sábado, 31 de outubro de 2009

Crise no sector do leite

No passado dia 19 de Outubro, a crise no sector do leite voltou, a ser discutida pelos ministros da agricultura da União Europeia. Perante os protestos que têm varrido a Europa, Bruxelas vai libertar 280 milhões de euros para apoiar os produtores. E como será distribuído o dinheiro entre os 27 países membros? Foi o que começou a ser discutido no Conselho de Ministros da Agricultura, é que nenhum país defende um regresso ao passado e às quotas que limitam a produção de leite na UE e que deverão ser aumentadas progressivamente até à eliminação total em 2015. Desses 280, apenas seis a sete milhões estão destinados aos produtores portugueses, sendo que as ajudas vão-se reflectir em «0,003 euros» em cada litro de leite. Estas ajudas ganham ainda menos importância tendo em conta que os produtores portugueses estão a perder mais de 20 cêntimos por litro de leite face ao preço registado há um ano. Desde há alguns meses que os produtores europeus de leite dão conta do seu desespero com a quebra de preços na produção que, segundo eles, por vezes é mais do que 50% em relação aos preços de 2007-2008, o que ameaça a sobrevivência do sector. É lamentável o facto dos produtores de leite serem obrigados a venderem-no mais barato e o preço que chega ao consumidor ser praticamente igual, portanto alguém está a ficar com o dinheiro! Por detrás das dificuldades destes produtores está ainda a retracção do consumo a nível mundial e a actuação das grandes superfícies, que gostam de utilizar o leite como «produto isco» e procuram vendê-lo o mais barato possível. Isto pressiona a indústria que, por sua vez, pressiona os produtores, que como elos mais fracos da cadeia lhes restam poucas alternativas. A ajuda de Bruxelas pode chegar tarde demais aos produtores de leite e neste momento solicitar um orçamento maior para a reestruturação não parece que seja o caminho indicado para resolver um problema de conjuntura. O secretário-geral da Confederação Agricultores de Portugal (CAP) considerou insuficiente a intenção da Comissão Europeia de atribuir 280 milhões de euros aos produtores de leite, que alertam de que estas ajudas não servem para resolver a crise que começou há cerca de um ano.
Sobre este assunto as opiniões divergem, alguns produtores de leite defendem que essas ajudas têm de ser intensificadas e que devem ser distribuídas por todos aqueles que estão em dificuldades, com bom senso e rapidez, outros são de opinião que há produção de leite em excesso em Portugal e que o mercado não chega para todos, logo implica uma urgente reforma. Até agora, Bruxelas evitou ir além de algumas medidas de emergência anunciadas no início de Setembro, e que incluem o reforço do mecanismo da intervenção (segundo o qual a UE garante um determinado nível de preços), um aumento da armazenagem de manteiga e leite em pó ou a autorização dada aos Estados de conceder ajudas públicas aos produtores até 15 mil euros. A Federação Europeia dos Produtores de Leite (EMB) considerou aliás a ajuda "insuficiente", convicta de que a crise não se resolve "com subsídios, mas com uma regulação flexível dos volumes" de produção. No longo prazo, o Executivo Comunitário propõe a criação de legislação que enquadre as relações contratuais no sector do leite, entre produtores e indústria transformadora, de modo a equilibrar a oferta e a procura, mas salvaguardando a concorrência. Outra das medidas propostas para o longo prazo é a possibilidade de criação de um mercado em que os preços sejam mais transparentes. A crise do sector tem sido denunciada pelos agricultores que, nas últimas semanas, promoveram uma greve a nível europeu e várias acções de protesto, mas não existem soluções milagrosas à vista!

Bárbara Teixeira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo), da EEG/UMinho]

Valorização do Euro é Problema ou Solução ?

Uns dos temas mais abordados ultimamente, tem sido a apreciação da moeda única, que esta a deixar a Zona EURO em alerta. Depois da crise financeira mundial de que todos nos ouvimos falar, surge uma nova ameaça, que é a valorização do EURO. Segundo alguns esta valorização terá consequências positivas, mas também há quem diga que o movimento altista pode dar seguimento a ondas negativas sobre famílias e empresas. Afinal, esta apreciação do Euro terá mais vantagens ou desvantagens ?
Ultimamente o Euro, não tem parado de subir, desde Fevereiro valorizou cerca de 20% face ao dólar e cerca de 10% face a libra. Caso continue assim, a recuperação económica pode levar uma recaída. Para certos economistas valorizou em má hora, uma vez que, como diz João Ferreira do Amaral, professor do ISEG “ Qualquer recuperação terá de ser sustentada no comércio externo o que com moeda alta, é mais difícil”. A Europa olha essencialmente para o dólar, mas Portugal também tem de estar atento à libra, porque muito da exportação nacional vai para o Reino-Unido. Falando da exportação, João Ferreira do Amaral mostra-se muito preocupado, porque os “ apoios do Estado apenas serviram para aguentar a queda da actividade e evitar o colapso do sistema financeiro, mas não chegaram para relançar a economia”. A exportação nacional desceu de 20% nestes primeiros sete meses do ano (10% serviços, 25% mercadorias), segundo o Jornal «Negócios».
Em principio, está previsto um crescimento do PIB para o próximo ano, mesmo se está dependendo da recuperação do comércio externo. Será que esta apreciação do Euro será causa para alarme? Não, porque posso citar quatro factores que podem fazer descansar a cabeça de todos nós. Primeiramente, as empresas prepararam-se através de contratos de cobertura de risco que lhes garante uma certa estabilidade nos contractos em moedas estrageiras. O segundo factor é que não há certeza que o Euro permaneça alto no próximo ano, apesar do que tem subido nestes últimos seis meses. O terceiro factor, é que os Estados Unidos mostram sinais de recuperação. O economista-chefe do Santander, Rui Constantino declara no Jornal «Negócios» : “os sinais positivos nos EUA apontam para que a moeda norte-americana possa regressar à casa dos 1.4 dólares por euro dentro de um ano”. O quarto factor, importantíssimo para Portugal, é que o nosso país exporta mais de metade do seu produto para dentro da Zona Euro. Em contra-partida de todos efeitos negativos que a valorização do Euro tem, há um efeito positivo, que é a importação de matérias-primas que são transaccionadas em dólar, por exemplo o Petróleo.
Manuel Caldeira Cabral, professor da Universidade do Minho, lembra que a evolução da cotação da libra pode ser mais perigosa para Portugal do que a do próprio dólar, isto porque o Reino-Unido é o principal alvo de exportações de serviços, e ainda por mais o mercado mais influente para o Turismo português. Por exemplo, o Algarve em período de Verão é solicitado por muitos turistas ingleses. Um bom exemplo da onda negativa que pode criar a desvalorização do dólar vê-se através da comparação do turismo no Algarve do Verão 2007 com o do Verão 2008. Em 2007, a hotelaria algarvia estava praticamente esgotada, enquanto o ano passado, foi uma grande desilusão para os comerciantes do sul do País. A razão principal foi a queda do dólar em meados de 2008, que chamou muito turismo aos Estados-Unidos.
Falando das consequências da valorização do Euro, temos de citar a influência sobre os salários. Segundo o presidente da CIP, o salário mínimo não deve ser aumentado. Os salários podem crescer menos. A razão principal, especificamente para as empresas que fazem exportação, é que a valorização do euro é mais um obstáculo, e deve-se ser mais cauteloso com os aumentos salariais, que podem criar mais problemas na própria empresa. Mais importante do que os salários é a criação do emprego e a saúde do emprego. Só empresas saudáveis e produtivas podem garantir emprego.
Apesar dos efeitos na economia ainda não serem fortes, nós temos de ser cautelosos, porque caso a tendência da apreciação não se inverte, o futuro pode vir a ser muito difícil para todos nós. O Euro ainda não atingiu os valores altos de inicio 2008, mas a aproximação esta a preocupar os exportadores, que podem cair em graves problemas financeiros. Este ano foi o pior ano em várias décadas para o comércio internacional. As exportações recuaram de 20%. João Ferreira de Amaral, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, mostra-se preocupado com a actual situação, porque diz ele que “ uma recuperação sustentada terá sempre de depender das exportações, e como a economia dos Estados Unidos não apontam para que o dólar possa valorizar significamente nos próximos tempos, isto é preocupante”. Ao invés da Zona Euro, o dólar fraco esta a ajudar as exportações americanas, contribuindo para tirar o pais da recessão ao mesmo tempo que se verifica uma certa re-importaçao da produção tendo em conta uma diferença dos custos da mão de obra agora mais competitivos nos EUA. Isto da razão a quem diga que este é um jogo em que certamente uns ganham e os outros perdem.
Um artigo no jornal «Negocios», no dia 16 de Outubro 2009, refere que depois de varias tentativas de relançar a economia norte-americana, o dólar é considerado como a ultima arma. Entre as tais tentativas destaca-se a taxa de juro próximo do 0, medidas excepcionais na política monetária com o banco central a funcionar quase como banco comercial. Com a queda do dólar, os Estados-Unidos alcança uma clara subida de procura pelos seus produtos e diminui a procura dirigida aos outros. Isto pode criar sérios problemas as empresas da zona Euro, que vêem a recuperação da economia seriamente ameaçada. Num artigo publicado no jornal «Correio do Minho» indica que no último dia 21 de outubro 2009 a cotação do euro voltou a passar a barreira dos 1,5 dólares, o mais alto valor desde agosto 2008. Desde a entrada de Portugal no clube da moeda única, as empresas que não conseguem ser competitivas desapareçam. Isto é uma das razoes para a fraca evolução do PIB nos últimos anos. Antes da moeda única, Portugal tinha um trunfo, chamado «escudo», que mantinha muitas empresas a bordo de falência, porque as desvalorizações do escudo tornavam as exportações mais baratas e as importações mais caras. Portugal perdeu esse poder e milhares de empresas não aguentam a concorrência.
As consequências sobre a política orçamental desta conjuntura deverão ser vistas na perspectiva de equilíbrio orçamental difícil de obter a curto prazo devido à queda das receitas e com as despesas estáveis ou a aumentar. Os investimentos públicos que, como era tradicional, poderiam ser um motor de relance da economia terão dificuldades em se realizar sem um apelo profundo ao endividamento do Estado.
Em conclusão, tudo leva a indicar as consequências negativas a curto prazo de uma apreciação do Euro em relação ao dólar.

Michel Pereira Pinto

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho; aluno ERASMUS]

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ambiente e crescimento económico: conciliação possível?

