sábado, 27 de novembro de 2021

Aqueles que não se conseguem lembrar do passado estão condenados a repeti-lo

      Em setembro de 2008, o Lehman Brothers, um dos maiores bancos de investimento da história dos Estados Unidos, acabava de anunciar falência. Após o desencadeamento da crise dos subprimes no ano anterior, várias instituições financeiras acabaram por seguir o mesmo caminho, levando a um colapso do sistema financeiro à escala mundial, com consequências que ainda hoje se sentem, sobretudo no nosso país. Desde então, e como resposta às adversidades sentidas ao longo dos anos que se seguiram, os bancos centrais mais influentes do mundo, como o BCE e a FED, começaram a adotar políticas monetárias expansionistas, diminuindo drasticamente as taxas de juro, até aos atuais 0,0% na zona euro, desde 2016, e aumentando de forma exponencial a quantidade de moeda oferecida nas respetivas economias, numa década que se caraterizou por alguma estabilidade financeira nos países desenvolvidos, até ao ano passado.

          A 13 de março de 2020, quase doze anos depois do crash de Wall Street, a OMS classificava o novo surto provocado pelo SARS-CoV-2 como uma pandemia, confirmando o cenário expectável de que os próximos tempos viriam a ser atribulados. Para além dos desafios sanitários impostos aos governos pelo globo fora, seguiram-se meses de uma elevada necessidade de despesa pública, de volatilidade nos mercados financeiros e de alastrada instabilidade social.

        De modo a impulsionar as economias fortemente afetadas pela pandemia e financiar programas de apoio governamental, a necessidade de se injetar mais capital na economia também cresceu. Essa necessidade foi correspondida pelos grandes bancos centrais do mundo, de forma mais ou menos semelhante, através da compra recorde de dívida pública aos governos à procura de financiamento, aumentando a dívida dos países e a quantidade de moeda em circulação, algo que se verificou, como demonstram os seguintes gráficos, tanto na União Europeia como nos EUA.

EU - Debt to GDP


USA – Money Supply (M1)


Com os apoios monetários em grande escala que se têm vindo a observar, a recuperação económica após o impacte inicial da pandemia tem sido forte, pelo menos no que toca à produção total dos países. A taxa de crescimento do PIB atingiu valores na ordem das dezenas, 33,8% nos EUA e 12,6% na Zona Euro, na segunda metade de 2020, depois da queda abrupta do início do ano.

Apesar disso, no último ano e meio têm-se verificado algumas falhas nos mercados dos países desenvolvidos. Situações como escassez de produtos nos supermercados e afetação insuficiente de produtos energéticos, como por exemplo o gasóleo, têm sido cada vez mais normais numa economia caraterizada pelo excesso de procura de bens e serviços, aliada à expansão monetária recorde, relativamente à diminuição da oferta agregada, afetada por consideravelmente maiores custos de produção e transporte. 

     Aparentemente sem qualquer surpresa, vão-se observando, simultaneamente, ao longo dos meses, fenómenos de inflação pelos custos e inflação pela procura, para além da gigantesca expansão monetária que por si só seria suficiente para causar preocupação relativamente à subida dos preços nas economias afetadas. Os mercados de ações e imobiliário também não escaparam à especulação desmedida dos últimos meses, batendo recordes de índices compostos diariamente, triplicando os valores que se verificaram antes do colapso financeiro de 2007-2008.

USA - Inflation Rate


USA - S&P500


EU - Housing Prices Index

A partir daqui tudo o que se pode prever é, apesar de tudo, apenas uma previsão. Factos são que os valores de crescimento do produto estão a voltar a estagnar, todos os países estão mais endividados do que nunca, as taxas de juro continuam a zero, a China poderá estar a entrar em recessão, a inflação não dá sinais de abrandamento e os bancos centrais continuam a injetar dinheiro como nunca antes visto. Sem dúvida que estamos perante um momento delicado no que ao futuro dos países desenvolvidos diz respeito. Teremos uma espécie de época dourada no que à política monetária diz respeito, anos de subida de preços abrupta ou estaremos a um passo da nova maior crise do século XXI?

 

Rodrigo Oliveira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

O turismo sustentável como instrumento de desenvolvimento económico

         Hoje em dia, o termo sustentabilidade tornou-se cada vez mais comum e importante, com o objetivo de conservar aspetos ambientais, económicos, culturais e sociais, na promoção do seu equilíbrio. Este é cada vez mais importante devido à aceleração da degradação ambiental e ao seu impacte e capacidade de prejudicar o progresso económico nos países em desenvolvimento.

A experiência oferecida no destino turístico deve ser memorável, satisfazendo os visitantes e contribuindo para a repetição e recomendação do destino. Assim, deve-se apresentar a sustentabilidade como um fator imprescindível no desenvolvimento passado, atual e futuro da humanidade, verificando-se se os aspetos teóricos expostos já se encontram patentes e em utilização pela sociedade atual.

A conservação e o turismo não são necessariamente contraditórios. Por vezes, eles podem apoiar-se mutuamente. Para a atração de mais visitantes que estão dispostos a pagar pelos benefícios da sustentabilidade, podem-se utilizar fatores como a prestação de informações e educação ambiental, empregando os recursos despendidos pelos turistas no financiamento da conservação ambiental.

Podem definir-se como os quatro fatores principais do turismo o ambiente social, a economia, as oportunidades e o meio ambiente. O primeiro afeta a comunidade nas dimensões seguintes: caráter regional, moral, confiança e cortesia; intercâmbio cultural e mudanças demográficas. Pode perturbar a vida dos moradores locais e levar à saturação de visitantes estimulando a migração. A economia pode levar a gastos públicos desnecessários, aumenta as oportunidades de emprego, melhora o investimento e o desenvolvimento, aumenta lucros de empresas locais e o seu potencial, estimulando a economia local e regional.

As oportunidades afetam a acessibilidade à habitação, educação, centros de investigação, auxiliam o desenvolvimento e a manutenção da segurança pública, criam novas atividades e atrações culturais, melhoram a promoção da área e aumentam a disponibilidade de instalações recreativas. O meio ambiente pode ser afetado pela conservação e valorização das áreas naturais, mudando a aparência de uma área local, e pela poluição sonora e utilização de recursos naturais pelos moradores.

Deste modo, os fatores referidos anteriormente exemplificam como o turismo afeta os destinos e alguns dos impactes negativos e positivos que pode trazer. O impacte do turismo na sociedade e os seus resultados ambientais devem ser considerados em conjunto com o embate económico e seus benefícios, garantindo que as comunidades utilizam e desfrutam do turismo como uma indústria legítima.

