terça-feira, 26 de abril de 2011

Redes sociais e negócios – uma relação estreita

Nos tempos que correm vivemos uma época de vários contrastes e constantes mudanças cada vez mais rápidas. Esta modernidade caracteriza-se em muito por uma crescente capacidade de mobilidade e versatilidade, sendo a última década marcada pelo fenómeno de crescimento das redes sociais. Esta revolução afecta-nos directa ou indirectamente, tanto na vida pessoal, laboral ou social.
Esta ideia da criação de uma nova componente no mundo das tecnologias de comunicação e informação, trazida pelas redes sociais, já se delineava em meados dos anos 90, porém o projecto acabou por ser abortado. Apenas nos últimos anos, é que este fenómeno ganhou a sua maior força, através de modelos como o Facebook, MySpace, Twitter, Youtube, Photobucket, Orkut, Yahoo, entre muitos mais. Todo este progresso tende a crescer cada vez mais, trazendo mudanças significativas até para as áreas da política, economia e sociedade.
As redes sociais tornam-se na voz de diferentes grupos, agregando-os e dando-lhes mais poder a nível global, dando asas à mudança social, através, por exemplo, da maior facilidade de sensibilização para manifestações e ajudas humanitárias. Porém vamo-nos focar no seu contributo económico, mais concretamente na economia das empresas. Para a Economia as consequências do desenvolvimento desta área dão-se principalmente no campo do consumo, marketing e política económica. No consumo, por exemplo, acabam por se juntar pessoas com os mesmos hábitos, e agiliza-se um processo de futura compra. A nível do marketing facilita-se às empresas a divulgação dos seus produtos e serviços, assim como é uma componente importante no marketing pessoal de cada indivíduo. Já no caso da política económica, permite por exemplo uma nova forma de activismo, através da mobilização de vários grupos e da mais fácil divulgação de ideias comuns. Como conseguinte temos um processo de opinião pública mais rápido e diversificado, liberto de tanta burocracia como no mundo dos média antes desta revolução. Há quem defenda que surge assim uma nova democracia.
Todos nós temos a percepção que as redes sociais têm vindo a ganhar mais espaço por todo o mundo. Numa análise feita pela eMarketer concluir-se que o número de europeus nas redes sociais deverá superar os 100 milhões de utilizadores este ano, dando-se um crescimento de 16,2% face 2010. Uma outra pesquisa, esta realizada pela Altime Group, concluiu que as empresas que investem mais nas redes sociais têm melhores resultados do que as que não usam esse processo. Segundo os dados divulgados as empresas obtêm um crescimento médio de 18% da sua facturação após iniciarem a integração no mundo da internet, enquanto as outras que não investem nesta área comportam um declínio de 6% em média nas suas receitas, no mesmo período de análise.
Hoje em dia várias empresas usam as opiniões dos consumidores em geral no Facebook e Twitter para determinar objectivos, políticas, e medidas. Assim como o uso do Youtube as ajuda na divulgação de vídeos publicitários. Se pensarmos por exemplo na Coca-Cola, esta marca já se encontra com vários feeds no Twitter, tendo intenção de os aumentar. Conseguiram assim uma maior exposição da marca, através das suas novidades, e darão a conhecer a sua sede de empresa. Há assim, uma crescente preocupação em construir tanto a paixão pela marca, como o seu valor. Um vídeo colocado no Youtube por esta marca, que retratava uma máquina colocada num campus universitário que oferecia refrigerantes grátis, ramos de flores e uma sandes enorme, teve tamanho sucesso, que se transformou num anúncio televisivo a ser adoptado em toda a Europa.
Outro exemplo do uso das redes sociais para a promoção de determinadas iniciativas é-nos dado pela London Business School que marca a nossa sociedade com uma nova forma de educação, dada através do facebook. De facto pretende-se facilitar o acesso à educação de qualidade. Assim, a um custo zero, qualquer estudante com um computador ligado à Internet, poderá ter aulas em vídeo e grupos de discussões e só pagará se decidir usar o curso para obter equivalências de créditos na sua faculdade. Muitos mais exemplos existem, basta procurar e até nos surpreendemos com algumas das iniciativas que várias entidades têm através das redes sociais.
O mercado da publicidade online é um dos maiores e mais rentáveis actualmente, o que faz com que seja a grande finalidade das redes sociais para todas as empresas, pequenas médias ou grandes. Para termos consciência, 99% da facturação da prestigiada Google, provem do seu programa de publicidade, Adwords. Nesta fase é legítimo muitos fazerem até interiormente a seguinte pergunta: “Qual é a razão para este ser um mercado tão rentável?”. A resposta a esta pergunta surge em parte pelo facto de este meio ser apenas apresentado em contextos específicos, à escolha de cada empresa, ao contrário de por exemplo a publicidade televisiva, que é apresentada a toda a sociedade. Se não vejamos o seguinte exemplo: se certa empresa está a publicitar um frigorífico, essa publicidade apenas aparecerá em contextos de alguma relevância, como uma pesquisa online do consumidor por “electrodomésticos”, ou em alguma página dentro desta área. O grande potencial das redes socais a serem utilizadas no mundo dos negócios é sobretudo o facto de se tratar de um investimento barato quer em termos monetários, quer em tempo. Assim, com baixos custos, conseguimos numa primeira fase tirar como que um raio-X dos nossos consumidores e até descobrir potenciais compradores. Qualquer empresa irá ainda servir-se destes meios para estreitar relacionamentos com os seus clientes, gerindo o seu feedback. Só numa fase mais avançada é que irá prosseguir para a promoção e até vendas propriamente ditas dos produtos da sua marca. Aqui, o Departamento de Marketing irá, através de publicidade colocada nas redes sociais em que se encontra a própria empresa, tentar criar desejos para as necessidades dos consumidores desde as mais básicas ás mais ambiciosa. Aqui partir-se-á para a promoção da procura dos consumidores, e interacção destes mesmos com a marca.
O uso desta teia construída pelas diversas redes sociais, por parte de várias organizações irá também transmitir uma imagem de transparência, criando ao consumidor uma sensação de segurança e proximidade. Poderá estar aqui mais uma importante ferramenta para a internacionalização do negócio em causa, visto que qualquer informação neste meio corre estradas á velocidade da luz. Nesta facilidade de divulgação de informação está também um grande potencial que poderá ser usufruído através do aproveitamento das opiniões, sugestões e até críticas dos utilizadores da marca, a fim de gerar melhoramentos ou inovações. Porém a utilização destas redes exige planeamento, conhecimento e qualidade dos profissionais, visto que será fácil a colisão com as desvantagens deste uso. O descontentamento ou desconforto dos clientes ou críticos, causarão várias opiniões contrárias às que a empresa ambicionava. Poder-se-ão criar críticas violentas e até boatos desconcertantes que rapidamente se propagaram. A vantagem de estar próximo do cliente pode significar em contrapartida a maior vulnerabilidade aos concorrentes e críticas.

