quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Portugal: A Galinha dos Ovos de Ouro para os Licenciados

A poucos dias da abertura do período para as instituições de ensino superior portuguesas darem início a mais um ano lectivo (situação que decorre entre 15 de Setembro a 15 de Outubro), torna-se interessante esclarecer-se alguns mitos e realidades em torno da questão do custo-benefício de ser-se estudante universitário, em Portugal.O objectivo do presente relatório é elucidar o leitor de: qual o custo anual de cada aluno no ensino superior; qual o valor máximo e mínimo das propinas pagas pelo estudante e como se calculam; qual a percentagem de bolseiros em Portugal e as despesas com eles relacionadas; como evoluiu a procura pelo ensino superior, em Portugal; qual o benefício de se possuir licenciatura no mercado de trabalho português.
Custo anual de cada aluno no ensino superior
Com dados relativos ao ano lectivo 2010/2011, um estudo levado a cabo pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, conclui que, em média, tirar um curso no ensino superior custa aos bolsos individuais cerca de seis mil euros, por ano. Enquanto que os estudantes do ensino público gastam, em média, com a educação e custos de vida (despesas pessoais; despesas médicas; telefone e/ou telemóvel; transporte; alimentação; alojamento) 5.841 euros por ano, para os alunos do ensino privado, o custo anual, dos seus estudos, no ensino superior, é de 9.349 euros. Conclui-se, ainda que, em média, são os alunos dos cursos de artes, humanidades e línguas os que apresentam as despesas anuais mais elevadas e, por outro lado, os discentes de engenharia, os que apresentam as despesas mais reduzidas.
Propinas
Segundo o relatório da Comissão Europeia, para o ano lectivo 2011/2012, em Portugal, um aluno do primeiro ciclo ou do segundo ciclo com uma profissão específica pagaria uma propina anual sediada entre 630,50 euros (1,3 vezes o salário mínimo nacional) e 999,71 (valor que é actualizado anualmente de acordo com a inflação).
Nos restantes casos (aluno do segundo ciclo em outro curso) a sua propina compreender-se-ia entre 1.500 euros a 9.500 euros.

Bolsas
Estima-se que 130.657.929 euros foi o total das despesas suportadas pelo Estado com bolseiros do ensino superior, em 2011, sendo 86% deste montante destinado a indivíduos do ensino público e os restantes 14% a estudantes do ensino privado.
Deste modo, em 2011, 18,9% dos alunos matriculados no ensino público eram bolseiros, sendo que este valor no ensino privado, correspondia a 11,1%. No total 17,1% dos discentes no ensino superior eram bolseiros, sendo este valor relativo o mais baixo desde 2005, o que poderá traduzir uma tentativa do Estado Português na redução das suas despesas.

Número de discentes no ensino superior
Em 2011, Portugal regista um total de 396.268 alunos matriculados no ensino superior, alcançando, desta forma, o segundo valor mais alto desde 1991.
Desses 396.268 alunos, 78% estavam matriculados num sistema de ensino público e os restantes 22% no ensino privado.
O aumento do número de alunos no ensino superior poderá, eventualmente, ser justificado, quer pela actual conjuntura económica em que, se por um lado, em termos de faixa etária, a taxa de desemprego jovem (idade inferior a 25 anos) é de 30,1%, em 2011 (3 vezes mais do que em 1990), por outro, em termos de escolaridade, a taxa de desemprego de licenciados evidencia-se a mais baixa de todas com 9,2%; quer pela exarcebado privilégio económico de se possuir ensino superior, em Portugal.

"Prémio" por se ser licenciado em Portugal
Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o salário dos portugueses com ensino superior são, em média, 69% mais altos do que  remuneração de quem se ficou pelo secundário.
Se nos homens o "prémio" deste aumento de graduação traduz-se num ganho de 300 mil euros ao longo da sua vida activa, no caso das mulheres esta diferença é de 165 mil euros.
Portugal torna-se, assim, no país da OCDE em que possuir licenciatura se torna mais compensador.
Todavia, esta vantagem entre os licenciados portugueses já foi bastante mais significativa, designadamente, em 1999, em que possuir um nível de educação terciário corresponderia a um acréscimo salarial de 78%.
Conclusão
Se em 1988, Lucas defendia que o crescimento da economia era sustentado pelo crescimento do capital humano, hoje em dia, embora não totalmente verdadeira (não num sentido isolado), esta afirmação vai tomando cada vez mais consistência.
Investir na qualificação pode ser mesmo uma forma de combater a crise, uma vez que um aumento educacional se traduz, não só num aumento de capital humano e, consequentemente, potencialmente mais produtividade, mas também num aumento das receitas do Estado, designadamente através do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares (IRS) que incidirá sobre rendimentos cada vez mais elevados.
É certo que Portugal têm dado largos passos na promoção do aumento do nível de instrução dos seus habitantes, no entanto, quando comparado com os seus restantes parceiros europeus ainda tem um longo caminho a percorrer. Vamos esperar que esta "corrida à capoeira" seja realmente reflectida num próximo horizonte vindouro, deixando figurar apenas, no passado e para efeitos de estatística, os humildes 7,7 anos de escolaridade que, em média, actualmente, um indivíduo português possui.

Sandra Ferreira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

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