          O turismo sustentável reflete os interesses de desenvolvimento global, para garantir a oferta de produtos turísticos de qualidade e evitar ou reduzir os impactes negativos, principalmente sobre o desenvolvimento natural e sociocultural. 

         A crise económica que se sofreu recentemente influenciou negativamente o turismo, ocorrendo uma queda das receitas, falta de crédito, aumentou o desemprego que levou à diminuição das reservas de dinheiro auferidas pelos utentes, logo menos gastos em viagens, causando uma queda da confiança e da procura neste mercado. No contexto económico mundial, denota-se que a crise económica internacional continuou a condicionar a atividade turística. Em 2009 o cenário de crise económica internacional manteve-se presente em todos os grandes blocos económicos, com o Japão e a União Europeia a registarem as maiores quebras homólogas no PIB, -5,2% e -4,2%, respetivamente.

         Este ano registou a mais grave recessão económica desde a 2a Guerra Mundial, tendo motivado uma abrangente intervenção pública nas economias, permitindo atenuar a quebra na procura, o risco e incerteza junto dos mercados financeiros. No âmbito económico, o turismo pode ter um efeito positivo sobre o emprego, PIB, estimula novas atividades económicas e aumenta o potencial de um território para o desenvolvimento endógeno.

                          Figura 1 - Impacte da recessão económica


Em Portugal, são realizados planos de ordenamento nas áreas litorais, zonas protegidas e áreas prioritárias para o desenvolvimento turístico. Estes fatores dão enfase ao turismo rural e a arquiteturas adequadas pelas suas caraterísticas históricas e culturais, trazendo uma nova dimensão do desenvolvimento sustentável. O turismo português tem como suporte básico a diferenciação do produto e a qualidade de oferta no estilo e atitude cultural, dois dos fatores que têm vindo a ser melhorados constantemente, sendo a atividade uma das mais importantes da economia portuguesa, representando cerca de 8% do PIB.

Concluindo, na minha opinião, a sustentabilidade no turismo tem que ser posta em consideração cada vez mais, pois esta é uma atividade com grande potencial para o desenvolvimento económico. Para isso, deve-se reduzir os consumos dos recursos naturais, aumentar a internacionalização, inovar nos produtos e serviços apresentados e realizar uma crescente integração a nível económico e empresarial.


Sofia Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

A disciplina da inovação

Inovação é primordial para qualquer empreendimento de sucesso. Peter Drucker, professor de gestão e autor, diz que todos os empreendedores de sucesso que conheceu tinham em comum o compromisso com a prática sistemática de inovação. Os investimentos em inovação são focados na criação de recurso geradores de riqueza ou no aprimoramento do potencial de geração de riqueza dos recursos já existentes. Assim sendo, a inovação tem potencial de desenvolver Portugal em termos económicos.

Inovar, ao contrário do pensamento popular, não está correlacionado com epifanias ou com perceções intuitivas ao acaso, mas sim com a busca dispendiosa e contínua da potencialização do negócio. Partindo desse pressuposto da inovação proposital, podemos encontrar oportunidades de inovar em sete principais situações; são elas: ocorrências não esperadas, incongruências, necessidade, mudanças em indústrias ou mercados, mudanças demográficas, mudanças na perceção e novos conhecimentos. Mudanças na perceção podem ser expressas na célebre frase sobre o copo meio cheio ou meio vazio. Essas mudanças não alteram os factos, mas podem ser usadas engenhosamente para criar disrupções significantes no mercado.

Da mudança de perceção de um setor surge a montadora de automóveis mais valiosa do mundo – a Tesla - nome resulta da homenagem a um grande cientista e é congruente com os investimentos feitos pela montadora em inovação. A Tesla possui valor de mercado superior a 1 trilhão de dólares. Assim, vale mais que a Honda, a BMW e outras 10 montadores juntas. A montadora vende 11 vezes menos que a gigante Toyota, por exemplo, e seus lucros são inferiores quando comparados com o lucro das outras montadoras.

Soa estranho saber desses números e colocar a Tesla tão acima das concorrentes. O mercado posiciona não só os carros, o aço e a capacidade dos carros, mas sim a expectativa das novas tecnologias elétricas aplicadas em automóveis, a solução inovadora, cuja montadora é a principal empresa, além da missão de tornar o mundo mais sustentável. Através desse exemplo podemos ver como os investimentos em inovação, pesquisa e desenvolvimento são valorizados pelo investidor, assim, atraem fundos para os gestores mais arriscados.

Quando o assunto inovação tange aos países o destaque vai para Suíça, Suécia, EUA e Reino Unido. São esses os países com mais investimento em inovação. Isso deixa claro como as principais economias, principalmente da Europa, estão a investir muito nesse setor. A Suíça e a Suécia são países também líderes quando o assunto é riqueza per capita, isso porque os investimentos em inovação têm como meta a geração de riqueza. Assim, quanto mais se investe em inovação mais rico fica o país e seus moradores. Tomando Portugal como ponto de partida, claramente notamos falta de inovação em diversos setores. Acredito que o passo número um em prol de um país mais forte economicamente seria igualar os demais países no âmbito tecnológico.         

De acordo com a Pordata, Portugal investiu 1,6% do PIB em inovação no ano de 2020, abaixo do esperado de um país atrasado no quesito tecnologia. Para Portugal o investimento em tecnologia seria extremamente estratégico porque atrairia mais investidores, fortaleceria a economia internamente e os cidadãos teriam mais dinheiro, pois a inovação é a maior criadora de riqueza. O país depende muito do turismo, entretanto poderia aumentar o investimento em inovação em outros setores, como o têxtil, no qual Portugal se destaca produzindo roupas e calçados. Outra possibilidade seria a utilização de tecnologias já utilizadas em outros países no setor bancário, por exemplo, em prol de tornar os pagamentos mais fáceis. Assim, o país estaria a criar vantagem numa indústria com potencial competitivo e alta concorrência, além de tirar o atraso em setores mais complexos.

Logo, fica clara a necessidade de todos se exporem à inovação pois ela é a força dos grandes negócios para a criação de riqueza e principal ferramenta da quebra de paradigmas. A inovação deve ser feita de forma metódica, como a mais metódica fórmula de matemática, deve ser pautada pela disciplina dos gestores de estarem de olhos atentos aos principais contextos da inovação, e deve ser dever deles aproveitar a oportunidade. Grandes empresas como a Tesla apostam muito nesse setor. Tal investimento faz os investidores enxergarem o futuro e assim aportam mais nos inovadores. Por isso, Portugal deve investir mais em inovação para ter um povo mais rico e um país mais forte no futuro.