Joana da Silva Araújo

FONTES:
- Santos, Carlos (26Jan, 2011), “As redes sociais e o impacto nas empresas”. Blogue PTWS (http://blog.ptws.pt/noticiasptws/as-redes-sociais-e-o-impacto-nas-empresas-%E2%80%93-parte-2-de-2.html)

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sábado, 23 de abril de 2011

Tolerância de ponto o que nos trazes?

Contrariamente ao que se sucedeu no ano passado, este ano temos menos feriados ao Sábado e Domingo, e são também mais os que ficam suspensos em quintas ou terças-feiras. Temos aqui, nestes tipos de feriados, um causador de danos para a economia, devido á possibilidade de pontes.
Actualmente, encontramo-nos numa época propícia a mini-férias com a junção das festividades religiosas características da altura da Páscoa, e o feriado nacional do dia da Revolução dos Cravos, o 25 de Abril. Mesmo já com a possibilidade de aproveitamento de 4 dias de descanso, o Governo decidiu dar tolerância de ponto na tarde de 5ª feira pp., dia 21 de Abril. Como tal, os funcionários públicos que exerçam funções não essenciais nos serviços da administração central e dos institutos públicos, vão poder contar com 4 dias e meio de folga. A informação oficial foi avançada na passada terça-feira, dia 19 de Abril, pelo gabinete de imprensa da Presidência do Conselho de Ministros. José Sócrates mais uma vez justifica esta decisão com a vontade de manter a tradição existente no sentido da concessão de tolerância de ponto na altura da Páscoa.
O horror dos feriados e pontos é um tema que sistematicamente é discutido em debates sobre o crescimento económico, tornando o nosso país no país que mais discute este assunto. Assim sendo, será que a imagem que transmitimos ao exterior é a de um país que se esforça na produção? Infelizmente a percepção que subsiste no exterior não é a melhor. Em parte é a de que o nosso país é pouco produtivo ou até pouco trabalhador. Imaginem a ideia que poderá ter passado para os países que estão a ponderar ajudarem o nosso país, ou para os senhores dos fatos pretos representantes do FMI, EU, e BCE. Estes mesmos indivíduos continuaram e continuarão a trabalhar ao mesmo ritmo, incluindo nos feriados, de forma a cumprirem as suas tarefas. Até Poul Thomsen, o grande homem das negociações referentes à ajuda do FMI ao nosso país, deverá permanecer a trabalhar nas contas públicas nacionais e nas medidas de ajuda externa, enquanto a nação desfruta de uns dias de descanso.
Parar fora do calendário em tempo de crise é considerado por muitos um «mau sinal» e sai caro, não trazendo qualquer valor acrescentado. Há quem defenda até que "pontes" e tolerâncias de ponto só têm um objectivo: “agradar eleitores e potenciais votantes”. Contudo, tenho que concordar que não fazem sentido no mundo actual em especial numa época em que estamos a necessitar de ajuda externa e vivemos lado a lado com grandes medidas de austeridade. Segundo algumas estimativas, o custo dos feriados encontra-se entre 40 e 50 milhões de euros, aumentando, como é claro, se houverem "pontes" e/ou tolerâncias de ponto no Estado.
Segundo avançou o Jornal de Notícias, a tolerância de ponto concedida na 5ª feira pp., na parte da tarde, aos funcionários públicos, terá um custo de aproximadamente 20 milhões de euros para a economia. Este ano o custo com os salários por parte do Estado está calculado em 9600milhões de euros e, baseando-se neste valor, Pedro Martins, Professor de Economia em Londres, na Queen Mary University, prevê o já referido custo de 20 milhões para a tarde de 5ª feira pp., assumindo que cada funcionário trabalha 250 dias por ano. Por sua vez os feriados (14) e pontes, deste ano, terão um custo entre 680 e 850 milhões de euros, estimado pelo professor da Universidade Simon Fraser, no Canadá, Álvaro Santos Pereira. Todos estes valores foram avançados na edição de ontem do Jornal de Notícias.
Comparando-nos aos restantes países civilizados Europeus, temos mais três feriados do que a média europeia, arrastando-nos consequentemente em maiores gastos. Em alguns países não há “pontes” visto que rege um modelo de deslocação dos feriados para o dia útil mais próximo do fim-de-semana. Assim, surgem especialistas que defendem esta ideia também para o nosso país, pretendendo evitar as tolerâncias de ponto, excluindo as mudanças do Natal e Ano Novo.
Mas falando mais concretamente na tolerância de ponto cedida pelo Governo na 5ª feira pp., apesar de justificada pelo Primeiro-Ministro, causou várias ideias contrárias, surgindo até a
ideia de que foi uma medida para apenas contentar eleitores. Passos Coelho, o maior concorrente a José Sócrates, defendeu que “Na prática o que o Governo diz é: façam mais um dia de feriado, porque o país é suficientemente rico para poder ter mais um dia de descanso”. Da mesma forma o presidente da CIP, António Saraiva, contrariou a medida do Estado dizendo que: “é mau darmos estes sinais de absentismo quando temos cá uma troika a negociar ajuda externa”. Os sindicatos da Administração Pública, apesar de se sentirem satisfeitos com tal tradição, não fazem questão de exigir tolerâncias de ponto, por exemplo como esta. Paulo Taborda, dirigente da Frente Comum dos Sindicatos da Função Pública, faz questão de deixar claro que os sindicatos não são consultados nestas situações, nem têm por costume fazer exigências destas. “Os sindicatos, pura e simplesmente, não são ouvidos sobre esta matéria, nós preferíamos muito mais que o Governo não andasse a cortar nos salários”, refere o sindicalista.
É importante referir ainda que algumas autarquias como a de S. João da Madeira e Braga não concederam tolerância de ponto na referida tarde . Penso que a ideia do Governo numa esfera de Bem-estar social, ou seja, não quebrando tradições do seu povo e até agradando-o com umas horas a mais de descanso e lazer, é de certa forma compreensível. No entanto numa perspectiva económica há que louvar a decisão das autarquias visto que temos que passar a todo o individuo a realidade portuguesa quanto à sua situação económica. Precisamos todos ser realistas o suficiente para ao percebermos que temos um país numa grande crise, temos que trabalhar para torna-lo melhor. Sem trabalho, não há crescimento.

