Desde 2015 que a União Europeia conhece um afluxo sem
precedentes de refugiados que fogem da guerra, de perseguições e da pobreza
extrema, constando-se a maior crise humanitária desde a 2ª Guerra Mundial. Perseguições,
conflitos e violações dos direitos humanos levam a que muitos arrisquem as suas
vidas e enfrentem travessias de morte. Quando falamos de refugiados, falamos de
pessoas numa situação de extrema fragilidade emocional, social e económica.
A imagem que a maior
parte da população tem da imigração é a de filas de refugiados a caminhar pelas
estradas e campos da Europa, insufláveis lotados no mediterrâneo, afogamentos e
salvamentos, barcos à deriva, falta de alimentos, campos de refugiados repletos
de tendas, entre outros. Isto são tudo situações que, traduzidas em imagens
televisivas ou em redes sociais, mais se assemelham com uma invasão da Europa por
uma multidão de indivíduos de tez escura.
Paralelamente, e ao
invés de estabelecer uma política comum, estruturada e consistente de
imigração, ou seja, encarar o problema de frente, os governos europeus
limitam-se a pagar à Turquia para reter o fluxo, a negociar discretamente com
traficantes e a fixar quotas de acolhimento por país. Não existindo nenhuma política
europeia de integração para aqueles que acabam por chegar, o destino normal é
sobreviver da assistência da segurança social ou da exploração laboral, e viver
em guetos controlados. Todo o cenário assim criado origina, naturalmente, inquietação
nas populações.
A Europa recebeu um
recorde de refugiados nos últimos cinco anos, mas que em termos demográficos e
económicos terá um impacto mínimo, pelo que a crise política que se gerou não
se justifica, segundo um relatório publicado pela Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE). Esta sublinhou ainda que os refugiados trarão
um aumento na população em idade ativa nos países europeus em cerca de 0,33%,
até 2020. Em alguns países, o efeito do fluxo de refugiados será mais evidente:
na Áustria, Grécia e Suécia, os refugiados recentes aumentarão a força de
trabalho em até 0,5%; e na Alemanha em até 0,8%. Alguns estudos mostram também
que a complementaridade entre as competências laborais dos refugiados e dos
nativos pode ter consequências positivas, embora em certos setores possa haver
efeitos negativos significativos, ou seja, alguns refugiados podem competir
diretamente com os nativos no mercado de trabalho.
No que concerne aos
custos de integração dos refugiados, estes variam muito de um país para outro,
mas encontram-se entre 0,1% e 1% do Produto Interno Bruto (PIB). O estudo mais
recente, publicado em junho na revista Science
Advances, mostra que os refugiados começam a “devolver” o dinheiro gasto
com eles logo no ano de chegada.
A verdade é que,
apesar de todos estes dados favoráveis, a crise de refugiados que se tem vivido
nos últimos anos veio trazer ao de cima o pior da humanidade, mostrando que os
cidadãos europeus são menos tolerantes relativamente aos estrangeiros do que os
líderes esperavam e que os partidos mais radicais transformaram esses eventos
em narrativas alarmistas – associadas, normalmente, ao desemprego, à violência,
ao terrorismo e à perda de identidade. A tradição de atribuir ao estrangeiro
todas as desgraças da nossa existência, para mais quando este apresenta uma tez
diferente e professa um credo diferente, é uma constante da História.
Apesar dos muitos progressos
feitos ao nível das operações de salvamento no mar e da assistência nas rotas
terrestres, há, na minha opinião, ainda muito a fazer ao nível do acolhimento e
integração de refugiados. É necessário ajudá-los a encontrar e a permanecer em
postos de trabalho, bem como trabalhar mais de perto com uma ampla variedade de
partes interessadas na integração de migrantes, incluindo a sociedade civil, o
setor privado, os parceiros sociais e órgãos governamentais a nível
subnacional. Mostra-se, também, ser essencial criar um plano de crise para
identificar parceiros, canais de comunicação e responsabilidades diante de
grandes afluxos de pessoas que procuram proteção. Assim, é imperativo e urgente
salvar vidas e assegurar as condições básicas de vida aos refugiados.
Sara Vieira Ribeiro
[artigo de opinião
produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do
3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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