 

Rodrigo Souto

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]


Comércio Internacional de Portugal: pós-pandemia

O comércio internacional de bens e serviços é extremamente importante na economia de um país, sendo avaliado em termos de balança comercial, que representa a diferença entre importações e exportações. Este tem sido um dos principais responsáveis pelo crescimento económico das nações, contudo, tem sofrido transformações significativas nas últimas décadas (por exemplo, com o aumento do protecionismo) mas, sobretudo, na pandemia, afetando de forma direta e indireta os países e os seus habitantes (quer como trabalhadores, quer quanto consumidores).

Como era expectável, o surgimento da covid-19 conduziu a muitos desequilíbrios no comércio, que se propagaram rapidamente a nível mundial, seja pelos decorrentes encerramentos de unidades produtivas, seja pelas dificuldades de transporte associadas às medidas de contenção. Este colapso das trocas comerciais levou a um saldo negativo da balança comercial de 3 583 milhões de euros, em 2020, uma recaída de cerca de 2 024 milhões desde o ano anterior. No entanto, se compararmos os valores acumulados até ao 3º trimestre, verificamos que 2021 apresentou uma recuperação, tendo inclusive registado valores superiores a 2019. 

Contrariamente ao que se possa pensar, não existe uma degradação da taxa de cobertura das exportações pelas importações durante a pandemia, sendo até possível apurar um aumento. Em 2019, a taxa apresentava um valor de 74,90% e, em 2020, as exportações passaram a cobrir 78,89% das importações.

Em conformidade com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes ao período acumulado de janeiro a setembro de 2021, verifica-se nas exportações um acréscimo de 4,8% face a 2019 e 20,1% relativamente a 2020. Já sob a perspetiva das importações, verifica-se, no mesmo período, uma diminuição de 1,5% em relação a 2019 e um aumento de 18,1% face a 2020. 

Se analisarmos os dados ao nível das grandes categorias económicas de bens, no período acumulado até ao término do 3º trimestre de 2021, é possível ainda inferir que houve, nas exportações, um acréscimo de 9,4% e de 26,3% nos Fornecimentos industriais, relativos a 2019 e 2020, respetivamente. Em sentido inverso, é de realçar um decréscimo do Material de transporte e acessórios em cerca de 11,8%, face a 2019, e um crescimento de 13,3%, relativo a 2020, sendo esta a única categoria que apresentou valores inferiores aos auferidos no período pré-pandemia (2019). Tendo em consideração as importações, salienta-se a diminuição do Material de transporte de 32,8%, em comparação com 2019, e um acréscimo de 4,9%, em relação a 2020. É ainda de destacar o aumento, face a 2019, nos Fornecimentos industriais, de 16,4%, e de 32,4% face a 2020.

Ora, mas com que países é que Portugal realizou mais transações no presente ano? Ao examinar o mês de setembro de 2021, apura-se um acrescento tanto nas exportações, 16,8% (2020) e 24,24% (2019), como nas importações, 18,2% (2020) e 14,1% (2019), com a Espanha. É de salientar este aumento de transações na categoria de Combustíveis e lubrificantes relativo às importações e de Fornecimentos industriais em ambos os fluxos. 

Todavia, apesar de o país vizinho continuar a ser o principal destino das exportações portuguesas, segundo o INE, as trocas comerciais com outros países cresceram significativamente, assim, olhando para as variações do 9º mês, é de salientar o aumento de 54,3%, face ao ano passado, das exportações para os Estados Unidos, e de 79,3%, considerando o ano de 2019, maioritariamente na categoria de Combustíveis e lubrificantes. E ainda, no lado das importações, vale realçar o aumento de 121,0% com o Brasil.

Assim, tomo o bom desempenho das exportações de Portugal como essencial para um crescimento económico equilibrado, acarretando melhorias das condições de vida de largas parcelas da população nacional. Além disso, numa perspetiva pessoal e tendo em mente as evidências supramencionadas, é fácil considerar que a crise pandémica não foi simétrica, pelo que essa perceção é importante de maneira a podermos considerar um ponto de viragem no qual a Covid-19 tenha apenas efeitos residuais na vida das pessoas, mas também, nas economias dos países.


Bruna Freitas Lomba Costa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

O DESEMPREGO NOS EUA - O IMPACTE DA COVID-19 NAS MINORIAS

        O desemprego é um problema que afeta gravemente toda a população, direta ou indiretamente. É um indicador de que os recursos produtivos da Economia não estão otimizados. Isto significa que são produzidos menos bens e serviços do que seria possível dados os recursos e a tecnologia existentes. Isto reflete-se no bem-estar das gerações presentes e futuras. A parte da população que tem um emprego suporta os custos do desemprego, direta e indiretamente. Ao mesmo tempo, uma taxa de desemprego mais elevada conduzirá a uma taxa de subsídio mais elevada e consequentemente a um aumento do nível de tensão social.

Em relação à realidade sentida no último ano, a fim de abrandar a propagação da covid-19, os governos impuseram restrições que na sua maioria levaram ao encerramento de empresas e ao despedimento de trabalhadores em empregos e indústrias considerados não essenciais e, consequentemente, reduziram drasticamente a procura de outras empresas, criando um efeito “bola de neve”. Em apenas um mês de isolamento social, o mercado de trabalho numa das maiores economias do mundo sofreu uma dizimação como nunca antes visto. A economia americana mergulhou profundamente na crise no mês de Abril de 2020, perdendo 20,5 milhões de empregos, uma vez que a taxa de desemprego atingiu 14,7%, a mais alta desde a Grande Depressão.

       Fig.1- perda de 20,5 milhões de empregos em Abril


Os relatórios mensais do Departamento do Trabalho dos EUA forneceram uma imagem ainda mais clara da amplitude e profundidade dos prejuízos económicos, e da rapidez com que a crise se alastrou, à medida que a pandemia do coronavírus arrasava o país. Áreas como o lazer e a hospitalidade tiveram as maiores perdas em Abril de 2020, mas mesmo os serviços de saúde perderam mais de um milhão de postos de trabalho.

O que é menos comentado é que estes efeitos estão a ser sentidos de forma distinta, especialmente entre grupos economicamente desfavorecidos e minorias, tais como afro-americanos, latinos, chineses e mulheres. Devido à poupança e riqueza limitadas, estes grupos são especialmente vulneráveis a choques económicos negativos, tais como os despedimentos de trabalhadores devidos à COVID-19.

