terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Saber dizer “não”


Em 2018, Portugal apresentou uma taxa de desemprego de 7%, considerada baixa comparativamente aos anos transatos, revelando um bom desempenho da economia nacional. No entanto, quando olhamos para um grupo específico de indivíduos, os jovens até aos 25 anos, constata-se que nesta faixa etária se mantêm algumas dificuldades em obter emprego fixo e bem remunerado. Na verdade, tem-se observado uma diminuição da taxa de desemprego jovem em Portugal e nesse mesmo ano atingiu os 20,6%, contudo ainda acima da média europeia, 20,2% (PORDATA). Estas taxas tão elevadas mostram a falta de preparação do mercado de trabalho para receber os jovens que procuram ativamente um emprego, todavia também se denota uma incompatibilidade entre as habilidades/ qualificações que as empresas procuram e as que eles oferecem. Aqui surge o problema dos jovens nem-nem, que não estudam nem trabalham.
Ainda durante este ano contaram-se 220 mil jovens, entre os 15 e os 34 anos de idade, que se encontram nesta situação de precariedade. Porém, em 2013, os indivíduos nem-nem eram o dobro. Assim, verificou-se que não só a recuperação económica como a elevada emigração ajudaram nesta redução abrupta. Ao contrário do que se verifica no resto da Europa, grande parte dos jovens nem-nem portugueses não são inativos ou até preguiçosos, como comumente se crê. Pelo contrário, são indivíduos que estão efetivamente à procura de um trabalho, mas não o encontram, isto é, desempregados, segundo Lia Pappámikail. A psicóloga acrescenta, ainda, que as pessoas com poucas qualificações são mais prováveis a tornarem-se NEEF (termo inglês - Not in Education, Employment or Training).
Relativamente ao contexto Europeu, verificou-se que, em média, 16,5% dos jovens estavam nesta situação. Portugal encontra-se na nona posição, com 11,9%, sendo que, comparativamente com os restantes países, não se encontrava numa má situação pois no topo da tabela encontravam-se países como a Itália e a Grécia, que apresentam economias similares à portuguesa, com taxas acimas dos 20%. Assume-se assim que a Europa, em geral, está a passar por um período difícil quanto ao emprego jovem, tendo em conta que 16 em cada 100 jovens são precários. O que se crê que, para ultrapassar esta dificuldade se necessita de reformular políticas laborais no sentido de incentivar o emprego jovem dentro das empresas, criando, por exemplo, benefícios fiscais.
Levantam-se agora duas questões: porque acha a sociedade que estes jovens são preguiçosos, desinteressados e sem objetivos de vida? Será esta designação minimamente justa? No meu ponto de vista, diria que a grande maioria destes indivíduos não serão assim tão indolentes como se crê. Pelo contrário, são pessoas que, numa fase inicial do desemprego, estariam motivadas para encontrar um emprego e que se terão candidatado a diversas vagas, mas que em algum momento se saturaram do sistema, das condições que lhes eram propostas ou até da falta de oportunidades… Diversos psicólogos afirmam que muitos nem-nem chegam a entrar em depressão por se sentirem um fracasso não só para eles próprios como para os que os rodeiam e lhes querem bem. Assim sendo, não acho que efetivamente o estereótipo criado seja justo. Não é justo criticar e menosprezar uma pessoa que, de facto, tenta melhorar a sua condição de vida mas as oportunidades lhe são vedadas.
Finalmente, gostaria ainda de acrescentar que, enquanto estudante universitária, o desemprego e o conceito de jovem nem-nem é-me assustador pois o investimento feito em educação é muito elevado e a procura de emprego está a chegar… Face a esta realidade, o importante mesmo é continuar a acreditar nas oportunidades e manter o foco no investimento pessoal.

Ana Catarina Matos Dias

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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