O grande desafio do milénio é tornar possível a conciliação entre a preservação ambiental e o crescimento económico. Mas será isto possível?
O modelo de crescimento económico das sociedades modernas, iniciado no século XVIII com a revolução industrial, tem sido acompanhado por um processo de degradação ambiental e destruição de muitos ecossistemas. O desenvolvimento das actividades industriais, dos transportes e do comércio implicaram o uso intensivo dos combustíveis fósseis e de outros recursos naturais com consequências dramáticas para o ambiente natural. Ao mesmo tempo, verifica-se um aumento significativo da população, o que vai contribuir para uma maior geração de resíduos e obrigando a uma maior produção e consequentemente, esgotamento de recursos.
Em meados da década de 50, assiste-se a um crescimento económico mundial de grande dimensão e ao aparecimento da sociedade da abundância e do bem-estar em vastas zonas do globo. Este fenómeno desencadeou uma ânsia desenfreada de consumo com custos pesadíssimos nos processos de degradação ambiental: destruição da cobertura vegetal; poluição dos rios, do ar e do solo; extinção de algumas espécies e levando muitas outras a constituírem grupos de risco.
Nos anos 60 surge um comportamento de consciencialização ecológica por parte de vários países desenvolvidos, preocupando-se com os impactos ambientais do crescimento económico. Coloca-se a questão de que já não será um pouco tarde? É que pouco tempo depois surge uma nova problemática: o aquecimento global.
Em pleno século XXI, não podemos permitir que ainda haja comportamentos individuais e colectivos (empresas, Estado…) que ignorem as suas obrigações para com o meio ambiente. Estas devem incorporar procedimentos que contribuam para a redução da emissão de gases e a reciclagem de materiais. Um exemplo da pouca importância dada às questões ambientais é o facto de no Plano Oficial de Contabilidade (POC) português não haver qualquer referência, de uma forma explícita, às questões ambientais. Ele não prevê contas específicas, nem outro tipo de divulgação dos riscos e custos ambientais.
Com o nível de consumo actual, as situações sócio económicas advindas de um crescimento exagerado e ambientalmente errado, tornam-se cada vez mais insustentáveis. Crescimento excessivo não significa, e nunca significou, qualidade de vida acrescida.
Mas será então possível que o crescimento económico possa colaborar com o ambiente? Apesar de tudo, pode-se dizer que sim. Mas o tempo urge e torna-se necessário que os governos, os agentes económicos e os cidadãos adoptem comportamentos que rompam com um passado de total desrespeito pelo ambiente e comecem desde já a adoptar políticas “amigas” do ambiente: desenvolvimento dos transportes públicos movidos a energias limpas; utilização de lâmpadas de baixo consumo; produção e compra de veículos de baixo consumo; investimento em energias renováveis; reciclagem obrigatória de materiais; aposta forte na floresta; investimento na recolha selectiva do lixo; no saneamento básico… E muitas outras medidas poderiam ser implementadas. No entanto, não devemos “deixar tudo para os outros”. Cabe a cada um de nós cuidar do espaço envolvente, começando por não deitar lixo para o chão, usar material reciclado, poupar energia, utilizar mais transportes públicos, etc.
Existem respostas bem simples que ajudariam muito na preservação ambiental. Ideias não faltam; boa vontade e bom senso, sim.

Ana Cláudia Ferreira Azevedo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo), da EEG/UMinho]

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Do Investimento Público e da Salvação dos Bancos

O tema do investimento público em Portugal neste ano de 2009 tem sido discutido de sobremaneira. As políticas “pró-activas” de José Sócrates incidem sobretudo na construção de infra-estruturas, dentro das quais as mais controversas são indubitavelmente os casos da alta velocidade e do possível novo aeroporto de Lisboa.
A este respeito, foi publicado esta semana um dado curioso que incide no total de dinheiro público que já foi introduzido no BPN desde a sua nacionalização. Através de injecções de liquidez da Caixa Geral de Depósitos, o Banco Português de Negócios contabiliza já o bonito número de 3.5 mil milhões. Este valor, imagine-se, é já superior aos custos projectados para o Novo Aeroporto de Lisboa.
Isto significa que, frontalmente falando, a vista grossa do Banco de Portugal, na fiscalização do sector bancário, custou, até ao momento, um aeroporto completo que o nosso país provavelmente até nem precisa, mas vai inevitavelmente construir. A adicionar a toda esta receita, acrescente-se o ingrediente final que são os resgates de depósitos dos cliente do BPN que continuam a bom ritmo e no final do primeiro trimestre deste ano totalizavam já 3.6 mil milhões de euros. Esta ciclo vicioso de injecção de euros na entidade Bancária não tem portanto um futuro risonho pela frente.

Mas nem tudo são espinhos no jardim português, pelo menos para alguns, e há quem saia com a sua posição bastante reforçada, ou pelo menos tenha entrado neste ano de 2009 com as contas bem a verde. Falo das construtoras portuguesas, os inevitáveis instrumentos das reformas, planos anti-crise e todo o conjunto de contratos que as mesmas conseguem sempre que a economia treme. Neste campo, é com alguma surpresa, ou não, que vemos que em 2008, as principais empresas de construção civil aumentaram em 70,3% o seu volume de negócios face a 2007. Num estudo realizado pela “European International Contractors” (EIC) e publicado recentemente, podemos ver que as 12 empresas que foram incluídas no estudo ficaram no topo da Europa no que a este índice diz respeito. Em termos globais, estas atingiram um volume de negócios que ascenderam aos 3.29 mil milhões de euros, que comparando com o ano anterior de 2007 representa uma subida de 70.3%. Números demasiados grandes para o português comum conseguir equacionar, e logo num período de tantas privações como tem sido o actual. Fica a curiosidade de saber quais serão os resultados de 2009, adivinhando-se novamente números bastante reconfortantes. É caso para perguntar:
- Crise? Onde?

Luis Fernandes
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Desafio Autárquico

São do conhecimento geral as principais metas do poder autárquico para este novo mandato que se avizinha: descentralização de competências aliado a uma maior responsabilização dos agentes locais na gestão do poder local, estimulo à independência face ao poder central e por último mas não menos urgente, o controlo do endividamento.
Entre os municípios mais endividados surge Lisboa em primeiro lugar com 965,5 milhões de euros, Vila Nova de Gaia em segundo lugar com 268,0 milhões e no terceiro posto surge o município do Porto com uma dívida de 117,3 milhões de euros. Contribuíndo em grande parte para este saldo devedor estão as despesas com o pessoal, associadas a um pesado e desarticulado sector público que, desde há vários anos acompanha não só as instituições do poder local como toda a administração pública. Considerada por muitos uma das grandes “pedras no sapato” dos governos, que ainda não arranjaram forma ou até mesmo coragem política para lidar com a situação. As despesas com o pessoal representam cerca de 30% do total das despesas dos executivos camarários.Não é pois de admirar que, perate esta situação, as medidas de combate ao endividamento, surjam, para além das apresentadas pelo governo, dos autarcas das duas maiores câmaras municipais do país, Lisboa e Porto (duas das três mais endividadas).
A nova Lei das Finanças Locais, de 2007, prevê que os municípios possam reter 5% do IRS arrecadado no seu território. Receita que pode ser devolvida aos residentes ou que pode ser usada para despesas adicionais. Esta medida representa um estímulo aos agentes do município que devem assim tentar cativar a receita, levando a uma concorrência fiscal saudável e a uma responsabilização das autarquias, que têm incentivos a reduzir as despesas. António Costa e Rui Rio, autarcas por Lisboa e Porto respectivamente, defenderam, nas suas campanhas eleitorais, que este regime se alargasse a outros impostos, nomeadamente o IRC ou o IVA. Uma das razões mencionadas pelos autarcas foi de que, sendo a principal receita das câmaras proveniente do IMI e IMT, impostos sobre imóveis, estava-se a estimular à construção desmesurada e sem regras que se tem assistido em Portugal nos últimos anos.
Punha-se assim termo a dois dos principais problemas enfrentados pelas autarquias, o endividamento e a falta de ordenamento territorial, consequência duma falta de fiscalização do sector imobiliário, balão de oxigénio para as sobreendividadas câmaras municipais.
Outra das medidas que visam controlar o endividamento das câmaras municipais foi tomada no executivo de Durão Barroso pela então ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite através da criacção de tectos máximos de endividamento das câmaras. A criação de empresas municipais contituíu uma forma de despiste à supervisão do estado às contas da Administração local pois as suas despesas ficam fora do balanço duma autarquia. Uma supervisão mais apertada e rigorosa onde as autarquias tenham de apresentar as contas das empresas municipais, facilita o controle e diminui as possibilidades de fuga ao escritínio.
Recorde-se que o saldo das contas públicas é contabilizado no défice público e, sendo que nos encontrámos numa situação desconfortável, sobe a pena de sanções da União Europeia pode ser esta uma das vias para que o controle do défice das contas públicas se torne menos indolor para o cidadão.

José Martins
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

IGUALDADE

Um estudo recente mostra que 18 por cento dos portugueses são afectados pela pobreza, ou seja, 18 em 100 portugueses têm um rendimento mínimo mensal inferior a 406 euros. Valores tão elevados levantam muitas questões relacionadas com a forma como o País está a lidar com este problema.
Durante as semanas que antecederam as legislativas fomos sobrecarregados com as propostas dos partidos que concorriam ao poder, focando sempre os mesmos 3 ou 4 temas, podemos dizer “batendo sempre na mesma tecla”, e esquecendo muitos outros que são de importância crucial na vida de um País, a pobreza é um desses exemplos. É triste ver um governo a tentar silenciar este problema: quantas vezes ouvimos os políticos a falarem de que forma combateriam este flagelo? Que medidas tomariam para alterar a situação em que o País se encontra?
É obvio que o desemprego é uma das principais causas da pobreza, e as medidas criadas para o enfrentar estão consequentemente a combater a pobreza, mas isso não basta. A grande maioria da população considerada pobre encontra-se em idade activa, entre os 21 e os 59 anos de idade, estando portanto em perfeitas condições de participar no mercado de trabalho. Só a existência de empregos e salários é que poderá modificar esta situação e quebrar os ciclos de pobreza que estão criados, ajudando assim a reestruturar as famílias.
Também a Assistência Médica Internacional (AMI) regista um aumento nos seus centros Porta Amiga de cerca de 10 por cento de pessoas no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano anterior; no entanto, é de realçar que 20 por cento destas pessoas se encontra empregada.
Este tema é de uma pertinência muito grande, uma vez que se está a falar da condição de vida do Ser Humano. Todas as pessoas têm (ou deveriam ter) o Direito à Igualdade, e num País que é considerado Desenvolvido, é inaceitável que uma parte da sua população ainda tenha que viver em situação tão precoce, sendo ainda pior que esta precocidade aumente de ano para ano. Quando 20 por cento da população com maior rendimento recebe aproximadamente 6,1 vezes o rendimento dos 20 por cento da população com o rendimento mais baixo, alguma alteração urge ser feita. É necessário também notar que quando se diz que 18 por cento da população vive em situação de pobreza, falamos de números oficiais, sendo este decerto um valor inferior ao real panorama da pobreza em Portugal.
A mudança depende muito da atitude do Governo, das medidas de cariz social e económico que este propõe, mas também da atitude de todos os portugueses. É necessário olhar para a pobreza de outra forma e, quando for possível, ajudar com os meios que cada um tiver à sua disposição. Aceitar que a pobreza é algo normal, ou inevitável, é que não!