A taxa de desemprego para hispânicos e latinos subiu para um recorde de 18,9%, os trabalhadores negros, latinos e asiáticos foram confrontados com taxas de desemprego mais elevadas do que os seus homólogos caucasianos. Os trabalhadores com salários mais baixos, incluindo mulheres e membros de minorias raciais e étnicas, foram especialmente atingidos por esta vasta crise de desemprego. A disparidade é explicada em parte pelos tipos de empregos que foram suprimidos pela pandemia. Os empregos no sector dos serviços, tais como restaurantes, hotéis, limpeza e cuidados de saúde, são tradicionalmente ocupados por mulheres ou minorias, pelo que existiu neste grupo um número mais elevado de desempregados do que nos homens caucasianos.

                Fig.2-Taxa de desemprego para Hispânicos e Latinos 

Neste momento, não existe nenhum lugar seguro no mercado de trabalho. A escala da perda de postos de trabalho só em Abril de 2020 excedeu largamente os 8,7 milhões perdidos na última recessão, quando o desemprego atingiu 10% em Outubro de 2009. À medida que novos lockdowns foram decorrendo, o desemprego continuou a aumentar incluindo mais posições profissionais, pessoas com salários mais elevados, como indicam estudos.

               Fig.3-Taxa de desemprego para mulheres e homens acima dos 20 anos de idade


Embora a pandemia tenha esmagado economias em todo o mundo, a perda de empregos afeta os EUA mais do que a maioria dos outros países desenvolvidos. Isto acontece porque cerca de 160 milhões de norte-americanos recebem o seu seguro de saúde através dos empregadores e, sem emprego, podem enfrentar prémios mensais elevados ou perder completamente a sua cobertura de seguro, o que pode exacerbar o impacte económico e da saúde pública.


Maria Helena Mendes

(Dados extraídos do U.S DEPARTMENT OF LABOR - “https://www.dol.gov.”)

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

A evolução das exportações portuguesa para os EUA

          Em 2020, as importações de bens realizadas pelos EUA contabilizaram 2408 mil milhões de dólares, colocando os EUA como o maior importador mundial de mercadorias, com um peso de 13,5% do total de importações a nível global. Dentro da lista dos produtos mais importados por este podemos encontrar categorias como “máquinas e aparelhos”, “veículos automóveis”, “combustíveis minerais” e “produtos químicos”. Assim, é possível ter uma ideia das principais necessidades da maior economia mundial. Ao mesmo tempo, alguns destes produtos também são os que Portugal mais exporta para os EUA.

Segundo os dados relativos a 2020, as principais exportações portuguesas para os EUA foram: “combustíveis minerais”, “máquinas e aparelhos”, “matérias têxteis” e “madeira e cortiça”. No entanto, o perfil dos produtos mais exportados nem sempre foi igual aos dos dias de hoje. Na década de 90, as empresas portuguesas escolhiam exportar para os EUA mercadorias focadas no calçado, cortiça, tecidos e vinhos.

A evolução mostra que os produtos portugueses foram bem aceites na sociedade americana, registando um crescimento médio anual das exportações na ordem dos 2.5% ao longo do período 2015-2020.

Sendo assim, analisando a balança comercial com os EUA, o saldo é claramente positivo para Portugal. Em 2020, as empresas portuguesas exportaram mais de 2,67 mil milhões de euros em mercadorias, enquanto que as importações portuguesas apenas cifraram-se em 1,24 mil milhões de euros.

Estes números elevaram os EUA para a 5ª posição dos mercados mais relevantes para o comércio português de bens. Se retirarmos da equação os mercados da União Europeia, então, os EUA são o primeiro mercado (extra-UE) para o comércio português, posição que tinham perdido para Angola entre os anos de 2008- 2018.

Relativamente às dimensões, em 2019 exportavam para este mercado 3349 empresas portuguesas, das quais mais de 2200 de pequena e média dimensão, demonstrando que não são só as grandes empresas que conseguem penetrar na maior economia mundial. De facto, Portugal é o sétimo país europeu onde as PME têm mais peso no conjunto de todas as empresas que exportam para os Estados Unidos.

Em relação às causas que caraterizam o crescimento das exportações portuguesas para os EUA, podemos afirmar que a mudança de atitude das empresas portuguesas foi um grande passo na abordagem ao mercado americano, onde o design e a modernização são muito importantes, sendo que as empresas portuguesas associaram a tradição à inovação. A indústria têxtil portuguesa ou o sector da joalharia são exemplo dessa mudança, chegando ao mercado com outro posicionamento. Estas empresas optaram por não apostar no valor dos seus produtos, pois não conseguiriam fazer frente aos produtos chineses, mas sim na qualidade e na inovação. Por outro lado, o nascimento de novos negócios em áreas como a biotecnologia ou tecnologias de informação colocou o tecido empresarial português como um dos principais alvos dos investidores americanos

Contudo, outros fatores contribuíram para esta evolução das exportações portuguesas, como a valorização do dólar, que veio tornar os produtos portugueses mais apelativos, chegando aos Estados Unidos com preços mais apetecíveis, ou até mesmo a situação da Angola ou do Brasil, grandes destinos da economia portuguesa, onde a instabilidade fez com que as empresas olhassem para países com menos risco, como os EUA.

Concluindo, na minha opinião, os EUA representam um importante parceiro, no qual o governo português deveria apostar. Portugal, como um país desenvolvido e como o país europeu que se localiza mais perto do EUA, tem todas as caraterísticas para aumentar a sua influência na economia americana, desenvolvendo o papel de fornecedor de matérias-primas com alto valor acrescentado. Para este investimento, deveríamos apoiar os jovens empreendedores nas suas ideias inovadoras que podem alterar positivamente, como no passado, as exportações portuguesas.

 

Paulo Henrique da Costa Gonçalves

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Propina zero já, ou “só amanhã”

A luta estudantil para acabar com as propinas já é velha e conhecida por todos. Ao longo dos anos, têm-se vindo a insurgir vários movimentos académicos. “Propina Zero” é o mote para acabar com as propinas ainda que o mesmo esteja longe de acontecer, contudo os seus montantes têm vindo a diminuir.

O constitucionalista Bacelar Gouveia afirma em relação à educação que o ensino básico e o ensino secundário são gratuitos e deve introduzir-se progressivamente a gratuitidade no ensino superior, logo, a aplicação de taxas "é inconstitucional". Como está previsto na Constituição, no artigo 74.º, todos os graus de ensino devem prosseguir rumo à gratuitidade, apesar de existir uma exceção no que diz respeito ao ensino superior, uma vez que este não é obrigatório nem universal.

É importante compreender que um pouco por toda a Europa ocorreu um processo de democratização do ensino baseado num modelo de organização social e educativa que fosse capaz de promover a igualdade de oportunidades de todos os indivíduos no acesso ao ensino superior assentando no pressuposto de que o ensino superior é essencial para o desenvolvimento e crescimento de um país. Como exemplo, “Propina Zero” é já uma realidade em alguns países dentro da Europa, como Áustria, Finlândia, República Checa ou Alemanha.