Joana da Silva Araújo

FONTES:

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Portugal… Política e Economia

Ao longo das últimas décadas temos assistido ao desmoronamento da economia portuguesa. O acumular da dívida pública, o aumento do desemprego, a pobreza, foram sempre assuntos do nosso dia-a-dia aos quais os sucessivos governos não conseguiram dar resposta. A políticas erradas seguiram-se mais políticas erradas, a promessas seguiram-se mentiras… Portugal tornou-se assim um dos países em pior situação económica da União Europeia.
É certo que o governo demissionário se enquadra neste último conjunto proferido, no entanto muita da culpa da nossa situação económica actual é daqueles que deixaram a situação agravar-se consecutivamente sem pouco ou nada fazerem. Governar Portugal com certeza não é tarefa fácil mas por vezes os governantes gostam de complicar. Assistiu-se ainda há pouco tempo a uma promessa do primeiro-ministro demissionário, em que ele dizia que não eram necessárias mais medidas de austeridade às muitas que já estamos sujeitos. Por espanto, ou não, dois dias mais tarde sem conhecimento do Presidente da República e da Assembleia, apresentou mais um pacote de medidas de austeridade. Pergunto: como podemos ter estabilidade, tanto política como económica? Qual o incentivo para investir em Portugal com tanta incerteza?
Na última década muito se ouviu em “apertar o cinto” e eu pergunto se realmente se apertou. Vejamos, a dívida pública portuguesa em percentagem do PIB em 2000 era de 48.5%, com os supostos apertos de cinto em 2005 era de 62.8% e em 2009 passou para os 76.1%. Já o desemprego em 2000 era de 4%, em 2005 aumentou para 7.7% e em 2009 para 9.6%. A meu ver durante este tempo houve efectivamente muito sacrifício por parte dos portugueses, mas como podemos constatar não foi suficiente para contrariar a tendência desoladora, muito devido à má gestão do governo. O governo andou a gastar (ou talvez a brincar) com o dinheiro dos outros esquecendo-se que um dia terá que saldar a dívida.
As guerras políticas são uma constante, tudo vindo do governo é alvo de crítica por parte da oposição, não há consenso. A meu ver existe uma grande desorganização da estrutura política portuguesa, é necessária uma grande reforma não só política mas também ao nível da justiça.
Muito se tem falado da competitividade dos produtos portugueses, é óbvio que para Portugal sair desta situação crítica precisa que os seus produtos sejam mais competitivos externamente, precisa de produzir mais. No entanto, pouco tenho visto ser feito para se conseguir. Para tal vejo duas soluções. Começando por aquela mais difícil de implementar e admito muito complicado de se conseguir fazer, baixar generalizadamente os salários. O antigo governo já começou por reduzir os salários dos funcionários públicos, mas prevejo que não seja suficiente. Um dos problemas que se levanta com a possível descida dos salários é o facto de muitos países que concorrem com Portugal terem salários significativamente mais baixos e desta forma esta medida não ter o impacto desejado. Apesar disso, penso que esta não é uma medida a descartar uma vez que as empresas portuguesas melhorariam substancialmente a sua competitividade, principalmente a nível interno.
Vários economistas de renome como Blanchard afirmaram que os salários em Portugal têm que baixar, muito recentemente o chefe da comissão europeia em Portugal também admitiu que os salários reais em Portugal têm efectivamente de baixar. Portugal tem constantes défices da balança comercial, com esta medida a população portuguesa tinha uma grande vantagem em comprar produtos portugueses em vez de produtos estrangeiros, a produção nacional era estimulada e desta forma o problema do desemprego era suavizado. Sim, era extremamente complicado para a população. Por isso, tenho uma outra medida. Penso que uma boa resposta aos graves problemas de Portugal passa por aumentar o número de horas de trabalho, mais uma ou duas horas, mantendo o salário. Desta forma as nossas empresas produziam mais, o preço dos produtos baixava, uma vez que produzíamos mais com praticamente os mesmos custos. Os nossos produtos ficariam mais competitivos tanto internamente como externamente.
Conhecendo como conheço o povo português não me parece que, principalmente, esta última medida vá ser aceite e acima de tudo não acho que quem dirige o país tenha coragem para a implementar. Então não vejo outra alternativa que não seja efectivamente a de os salários baixarem. Prevejo que Portugal vá estar num clima recessivo por muitos anos. Culpo aqueles que tomaram medidas avulsas sem fundamento, preocupando-se apenas e só com o curto prazo, nomeadamente com os seus cargos no poder… As futuras gerações vão ter de suportar a dívida que a incompetência passada gerou.
Visto isto, penso que o que se pede ao próximo Governo português são medidas livres, concretas, inovadoras e acima de tudo corajosas. De outra forma vamos andar mais anos e anos a ouvir falar de FMI’s, de mais medidas de austeridade que de nada servirão para nos tirar da situação crítica pela qual passámos.