Diogo Faria
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Bancos obrigados a maior transparência nas comissões e juros cobrados aos clientes

No dia 12 de Outubro de 2009 o Banco de Portugal publicou novas regras para as instituições financeiras, visando, por parte das mesmas, a comunicação aos seus clientes das comissões e juros que cobram, mais transparência, informação harmonizada, actualizada e de fácil acesso.
Estas regras entram em vigor no início do próximo ano e dizem respeito à comunicação dos bancos com os seus clientes, determinando o tipo de informação e a forma como será apresentada. O Banco de Portugal refere que cada instituição deve apresentar a lista das comissões, despesas e taxas de juro representativas dos produtos e serviços que integram a sua actividade, de forma objectiva, translúcida e legível.
Vítor Constâncio, líder da instituição, exige a todos os bancos a apresentação de dois folhetos: um deve conter as comissões cobradas e as despesas que decorrem das operações realizadas pelos clientes; e outro onde devem ser explicitadas as taxas de juro praticadas nas operações de empréstimos e de depósitos. Algumas das taxas que devem ser comunicadas são: a taxa anual nominal bruta dos depósitos (TANB), a taxa anual efectiva (TAE) e a taxa anual de encargos efectiva global (TAEG) das operações de crédito, e ainda as convenções subjacentes ao cálculo dos juros.
Outra nova regra é a acessibilidade e actualidade da informação e, para tal, devem disponibilizá-la nos seus sites e nos balcões através de folhetos. Estão incumbidos ainda de garantir que a informação do preçário se encontre sempre actualizada em função das decisões comerciais da instituição. O Banco de Portugal vai também disponibilizar informação, divulgando o folheto de comissões e despesas de todas as instituições de crédito no portal do cliente bancário. Irá, ao mesmo tempo, manter uma acção verificadora e fiscalizadora sobre os preçários.
Em consequência da crise financeira mundial, este organismo efectuou várias iniciativas para aumentar a transparência nas comissões e juros cobrados aos clientes.
“Portugal é um dos Estados-membros dos 27 em que as comissões bancárias são mais baratas, segundo o mais recente relatório da Comissão Europeia sobre a matéria que aponta, ainda assim, "inúmeros problemas" na forma como os bancos europeus informam e aconselham os seus clientes.”
Actualmente, a sociedade consome, de forma quase inconsciente, todos os serviços prestados por estas instituições sem dar importância àquelas “pequeninas letras” que, muitas das vezes escondem a informação mais essencial, pelo que é importante que os bancos transmitam, de forma nítida e bem visível, toda a informação aos seus clientes (famílias e empresas), de modo a que estas consigam usufruir do serviço que mais se adequa às suas situações financeiras e económicas.

Marinha Abreu
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Valorização do Euro face ao Dólar

Uma "volatilidade excessiva" das taxas de câmbio terá consequências negativas para a estabilidade económica, alerta Trichet.

Nos últimos seis meses o euro já valorizou, aproximadamente, quase 20% face ao dólar. A desvalorização estará, aparentemente, relacionada com as diferenças de cenário económico e de política monetária, agravados pelo clima de instabilidade financeira e aumento do grau de aversão ao risco. Justamente a estes factores, encontra-se a manutenção de um diferencial positivo de taxas de juro face às demais economias mundiais, que também estará a provocar a valorização progressiva do Euro nos mercados cambiais.
Esta situação preocupa muitos entendidos em Economia, nomeadamente os ministros das Finanças da Zona Euro e o Banco Central Europeu (BCE), pois altera as frágeis perspectivas de retoma da economia europeia, amplamente assentes na recuperação das exportações que ficam, assim, automaticamente mais caras e, portanto, menos competitivas no mercado mundial. Assim, torna-se evidente que será necessário que os valores do dólar voltem a níveis consistentes com a importância relativa da maior economia mundial – a dos Estados Unidos. Por outro lado, a valorização do euro pode ter um efeito positivo nas áreas em que fazemos importações em dólares, como acontece na energia, com o petróleo ou mesmo com os cereais, devendo-se ter em atenção que este efeito seguidamente poderá perder credibilidade uma vez que os mercados poderão se ajustar rapidamente, pois "uma boa parte dos interesses dos países exportadores está centrado na Europa".
Em Portugal, note-se que, os efeitos nos dias de hoje são relativamente pequenos comparativamente aos efeitos na época em que usávamos o escudo. Mesmo na Zona Euro a valorização do euro acaba por ser pequena uma vez que a opressiva maioria do nosso comércio internacional é realizado dentro da Zona Euro. Contudo, nesta situação, para Portugal, depois dos problemas no sector bancário e nos riscos à sua solvabilidade, depois da consequente restrição na concessão de crédito à economia, e depois do colapso ao comercio externo, será ainda mais difícil corrigir o desequilíbrio da balança comercial, e de melhorar a situação económica do pais.
Um outro ponto importante nesta análise da valorização do euro está relacionado com os investimentos. Na hora de investir em território norte-americano, ou em qualquer país que esteja ligado ao dólar, os europeus ficam a ganhar com a descida dessa moeda, pois passa a ser mais barato. O reverso é que captar investimentos para a zona euro também se torna mais complicado já que, para empresas e investidores estrangeiros, é mais caro. O turismo é outro sector afectado: as viagens aos países associados ao dólar são mais baratas, mas cativar turistas para a zona euro torna-se uma tarefa mais difícil. Contudo, na área de investimentos financeiros, como aplicações, poderá ser mais vantajoso os investidores e empresas norte-americanas investirem na zona Euro, consoante a taxa de juro, obtendo lucros superiores aos que poderiam obter em território nacional, pelo que cabe ao BCE a gestão eficiente dos valores das taxas de juro.
Com tudo isto, as expectativas são de que o euro continue a valorizar face ao dólar nos próximos meses, mas a ritmos relativamente pequenos, não chegando a alcançar um novo máximo histórico (1€=$1,5991). Um sistema cambial sólido e estável, com os nossos parceiros detentores das principais moedas, é de interesse comum: queremos um dólar forte, precisamos de um dólar forte.

Lara Isabel Fernandes Leite
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A TAXA DE DESEMPREGO EM PORTUGAL PODERÁ ATINGIR OS 11% JÁ EM 2010

Nos últimos dez anos Portugal registou um crescimento fraco, inferior ao que era típico historicamente e, por isso, incapaz de gerar emprego suficiente para responder ao aumento da oferta de trabalho. O desemprego tem tido sempre dificuldade em ajustar-se, portanto quando se dá a retoma da actividade económica sustentada, o emprego leva muito tempo a recuperar e, quando o faz nunca atinge um nível tão alto como antes da crise.
Segundo o INE, o número de pessoas desempregadas já ultrapassa o meio milhão, quase duplicou na última década, atingindo agora os 507,7 mil indivíduos. No 2º trimestre de 2009, a taxa de desemprego estimada foi de 9,1%. A taxa de desemprego dos homens foi de 8,7% e a das mulheres foi de 9,5%.
Este aumento do desemprego deve-se particularmente ao aumento do número de homens desempregados; ao aumento do número de desempregados à procura de emprego há menos de um ano; ao aumento do desemprego de indivíduos com um nível de escolaridade completo até ao 3º ciclo do ensino básico e consequentemente mais difíceis de reempregar; ao aumento do desemprego de indivíduos de todos os grupos etários, mas sobretudo daqueles com idade entre os 25 e os 34 anos. Os sectores da indústria, construção, energia e água foram os principais responsáveis pelo aumento do desemprego.
No 2º trimestre de 2009, de acordo com o nível de desagregação espacial NUTS II, as taxas de desemprego mais elevadas foram observadas nas regiões do Alentejo (11,3%), Norte (10,5%) e Lisboa (9,4%). Os valores mais baixos foram registados no Centro (6,3%), na Região Autónoma dos Açores (7,0%) e na Região Autónoma da Madeira (8,1%).
No entanto, o acréscimo da taxa de desemprego verificou-se em todas as regiões do país, sendo que os maiores acréscimos ocorreram na região da Madeira e Alentejo, relativamente ao trimestre anterior.
A crise económica gerou, em média, 605 novos desempregados por dia em Portugal durante os primeiros seis meses de 2009 e as previsões apontam para um aumento da taxa de desemprego, que poderá atingir os 11% já em 2010.
Recentemente o Fundo Monetário Internacional (FMI), alertou de que o desemprego em Portugal vai aumentar continuadamente até 2010, mas espera uma quebra do PIB de apenas 3% em 2009. O FMI estima, nas suas Perspectivas Económicas Mundiais, que Portugal deverá terminar o ano de 2009 com uma taxa de desemprego de 9,5%, subindo para os 11% já no próximo ano. Estas previsões são mais optimistas do que as das autoridades portuguesas, sendo que o Banco de Portugal espera para este ano uma quebra do PIB de 3,5% e o Governo de 3,4%. Em termos da inflação, o documento do FMI estima que os preços recuem 0,6% este ano, subindo cerca de 1% em 2010.
A Taxa de desemprego em Portugal (9,1%) está acima dos 8,6% da média dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económicos (OCDE). De acordo com os dados da OCDE, no conjunto dos 30 membros da organização, a taxa de desemprego subiu 0,1 pontos percentuais, face a Julho, para 8,6%, o que representa uma subida de 2,3 pontos percentuais, relativamente a Agosto de 2008.
Portugal apresenta a oitava maior taxa de desemprego dos países da OCDE, seguido da Espanha (18,9%), Irlanda (12,5%), Eslováquia (11,6%), França (9,9%), Estados Unidos (9,7%), Hungria (9,6%) e Suécia (9,4%). Na Zona Euro, em Agosto, a taxa de desemprego era de 9,6% e na União Europeia era de 9,1%.
A subida do desemprego não tem solução a curto prazo. As causas para o desemprego são sempre as mesmas: a baixa qualificação da mão-de-obra e dos empregadores; a produção é marcada pelas pequenas e médias empresas ou ainda pela necessidade de um choque tecnológico em diversos sectores.
Nem só de pessoas mais velhas e com baixas qualificações se compõe o rosto do desemprego. Os jovens entre os 25 e 34 anos representam grande parte do número de desempregados, sendo que a maior parte deles são licenciados.
É um facto que qualificação gera emprego e assegura um aumento na economia do país, mas se assim é, porque é que nos encontramos neste estado deplorável? Cada vez mais se torna complicado entrar no mercado de trabalho após a conclusão de graus académicos. A escassez de oportunidades leva a que os jovens emigrem, buscando o que o nosso país não pode oferecer. Com a continuação desta situação, dentro em breve voltamos uma vez mais a ter uma nova geração de emigrantes como há alguns anos aconteceu, vítimas da falta de oportunidades no próprio país.