A revista online Ekonomista, que divulga dados e informações pertinentes acerca de assuntos económicos e financeiros nacionais, apresenta em 2021 uma notícia citando um estudo realizado em 2015/2016 indicando que o custo de um estudante deverá rondar os 21 mil euros, num curso de 3 anos, ou seja, 7 mil euros anuais, em termos mensais um valor próximo dos 600 euros. Desse valor, cerca de 75% destina-se apenas às despesas de alojamento, transporte e alimentação, contrastando com o máximo cobrável numa instituição superior pública, que atualmente não pode exceder os 697 euros.

Desde que há registo, a propina anual era equivalente a cerca de 6 euros, até que surgiu a primeira lei de propinas em 1992, durante a segunda maioria absoluta do então primeiro ministro Cavaco Silva, que classificava o sistema de propinas que vigorava nessa altura como “injustiça escandalosa”. A primeira "Lei das Propinas" estipulava que o seu montante anual cobrável deveria ser definido pelas próprias Instituições de Ensino Superior, o que levou a que no ano letivo seguinte a propina anual aumentasse para 399 euros. Este valor tem vindo a oscilar, seguindo uma tendência média crescente até 2019, ano a partir do qual os ditos valores têm vindo a descer. Em 2019, o valor estava indexado ao salário mínimo nacional mensal, pelo que se cobrava anualmente 1,3 vezes o salário mínimo mensal. Desta forma, o valor máximo cobrável numa universidade era de 871 euros, baixando 20% em 2020 e mantendo-se em igual valor em 2021.

Ainda assim, por forma a ajudar os estudantes a prosseguirem estudos superiores, são atribuídas bolsas de estudo visando fazer face às despesas associadas à sua frequência, permitindo-se assim atenuar a discriminação económica. Assim, deverá pensar-se antes no conjunto de necessidades que existem à volta da frequência deste ensino como, por exemplo, residências estudantis, refeitórios, material escolar, etc.. Sendo a habitação talvez a rubrica com maior peso na despesa, como se verifica na tabela a seguir apresentada, a existência de bolsas tem vindo a permitir a existência de uma maior deslocação a nível da região em que se habita e se estuda.

Comparando com o contexto europeu, o peso das despesas de educação no PIB per capita e na mediana do rendimento dos países coloca os estudantes portugueses entre aqueles que realizam um maior esforço financeiro para estudar, permitindo afirmar sem margem de dúvida que a acessibilidade financeira dos estudantes portugueses é desfavorável  no  contexto  internacional. É de salientar que, além da descida do valor das propinas, o valor mínimo da bolsa  subiu e alargou-se o limiar de elegibilidade para ter acesso a este apoio.

Podemos assim destacar que, em termos gerais, o grau de equidade do Sistema de Ensino Superior Português, aferindo-se a representação de cada grupo social a estudar no ensino superior, é ainda baixo, evidenciando-se um perfil ainda de ensino elitista. Desta forma, para acabar com tal desigualdade deverão ser implementadas e reforçadas políticas públicas, sendo que Portugal é dos países europeus que menos recursos públicos investe nas instituições de ensino superior.

No que a mim diz respeito, não sou apologista da gratuitidade do ensino superior, já que, se assim for, teria de ser financiado pelos impostos de toda a população, mesmo por aqueles que não frequentam ou não têm familiares a frequentar o mesmo, deixando de existir a lógica de “utilizador-pagador”. Digo isto, apesar de compreender a lógica subjacente ao movimento já que o acesso a este ensino é um benefício para o desenvolvimento e crescimento do país.

Para a melhor compreensão da questão, recomenda-se a leitura atenta do documento divulgado pela Fundação Francisco Manuel Dos Santos, “Droga e propinas, Avaliações de impacto legislativo” e ainda “Custos dos Estudantes do Ensino Superior Português, Relatório CESTES2, para a compreensão da condição social e económica dos estudantes do ensino superior”.

 

Hélder Domingues

https://www.ffms.pt/FileDownload/a87ae3c9-b48f-4b3a-a642-aa002faa8148/droga-e-propinas-avaliacoes-de-impacto-legislativo-versao-resumida

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Seleção Natural Jovem: conseguirão apenas os mais fortes sobreviver ao desemprego em Portugal?

          O desemprego é visto como algo impactante negativamente e que nos assusta, especialmente aos recém-licenciados. Entende-se por desemprego o desequilíbrio entre a procura e a oferta de mão-de-obra, isto é, o excesso de indivíduos, relativos à população ativa, que estão à procura de trabalho remunerado e não o encontram. A taxa de desemprego é um indicador económico que mede o nível de desemprego de uma economia. É o rácio entre a população desempregada e a população ativa.

          Assim, segundo dados do INE e PORDATA, a taxa de desemprego total em Portugal, em 2020, sofreu um ligeiro aumento de 0,3%, relativamente ao ano anterior, situando-se nos 6,8%. Contudo, os dados apontam para uma inversão do decréscimo observado nos últimos sete anos na taxa de desemprego jovem, isto é, faixa etária abaixo dos 25 anos, tendo sofrido um crescimento abrupto, encontrando-se nos 22,6 pontos percentuais. Isto significa que, num grupo de 10 colegas, 2 não terão sucesso na procura de emprego, o que é algo preocupante visto que os jovens são o futuro de qualquer sociedade.   

          Estes valores dependem não só das qualificações dos jovens, sobretudo da ligação entre o sistema de ensino e o mercado de trabalho, mas também das instituições do mercado de trabalho. As empresas dão enorme importância à experiência, mas, como poderemos nós, jovens, ter experiência se não nos é facultada essa oportunidade? Isto cria um paradoxo enorme, uma vez que um jovem que quer trabalhar está sujeito a uma oferta de emprego que restringe um perfil de candidato àqueles que já têm experiência, mas, por outro lado, as empresas não arriscam nestas contratações, pois desconhecem o nível de produtividade destas.

Do outro lado do prisma, temos aqueles que conseguem arranjar emprego mas as condições não são favoráveis, especialmente o valor monetário do salário. Esta é uma questão importante uma vez que, para quem entra no mercado de trabalho, os custos associados à prestação do serviço tendem e ser mais elevados que os benefícios salariais. Segundo St. Aubyn (1997), se for estabelecido um salário mínimo muito superior relativamente à produtividade do trabalho, esta situação pode levar a um aumento do desemprego. Analisando de outra perspetiva, deparamo-nos com outro paradoxo pois é necessário ter em conta que os trabalhadores qualificados devem ser compensados pelo investimento que realizaram em educação.

