Neste
momento, a União Europeia vive uma fase de grande tensão político-social, determinada
pelo aparecimento de alguns movimentos independentistas. Existe muita incerteza
quanto ao futuro: com o Brexit, os
meios de financiamento terão de ser reajustados, os investidores terão de ser
informados quanto aos possíveis riscos dos seus investimentos, a imprensa terá
de consciencializar a população de que poderão estar na iminência tempos de
crise e os governos terão de adotar medidas que salvaguardem a estabilidade do
país, recorrendo a instrumentos de política orçamental e política monetária. A saída
de um país tão influente na Europa, potencialmente provocará uma diminuição da riqueza
europeia.
Inevitavelmente,
o Reino Unido deixará de ser uma prioridade para a União Europeia e, com os
mercados externos a abrandarem, o consumo privado, o investimento direto estrangeiro
e as exportações líquidas dos ingleses irão diminuir significativamente, tendo
essa realidade, de igual modo, um impacte substancial no seu PIB.
Kallum
Pickering, economista do banco Berenberg, estima que menor migração, comércio e
investimento entre o Reino Unido e a Europa continental, devido à saída do
mercado comum, poderia reduzir o crescimento potencial do país em 1,8% por ano.
A verificar-se, essa estatística implicaria uma perda no PIB de cerca de 5,5%
até 2030.
Por
outro lado, a União Europeia teria de lidar com consequências de alto calibre,
logo a começar com uma grande perda de poderio a nível mundial, passando a ser
um parceiro comercial menos atrativo e competitivo. Os impactes nesta dimensão
seriam tão alarmantes que um estudo conduzido na universidade de Birmingham, em
2017, estimou que o comércio internacional europeu, face ao resto do mundo,
sofreria uma queda abrupta de 18,2% caso o Reino Unido saísse da União
Europeia.
Existem
duas soluções para este problema: ou serão os restantes países Europeus a pagar
a riqueza que se perdeu ou poderá recorrer-se aos lucros do Banco Central
Europeu. Caso a primeira medida fosse praticada, a queda dos rendimentos reais
da economia portuguesa rondaria os 0,5%, como forma de contribuição relativa.
Efetivamente,
uma das grandes razões para a intenção de saída do Reino Unido é o facto de que
contribui mais em termos financeiros relativamente àquilo que recebe. Um
sistema de União Europeia reparte os fundos gerados por todos os países
integrantes. Desta forma, essa política favorece os países com economias menos
desenvolvidas, como Portugal e Grécia, que acabam por beneficiar financeira e
economicamente de certas atividades criadas e sustentadas pelos países líderes
da Europa.
Com
uma França desestabilizada, teria de ser a Alemanha a carregar a Europa às “costas”.
Será que iríamos conhecer a faceta generosa dos alemães, ainda com remorsos das
duas grandes Guerras Mundiais? Muita incerteza se instalaria e uma das
revolucionadoras hipóteses passaria pela saída da Alemanha deste sistema.
Espero estar errado, porém podíamos muito bem assistir a um efeito “bola de
neve” e, nesse caso, a partilha de recursos e fatores produtivos poderia
diminuir consideravelmente, causando problemas estruturais em todos os países.
Por exemplo, ao nível do mercado de trabalho, acentuar-se-ia a dificuldade de
afetar os recursos humanos, e, consequentemente, o desemprego friccional
aumentaria.
Adicionalmente,
um começo da separação europeia leva também a que o BCE tenha cada vez menos
reservas e menos depósitos bancários no conjunto dos bancos comerciais europeus,
e, com isso, um menor potencial de criação de moeda, já que a concessão de
crédito agregada diminuirá.
No
que concerne aos mercados financeiros, a subida do preço dos títulos
financeiros poderá restringir as possibilidades de investimento para os
investidores. Um menor investimento, devido a taxas de juro mais elevadas, leva
a uma diminuição na procura nos mercados de capitais. Por sua vez, menor uso de
capital acarreta uma diminuição do crescimento económico no longo-prazo.
Em
suma, a desagregação europeia, como podemos verificar, apresenta,
impreterivelmente, efeitos nefastos. Assim sendo, as ações políticas recomendáveis
passariam por amenizar esta saída do Reino Unido com o estabelecimento de
contratos comerciais de mercadorias e de fluxos de pessoas que sejam flexíveis,
permitindo que o ajuste das economias europeias acarrete menores custos totais.
Acima de tudo, o grande objetivo é que a estrutura se mantenha coesa, e, isso
implicará entreajuda entre os diferentes governos, mais do que nunca.
Tiago Almeida Ribeiro
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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