Bárbara Teixeira
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

domingo, 25 de outubro de 2009

A Economia Verde

Há 5 anos, a energia e o aquecimento global eram uma questão entre outras. Hoje, são «a questão». A energia e o aquecimento global condicionam o equilíbrio do planeta em que vivemos. A competitividade dos países. As relações de força entre os Estados. O orçamento das famílias.”. [1] Assim começou a intervenção do ex-ministro da Economia e Inovação, Dr. Teixeira dos Santos numa conferência de Lisboa sobre energias renováveis e inovação, em Setembro de 2008.
Numa altura em que as decisões para o sector de energia são imperativas, nomeadamente para o futuro das energias renováveis em Portugal, coloca-se a necessidade de analisar a estratégia actual do país na reflexão das diversas temáticas fundamentais para a sustentabilidade do sector e das suas empresas.
Sem dúvida que Portugal deu um salto de gigante na investigação e desenvolvimento de novos desafios tecnológicos, tendo sido o sector do ambiente, nomeadamente o das energias renováveis a forte aposta do Governo. Contudo, infelizmente esse salto não é ainda sinónimo de competitividade, e continuam a ser apenas as grandes empresas os maiores investidores em inovação.
A Galp Energia, a EDP[2], a Efacec, a Deimos, a Agni, a REN e o grupo Martifer são algumas das empresas que aquiesceram com o programa MIT-Portugal[3], na área dos Sistemas Energéticos Sustentáveis. Nestes “gigantes” portugueses[4] estão a ser realizados avultados investimentos na área do ambiente, que apostam fortemente nas novas tecnologias, abrindo uma janela (não uma porta!) de oportunidades para o desenvolvimento de variados projectos de inovação.
Contudo, e apesar de se ter verificado uma evolução bastante positiva nos últimos anos, a inovação continua a não ser um factor crítico para a melhoria da competitividade do tecido económico nacional, sobretudo ao nível das PME e, para esta falta de competitividade contribui, nomeadamente, o afastamento da investigação centralizada nas universidades e entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional, que se manifestam longe do mundo empresarial. Isto talvez porque se despoletou uma desconfiança mútua nas respectivas capacidades. Para além disso, o tecido empresarial nacional não sabe aproveitar convenientemente o conhecimento gerado pelo sistema de Investigação e Desenvolvimento Português. É portanto urgente uma mudança já que os resultados são extremamente escassos quando medidos em termos de competitividade. É necessário que se dê um passo absolutamente necessário e fundamental para a criação de um mercado sustentável onde as empresas portuguesas pudessem surgir como referências mundiais.

Marta Teixeira Pinto

[1] Intervenção do Ministro da Economia e da Inovação na Conferência de Lisboa sobre energias renováveis e inovação, organizada pelo Ministério da economia e da Inovação, a 16 de Setembro de 2008

[2] A EDP tem em curso um conjunto alargado de projectos, entre eles o projecto "Ondas de Portugal", que surge como veículo para materializar uma visão de tecnologia aberta no sector da energia. A iniciativa está ainda em formação de consórcio investidor e visa, na primeira fase, a implantação de três a quatro projectos de demonstração de tecnologia de energia das ondas. In Revista Água & Ambiente, 1 de Agosto 2009

[3] http://www.mitportugal.org/programs/sustainable-energy-systems.html
[4] Através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 14/2003, de 5 de Fevereiro, decidiu o Governo que às assembleias-gerais das empresas do sector energético que tenham participação significativa do Estado fossem propostas orientações estratégicas que consagrem uma reorganização do sector, coerente com os objectivos de racionalidade, de eficiência e de criação de valor para os accionistas no quadro dos mercados ibérico e europeu da energia. Da mesma forma designou como encarregado de missão junto dos Ministros das Finanças e da Economia o engenheiro João Talone, com o mandato de propor as linhas de reorganização do sector energético, a política de alianças empresariais, bem como a estruturação das operações que as permitam concretizar.
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Um Economista no Ministério das Obras Públicas

José Sócrates anunciou actualmente os nomes constituintes do novo governo. António Augusto de Ascenção Mendonça, com 55 anos, foi nomeado como novo ministro das obras públicas, transportes e comunicações.
Professor catedrático do ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão) e doutorado em Economia foi presidente do conselho directivo do ISEG. Tal como o seu antecessor, Mário Lino, foi militante do PCP, mas é como independente que entra agora no governo.
Com vasta obra no domínio da política comunitária e com vasta experiência de estudos realizados para o Ministério da Economia no âmbito da competitividade da economia Portuguesa, surge agora como o nome forte nas Obras Públicas, Transportes e Comunicações, por onde passará muito do desenvolvimento do país nos próximos anos, com a aposta em investimentos públicos modernizadores e estratégicos.
Na época antecedente às eleições, a realização ou não das grandes obras públicas constituiu uma das principais questões para o futuro do nosso país. Averiguamos que de um lado encontrava-se o ex-ministro das finanças, Campos e Cunha, que criticou os investimentos em obras públicas dizendo que são impraticáveis porque agravam muito a divida pública e nem sequer podem ser justificados como medidas keynesianas de estímulo económico, já que demoram muito tempo a ter efeitos práticos. Do lado oposto encontrava-se António Mendonça que, estando integrado na lista do chamado “Manifesto dos 51”, pugnava pela defesa das obras públicas. Considerava o investimento público como o motor fundamental para o desenvolvimento da economia. Afirmando que investimentos necessários para o desenvolvimento do país devem ser realizados de modo a promover emprego, desenvolver a economia e criar condições para a sua modernização. Justificando que o endividamento público, sendo inevitável, pode ser atenuado pelo seu desfasamento ao longo do tempo. Visto que, como as obras em questão (Novo Aeroporto, TGV, Novas Auto-estradas) têm um prazo de construção longo e o seu pagamento ainda mais longo será, não afectarão em demasia o défice publico nem terão um impacto tão importante na divida publica, será isto real, não iremos criar uma divida que não nos será possível saldar?
Assim sendo, e reflectindo sobre a escolha de José Sócrates, para a nomeação do novo ministro das obras públicas transportes e comunicações, podemos entender que a vontade do primeiro-ministro passa por implementar a política de execução das grandes obras públicas e talvez de privilegiar os critérios politicos e de boa gestão, sobre os critérios de simples execução, uma vez que preferiu um economista a um engenheiro. Terá sido esta a escolha mais correcta? Permitir-nos-á enfrentar estes dias sombrios com melhor qualidade de vida? Veremos, para já ficamos com um novo conceito no Ministério que promete fazer a diferença num momento importante de crise nacional.

Ana Peixoto

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sábado, 24 de outubro de 2009

O valor de um (uns) cêntimo (s)…

O ser humano tem uma capacidade de agir inconscientemente impressionante, e é nos gestos mais banais do dia a dia que verificamos isso. Torna-se impressionante quando conhecemos pessoas analfabetas que não sabem ler nem escrever, mas que têm a capacidade de gerir o seu orçamento, que são autónomas financeiramente não conhecendo sequer os números. Ou seja, quando o assunto é dinheiro, mais propriamente sustento, todos somos capazes de nos defender.
Vejamos, por alguma razão quando vamos às compras comprar algo e vemos que o preço é de 19.99€, estamos dispostos a dar esse dinheiro sem pormos em causa se será um preço elevado para o artigo em causa. Mas, se por algum motivo vemos o mesmo artigo com qualquer coisa diferente mas que custe 20,99€, aí sim, já ficamos relutantes em dar essa quantia…. É este tipo de atitudes, que nós enquanto consumidores não prestamos atenção, mas que inconscientemente nos afecta e nos leva assim a preferir o artigo que custa 19.99€ ao outro, mesmo que este último tenha um adereço que o torne mais atractivo. É claro que só presta atenção a estes pormenores quem se encontra de alguma forma “limitado” monetariamente.
Até há bem pouco tempo, foram discutidas questões relativamente ao facto de os autarcas com funções em empresas públicas do Estado poderem ou não acumular renumerações pelo facto de estarem a acumular funções. Fará esta questão sentido num país onde nos deparamos com um desemprego cada vez maior, onde as falências de empresas não param de acontecer, onde quase diariamente vemos casos de empresas que despedem marido e mulher em simultâneo deixando assim uma família desamparada sem fonte de rendimento para se sustentarem e à família? Fará sentido ainda haver discussão se pode alguém receber dois salários (que em nada se assemelham ao salário mínimo) quando muitos trabalhadores se debatem por um salário mínimo apenas? Salário mínimo esse que é igual a 450€. E mais uma vez nos questionamos: de que servem 450€ a uma família que tenha de pagar renda de casa, contas ao fim do mês, prestação do carro, comida e muitas outras coisas mais …. É muito simples, não chegam a nada, mas também é verdade que se não os houvesse ainda pior seria.
O actual presidente da CIP (Confederação da Indústria Portuguesa) Van Zeller, defende que não deverá haver aumento do salário mínimo em 2010 e o aumento dos outros salários deverá ter em conta a inflação, tomando assim uma posição contrária ao que está previsto no Acordo de Concertação Social, que prevê que o salário mínimo passe a ser de 475€ em 2010. Ou seja, está previsto um aumento de 25€ no salário mínimo nacional para 2010, cerca de 0,80 cêntimos por dia, valor esse que não é astronómico e que ajudaria num país onde segundo a AMI (Assistência Médica Internacional) a pobreza atinge 18 em cada 100 portugueses. Mas a realidade é que têm de ser sacrificadas mais pessoas em benefício do país, agravando-se assim o problema de distribuição da riqueza em Portugal.
Retomando agora o dilema inicial, e adaptando-o ao país em que o salário mínimo é 450€, fará este um cêntimo ou um euro diferença na carteira? Talvez não, ou talvez sim… Fará sim diferença no mesmo sentido que 0,80 cêntimos fazem diferença a uma empresa. Quando dizem que os mais antigos são sábios não se enganam muito, não é à toa que se diz “grão a grão enche a galinha o papo”…. Mas depende tudo do tamanho do papo, ou da ambição…

Patrícia Araújo de Barros

Referências bibliográficas:
Jornal de Negócios_20/10/2009, p.28
http://dn.sapo.pt/bolsa/interior.aspx?content_id=1394221
http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=CIP-quer-muita-contencao-na-actualizacao-de-salarios.rtp&article=288481&layout=10&visual=3&tm=6
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