Tudo isto leva a que os jovens repensem bem nas suas decisões e tenham em consideração a emigração, à procura de melhor nível de bem-estar. Em termos comparativos entre a União Europeia e Portugal, esta apresenta uma taxa de desemprego jovem bem menor, situando-se nos 15,7%, em 2020 (dados PORDATA). Relativamente ao salário, Portugal apresenta um dos salários mínimos mais baixos em toda a UE, encontrando-se, atualmente, nos 665€ mensais (dados PORDATA).  

          Em suma, o aumento do desemprego jovem em Portugal gera consequências a nível social, como a perda de impostos que os indivíduos pagariam caso estivessem empregados e um aumento da despesa pública na sequência do pagamento de subsídios de desemprego e, a nível pessoal, provoca danos psicológicos, como a fraca autoestima e a perda de esperança de arranjar um trabalho, levando a um decréscimo do rendimento. Revela, ainda, uma perda de investimento na educação, não só por parte do Estado mas também a nível do indivíduo, visto que os jovens emigram no sentido de encontrarem melhores condições, pois o mercado de trabalho não oferece oportunidades ou, quando o fazem, não são atrativas.


Marta Filipa Passos Leite

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

A necessidade de regular as redes sociais

A microeconomia ensina-nos a prever o comportamento do indivíduo-consumidor partindo do pressuposto de que o mesmo é racional, procurando sempre maximizar a sua utilidade. Comportando-se todos os indivíduos dessa mesma forma, o bem-estar social é também maximizado, desde que o indivíduo disponha de um amplo leque de opções e a liberdade necessárias para poder maximizar a sua utilidade de acordo com as suas preferências e dentro do seu rendimento. Assim, quantas mais opções e quanto mais consumo maior a utilidade do indivíduo.

No entanto, falamos de modelos, de representações da realidade e não de descrições detalhadas da mesma. Não é difícil encontrar situações que contrariem esse pressuposto, isto é: para certos bens e serviços, consumir mais nem sempre aumenta a utilidade do indivíduo, nem o bem-estar social, dadas as externalidades negativas. Os exemplos que mais facilmente nos vêm à cabeça é o consumo excessivo de álcool e de drogas que leva a sérios problemas de saúde física e mental. O problema é agravado quando empresas criam bens e serviços para explorar a “falta de racionalidade” dos consumidores, como sucedeu com as tabaqueiras, que intencionalmente conceberam cigarros ainda mais viciantes e campanhas publicitárias dirigidas aos mais jovens, ou os bancos norte-americanos, que concediam empréstimos subprime que levariam muitos à ruína financeira.

Perante os potenciais efeitos destes bens e serviços, considera-se que as preferências de alguns consumidores são perigosas para os mesmos e para a sociedade, havendo também quem defenda a inviabilidade de se deixar o indivíduo à sua própria sorte junto de empresas exploradoras dos seus vieses cognitivos. A autoridade do Estado encontra, assim, justificação para impor regulações que eliminem ou mitiguem esses efeitos. Com efeito, bens e serviços não regulados cujo consumo causa efeitos prejudiciais são raros. No entanto, as redes sociais têm escapado a essa regulação em grande parte, apesar das consequências do seu consumo excessivo.

O negócio das redes sociais consiste em expor o indivíduo ao maior número de anúncios publicitários possível, pelo que a atratividade das redes sociais para os anunciantes depende da capacidade das mesmas em chamar e manter a atenção do indivíduo. Para tal, as redes sociais recorrem à oferta de vários serviços de informação, comunicação e interação com outras pessoas e à promoção de conteúdo inflamatório ou estimulante. Através de likes, thumbs up e upvotes e algoritmos que levam sempre à promoção do conteúdo mais chamativo, as redes sociais ativam os “centros de recompensa” dos nossos cérebros, aumentando a secreção de dopamina. No entanto, a sensação de prazer é temporária, o que leva o consumidor a recorrer novamente às redes sociais até que o utilizador ganha “tolerância” e o consumo deixa ser prazeroso, à semelhança de outras dependências. Não são, pois, surpresa os vários estudos que associam o uso excessivo das redes sociais a estados de depressão, ansiedade e outros transtornos de humor, perda de sono e isolamento social, bem como aqueles que trazem relatos de pessoas que dizem se sentir melhor quando deixam de usar as redes sociais ou diminuem o seu consumo. Mais uma vez: à semelhança do que sucede com outras dependências, não esquecer que muitos destes efeitos afetam especialmente os mais jovens.

De notar ainda que só estamos a falar no âmbito das relações entre as redes sociais e os seus utilizadores, porque se estendermos o âmbito desta discussão às relações entre as redes sociais e as comunidades, em geral, então teremos que falar de outros fenómenos que fazem das redes sociais potenciais inimigas das nossas democracias (fake news, efeitos echo chamber, propagação de ódio, etc.).

É de concluir que as redes são um produto que se insere na categoria dos que carece de regulação pública. Mas regular o seu consumo não se advinha fácil. Não só as redes sociais são monopolizadoras de muito do mundo online, ganhando disso um enorme poderio económico e político, como ideias concretas sobre como a regulação deve ser feita são de difícil conceção. É que essa regulação não terá apenas implicações económicas, mas também políticas, visto que as redes sociais, ao se tornarem um importante meio de transmissão de informação, tornaram-se também um importante meio para o exercício de direitos, como o direito à liberdade de expressão ou à liberdade de imprensa.

Este é um problema irónico. A Humanidade passou a maior da sua história condicionada pela falta de alimentos, mas hoje lidamos com problemas de obesidade. Agora que resolvemos o problema do acesso a informação, temos de evitar de ficar assoberbados dela. Regular as redes sociais poderá muito bem vir a ser, juntamente com as alterações climatéricas, um dos maiores desafios deste século.

 

Paulo Gomes 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

A ÉTICA E A RACIONALIDADE ECONÓMICA

   Desde que o ser humano descobriu a importância de organizar-se para atingir determinados objetivos, ele busca ações que se realizam de forma a otimizar recursos. Não se pode falar de ética e racionalidade económica sem antes se ter noção de o que são tais coisas. Sendo assim, a ética é a ciência que estuda os valores que formam o comportamento do homem, enquanto a racionalidade económica é a forma como o indivíduo, governo ou empresa utiliza os seus recursos económicos de forma racional.

A ética tem, por sua vez, grande importância no campo das decisões económicas, visto que estuda a moralidade do agir humano. Segundo Aristóteles, a ética está nas praxes, ou seja, em nossas condutas, visto que ela também orienta o comportamento no mundo dos negócios.

