo
inventado por um escritor do New York Times, David Brooks, designa-se de
dataismo. Na sua visão, o dataismo representa algo fortemente
negativo associado à evolução tecnológica, onde o ser humano é desumanizado, e
passa a ser visto como um agente económico, julgado pelas suas opções, pelas
suas escolhas e pelas suas opiniões, em que estas devem ir sempre de encontro
ao lucro e à eficiência.
Por
outro lado, Rothblatt apresenta uma visão bem mais otimista, o transumanismo,
em que a natureza humana poderá prevalecer para além da morte física apenas se
formos capazes de preservar a essência do nosso intelecto e dos nossos
sentimentos.
Entre
estas duas visões, uma bastante pessimista e outra um pouco mais otimista, com
o avançar das tecnologias, estas ideias começam a ter um maior impacte na nossa sociedade e,
eventualmente, vão surgir até ideias mais complexas. Nos dias que correm, o
direito à privacidade é fundamental e, na minha opinião, deveria haver um
cuidado acrescido no que toca às leis e normas estabelecidas para o mundo
digital. A nossa informação pessoal tem um poder abismal nas mãos das pessoas
(empresas) erradas, podendo despoletar manipulações sociais, económicas e
políticas, como já tem vindo a acontecer nos últimos tempos.
No
meu ponto de vista, apesar de todos os benefícios associados à análise de
dados, como, por exemplo, benefícios comerciais, técnicas na área da
investigação científica e medicina e evolução de serviços prestados por muitas
organizações, também existe um lado não tão bom, que pode ter um impacte muito
negativo na sociedade a nível mundial. Há dias, vi um documentário relacionado
com este tema, e lembro-me de uma frase que me marcou e sobre a qual tenho
andado a refletir, que é: “Se não está a pagar o produto é porque você é o
produto”.
A
médio prazo, a maior adversidade da proteção de dados e privacidade de dados não
está diretamente relacionada com o custo que lhe é atribuído. A ameaça iminente
é a de o ser humano interiorizar que deve aceitar esta vigilância constante das
suas escolhas e dos seus comportamentos, e começar a autocensurar os seus
pensamentos, e a perder a sua liberdade individual e a sua identidade.
João Davide Figueiredo Martins
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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