A Euribor e o poder de compra das famílias portuguesas

Com a falência da Lehman Brothers há pouco mais de um ano, a Euribor reagiu à crise de confiança instalada ultrapassando os 5% em Setembro do ano passado. A Euribor - Euro Interbank Offered Rate, taxa de juro média à qual são negociados os depósitos a prazo interbancários em Euros, dentro da zona Euro, é a principal referência nos empréstimos à habitação em Portugal.
Depois do mercado financeiro ter entrado em colapso em resultado da falência da quarta maior instituição bancária nos Estados Unidos da América, o BCE teve de actuar para controlar os danos. De forma a combater a crise de confiança que desencorajava o empréstimo de dinheiro entre bancos, o BCE estabeleceu como objectivo prioritário a injecção de liquidez no mercado e a descida das taxas de juro. A coordenação dos bancos centrais foi fundamental para a diminuição do risco nos empréstimos interbancários. Este facto pode ser verificado através das descidas consecutivas das taxas de juro nos últimos 12 meses, em especial da Euribor a 6 meses, para um nível histórico de 1%. Esta descida fez com que os encargos com os juros relativos aos empréstimos diminuíssem.
Mas se as famílias têm agora mais rendimento disponível, como se explica as notícias desanimadoras que falam sobre a dificuldade das famílias se sustentarem? Apesar de fazer pouco sentido esta co-existência de realidades, a explicação pode estar no excesso de confiança que em outros tempos apelou ao consumo e ao gasto de dinheiro de que as famílias não dispunham. Num cenário de optimismo, foram contraídos empréstimos. Agora, num cenário de pessimismo, em que muitas famílias perderam o seu sustento, esses empréstimos têm de continuar a ser pagos.
As recentes previsões do BCE apontam para o aumento do PIB e do nível dos preços, ao contrário do que até agora se tem verificado na Zona Euro, pelo que é de esperar que a Euribor suba a partir do segundo trimestre de 2010.
Segundo as projecções macroeconómicas para a área do euro revelada pelo BCE, a recuperação deverá ser lenta e gradual em todo o mundo. As previsões são de que o crescimento real médio anual do PIB seja negativo em 2009, entre -4.4% e -3.8%, situando-se depois entre -0.5% e +0.9% em 2010. Relativamente ao indicador utilizado pelo BCE para medir a inflação na área do euro - o IHPC, está previsto que se situe entre 0.8% e 1.6% em 2010 contra as previsões apontadas para este ano de que o IHPC se situe entre 0.2% e 0.6%.
Numa perspectiva de melhoria económica, ainda que ligeira como indicam os dados anteriores, espera-se a subida generalizada dos preços e das taxas de juro. Este facto fará aliviar a pressão sobre as empresas que com a deflação actual vêem os salários reais aumentarem. Apesar do aumento generalizado dos preços parecer mau para as famílias, este pode impedir que mais empresas fechem as portas lançando milhares de pessoas no desemprego.

Cláudia Carvalho
Claudia_lopes_carvalho@msn.com

Lista de Referências Bibliográficas:
Jornal de Negócios nº 1600
Jornal de Negócios nº 1601
www.ecb.int/ - Site do Baco Central Europeu
www.jornaldenegocios.pt/ - Site do Jornal de Negócios
www.euribor-rates.eu – Site sobre a Euribor
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Cada vez mais Pobres?

A pobreza representa uma privação do direito básico de cada indivíduo participar plenamente na vida social, económica, cultural e política da comunidade em que se insere - Nuno Alves

Nas últimas semanas, vários noticiários falaram da pobreza “envergonhada”. Um novo tipo de pobreza que se denomina desta forma pelo facto dos indivíduos tentarem ocultar a situação precária em que se encontram. A maioria destes novos pobres corresponde a indivíduos que viram a sua estabilidade financeira e familiar dissipada pelo desemprego.
Com o agravar da crise em 2008, verificou-se que a taxa de desemprego continuou a crescer desde o segundo trimestre de 2008 (7,3%) e atingiu, no mesmo período deste ano, 9.1%. Assim, estima-se que a população portuguesa desempregada atinge os 507.7 mil indivíduos. O contínuo aumento do desemprego está a contribuir, significativamente, para o aumento da pobreza das camadas sociais.
Perante este cenário, o Governo maioritário de Sócrates decretou o plano anticrise em Dezembro passado. Um conjunto de medidas, no valor de cerca de 1,165.7 milhões de euros, financiados pelo Orçamento de Estado, para atenuar os efeitos nefastos da crise na economia bem como no bem-estar da população. O aumento do défice para 5.9% reflecte o impacto deste plano nas contas públicas. Não podemos esquecer que o limite máximo imposto pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento da União Europeia é de 3%, mas devido às particularidades desta recessão de carácter internacional foi permitido desrespeitar essa condição.
Até Setembro deste ano, foram gastos aproximadamente 500 milhões de euros pelo plano, dos quais 123,8 milhões serviram para financiar medidas de apoio ao emprego e de reforço do apoio social.
As medidas de carácter social consistem: i) na defesa dos consumidores de crédito à habitação – foi criado o Provedor do Crédito, uma autoridade pública, para garantir que os encargos das famílias com a habitação diminuam face a uma descida das taxas de juro; ii) no apoio às famílias, na protecção do seu património – ajuda no pagamento de empréstimos para habitação própria, através da redução de 50% da prestação, e em que pelo menos um dos membros do casal esteja desempregado há mais de 3 meses. Foi criada uma moratória nas prestações de crédito, se for requerida até ao final deste ano pode-se estender por mais 2anos; iii) no apoio às famílias, na acção social escolar – alunos que beneficiem do abono de família e tenham um dos pais no desemprego, há mais de 3 meses, passam a ter 100% dos apoios; iv) Por último, medidas de apoio aos idosos nas despesas com a saúde – as pessoas que tiverem pensões inferiores ao salário mínimo nacional têm direito ao dobro da comparticipação específica, que acresce ao regime geral. No incentivo ao emprego, as empresas podem beneficiar da “isenção do pagamento das contribuições para a segurança social a seu cargo, durante 3 anos, ou, em alternativa, ao apoio directo à contratação no montante de 2.000 euros em acumulação com a isenção do pagamento de contribuições a seu cargo pelo período máximo de 2 anos” e duma redução de 50% da taxa contributiva na contratação de indivíduos desempregados. As micro e pequenas empresas “têm direito à redução de 3 pp. na taxa contributiva a seu cargo em relação aos trabalhadores com 45 anos ou mais anos de idade ou que os completem durante o ano de 2009”.
Mas estas medidas serão eficazes na protecção das famílias face à pobreza eminente? De acordo com os resultados provisórios do Inquérito às condições de Vida e Rendimento realizado em 2008, sobre rendimentos de 2007, pelo Instituto Nacional de Estatística, o risco de pobreza da população residente em Portugal era de 18% (próximo da média da EU-27 que se situa nos 17%). Verifica-se também que o impacto das transferências sociais, excepto pensões, na redução da taxa do risco de pobreza foi cerca de 6 pp.
Todas estas iniciativas permitem que a economia não desça para níveis ainda mais baixos, a fim de tentar controlar situações inéditas, como é o caso do crédito malparado - analisando dados do Banco de Portugal, verifica-se que o crédito malparado das famílias teve um aumento recorde de 36.6% e o das empresas 56.8%, em Fevereiro deste ano, relativamente a 2008.
Para que seja menos difícil a recuperação da crise, é necessário que o bem-estar da sociedade seja estável favorecendo a confiança no sistema. As famílias são agentes económicos importantes e necessários para dinamizar a economia, principalmente através do consumo e da poupança, por isso, a implementação de medidas sociais excepcionais, no curto-prazo, certamente irá ter impacto positivo na economia, ajudando as famílias a suportar o drama do desemprego e da pobreza.
Joana Soares

Bibliografia:
- Alves, Nuno “Novos factos sobre a pobreza em Portugal”, Banco de Portugal, Boletim Económico – Primavera 2009
- Associação Industrial da Construção Civil e Obras Públicas “Medidas de apoio ao emprego”
- Eurostat, “At-risk-of-poverty rate, by household type - %”
- http://www.socrates2009.pt/Conteudos/Noticias/Novas-Medidas-de-Apoio-as-Familias.aspx
- INE, “O risco de pobreza manteve-se em 18% e a Desigualdade continuou a descer – 2008”
- Rebêlo, Rudolfo “Crédito malparado bate níveis recorde”, Diário de Notícias, 24 de Abril de 2009
- Santos, Egídio “Governo só executou 42% do plano anticrise”, Jornal de Negócios, 21 de Outubro 2009
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Combate ao desemprego como prioridade

A economia continua a dar sinais de degradação, sem conseguir criar ofertas de emprego. Segundo o prémio Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, o desemprego vai continuar a aumentar e que os ganhos nos mercados accionistas apontam uma “irracionalidade exuberante” dos investidores em relação à recuperação económica.
No segundo trimestre de 2009 a taxa de desemprego registada em Portugal foi de 9,1%, sendo que no primeiro trimestre tinha sido de 8,9%, é de notar o valor registado em Espanha, um dos principais parceiros comerciais de Portugal, sendo este de 18,3%, o que pode condicionar a recuperação económica portuguesa, se isso se traduzir numa diminuição das exportações como se tem verificado. Já na Euro área segundo informações de 1 de Outubro de 2009, a taxa de desemprego em Agosto foi de 9,6%.
Podemos relacionar estes valores com a curva de Phillips (que expressa um trade-off entre inflação e desemprego, que permite analisar a relação entre ambos, no curto prazo), já que os valores registados para a inflação em Portugal têm sido decrescentes (em Setembro a inflação anual registada foi de -0,3%), quando o desemprego está a aumentar.
Segundo estatísticas do Banco de Portugal, no segundo trimestre deste ano havia cerca de 507,7 milhares de desempregados, sendo que destes 49,8 estavam na situação de procura de primeiro emprego e 457.9 milhares à procura de um novo emprego. É de notar que a taxa que atinge os jovens até aos 24 anos assume valores assustadores, há já alguns anos ficando nos 18,7% no segundo trimestre de 2009, sendo que 2 em cada 5 beneficiários do Rendimento Social de Inserção têm menos de 19 anos, os beneficiários do RSI aumentaram de 346 mil no primeiro semestre de 2008 para 385 mil em período homólogo de 2009, um crescimento de 11,3%, valores que podem ser explicados não só pela conjuntura económica mas também pelos empregos instáveis e a baixa qualificação dos portugueses.
Apesar da taxa de desemprego se situar em valores elevados, os indicadores de clima económico e de confiança dos Consumidores tem vindo a aumentar em Portugal, assim como na União Europeia (UE27), as opiniões dos empresários dos principais países clientes de Portugal sobre a evolução das suas encomendas contribuíram significativamente para o ligeiro movimento ascendente, assim como a evolução da situação económica do país.
O PIB português diminuiu, em termos reais 3,7% no segundo trimestre de 2009 face ao período homólogo, embora no trimestre anterior este valor foi ainda mais negativo (-4,0%). Para esta diminuição contribuíram as despesas de consumo final das famílias, em bens de consumo duradouro que fazem com que o consumo privado tenha recuado 15,5%, já que a maioria das famílias não possuem rendimentos para fazer investimentos. Claro está que o combate ao desemprego deve ser uma prioridade de qualquer governador, contribuindo assim para aumentar não só a riqueza e “auto-estima” das famílias, mas sobretudo aumentando a riqueza e desenvolvimento pessoal e tecnológico de toda a economia.