Bruno Xavier Machado Silva Ferreira

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

quarta-feira, 20 de abril de 2011

No wings

"The man who has no imagination has no wings."

Muhammad Ali

(citação extraída de SBANC Newsletter, April 19, Issue 664-2011, http://www.sbaer.uca.edu)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Nenhuma surpresa

Conforme o previsto, por muitos economistas, o Banco Central Europeu (BCE) na passada Quinta-feira elevou a sua principal taxa de juro, que é a taxa de juro de referência para zona Euro, de 1% para 1,25%.
O BCE não tinha aumentado a sua taxa de juro desde Julho de 2008. Está taxa estava fixada em 1% desde de Maio de 2009.
A instituição Monetária, aumentou também duas outras taxas, a taxa de cedência de liquidez (os empréstimos de emergência a 24 horas) que passou dos 1,75% para os 2%, e a taxa de depósito (que remunera a disponibilidade dos bancos emprestarem dinheiro) dos 0,25% para 0,5%.
No mesmo dia, o Banco da Inglaterra colocou a sua taxa de juro ainda mais baixo, 0,5%, e a sua inflação é de 4%. Está decisão do Banco da Inglaterra pode ser vista como uma forma de apoiar a sua economia.
O aumento da taxa de juro de referência, já havia sido citado como possível no mês passado pelo presidente do BCE, Jean-Claude Trichet. Ele justificava esse aumento, devido a crescente subida da inflação na zona Euro. Em Março, os preços subiram em média 2,6% nos 17 países da zona Euro, superando pela quarta vez consecutiva o objectivo de médio prazo do BCE, que era uma inflação próxima, mas inferior a 2%.
O aumento da inflação que, neste 1º semestre está a afectar as economias dos 17, é na sua grande maioria, causada pelo aumento do preço do petróleo, mas reflecte também o aumento que este provocou nos produtos alimentares.
Porém o BCE, com essa decisão, mostrou-se seriamente preocupado com a repercursão que novos aumentos no preço do petróleo e das matérias-primas possam vir a ter.
Tudo isto coloca uma serie de preocupações no ar. Para alguns economistas, isto é o início de uma nova serie de aumentos da taxa de juro de referência, que no final do ano já rondará os seus 1,75% ou 2%.
Este aumento da taxa de juro, pelo Banco Central tem vários efeitos negativos sobre a actividade económica na zona Euro. Para os Bancos, isto vai-se repercutir num aumento de custos dos seus recursos para os seus clientes, sejam eles empresas ou famílias. E será ainda mais visível nos Bancos “mais fracos” ou de pequenas dimensões que têm menos acesso ao mercado. O consumo e o investimento, de empresas e familias também sofrerão com esta nova taxa. Mas estes efeitos vão variar consoante o país, principalmente no mercado imobiliário.
Mas nisso perguntamos: como é que fica o euro com esse aumento? Na verdade o mercado cambial não esperou o anúncio do dia 7 de Abril para se pronunciar. Desde o pré-anúncio do aumento da taxa adiantada no mês de Março por Jean-Claude Trichet o euro aumentou cerca de 3%, o que torna a moeda mais atractiva e eleva a sua avaliação. E assim na última Quinta feira o Euro oscilou em torno dos 1,43 dólares, o seu nível mais alto desde Janeiro de 2010. No entanto se com o Euro forte é mais facíl comprar o petróleo, as exportações de todos os países da zona Euro serão penalizadas. Vai afectar não só os Países que dependem da competitividade dos preços para exportar os seus produtos, como também os Países que lutam para recuperar suas economias.
Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha, estão em recessão. Esses Países estão a se debater com altas taxas de desemprego, crises bancárias e fortes medidas de austeridade. E retirar dinheiro e tornar o crédito mais caro pode ter um impacto devastador em suas economias. Especialmente para Países como a Irlanda, que depende da exportação para impulsionar o crescimento.
Porém não podemos dizer que o BCE vai deixar cair a economia dos países mais frágeis, pois isso iria transformar-se então numa crise do Euro, e “arruinar” com a União.

Eva Marina Dos Santos Fortes

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. “Economia Portuguesa e Europeia”, do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

segunda-feira, 11 de abril de 2011

FMI em Portugal, a ajuda inevitável, o pedido tardio

Depois de muita discussão acerca da possível intervenção do FMI em Portugal, foi oficializado no dia 06 de abril, o pedido de ajuda ao FMI. Banqueiros, economistas, próximos do PS e do PSD, e demais atores econômicos estão de acordo; segundo eles, o pedido de ajuda internacional era inevitável e foi uma pena ter demorado tanto tempo a ser feito. O presidente manifestou sua confiança na capacidade de Portugal superar as dificuldades atuais, com a solidariedade dos seus parceiros.

De acordo com o eurodeputado do PSD, Paulo Rangel, a ajuda externa a Portugal será realizada nos mesmos moldes em que foi feita à Grécia e à Irlanda. Ou seja, no quadro do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), com uma componente de FMI. A vantagem disso é que não é imposto aos mercados o seu afastamento temporário. O valor estimado pela Comissão para uma ajuda a Portugal no âmbito do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) é de 75 mil milhões de euros.

Muitos lamentam que o pedido tenha demorado tanto para ser feito, se tivesse acontecido um ano antes, seria muito provável que o país não tivesse enfrentando essa crise, a dívida não seria tão elevada, as contas públicas estariam mais em ordem e Portugal teria o aval internacional para o finciamento. Segundo Campos e Cunha, antigo ministro das Finanças do primeiro Governo de José Sócrates, a necessidade da ajuda se tornou evidente do ponto de vista orçamental, já que a dívida ultrapassou os 90% do PIB (fato que não acontecia há mais de 50 anos).