No campo da racionalidade económica, Herbert Simon destacou que o ser humano, por si, é ambicioso, e usa expedientes operacionais para determinar o que lhe convém a cada momento. A racionalidade económica traduz-se, por um lado, na máxima realização e, por outro lado, na economia de meios, por exemplo, o consumidor individual procurando obter a máxima satisfação das suas múltiplas necessidades, com um rendimento limitado. Vai, por um lado, satisfazer primeiro as necessidades mais prementes, que chamamos de máxima realização e, por outro, adquirir os bens ao menor preço possível, que chamamos de economia de meios.

A empresa, procurando obter os maiores lucros possíveis, irá reduzir os custos de produção (economia de meios), venderá os bens ao preço mais elevado possível (máxima realização).

O Estado vai afetar os recursos escassos de que dispõe para a satisfação das necessidades coletivas procurando proporcionar o máximo bem-estar aos cidadãos, ou produzir bens e serviços com o mínimo de recursos. Deste modo, conseguimos perceber a importância de se fazer escolhas racionais.

Dispondo de bens escassos e suscetíveis de utilizações alternativas, as pessoas irão aplicá-los na satisfação das suas múltiplas necessidades de modo a conseguirem a máxima satisfação. Nisto consiste o princípio da Racionalidade Económica.

O Estado pode e deve atuar como reforço aos incentivos mencionados, fazendo valer os direitos de propriedade implícitos nas leis, o que tem um papel sinalizador. Por exemplo, os agentes que não cumprem contratos podem ser impedidos de participarem em processos de licitações pública.

Será que a ética e a Racionalidade Económica são conciliações impossíveis?

Embora parecendo fácil, existem variáveis, fatores incontroláveis e inesperados, e pode-se afirmar que a ética e a racionalidade económica são conciliações possíveis, que partem do comportamento ético e responsável de cada individuo. A isto chamos de forma de controle.

  Em suma, o comportamento ético e racional representa um valor da sociedade moderna. Existem falhas no comportamento dos indivíduos, das organizações e das sociedades. Mudanças nas atitudes dos indivíduos podem corrigir essas falhas. Portanto, não haverá sociedade ética se as empresas, os indivíduos e a sociedade em geral não se comportarem de forma ética.

 

Sofia Gil

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Os efeitos da pandemia da COVID-19 em 2020

A pandemia da COVID-19 é, atualmente, um problema mundial. O seu efeito não se reflete apenas em termos físicos, como também constitui uma enorme adversidade na economia global. A quase impossibilidade do trabalho levou a produções muito reduzidas ou até ao encerramento de serviços. Com estas condições desfavoráveis, muitas empresas recorreram ao despedimento de trabalhadores ou entraram até em insolvência.

Optei por este tema devido à relevância que ainda possui na atualidade. Penso que é uma situação que ainda hoje afeta grande parte da população, pois há muitas famílias que perderam a sua fonte de rendimento e encontram-se, até, em risco de pobreza.

O grande entrave no combate a esta crise em termos económicos é que é global, ao contrário da crise mais recente em Portugal (da Troika), que era apenas nacional, ou seja, ainda havia oportunidades no mercado externo e produtores estrangeiros baseados no nosso território, o que facilitou, de certa forma, o combate ao desemprego e à recessão presente nessa altura.

Passando agora para a situação do desemprego em 2020, registamos que, sem surpresa, o total do desemprego subiu para 353 mil (em 15/4), segundo os dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). No entanto, é de notar que este valor acaba por não refletir a realidade, já que não tem em conta o recurso ao mecanismo do layoff, que, por sua vez, abrangia mais de 930 mil trabalhadores. Este mecanismo corresponde à suspensão dos contratos dos funcionários ou apenas a uma redução do seu horário de trabalho, e, portanto, acaba por ser um amortecedor no número de pedidos de subsídio de desemprego e na manutenção dos postos de trabalho.

Esta queda notável no número de postos de trabalho colocou parte das famílias com diminuição de rendimento disponível ou numa posição de incerteza quanto à sua situação financeira futura. Este fator constitui mais uma complicação no que toca ao consumo, já que a população estará motivada a ter uma maior poupança, levando a menos comércio e menos investimento. Isto foi mais acentuado nos setores ligados ao turismo e restauração, uma vez que mesmo após a retirada das condicionaste legais que levaram ao encerramento dos estabelecimentos estes sentiram grandes dificuldades face ao efeito psicológico que a pandemia causou.

Se considerarmos que a recuperação da taxa de desemprego que ocorreu em Portugal nos anos pós-Troika se deveu muito ao crescimento do emprego nos setores atrás referidos, é facilmente expectável que uma parte significativa dos postos criados será eliminada. Tendo sido o setor do turismo a grande aposta na recuperação da economia portuguesa nos últimos anos, onde se verificou um grande incremento no fluxo de turistas estrangeiros, também aqui se sentiram os efeitos da pandemia através das restrições à deslocação para fora dos seus países.

A procura turística em Portugal (consumo por parte de estrangeiros e residentes) caiu 50,4% para 16,3 mil milhões de euros no ano passado devido à pandemia de covid-19, o que representa uma diminuição de 16,5 mil milhões de euros para o sector. Os dados, preliminares, constam da conta satélite do turismo elaborada pelo INE. Logo, a procura não foi a suficiente para assegurar a manutenção dos postos de trabalho neste setor.

O setor de restauração, também muito dependente do turismo, sentiu o mesmo choque, com uma brusca redução do número de clientes, e com um aumento significativo das insolvências neste setor. Registou-se uma queda de 43,5% na faturação, no que ao setor da restauração diz respeito. Estes valores, relativos a 2020, traduzem-se em 2625 milhões de euros, surgindo numa altura em que o crescimento vinha a ser contínuo e que, em 2019, o setor tinha atingido os 4645 milhões de euros, um aumento de 4% face a 2018.

Estes efeitos devastadores ainda se sentem hoje tanto na economia nacional como também a nível global, e vai ser um problema que ainda nos afetará durante muitos anos.

 

Tiago Teixeira

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 


Web Summit: será que os resultados compensam o investimento?

Em 2016, Lisboa tornou-se palco do maior congresso de empreendedorismo, tecnologia e inovação da Europa. A Web Summit é um evento que se centra na tecnologia da internet e possibilita o encontro de várias start-ups, líderes empresarias e investidores de topo. No entanto, toda a gente interessada é convidada a assistir às várias conferencias e explorar os diferentes expositores com as mais recentes inovações.