Isabel F. Carvalho Couto
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

TGV em desaceleração?

Será o TGV uma prioridade para Portugal, no contexto de crise em que vive, ou devemos ver este projecto mais como uma oportunidade de aproximação ao resto da Europa? A verdade é que os portugueses se mantêm divididos quanto a este tema, uma vez que existem muitos outros problemas que parecem transitar entre governos sem melhorias assinaláveis.
Porque não mais hospitais, mais e melhores escolas, mais esquadras de polícia, mais meios de combate a incêndios, mais tribunais, mais apoios à investigação, em vez do TGV? Porque não investir primeiro naquilo em que os portugueses realmente sentem falta no dia-a-dia: saúde, justiça, ou educação? Estas são, com certeza, algumas das perguntas que o mais comum dos portugueses colocará quando questionado sobre se é, ou não, a favor da construção do TGV em Portugal. Segundo uma sondagem Correio da Manhã/Aximagem, publicada a 13 de Julho de 2009, 57,5% dos portugueses são contra o projecto que merece a aprovação de apenas 35,7%. Mais curioso ainda é o facto de 63,3% dos nortenhos estarem contra o TGV, uma vez que a região litoral Norte sairia beneficiada com esta infra-estrutura, estando previstas ligações Porto-Lisboa e Porto-Vigo.
O projecto do TGV surge na tentativa da União Europeia em desenvolver a Rede Transeuropeia de Transportes (RTE-T) cujo objectivo central é a coesão social e económica da EU. Neste sentido pretende-se a criação uma rede multimodal que assegure o livre movimento de pessoas e bens, que reduza as distâncias, e que melhore as ligações entre as regiões periféricas e o centro da Europa. Assim, o projecto de Alta Velocidade português integra-se no conjunto dos 30 projectos prioritários da RTE-T.
Nos últimos tempos, tem-se discutido muito se esta obra deve ou não avançar. A verdade é que tem sido uma discussão demasiado politizada, usando o TGV por vezes como arma de arremesso, onde vale quase tudo para desacreditar os argumentos contra ou a favor. Não se discutiram os custos nem os benefícios da obra, discutiu-se a credibilidade dos candidatos ao governo. Por um lado o governo vai baseando-se em estudos mais ou menos credíveis para justificar o avanço da obra; por outro, a oposição defende que deve ser adiado, dadas as fragilidades económicas e financeiras do país, e que a obra interessa mais a Espanha que a Portugal.
Analisando alguns números disponibilizados pela RAVE (Rede Ferroviária de Alta Velocidade), o custo do TGV ascende aos 7,5 mil milhões de euros dos quais 37% serão suportados pelas contas públicas, 18% pelos fundos comunitários da União Europeia, e os restantes 45% pelas receitas futuras de exploração. Segundo dados deste mesmo estudo serão criados 56 mil postos de trabalho permanentes (cerca de 1,1% do emprego em 2006), o investimento privado aumentará em 126 mil milhões de euros (cerca de 81% do PIB em 2006), o PIB aumentará em 121 mil milhões de euros (cerca de 78% do PIB em 2006), e a receita fiscal aumentará para o Estado Português em 64 mil milhões de euros (cerca de 41% do PIB em 2006).
Os benefícios da alta velocidade não se ficam por aqui, uma vez que a redução da sinistralidade rodoviária, e a redução da poluição, acarretarão benefícios externos valorados em 245 milhões de euros por ano, utilizando o ano de 2025 como referência.
São, realmente, argumentos fortes e capazes de convencer os mais cépticos. Na verdade, no site da RAVE só se encontram razões para avançar com o projecto. Apetece perguntar: de que é que estamos à espera?
Ao longo de uma década, a pasta TGV passou por várias mãos: foi estudado e aprovado pelo governo PSD/CDS, esteve em discussão em duas cimeiras com Espanha, foi reavaliado e confirmado pelo governo PS, e é considerado importante por Bruxelas.
Dada a actual situação económica e financeira do nosso país, e dada a situação política do novo governo, que sem maioria absoluta se vê dependente da oposição para poder avançar com o projecto, será de esperar que a “novela” TGV se prolongue no tempo, onde se mudam as personagens mas o enredo é sempre o mesmo.
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

A crise e o endividamento

Em época de crise financeira são inúmeros os efeitos negativos sobre os países e os seus cidadãos. Os cidadãos, juntamente com as empresas, acabam por suportar um peso significativo dos resultados desta crise. Este facto sentiu-se notoriamente no endividamento com crédito mal parado.
Os factores que contribuem para o descontrolo do pagamento dos empréstimos são vários. Em tempo de crise, deparamo-nos com uma alteração dos rendimentos, a constante subida da taxa de desemprego em Portugal e as alterações das taxas de juro. Tudo isto acrescentando o excessivo endividamento causa inevitavelmente crédito mal parado, não só por parte das famílias mas também por parte das empresas. Por parte das famílias, factores como doença ou divórcio prejudicam o seu equilíbrio económico, no entanto é o desemprego que pesa mais. Do lado das empresas, o facto de produzirem/fornecerem menos, uma vez que existe menos consumo e uma menor procura, levam muitas a fechar e não conseguir concluir o pagamento em divida realizado para inicio de actividade.
Em termos numerários, análises/estudos realizados concluíram que, em dois anos, o crédito mal parado em Portugal aumentou gradualmente, chegando aos 47 por cento, ou seja, cerca de metade do montante dos empréstimos realizados pelos bancos não estão a ser pagos na totalidade pelos portugueses, o que acarreta consequências também para o banco, que num futuro não terá recursos próprios para conceder empréstimos. Feitas as contas, no total, as famílias portuguesas devem aos bancos três mil e quinhentos milhões de euros, relacionados com encargos com a habitação, com bens de consumo e cartões de crédito. É de realçar que este valor é mais elevado do que o valor que vai custar o novo aeroporto de Alcochete, tão mencionado nas notícias. Apesar de tudo, a situação das empresas não é muito melhor uma vez que ascende a quatro mil milhões de euros.
De acordo com o Jornal de Negócios, “os bancos estão a efectuar provisões para cobrir perdas com crédito incobráveis. Com isto, no primeiro semestre de 2009, a almofada financeira para situações como esta aumentou para 132 por cento no BES, face ao período homólogo do ano passado. Já no BCP cresceu 35 por cento e no BPI subiu 12 por cento,” o que leva os bancos a estarem mais atentos. Isto significa que os bancos vão começar a restringir a concessão de crédito, diminuindo os empréstimos drasticamente.
Como já referido, as alterações nas taxas de juro também têm uma relativa influência sobre a perda de controlo de pagamento das prestações aos bancos. A taxa de referência utilizada pelos bancos, a Euribor, em geral, desde o inicio da crise (em 2007) tem vindo a sofrer alterações significativas. Em Março de 2008, atingiu o seu valor máximo, levando as pessoas a não conseguirem pagar os empréstimos. Mais tarde, em Outubro de 2008, as taxas Euribor desceram “aliviando” um pouco os portugueses. Em Outubro de 2009, um ano depois, atingiu um novo mínimo de sempre.
Uma situação é certa, se os juros subirem, de menos rendimento disponível os cidadãos possuem e, consequentemente, menos investem noutras coisas. Se não houver consumo, as empresas não obtêm lucro, logo facilmente se depreende que nada se avança ou recupera. Conclui-se que esta descida das taxas Euribor, como politica monetária, teve impactos significativos no caso português, pois foi um dos principais factores que levaram à melhor situação económica que vivemos neste momento. No caso das empresas, a evolução dos juros não teve o mesmo impacto "porque à redução das taxas directoras seguiu-se um aumento muito significativo dos ‘spreads' médios", provocando uma compensação aos juros mais reduzidos no sistema financeiro. No entanto, tudo indica que a Euribor venha a subir mal se sintam os primeiros sinais de retoma.
Pode-se concluir assim que, para bem da economia portuguesa assim como para os seus cidadãos uma politica monetária como a referida pode ser uma mais-valia para a situação económica e financeira de cada um, pelo que, na minha opinião, se deve apoiar este tipo de medidas. A juntar a estas medidas, para as empresas que não têm tantos benefícios com a taxa de juro, o Estado e entidades competentes devem apoiar com subsídios as mesmas ou alterar/implementar as condições de empréstimo, como, por exemplo, alterar as formas de pagamento para as empresas que não obtêm lucro. Com tudo isto, e mais umas medidas ajustáveis ao cenário em que vivemos, espera-se que a crise comece a esmorecer, apesar de ainda haver um “longo caminho” a percorrer nos próximos anos.

Lara Isabel Leite
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

A CHAVE PARA O FUTURO!

