A
afirmação do setor têxtil na economia portuguesa é notável. Apesar de ser dos
setores mais antigos em Portugal, a sua importância e peso não desvaneceram na
economia nacional.
A
origem da produção têxtil, em termos industriais, remonta à Revolução
Industrial, iniciada em Inglaterra, no final do século XVIII. A propagação
desta indústria pela Europa foi assinalada pela atividade mecânica em
detrimento da manufatura, com o surgimento da máquina a vapor e dos teares, que
vieram substituir, em parte, a mão-de-obra humana.
Para
Portugal são poucas as informações relativamente aos primeiros desenvolvimentos
da indústria. A informação é escassa, sobretudo no que diz respeito à
maquinaria empregue, termos de produção e técnicas. Inicialmente, tratava-se de
uma atividade meramente artesanal, em pequenas regiões rurais, realizada,
essencialmente, por hábeis artesãos. É de notar que este trabalho era
desempenhado por membros da mesma família, onde o montante subsidiado era
atribuído ao homem como espécie de ordenado familiar.
Contudo,
a evolução tecnológica permitiu o desenrolamento de sistemas fabris, viabilizando
a melhoria das condições laborais e como resultado a competitividade das
fábricas. As décadas de 70 e 80 do século XX, distinguem-se pelo ilustre
progresso deste ofício, em virtude de custos de mão-de-obra comparativamente
mais baratos.
A
maior contração deste setor aconteceu no período entre 2001 e 2008. A adesão de
Portugal ao euro, a alargamento da União Europeia a Leste, a crise financeira
internacional e, sobretudo, a entrada da China para a Organização Mundial do
Comércio contribuíram para o arrefecimento do ramo. Todavia, os primeiros sinais
de recuperação dados em 2010 baseavam-se em pilares sólidos, capazes de levar
ao crescimento de longo prazo. A aposta foi feita, nomeadamente, na inovação, design, qualificação dos recursos
humanos, know-how industrial, qualidade coerente com rapidez e
flexibilidade. Na contemporaneidade, o setor
tem-se mostrado competitivo pela qualidade que apresenta nos seus produtos.
Portugal é conhecido, cada vez mais, como país fabricante de alta-costura,
aliada a princípios ambientais e de sustentabilidade.
Segundo
a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, ATP, o contributo do setor têxtil
representava, sensivelmente, 10% do total das exportações portuguesas, em 2018,
5314 milhões de euros (M€), uma evolução de 1,9% face ao ano anterior. Por sua
vez, as importações situavam-se nos 4307 M€, mais 4,1% face a 2017. Em termos
de empregabilidade, os 138000 postos de trabalho, em 2018, figuravam 20% do emprego
da indústria transformadora.
Os
dois grandes desafios à evolução requerida para este ramo centram-se na própria
composição do setor e na falta de recursos humanos disponíveis para a área. Por
um lado, o primeiro entrave relaciona-se com o facto de a maior parte das
empresas constituintes serem classificadas como pequenas e médias empresas.
Neste contexto, Paulo Vaz, Diretor-Geral da ATP, espera que o governo seja
capaz de criar incentivos para a concentração empresarial, e que, por sua vez,
o tecido empresarial arrisque no design
e desenvolvimento de novos produtos mais sofisticados. Por outro lado, a
reduzida oferta de mão-de-obra dirigida ao setor industrial tem preocupado os
empresários detentores das grandes organizações. Paulo Vaz declara que o “perfil do país tem
mudado radicalmente”, com isto se refere a que as qualificações dos jovens criam
desincentivos à procura de futuro nas fábricas por parte dos mesmos.
Concluindo,
acho pertinente citar, uma vez mais, Paulo Vaz: “mais
vale ser dono de metade de alguma coisa do que ser dono de 100% de coisa
nenhuma”. A meu ver, a citação cinge-se a uma crítica construtiva, de modo a
apelar à valorização da capacidade competitiva através de empresas de maior
dimensão, capazes de sobressair nos mercados internacionais, os maiores
consumidores de têxteis produzidos no nosso país.
Margarida Pimenta
[artigo de opinião
produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do
3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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