A
decisão entre poupar e consumir é uma das decisões fulcrais tomadas pelas
famílias diariamente. Relativamente à taxa de poupança das famílias
portuguesas, esta, de forma sintética e simplificada, tem apresentado um
comportamento decadente ao longo dos anos. Segundo dados do PORDATA, no ano de
1995, a taxa de poupança apresentava um valor de 14,8% e, em 2018, apresentava
um valor de 6,9%, ou seja, em 23 anos, ocorreu uma diminuição de 7,9 pontos
percentuais.
Figura 1 : Taxa de poupança das famílias
Fonte: PORDATA
Segundo
diversos estudos, a taxa de poupança relaciona-se positivamente com a atividade
económica e com a inflação. No sentido oposto, a conceção de créditos, a taxa
de desemprego e o envelhecimento da população estão associados a uma diminuição
da mesma. Um outro fator que tem um papel preponderante na discussão relativa à
taxa de poupança consiste no efeito das remessas dos emigrantes.
Figura 2 : Taxa de poupança das famílias, com e sem
remessas dos emigrantes (% do RD)
Fonte: Alexandre et al. (2017)
Na
figura precedente é analisado o comportamento da taxa de poupança com e sem a
contabilização das remessas provenientes dos emigrantes. Segundo Alexandre et al. (2017), durante os anos de 1980
até 1992, a diferença entre as duas séries descritas é, constantemente, de pelo
menos 5 pontos percentuais. No que concerne aos termos nominais, o valor máximo
das remessas foi atingido em 1979.
De
modo simplificado, apesar de nos anos seguintes a importância das remessas dos
emigrantes ter diminuído drasticamente, em especial no ano de 2002, em que
ocorreu uma diminuição de 28% das entradas líquidas, através da análise gráfica
conclui-se que, apesar disto, a componente das remessas representa um fator
importantíssimo para uma taxa de poupança mais favorecida. Complementarmente,
nos últimos anos, a diferença entre as duas séries tem vindo a aumentar
ligeiramente, destacando-se mais uma vez a importância das contribuições das
remessas. Tendo isto em conta, em 2015, sem esta consideração, a taxa de
poupança das famílias seria apenas de 1,7% do rendimento disponível.
Por
outro lado, nos últimos anos tem-se assistido a um aumento da emigração de
portugueses, em especial, de estudantes licenciados. Apesar de existirem
efeitos nefastos evidentes para o país desta fuga de mão-de-obra qualificada, do
ponto de vista das contas públicas direcionadas para a poupança nacional, esta
fuga deve ser encarada como uma oportunidade. Contudo, em Portugal, desde
meados da década 90 que os benefícios fiscais atribuídos a contas vocacionadas
para a atração de remessas de emigrantes têm vindo a diminuir, tendo,
entretanto, sido extintos em 2008.
De
forma sucinta, como foi possível de constatar através da análise gráfica e
através do historial português relativo a esta temática, as remessas dos
emigrantes desempenham um papel fundamental para um comportamento mais
favorável das taxa de poupança nacional e das famílias.
Assim,
na minha opinião, a reunião de condições para o retorno destas remessas é um
passo importante para uma tendência comportamental mais saudável das taxas em
causa. Deste modo, o retorno dos benefícios fiscais, através da criação de planos
de poupança emigrante, pode constituir uma oportunidade fulcral para o país ser
capaz de melhorar a taxa de poupança da economia, de modo a atingir a taxa
considerada ótima para a sociedade.
Isabel
Miranda
Referências:
Alexandre, F., Aguiar-Conraria, L., Bação, P., &
Portela, M. (2017). Poupança e Financiamento da Economia Portuguesa.
Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
https://www.pordata.pt/
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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