Vivemos num mundo onde o crescimento exponencial é um “bem necessário”, aparentemente intrínseco à sociedade. Depois de quase um século de crescimento económico sem precedentes, a sociedade moderna nada mais espera senão mais e mais crescimento. Ora, se este não existir, a sociedade deixa de funcionar e entra em “crise”. Assim sendo, como poderá este crescimento continuar se vivemos num planeta de recursos naturais finitos?
Sabe-se que o motor deste crescimento foi, e continua a ser, o petróleo. É a principal fonte de energia, a mais fácil de utilizar tendo sido, por si só, responsável por mais de metade do crescimento económico durante o século XX.: possibilita o usufruto de um sistema de transportes sem precedente na história; o avanço tecnológico presente no dia a dia de todos. Em suma, sem este líquido precioso não existiria o crescimento exponencial destas últimas gerações.
Actualmente, o Mundo consome quase 1000 barris de petróleo por segundo - uma situação insustentável, um número colossal: cerca de 1.5 quilómetros cúbicos anuais! Alimentamo-nos do “ouro negro”! Haverá futuro para nós, assim?
Nos últimos anos, tem-se notado uma crescente preocupação com as alterações climáticas e a necessidade de reduzir a dependência desta fonte de energia. Presentemente, perante a actual conjuntura económica, a cooperação entre os Estados e a aposta na sustentabilidade, sobretudo nas energias renováveis, são o futuro, em particular da Europa. A crise mais séria é a do ambiente e nenhum argumento é suficiente para justificar este excessivo consumo de recursos limitados.
A globalização é, hoje, uma crescente "interconexão" das aspirações dos vários países e dos impactos ambientais que daí poderão advir. Por isso, o mais importante será agir em união, ter coragem e fomentar as iniciativas necessárias para que as grandes potencialidades da energia renovável sejam visíveis. São alturas de crise, como a de hoje, que potenciam a mudança, o olhar para os sinais e para o futuro de uma política sustentável e a aposta no desenvolvimento das novas energias.
Alguns defendem a continuidade do consumo do petróleo e o desenvolvimento da energia nuclear mas, o que é facto é que ambas são demasiado arriscadas e insustentáveis a longo prazo. A energia nuclear é, segundo Joschka Fischer, vice-chanceler alemão, “uma tecnologia muito arriscada se cair nas mãos erradas”. Para além disso existe a questão de o que fazer aos seus resíduos? Ainda hoje é difícil responder a este problema.
A actual situação financeira acabará por ferir a economia global, sendo preciso liderança política e o fim de uma percepção errada, onde se investe em "produtos de ontem" sem ver as potencialidades dos “produtos de hoje”. Actualmente, as renováveis são “a chave para o futuro”.
No que diz respeito ao panorama português, deve salientar-se que o país tem um enorme potencial nessas fontes que podem e devem ser exploradas, não só para reduzir a dependência energética externa mas também para proteger o ambiente. Sendo assim, Portugal estará numa posição privilegiada para compensar o défice natural das fontes de energia não renováveis, tornando-se pioneiro na diminuição da dependência energética e colocando-se na vanguarda de um desenvolvimento sustentável.
Consciente disso, o país assumiu um compromisso: em 2010, dispor de 45% da energia eléctrica gerada a partir de fontes renováveis. Portugal, com 30.1%, ocupa a quarta posição na tabela dos países europeus com maior consumo de electricidade gerada a partir de fontes renováveis (de acordo com o divulgado pelo INE espanhol), consequência da preocupação ambiental do governo. Ora, corresponde ao dobro da média apurada na EU a 27, com apenas 15,6%.
Portugal apresenta um projecto de construção de cinco novas barragens no Alto Tâmega, um dos projectos hídricos mais ambiciosos dos últimos 25 anos na Europa. Muitos criticam este plano dizendo que apenas vem dar sentido às velhas aspirações de crescimento empresarial dos produtores e transportadores de electricidade, para além do desrespeito pelos valores da paisagem e dos ecossistemas ribeirinhos, de menosprezar o valor multidimensional do recurso da água, já para não falar nas perdas ambientais para as populações daquelas zonas.
Todas estas considerações são justas, legítimas e é imperativo tentar amenizar estas consequências mas, o que é facto é que estas centrais hidroeléctricas produzirão dois mil gigawatts por hora (3% do consumo português). Trata-se de produzir aqui o que estamos a importar.
Então, o futuro para Portugal como para o resto do mundo passa pela aposta no renovável.
Fábio Lima
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

domingo, 18 de outubro de 2009

Conjuntura…

A actuação pontual vs actuação estrutural

Actualmente as economias mundiais vivem tempos difíceis. Tal facto é consequência de acontecimentos nada favoráveis, para o desenvolvimento das mesmas, que começaram a surgir sobretudo a partir do final de 2008. Esta cava do ciclo económico, pode também ser vista como um teste às economias, e desta forma conferir a vulnerabilidade ou não das mesmas. O resultado não foi efectivamente o melhor. Observando as consequências nas economias europeias, aquilo a que assistimos foi a uma quebra nos indicadores macroeconómicos (como o abandamento do crescimento económico, aumento da taxa de desemprego, etc), notando-se assim que existe elevada abertura das economias do velho continente a choques externos. Algo que era previsível, mas o facto de existir interdependência económica não pode ser visto só como algo que é mau, porque se se está a partilhar uma crise e se a mesma passa a ser um problema comum entre os países, então há uma união por parte destes por um interesse comum que é combatê-la.
Os esforços têm sido significativos para o efeito, mas se a conjuntura económica dos países envolvidos não oferecer condições, então tudo se torna mais difícil. Olhando ao caso português, e a par da crise tão falada nos últimos tempos, vemos uma conjuntura que é constantemente beliscada por nós mesmos. O caso do BPN é exemplo disso mesmo. Quando em finais de 2008 o debate em destaque era o rebentamento da crise já referida e quando pensavamos que nada pior aconteceria, assistimos à aprovação da nacionalização do BPN por parte da Assembleia da República no dia 5 de Novembro de 2008 sendo esta lei promolgada pelo presidente da república 6 dias depois. Este facto, foi a confirmação das suspeitas que vinham a ser investigadas há já algum tempo, contribuindo para uma deterioração da confiança dos depositantes face às instituições financeiras (consequência que nada ajuda a uma recuperação rápida da nossa economia). Os valores que este desfalque apresenta são sem dúvida assustadores e crescentes com o derrenrolar do caso: no mês de Novembro, o ministro das finanças falava em 700 milhões de euros; um mês depois em 900 milhões de euros; em Janeiro o buraco já ía nos 1800 milhões de euros e actualmente fala-se em 2500 milhões de euros. Comparemos agora esta situação com uma semelhante nos E.U.A: Bernard Leon Madoff foi o presidente de uma sociedade de investimento que tem o seu nome e que fundou em 1960. Este gestor, foi detido pelo FBI em Dezembro de 2008, suspeito de ser causador de um desfalque avaliado em 50 mil milhões de dólares na referida instituição. Embora em termos absolutos, o crime causado por Madoff (30% do PIB português) seja de considerável maior dimensão relativamente ao causado no BPN, a verdade é que em termos relativos, ou seja em percentagem do PIB, o buraco causado no BPN é cinco vezes maior ao causado no E.U.A.
Estes são dois casos de características semelhantes, no entanto diferem e muito relativamente ao apuramento da verdade e à consequente condenação dos culpados: enquanto que nos E.U.A. Madoff foi já condenado a 150 anos de prisão no passado dia 29 do mês de Junho, em Portugal ainda ninguém foi alvo de uma condenação concreta e definitiva apesar de existirem suspeitos que vão sendo absolvidos por falta de provas. Mais uma vez a resposta do nosso país a casos de urgente resolução é a do costume, ou seja, nenhuma. Aquilo a que nós assistimos, é a uma passividade intolerável da justiça portuguesa em tomar medidas concretas relativamente a um caso como é o do BPN. Vemos constantemente a justiça a não actuar de forma eficaz, correcta, atempada e exemplar dando a ideia de que a mesma é propícia à prática de crimes financeiros, sendo como que uma camuflagem de tudo que se faz de errado. É neste tipo de situações que nós fazemos a diferença pela negativa e reparamos que a nossa conjuntura económica não tem normal funcionamento. Para além disso, as soluções apresentadas para este tipo de situações são meramente pontuais e não estruturais, isto é, surge um buraco no BPN e a solução por parte dos gorvenadores é unicamente tapa-lo com capital financiado pelos contribuintes, quando em vez disso se devia também proceder a um reforço do controlo sobre a instituições financeiras, precavendo-se assim de situações semelhantes no futuro. O funcionamento exemplar do sistema judicial tem de ser uma normalidade e o combate ao “chico-espertismo” tem de ser intensificado, para que desta forma possamos ter uma estável conjuntura económica e financeira.

Ismael Correlo

Fontes:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1383398
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Energias renováveis: uma nova aposta no combate à crise e à dependência energética

Um dos problemas que caracteriza a economia portuguesa, e que contribuirá para o agravamento da crise económica e social que o nosso país enfrenta, é precisamente a grave ineficiência energética e a distorção de toda a economia nacional que a ela está associada. A resposta a este problema pode estar na utilização das energias renováveis produzidas por recursos naturais que garantirão uma disponibilidade ininterrupta e o fornecimento de energia a um preço aceitável para os consumidores.
O défice energético em Portugal representa 40% do resultado negativo registado na balança de transacções correntes, que neste momento já vai em mais de 12% do PIB. Se retirarmos a dependência energética, o nosso défice seria de 7% do PIB. A factura energética paga pelo País, que importa cerca de 88% da energia primária que consome, é extremamente pesada e está a aumentar de uma forma vertiginosa. De acordo com dados do INE, o aumento do custo das importações de petróleo, entre 2004 e 2005, foi superior a 38%. Em 2004, em cada 100 euros de importações portuguesas dos países extracomunitários, 30 euros eram de petróleo e derivados. Para agravar a situação, o Conselho Mundial de Energia estima que a necessidade energética irá duplicar até 2015. Bastava aumentar a eficiência na utilização da energia em Portugal para reduzir a factura energética portuguesa e a dependência energética do país para cerca de metade.
Portugal usufruirá bastante da utilização das energias “limpas” já que é um dos países com maiores possibilidades de exploração deste tipo de energia. Possui uma extensa costa onde pode explorar a energia das ondas, uma das áreas de maior exposição solar que permite aproveitar a energia solar, uma grande zona montanhosa para usufruir da energia eólica e vários rios de onde pode beneficiar da energia hidroeléctrica. Assim, deverá apostar neste tipo de energia e no desenvolvimento de tecnologias para o aproveitamento das energias renováveis. Esta aposta no desenvolvimento poderá beneficiar comunidades rurais e regiões afastadas bem como a produção agrícola através da autonomia energética e consequente melhoria global da qualidade de vida dos habitantes.
É verdade que Portugal já iniciou esforços com vista a implementar o uso de energias limpas e o aumento da sua produção. Em Setembro de 2009, o Instituto Nacional de Estatística Espanhol divulgou que Portugal, com 30,1%, ocupava a quarta posição na tabela dos países europeus que consomem mais electricidade gerada a partir de fontes renováveis. A venda de energias renováveis em 2008 gerou 680 milhões de euros em receitas, mais 32,8% do que em 2007, de acordo com os dados da empresa analista de sectores DBK. A energia eólica, dominante em Portugal, com uma potência instalada acumulada de 2.770 MW e a energia solar fotovoltaica com 59 MW em 2008, deverão ser os sectores onde a tendência crescente de produção e receitas se irá registar mais notoriamente. Em Dezembro de 2007, Portugal possuía 1604 parques eólicos em funcionamento e 355 parques em construção e actualmente possuímos a maior central solar do mundo situada em Serpa, no Alentejo e cerca de 155 grandes barragens.
Mas os peritos concluíram que mesmo que a fracção das necessidades energéticas que possa ser coberta pelas energias renováveis aumentar como se prevê, elas não poderão satisfazer a totalidade das necessidades mundiais. Torna-se assim necessário desenvolver novas opções energéticas, optimizadas em termos de segurança, de impacto sobre o meio ambiente e de economia.

Isabel Freitas

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Gripe A e a Economia

Em 2008, o Banco Mundial estimou que uma pandemia de gripe pode custar quase 3 biliões de euros e uma queda de 5% do PIB mundial.