A “aflição da banca” foi a gota de água que fez Sócrates decidir pelo pedido de ajuda externa, o primeiro ministro alegou ter feito de tudo para resolver a situação portuguesa e que o pedido à UE foi uma solução de último recurso. Ele alegou, ainda, que a demora em pedir a ajuda ocorreu pela tentativa de conseguir um novo regime para o fundo. Apesar de todas as justificativas a demora, de fato, prejudicou a situação portuguesa.

Agora será a terceira vez que o FMI atua em Portugal. A primeira vez foi em 1977, quando o país estava com uma taxa de desemprego superior a 7%, bens racionados, inflação crescente, conflitualidade política e o escudo desvalorizado. A intervenção trouxe "pacotes" que se traduziram em redução de salários e subida de impostos, entre outras medidas. A segunda foi em 1983, quando o desemprego se encontrava acima dos 11% e uma dívida externa galopante devido à subida das taxas de juro internacionais. Nesta ocasião, o FMI emprestou 750 milhões de dólares e novamente impôs cortes nos salários, aumentos de preços, travão ao investimento público, entre outras medidas.

Como se pode ver, a intervenção não é a melhor das opções, a situação das famílias portuguesas pode ficar ainda mais grave no que diz respeito ao consumo e ao endividamento. No entanto, já que essa foi a saída encontrada para resolver a situação de Portugal, espero que as medidas a serem adotadas sejam positivas para a economia, para as finanças e para o bem-estar do país.

Vanessa Ferreira

Fontes: Jornal de Notícias; Jornal Público.

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. “Economia Portuguesa e Europeia”, do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Consumismo vs endividamento

Num país tantos anos reprimido, onde a pobreza vingou no dia-a-dia da nossa sociedade, nas últimas décadas a nossa história mergulha-se em falsa ostentação e muitas aparências! Tem-se vindo a verificar um incremento bastante considerável no consumismo, principalmente devido à publicidade que é cada vez mais apelativa. O poder do marketing publicitário alicia os consumidores a comprarem, a experimentar sensações, toda a ilusão da publicidade promove um enorme desejo de conhecer novos produtos. No entanto, o grave problema que advém da publicidade é a necessidade que esta provoca nos consumidores em comprar por vezes o desnecessário (o simples ato de consumir transforma-se em consumismo). É alegado por muitos que este problema é uma consequência do capitalismo e da estrutura de sociedade que é presenciada na actualidade.

Desta forma, um consumidor mesmo sendo racional, facilmente é tentado a comprar e independentemente de género ou raça, o consumismo acompanha toda a gente, de uma forma mais ou menos evidenciada. Mas será isto sustentável?

Um forte problema associado a este acto de consumir é o endividamento. É sabido que, actualmente, muitas famílias portuguesas estão endividadas, sendo que apenas a Holanda (da zona euro) nos supera relativamente ao endividamento dos particulares. As notícias da actualidade marcam de forma clara este problema: desde a década de 90, o peso das dívidas no rendimento disponível passou de 19,5% para 124%, ao passo que a taxa de poupança caiu de quase 20% para 8,3%. É também bastante discutido o problema que se levanta na decorrente procura ao crédito para satisfazer as necessidades dos consumidores que frequentemente se endividam.

Ora, mais uma vez, a publicidade é vista como a grande impulsionadora do problema. Anúncios publicitários de empresas credoras, para além das financeiras (por exemplo, a COFIDIS), são recorrentes quer na TV ou na internet. Facilmente o consumidor é estimulado a comprar porque, segundo estas empresas, estão solucionados todos os problemas relativos a dinheiro pois o pagamento do valor pedido (hipoteticamente) será feito com prestações muito baixas, e no caso de alguns “gold card” não existem mesmo prestações! Ora, esta falsa informação/publicidade enganosa, leva os consumidores a recorrerem facilmente aos créditos e não sabem eles que mais tarde vão sofrer a consequência: os juros suportados serão elevadíssimos por causa da ausência de prestações.

Mês a mês vão pedindo dinheiro, ou para ir de férias, ou para comprar carro, ou para ocasiões ou coisas sem qualquer importância e vão-se envolvendo numa bola de neve. Tudo isto se torna num ciclo vicioso, e as pessoas nem se apercebem do dinheiro que gastam e dão por elas à frente de um banco a pedir empréstimos e mais empréstimos... As famílias acabam por ter de pedir outros créditos para pagar as prestações dos primeiros, embarcando num mar de dívidas. Saliento o grave problema e a tentação do consumismo e deixo a advertência para que haja racionalidade no ato de consumir.

Sofia Lages

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

O estado das famílias ao fim de uma década de crise

Portugal está perante um verdadeiro pesadelo a nível económico, do qual os portugueses tentam fugir a cada segundo que passa.

O nosso país vive numa crise económica que perdura já por uma década. Praticamente, os jovens de hoje têm na lembrança da adolescência um país em crise. Primeiramente, a crise do início do milénio, recentemente reforçada pela crise mundial que afecta a economia mundial e teve maior incidência nos EUA e na Europa. Esta última tem-se revelado uma das mais graves crises dos últimos anos no sistema financeiro mundial. Como tal, as consequências desta crise não podem nunca ser ignoradas, pelo que se agravam de dia para dia.

Sabemos que a causa da crise esteve no crédito hipotecário e de consumo de alto risco nos Estados Unidos, motivada pela quebra do sector mobiliário. Depois de iniciada a crise, de começar a abrandar o crescimento económico nos EUA, rapidamente se deu o abrandamento do crescimento também na zona euro. Esse efeito é bastante visível sobre a forma de falências, aumento de desemprego, diminuição do consumo, investimento e exportações, que são impulsionadores importantes de uma economia.

Agora, resta-nos perguntar como estão as famílias no meio de toda esta crise que Portugal há muito tenta travar, mas que nada ou pouco tem conseguido fazer?

Famílias, poucas são aqueles que se conseguem manter ilesas a esta crise. A maioria, essas sim podem dizer o quanto esta crise as afectou. O maior problema que as famílias enfrentam está nos seus compromissos com a casa, contudo, o seu consumo também foi fortemente afectado pelo corte que este teve de sofrer devido à diminuição do rendimento disponível das mesmas.