O evento será realizado em Lisboa até 2028, uma vez que, em 2018, o CEO, Paddy Cosgrave, assinou um contrato de 10 anos, devido, principalmente, ao compromisso entre o Governo português e o Município de Lisboa de um financiamento de 11 milhões de euros por ano e um aumento do espaço.

Portanto, Portugal investe bastante dinheiro todos os anos em infraestruturas e logística para que seja possível a realização deste evento, esperando retornos bastante elevados em troca. Por enquanto (pelo menos nas edições realizadas até 2019), o evento não conseguiu atingir os valores desejados, mas estes vão aumentando ao longo dos anos, como consequência do crescimento do número de participantes. Se tomarmos como exemplo 2019, a expectativa do VAB era de 124,3 milhões de euros e 58,4 milhões de euros de receita fiscal, porém, os valores obtidos foram, respetivamente, 69,8 e 29,7 milhões de euros. Igualmente, a criação de empregos e as despesas com o evento também foram menores que as previstas. É de notar, contudo, que não se pode ter em atenção apenas os valores obtidos nos 4 dias de evento, uma vez que este origina, também, uma influência futura, direta e indireta, muito positiva na economia do país.

 Um dos grandes benefícios deste acontecimento é a abertura do país, mais precisamente Lisboa, ao mundo, como capital tecnológica, tornando-a um íman para investidores e start-ups do estrangeiro. Apesar deste não estar diretamente relacionado com os investimentos, muitas multinacionais, que têm investido em Portugal nos últimos tempos, falam favoravelmente da Web Summit e dos seus impactes. Do ponto de vista das start-ups nacionais, estas ganham uma grande visibilidade e a possibilidade de fazer networking com potenciais clientes, captando apoio financeiro mais facilmente.

Tendo em conta tudo o que foi referido anteriormente, o Ministro de Estado e da Economia indica que o impacte da Web Summit na economia é bastante positivo e compensa o investimento português realizado na cimeira. O referido é totalmente verdade, uma vez que este evento possibilita uma maior visibilidade ao país no estrangeiro e evidencia os nossos recursos e capacidades, assim como as apostas que estão a ser feitas no desenvolvimento e inovação no ramo das tecnologias, ou seja, a Web Summit atua como meio de publicitação para o país.

Deste modo, gostava só de sublinhar que não podemos ter apenas em consideração as notícias sobre o impacte económico abaixo do previsto pelo Governo para decidirmos se a Web Summit é benéfica para Portugal, uma vez que, para mim, só sentiremos o seu verdadeiro impacte no futuro e não no presente. Com isto, devíamos aproveitar a oportunidade que nos foi dada para adotar uma atitude mais pró-ativa, na obtenção de investimento, e potenciando práticas mais inovadoras.

 

Bárbara Labajos 

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

4 dias por semana - o futuro do trabalho?

A semana de trabalho de 5 dias foi praticada pela primeira vez em 1908 numa fábrica de algodão na Nova Inglaterra. Mais tarde Henry Ford, em 1926 começou a fechar a sua fábrica aos Sábados e Domingos, com o intuito de aumentar a produtividade dos seus trabalhadores. Esta alteração, que hoje tomamos por garantida, foi na altura algo que levantou críticas a Ford. Na mesma altura, o economista John Maynard Keynes também previa que no futuro íamos acabar a trabalhar apenas 15 horas por semana. Mas será que a semana de apenas 4 dias de trabalho também se tornará uma realidade no futuro, como outrora se tornou a semana de 5 dias?

Esta redução do horário de trabalho, hoje em dia, seria apenas possível com a redução do salário ou através da divisão das horas de trabalho correspondentes a um dia pelos outros 4 dias de trabalho. Os proponentes desta alteração da semana de trabalho acreditam que esta redução levaria a um aumento da produtividade, o que permitiria ao empregador pagar o mesmo por apenas 4 dias de trabalho, sem que o horário de trabalho seja aumentado nesses dias.

Ou seja, o fator central desta medida, reside na produtividade, e se as vantagens associadas a um dia adicional de lazer, que, supostamente, levariam a um aumento de produtividade dos trabalhadores. Este aumento de produtividade foi verificado em duas empresas que reduziram o seu horário de trabalho mantendo o mesmo salário: a primeira, uma empresa neozelandesa, Perpetual Gardening, que encontrou um aumento de 20% de produtividade; outro exemplo foi o teste feito pela Microsoft no Japão, que registou um aumento na produtividade na ordem dos 40%. Associado ao aumento de produtividade. foi registado menos stress e maior satisfação dos trabalhadores em relação aos seus trabalhos.

Mas uma diminuição do horário de trabalho pode acarretar um aumento da pressão para realizar a mesma quantidade de trabalho em menos tempo. Especialmente quando tomamos em conta as diferenças de produtividade entre países ou sectores de indústria, esta alteração poderia levar a um aumento das desigualdades, aumentando ainda mais o fosso de competitividade entre estes.

A principal vantagem para os trabalhadores é o aumento de tempo livre, que estes podem utilizar para a sua família, lazer e desporto, entre outras atividades, tendo este um efeito na saúde física e mental, algo que procuramos cada vez mais valorizar nas nossas sociedades. Outra vantagem relaciona-se com o desenvolvimento da automação. Uma diminuição do horário de trabalho associada ao aumento da produtividade, devido a automação, pode ser a solução para a manutenção de postos de trabalho.

A nível económico, um dia a menos de trabalho significaria uma redução dos gastos com energia e eletricidade, na ordem dos 20%, de acordo com a US Energy Information Association, sendo isto uma vantagem se ocorrer o aumento de produtividade. Um fim-de-semana mais prolongado também seria um estímulo importante ao turismo, especialmente após a crise pandémica, devido à valorização do turismo doméstico.

Hoje em dia, qualquer discussão que façamos sobre o horário de trabalho terá que assentar no balanço trabalho-vida, para que não só tenhamos uma maior produtividade nas nossas economias mas, também, uma maior satisfação humana nesta dimensão importante da nossa vida. Tal como Henry Ford disse: “é altura de perdermos a noção de que o lazer de um trabalhador é tempo perdido ou um privilégio de uma classe”.


João Lopes 

https://www.economist.com/the-economist-explains/2021/07/08/could-a-four-day-working-week-become-the-norm

https://applied.economist.com/articles/four-day-week

https://www.forbes.com/sites/alexledsom/2021/10/09/tourism-and-the-four-day-work-week-a-win-win-post-covid-19/?sh=105ce6c4176a

https://www.fastcompany.com/90325704/this-new-zealand-company-proves-how-4-day-work-weeks-are-great-for-business

https://blog.abacus.com/heres-how-much-a-4-day-work-week-saves-on-business-expenses/

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]