A Gripe A surgiu numa altura em que a economia mundial está fragilizada e o cenário pode piorar. Ainda é cedo para avaliar os resultados deste vírus mas, de acordo com um estudo do instituto britânico “Oxford Economics” publicado no dia 17 de Julho de 2009, concluiu-se que se 30% da população mundial for contaminada pelo vírus H1N1, o crescimento económico ficará seriamente comprometido atrasando a recuperação económica mundial por um ou dois anos. Algumas das explicações para tal associação centram-se no facto das pessoas, perante a incerteza e o receio, reduzirem as despesas e adoptarem comportamentos preventivos evitando locais públicos como centros comerciais e cancelando viagens o que causa uma diminuição do consumo e problemas para o mercado financeiro e para a confiança dos investidores, gerando um ciclo vicioso que, caso aconteça, se espera ser de curto prazo. É de destacar que o sector de aviação é o principal sacrificado pois o número de viagens, principalmente para o México, sofreram um grande declínio este ano.
As empresas, no pior dos cenários, são afectadas pelo absentismo no trabalho, adaptam o seu funcionamento e aumentam os gastos prevenindo a doença e evitando o contágio entre os seus funcionários. O Estado é também pressionado a encaminhar alguma da receita pública para o combate a esta epidemia. Em alguns países, nos serviços de hotelaria muitas empresas tiveram que antecipar férias devido ao fraco movimento e os comerciantes afirmam que a adesão às suas lojas não variou entre fins-de-semana e restantes dias. As mulheres grávidas e as crianças são aconselhadas a ficar em casa e algumas escolas, como já se verificou, podem ser fechadas. É então de concluir que caso acontecesse uma pandemia o país poderia parar.
Todas as medidas tomadas para combater este vírus necessitam de custos avultados. É o caso da criação de stocks de medicação antiviral, do desenvolvimento da vacina e dos sistemas de prevenção e tratamento.
No outro extremo estão os sectores que beneficiam com a pandemia como a indústria farmacêutica pois a compra de vacinas atingiu valores descomunais.
Uma outra questão a abordar nesta temática é a existência de interesses económicos na criação de "uma epidemia de medo" causada por uma "doença fantasma", tal como é denunciado pelo presidente da Ordem dos médicos de Espanha (Juan José Rodríguez Sendín). Tal acusação pode ser fundamentada pelo facto de os valores da taxa de mortalidade decorrente da gripe sazonal serem mais significativos do que a taxa de mortalidade provocada pela gripe suína, o que contradiz o exagero de alarmismo a que se assistiu.
Actualmente, não há tanto alarido relativamente a este assunto como houve na estação passada. Porém, o Outono e o Inverno são as estações mais propícias para contrair esta e qualquer gripe, por isso, é de esperar que esta temática volte a abrir noticiários em breve. Se a situação piorar, uma boa solução para a economia não estagnar é recorrer ao teletrabalho como a EDP e a Microsoft, por exemplo, ponderam e assim evitar o contágio entre os funcionários sem que as empresas parem a sua actividade produtiva.

Joana Barbosa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo), da EEG/UMinho]

Endividamento das famílias: uma realidade cada vez mais visível

A partir da década de 90, o endividamento das famílias portuguesas subiu em flecha, tomando, actualmente, valores verdadeiramente assustadores.
Com a adesão à zona euro e com o processo de convergência, o nível de vida das famílias portuguesas tendeu a aproximar-se da média europeia, traduzindo-se num maior consumo das famílias. Por outro lado, assistiu-se a uma queda acentuada das taxas de juro nominais e a uma campanha agressiva da banca que facilitou, em demasia, a obtenção de crédito. Isto levou a que muitas famílias assumissem compromissos que ultrapassavam em muito a taxa de esforço aceitável e a banca, sem ter em consideração a dimensão do risco, age de um modo totalmente imprudente.
A sociedade portuguesa, que até então tinha taxas de poupança acima da média europeia, começa a adoptar um comportamento despesista e consumista. As famílias consomem mais do que o que podem, excedendo o seu rendimento e, numa atitude de “fuga para a frente”, solicitam novos empréstimos para cumprimento das obrigações contraídas, formando-se um ciclo vicioso. Segundo dados da DECO, hoje em dia existem famílias que possuem de 4 a 10 créditos.
Há famílias portuguesas em situações particularmente difíceis, que perderam os seus empregos tendo na mesma que arcar com todas as despesas, com filhos, casa, etc., e que realmente precisam de ajuda para saírem desta situação de certo modo inesperada. Mas também existe uma realidade mais difícil de aceitar: a maior parte das famílias faz uma má gestão do seu rendimento, nunca se precavendo para uma eventual “crise”. Também, muitas não privam de umas feriazinhas, de um carro novo ou de outro tipo de luxos que, para os obter, recorrem a créditos pessoais com taxas de juro elevadíssimas, não cuidando do seu futuro.
De ano para ano, o número de pedidos de ajuda à DECO aumenta, e desde que a crise se instalou em 2007 que o aumento se tornou exponencial. Em 2004 o endividamento das famílias atingiu os 117% do rendimento anual disponível e em 2008 representava já mais de 135%, levando a que em 2009 o sobreendividamento das famílias bata todos os recordes.
A subida das taxas de juro que atingiram o seu máximo no final do 3.º trimestre de 2008 e o consequente aumento dos encargos levou a que muitas famílias deixem de poder pagar as suas prestações e entram em situação de insolvência, fazendo disparar o crédito mal parado.
a actual crise financeira e o aumento do desemprego vieram agravar, ainda mais, a situação. Mesmo quem não perdeu o seu posto de trabalho vive momentos de instabilidade, pois muitas empresas não estão a pagar atempadamente os salários e praticamente deixaram de pagar horas extras. Basta vermos que, segundo dados da DECO, o perfil das famílias que recorrem a ajudas se alterou: agora também pedem ajuda famílias com rendimento mais elevado. O problema é que, por vergonha, pedem ajuda já numa situação de desespero e total incapacidade de cumprir com as suas obrigações.
A actual baixa das taxas de juro e a consequente descida dos seus encargos tem dado uma “folga” às famílias que mantiveram os seus empregos, mas a breve prazo estas entrarão novamente num ciclo de subida e colocá-las-á novamente em dificuldade.
Uma possível solução para tentar resolver este problema poderá ser a melhoria salarial sustentada pelo acréscimo da produtividade e uma maior consciencialização das famílias para assumirem uma atitude mais responsável e prudente nos seus hábitos de consumo.
Considero também que cabe uma certa responsabilidade às autoridades públicas, que deveriam obrigar as instituições de crédito a prestar informações claras e completas e regular as relações contratuais de modo a evitar situações abusivas e tentar que as situações de sobreendividamento não se tornem eternas nem irrecuperáveis.
Ana Cláudia Ferreira Azevedo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo), da EEG/UMinho]

Convite a estudantes para apresentarem estudos sobre "Contact Centers" em Portugal

"Estudo Diagnóstico e Benchmarking da Actividade de Contact Centers 2009"

(título de mensagem, datada de Sexta-feira, 16 de Outubro de 2009, disponível em Universidade Alternativa)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

"A informação sobre o canal electrónico em Portugal é muito escassa"

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(título de mensagem, datada de Terça-feira, 13 de Outubro de 2009, disponível em Economia Portuguesa)

Benefício de quem?

Nunca as empresas pagaram tão pouco por contrair empréstimos junto da banca comercial, o que não deixa de ser curioso que isto aconteça precisamente numa altura em que os bancos ainda demonstram sinais de algumas dificuldades financeiras. Curioso ou não, a taxa de referência foi colocada pelo BCE em 1%, o que influencia directamente as Euribor, afectando por isso as prestações da casa das famílias e o custo dos empréstimos dos bancos às empresas.
Segundo os dados do Banco de Portugal, as taxas de juro aplicadas às sociedades não financeiras continuaram até Agosto em movimento de queda livre atingindo um mínimo histórico, tendo-se mantido inalterada no presente mês.
Talvez seja ainda mais interessante quando olhamos para Portugal e para a União Europeia e constatamos que os portugueses estão a pagar menos pelo crédito à habitação do que as restantes famílias europeias e que Portugal registou a maior queda da taxa de juro média dos 16 países da Zona Euro. Portugal apresentou uma descida de 3.42 pontos percentuais e a Zona Euro apenas 0.8, fixando-se assim os valores em 2.44% e 4.28% respectivamente. As desigualdades de valores entre Portugal e os restantes países podem ser justificadas por diferentes condições de cada país, como são os spreads, legislação ou mesmo diferentes técnicas e métodos de concessão de crédito.
São vários os Países cujas instituições financeiras demonstram resultados e previsões pouco favoráveis. É o caso da Irlanda, onde já foi anunciado que “os maiores bancos vão precisar de mais injecções de dinheiro, apesar da venda de activos tóxicos ao Estado” afirmou Brian Lenihan, ministro das finanças irlandês. A compra de activos tóxicos pelo Estado foi uma medida deste tentar impulsionar a concessão de crédito por parte dos bancos, naquela que era uma das economias mais dinâmicas da Europa. De mencionar é também o estudo realizado pelo Deutsche Bank, que concluiu que 10 dos 17 bancos norte americanos analisados poderão apresentar prejuízos no período Julho-Setembro devido a perdas potenciais relacionadas com o crédito e a recuperação para a banca em 2010 será um processo lento e controlado. Para o mercado europeu, há também más notícias: os maiores bancos vão necessitar em breve de mais capital, 78 mil milhões de dólares (53.2 mil milhões de euros), segundo JP Morgan.
O compromisso do Banco Central em manter fixas as taxas de juro pode trazer complicações ao mercado, como uma bolha nos mercados financeiros, defende Keith Weith, economista chefe da Schroders. Com taxas de juro tão baixas, existe uma crescente tendência dos investidores transferirem o seu dinheiro de depósitos para outras opções mais rentáveis, e com maior grau de risco envolvido. Isto pode provocar o arrefecimento dos activos de risco devido ao receio de um período prolongado de baixo crescimento (recuperação em W), tal como aconteceu no Japão.
A manutenção das taxas de juro nestes valores beneficia mais famílias do que empresas, uma vez que as primeiras vêm o seu rendimento disponível aumentar, ao diminuírem os encargos de crédito e com juros. Este foi o principal efeito em Portugal, conduzindo ao aumento do consumo privado, que segundo economistas contactados pela Lusa, foi o factor que mais contribuiu para a situação de melhoria de conjuntura económica que hoje vivemos.
Apesar de todas estas preocupações, benefícios e desvantagens, a alteração do valor das taxas de juro de referência está previsto apenas para 2010, com sentido ascendente.

Marta Andreia Pires Fão
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo), da EEG/UMinho]