Podemos, contudo, analisar dois efeitos da crise sobre as famílias. Por um lado, as famílias já formadas deparam-se com perda de emprego, dificuldades em pagar a renda de casa ou o empréstimo bancário, principalmente pela forte subida dos juros, assim como cortes no consumo devido à falta de meios financeiros que atravessam. Por outro lado, uma consequência mais grave pode ser referida a nível estrutural. Actualmente, o número de pessoas a constituir famílias diminuiu. Isto é, com o agravar da crise, com a constante subida das taxas de juro, com as fortes incertezas acerca do futuro de Portugal e de nós mesmos enquanto cidadãos, é cada vez maior o medo de formar uma família. Este facto é bem visível quando olhamos para a diminuição de casamentos, principalmente em idades jovens, pelo que cada vez mais se vêm jovens a sair de casa dos pais mais tarde, perto dos trinta anos. Os casamentos diminuíram assim em 6,6%, o que se traduziu em 3,8 casamentos por cada mil habitantes. Em termos evolutivos de 2003 para 2009, essa diminuição é mais notória, foi de 24,8%. Por outro lado, o número de famílias com apenas um filho aumentou de 31,3%, em 2008, para 32,2%, em 2009. Isto, em detrimento das famílias com dois ou três filhos, que perderam 0,7 e 0,2 pontos percentuais, respectivamente. Consequentemente, o número de famílias com mais de três filhos também diminuiu. E como seria de esperar pelo cenário já apresentado, a idade da mulher, em média, ao ter o primeiro filho também aumentou, situando-se nos 28,6 anos, comparativamente aos 27,4 anos, em 2003.

A crise afectou assim não só o padrão de vida das famílias como também os planos futuros de muitos jovens. Hoje em dia, os jovens querem não só constituir uma família como também querem lutar por uma carreira, por um futuro melhor. E o estado em que o país se encontra não facilita em nada esses planos à nossa geração jovem. Está mais do que visto que Portugal precisa urgentemente de medidas/soluções permanentes e não mais de paninhos quentes para tentar tapar os olhos aos portugueses.

Na minha opinião, tal só começará a acontecer quando a ajuda externa chegar a Portugal e este adoptar finalmente medidas rígidas para os próximos anos, para que assim se possa começar a respirar de alívio e voltarmos a ter confiança na melhora do nosso país e de um futuro melhor.

Cláudia Oliveira

Fonte: Instituto Nacional de Estatística – Indicadores Sociais de 2009

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

1000 Milhões (respirem, não vou falar dos lucros da EDP)

A efacec é sem dúvida um caso de sucesso da economia portuguesa. Hoje está presente em mais de 65 países espalhados pelo globo, tendo como objectivo duplicar a sua dimensão em 5 anos.

Começou a apostar no mercado externo, através de agentes e filiais, em 1987. Nessa altura as suas vendas para o exterior eram essencialmente de dois produtos: motores eléctricos e transformadores.

Passado 10 anos entra numa nova fase da sua internacionalização, com a constituição de joint-ventures. Aqui está uma das razões do sucesso da empresa, soube compreender que a globalização trazia uma serie de desafios. Um deles era que não podia ficar por Portugal. Nunca conseguiria ombrear com os grandes player’s mundiais, como a Siemens e a Alcatel, se ficasse enclausurada no rectângulo lusitano. Por esta altura pega no seu know-how e junta-se a parceiros locais em pontos tão distantes como a China. Esta presença em várias geografias permitiu-lhe estabelecer uma relação mais forte com os seus clientes, e ao mesmo tempo conquistar muitos outros.

É uma empresa que sempre procurou inovar especializando-se em algumas áreas com futuro como a energia, o ambiente e o negócio da logística. O segredo da efacec foi sempre trabalhar em Portugal para a excelência e inovação, e depois ter a coragem de tentar vender (e depois replicar) lá fora o que fazia aqui. Nunca teria ganho, por exemplo, o concurso do metro de Dublin se não tivesse feito o metro do Porto. Mantendo-se na vanguarda da tecnologia e apostando na criatividade a efacec hoje abre fábricas nos EUA, enviando engenheiros americanos para Portugal para aprender os seus métodos inovadores e únicos.

Embora o seu caminho tenha sido sempre pujante é injusto não ter uma palavra com a actual gestão. Esta tem sido capaz de levar a efacec ainda mais longe. Os objectivos eram e são ambiciosos, mas os números são esclarecedores. Em 2009 o volume de negócios aumenta 26%. No mercado externo este aumento situa-se nos 30%, entre 2008 e 2009 criou quase 1000 postos de trabalho, 500 qualificados e em Portugal. De 2007 para 2009 mais que duplica o volume de encomendas e o montante das vendas. As encomendas subiram de 433 milhões para 1007 milhões de euros. Em vendas, passou-se de 370 milhões para os 809 milhões de euros. E um dos objectivos para 2010 era juntar aos 1000 milhões de encomendas 1000 milhões de vendas. Parecem números extraordinários para qualquer empresa em qualquer momento. Mas não nos podemos esquecer que estes números foram conseguidos num dos períodos mais negros da economia mundial.

Dr. Luís Filipe Pereira foi o presidente da efacec durante este período, e prepara-se agora para abandonar o cargo por causa da política da empresa que define que quem faz 65 anos num mandato tem de abandonar as suas funções executivas no final desse mandato. Parece-me uma política talvez desajustada, mas a verdade é que foram os donos da efacec, o Grupo Mello e a Têxtil Manuel Gonçalves, que trouxeram a empresa até aqui e por isso eles, melhor que ninguém, saberão o que estão a fazer.

Por último queria relembrar que o Dr. Luís Filipe Pereira foi ministro da saúde ainda nos recentes governos PSD/CDS o que mostra que a competência ainda não está de costas viradas para a politica. E não consigo resistir à tentação de sublinhar que não saiu do ministério da saúde para nenhuma farmacêutica ou coisa parecida...

Valdemar Machado

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Endividamento! A importância de saber parar

Nos dias de hoje são inúmeros os medos e as preocupações que assaltam a vida e a consciência de toda a sociedade. O “ fantasma” do desemprego, a perda do poder de compra e o endividamento das famílias são problemas que assombram todos os portugueses levando a uma mudança de hábitos de consumo reflectindo uma alteração de comportamentos culturais e sociais.

Portugal, à semelhança com outros países, tem verificado um aumento preocupante do endividamento das famílias devido de certa forma ao reduzido incentivo à poupança por parte dos consumidores e ao seu espírito consumista, e tendo em conta a situação actual está longe de apresentar melhores resultados.

No caso português, esta problemática teve inicio aquando da sua adesão à Zona Euro e ao processo de convergência que a procedeu, dando origem a uma era de estabilidade de preços, acompanhado pela forte concorrência, verificada a nível das instituições bancárias que permitiu o incremento da disponibilidade, diversificação e sofisticação dos produtos financeiros bem como uma maior acessibilidade e rapidez de resposta, seguida por sucessivos aumentos das taxas de juro e a situações correntes de desemprego. É de salientar que na maioria das vezes a informação fornecida pelas instituições bancárias não é apresentada de forma clara e transparente, de modo a que os consumidores possam decidir de forma racional e sustentada contribuindo assim para um consumo desenfreado.

Porém, a culpa não pode ser atribuída apenas às instituições bancárias mas também à irresponsabilidade do próprio indivíduo que não resistindo ao bombardeamento da publicidade de crédito fácil, cedem às suas tentações e desejos.

No entanto, não podemos olhar para o recurso ao crédito apenas como um aspecto negativo uma vez que quando realizado com moderação e de forma consciente permite aos consumidores obter benefícios possibilitando, deste modo, a satisfação das suas necessidades presentes através utilização de recursos futuros. Mas, este tem de ter a perfeita noção de que para além da satisfação das necessidades do “hoje” é fundamental assegurar a satisfação das necessidades do “amanhã”, isto é, é necessário garantir a sustentabilidade futura. Assim sendo, a poupança torna-se crucial uma vez que o futuro comporta a incerteza podendo surgir de um momento para o outro despesas inesperadas.

Assim, na minha opinião o que deve preocupar os portugueses não é o endividamento em si, mas a forma como estes se endividam e a susceptibilidade de este se tornar num endividamento excessivo, o que se mostra grave, principalmente quando este acontece por mera negligência do consumidor. A vontade de “ter sempre mais e melhor que o nosso vizinho”, viver num mundo irreal e inconsciente leva a situações de total desespero onde os indivíduos, depois de acumulados diversos créditos, entram numa verdadeira “espiral de endividamento”.

Atendendo à situação presente pode-se dizer que os cidadãos portugueses só agora compreenderam o significado do conceito de endividamento, e que num passado não tomaram as melhores decisões de consumo, pois são inúmeras as famílias que foram obrigadas a mudar a sua maneira de viver e moderar os seus gastos, abdicando de todos os seu luxos e despesas supérfluas.

Actualmente, cada vez mais são as famílias que recorrem a centros de aconselhamento, onde é analisada cada situação e são apontadas soluções na tentativa de minorar o efeito do endividamento, e a centros alimentares, onde são assegurados os bens essenciais para a sua sobrevivência.

Apesar deste panorama desfavorável, não podemos permitir que a realidade do endividamento que nos persegue tome conta de nós. É necessário definir prioridades e planear gastos de forma a combater esta tendência crescente do endividamento. E uma possível solução para ajudar a resolver esta situação poderá ser a melhoria salarial sustentada pelo acréscimo da produtividade.

Cátia Cunha

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

terça-feira, 5 de abril de 2011

Desemprego entre os Jovens

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística, a taxa actual de desemprego entre os jovens com menos de 25 anos é preocupante, superando os 22%, o que equivale a cerca de 100 mil jovens portugueses sem emprego.

Esta situação representa um grave problema para Portugal, sendo já considerado por representantes do Governo como um problema de “dimensão profunda”.

Ao analisar a evolução da taxa de desemprego, é possível verificar que no 4º trimestre de 2007 a taxa de desemprego nos jovens era de 17,9%, aumentando 5 pontos percentuais relativamente ao mesmo período do ano de 2010, que se encontrava com uma taxa de 23%. Ainda relativamente aos recentes dados, analisando por níveis de escolaridade, verifica-se que a subida da taxa é mais expressiva nos jovens que apenas completaram o ensino básico ou secundário.

Nos dias de hoje, os jovens deparam-se com dificuldades na procura de emprego, e quando surge a oferta de trabalho, verifica-se que as condições são precárias e os vínculos não renováveis (como por exemplo, os estágios).

Qual a razão deste problema? Estará em causa o valor dos jovens?

A justificação para este problema não pode ser a falta de conhecimentos dos estudantes portugueses, já que Portugal tem actualmente, entre os seus cidadãos, os jovens mais qualificados de sempre.

Será possível reverter esta situação que tanto embaraça o nosso país?

Esta problemática, tal como outras importantes da actualidade, apenas serão resolvidas quando os partidos políticos abdicarem dos seus interesses partidários e deixarem de ter como principal objectivo a vitória das suas guerras internas e fizerem o que lhes compete, ou seja, apresentarem soluções credíveis e realizáveis aos jovens portugueses.

Acredito que com mais incentivos fiscais para as empresas e com o aumento dos benefícios para as iniciativas inovadoras (que não faltam, apenas não têm um meio rentável e eficaz para se darem a conhecer), poderão surgir soluções benéficas para o combate do desemprego que impera em Portugal.

Por conseguinte, resta-nos a esperança de que os nossos governantes percebam e se empenhem, com plena consciência, de que o futuro do nosso país passa pelos nossos jovens e que, por isso, o investimento e a confiança nos mesmos deveriam ser uma prioridade.

Contudo, o desafio actual de cada jovem passa por ir ao encontro das suas próprias oportunidades com uma atitude pró-activa. A recente manifestação da “Geração à Rasca” deveria ser substituída pela “Geração Desenrasca”, que em vez de ficar à espera de novas oportunidades, parte à conquista das mesmas.

Com a entrada de Portugal na União Europeia, deixámos de ser uma comunidade de 10 milhões para sermos uma comunidade de 500 milhões, tendo os jovens uma excelente oportunidade, pois, agora “mais portas se abriram”.

Atendendo às “limitações” que em Portugal são uma realidade viva, temos e devemos procurar soluções alternativas e confiar nesta geração que para além de “desenrascada” será aquela que construirá um país mais competitivo, com o objectivo de devolver ao nosso país o valor que já em tempos remotos, mas áureos, nos foi merecidamente reconhecido.


Nuno Alves

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sábado, 2 de abril de 2011

A ameaça da zona monetária óptima Europeia

A actual crise internacional, conhecida como a Crise da Dívida, começou em 2007, nos EUA, depois de uma bolha especulativa no mercado imobiliário, e depressa se espalhou por todo o mundo.

Actualmente a União Europeia, mais precisamente a Zona Euro, parece ser a mais afectada. Recuando um pouco no tempo, muitos eram aqueles que não acreditavam no projecto de Zona Monetária Óptima da União Europeia, pois existiam inúmeras divergências entre os países, no entanto este projecto avançou e apesar de um ou outro obstáculo, parecia bem sucedido até meados de 2007. Este aparente sucesso, fez com que a cotação do Euro subisse em relação ao dólar. Em 2002, o Euro e o dólar valiam aproximadamente o mesmo, a partir daí a cotação do Euro subiu em flecha atingindo máximos históricos em 2008, chegando à casa dos 1,6 (onde 1€ chegou a valer cerca de 1,6 dólares).

Os EUA, maior potência mundial, parecia ameaçado pelo Euro. Em 2007 começavam a aparecer sinais de desequilíbrio nos EUA, a falência do Lehman Brothers ditou o começo de uma das crises mais profundas que há memória. Esta crise atingiu em cheio as fragilidades da Zona Euro. Os primeiros a sentirem dificuldades foram: Grécia, Irlanda, Portugal e Itália, uma vez que eram os países mais “fracos” e suportavam uma moeda muito forte. Actualmente, os EUA estão em recuperação, enquanto que para a União Europeia tal cenário parece uma miragem. Uma vez que, a economia Norte Americana é mais elástica do que a da União Europeia, e conseguiu responder mais eficientemente às exigências colocadas.

Diariamente, ouvimos notícias desencorajadoras, como as que apregoam que as agências de rating vão baixar a classificação de um ou outro país da Zona Euro, ou que se torna impossível adiar a vinda do FMI a Portugal.

Confesso, no entanto desconfiar de todas estas calamidades que vêm assombrar os países da zona euro. Concordo que a dívida soberana é elevada, mas sinceramente não acredito no risco de incumprimento. Este tem sido utilizado como motivo das elevadíssimas taxas de juro a que a dívida destes países é vendida. Atrevo-me mesmo a dizer que foi muito pertinente para os EUA e para o Dólar este descalabro da zona euro. O rating é feito pelos EUA, o FMI está sedeado nos EUA assim como o Banco Mundial. A verdade é que os Estados Unidos da América continuam a dominar os mercados financeiros, e influenciam, como ninguém os especuladores.

Exige-se à União Europeia uma atitude firme, determinada e provas que está a trabalhar em algo real, algo convincente que trará benefícios e progressos. Necessita de convencer os especuladores que não deixará nenhum país sair derrotado deste projecto. É necessária a discussão de modelos de regulação financeira e o controlo da dívida soberana dos países da União Europeia. Deveria ser criado um Fundo Europeu maior, mais eficiente, continuo e sobretudo mais independente do que o actual Fundo de Estabilização. Assim como, formar uma agência de rating Europeia, promover a produtividade e estabilizar a Política da Zona Euro. Esta é a prova dos nove ao projecto da Moeda Única, à qual temos de passar com distinção.

Na consequência desta necessidade, surgiu do parlamento Europeu o novo Fundo de resgate. Este, tem sido discutido desde o final do ano passado. A capacidade efectiva de financiamento do Instrumento Europeu de Estabilidade Financeira, começou por ser de 250 bilhões de euros, no entanto irá ser elevado para o valor nominal de 440 bilhões. Apesar de tudo, ainda não estão completamente definidas as exigências que irão ser reclamadas aos possíveis utilizadores deste fundo.

A teimosia Portuguesa, em adiar a vinda do FMI (nada desejável, mas infelizmente necessária), deve-se na minha opinião, à necessidade da EU em solucionar os seus próprios problemas. Ou seja, tem-se adiado a ajuda externa, que todos notam como necessária, para recorrer a uma ajuda “interna”. Devo referir que a ajuda do FMI à Irlanda e a Grécia, não lhes trouxe tréguas por parte dos mercados. Além disso, estão a ser implementadas medidas muito rigidas, nomeadamente o corte salarial, que tem afectado imenso o consumo das famílias. Talvez não tenha sido completamente impertinente a espera pela intervenção Europeia. No entanto, penso que a demora está a ser demasiado elevada, tem de se fazer algo, e rápido, pois a situação está a ficar insustentável.

Para agravar a situação, Portugal está no meio de uma crise política, elevando ainda mais a desconfiança geral em relação à nossa capacidade em pagar a dívida contraída. Curioso é o facto de que os partidos parecem entender-se melhor com um governo transitório, do que com um governo minoritário. Apesar de compreender as razões que levaram à dissolução do Parlamento, a fase de eleições tem a desvantagem de ser um período instável e muito dispendioso, pede-se aos partidos seriedade e contenção.

Neste cenário catastrófico e preocupante, resta-nos esperar para ver. É impossível delinear cenários, a instabilidade é elevadíssima. Só posso deixar a opinião, de que são necessárias fortes medidas para que recuperemos a confiança dos credores.

Cátia Cristina Afonso Cerqueira

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]